Aspectos da segunda dimensão do livro ágrafo
José Salmo Dansa de Alencar
Mestre em Design, doutorando do PPGD PUC-Rio e Bolsista Capes
Prof. Dr. Luiz Antonio Luzio Coelho
Professor associado no Departamento de Artes & Design (PUC-Rio), diretor da Cátedra Unesco e do Instituto Interdisciplinar de Leitura
Introdução
Num passado não muito distante, era comum que as pessoas se referissem às imagens de um livro como “as gravuras”. Essa relação do senso comum com o passado artesanal da configuração de livros remete às formas das imagens: como expressão independente ou como “gravuras” encadernadas. Esse status da imagem em uma relação serial com outras imagens, assim como a distinção da imagem bibliográfica em relação ao vasto espectro de imagens existentes na contemporaneidade, é crucial para a abordagem fenomenológica.
Nosso interesse prioritário neste trabalho são aspectos visuais e táteis em favor das relações de confluência e oposição entre imagem, objeto e narrativa, detendo-nos mais nas questões conceituais e nas relações internas entre a imagem e o objeto e menos em fatores da ontologia e História da Arte. Os códigos principais se encontram no diálogo entre os pares de páginas, materiais e técnicas de configuração, questões da forma, cor e volume e legibilidade das poéticas presentes nas imagens.
Nosso fundamento teórico principal será a Poética do espaço, livro que marca uma virada metodológica a partir da qual Bachelard permitiu-se despojar de sua reputação de epistemólogo racionalista e iniciar uma determinação fenomenológica para o estudo das imagens poéticas. Essa mudança foi levada a cabo ao perceber que a imagem poética era essencialmente variacional e que o método racionalista havia se tornado insuficiente “diante das imagens dos quatro elementos da matéria, dos quatro princípios das cosmogonias intuitivas”[i].
A metafísica das imagens poéticas se constitui sobre estrutura dialética marcada por uma trama de linhas polarizadas e atmosferas de onde emergem imagens difusas. Bachelard estabelece um jogo de afirmações e negações que reverberam em uma série de binômios, tratados não por sua objetividade, mas como “polos de uma projeção de imagens” (Bachelard, 2008b, p. 22).
Proposições surgem em resposta às negações, e nesse sentido sua filosofia é estabelecida não como uma “construção” do conhecimento, mas como um “entalhar”, a partir de um bloco inicial, até restar apenas a coisa específica. A poética do espaço é apresentada por dialéticas mais ou menos equilibradas, como espírito/alma, para evidenciar o sentido amplo de imortalidade da segunda; ou intimidade/exterioridade; vertebrado/invertebrado; sonhos aéreos/sonhos aquáticos; aberto/fechado e, nesse sentido, evidenciamos aqui a pertinência da estrutura espaço/tempo como forma a priori fundamental à analise de imagens.
A estrutura do discurso dialético tem total adequação à estrutura do códice, poderíamos associar livremente os pares de páginas direita/esquerda ao binômio tese/antítese, enquanto a capa traria a síntese. Se a analogia das páginas pode ser uma idealização fantasiosa demais, sem dúvida a síntese é uma qualidade das capas. No grupo de livros a seguir veremos exemplos de imagens como afirmações, negações e como sínteses e em diferentes teleologias, atuando como léxico, documentação, projeção imaginária, imagem icônica e paródia visual.
A imagem bibliográfica
A análise da imagem, assim como a análise textual, requer do sujeito o trânsito entre criação e fruição das imagens. A leitura está diretamente relacionada ao contato com os meios e as técnicas de representação verbal; ler e escrever são práticas estritamente relacionadas e, do mesmo modo, entendemos que o ato de decodificar códigos visuais só ganha efeito e fluência quando o sujeito também produz imagens; sem isso ele só é capaz de repetir informações em um sistema que requer constante interpretação e recriação.
Grande parte das pessoas entende leitura de imagens como uma formulação verbal a partir de informações que sabem sobre determinada imagem. O dado histórico, a vida pessoal do autor ou o contexto social da obra pouco ou nada têm a ver com a decodificação de uma imagem. O fundamento maior da leitura de imagens, o chamado scanning, requer um passeio do olhar sobre a imagem, e consequentes descrições dos elementos que são, como construção verbal, subjetivas, podendo ser aleatórias, hierárquicas, poéticas, comparativas etc. Este tipo de análise requer ainda a formação de um repertório e o entendimento dos meios e métodos de representação visual, daí a estreita relação da leitura com o fazer artístico.
Podemos dizer que a maior limitação da linguagem da imagem bibliográfica é imposta pela estrutura material, enquanto a limitação à imagem poética reside na combinação de códigos da linguagem verbal. Em ambas há uma relação muito próxima entre significado e estrutura, entre semântica e sintaxe, que parecem inversamente proporcionais na linguagem verbal e na linguagem visual.
Dictionary of Water, de Roni Horn, 2001. Fonte: Studienzentrum für Kunstlerpublikationen Bremen.
O livro Dictionary of Water (Paris: Editions 7L, 2001) de formato grande, horizontal, com projeto e fotografias de Roni Horn e impresso em quatro cores em papel Scheufelen-Job de alta gramatura, é uma versão imagética de um gênero bibliográfico por excelência. A obra tem capa dura com revestimento de tecido, impressão em duas cores, relevo seco e encadernação costurada. O miolo traz série de 95 fotografias no mesmo formato e ocupando as páginas ímpares, com uma generosa margem branca responsável pela ligação entre as páginas. As imagens retratam, em diferentes momentos, diferentes trechos da água do Rio Tâmisa durante o inverno e a primavera de 1999.
A partir da pergunta inicial, “O que você vê quando olha para a água?”, Horn sugere 95 variações de respostas ou possibilidades em que a água é vista como um léxico em constante transformação. Essa coleção de imagens manipuladas digitalmente é parte de um projeto de longo prazo que pretende documentar o Rio Tâmisa e teve apoio do Public Art Development Trust, de Londres. Segundo o autor, todo livro tem um antes e um depois, exterior e interior para onde somos conduzidos, seguindo por uma sequência fixa, e, nesse sentido, mesmo um dicionário tem uma narrativa implícita, formulada a partir do editor.
A oposição e complementaridade entre a imagem bibliográfica e o objeto livro presente como distinção tipológica entre o livro de artista e o livro-objeto demarca uma circularidade entre as dimensões que compõem o livro ágrafo de forma geral. Metaforicamente, essas dimensões que aparentam ser gradativamente mais abrangentes se equivalem nessa circularidade, alimentando-se umas das outras sucessivamente. Assim, a dimensão da linha, que muitas vezes é uma dimensão subliminar, presente como projeto, mas oculta pela imagem no plano (ilustração), não evidencia a circularidade entre as dimensões, ou seja, a narrativa está na sequência de imagens, as imagens nas páginas e a sequência de páginas no objeto que, por sua vez, contém a narrativa. O que pode estabelecer um início e um fim a essa circularidade são as capas.
As capas de um livro são como portas; capa e contracapa indicam sentidos de passagem pelo espaço/tempo da narrativa, mas também anunciam, protegem, sensibilizam de modo duplo, por dois lados do objeto. Quando se abre, essa duplicidade se mantém; a capa ganha seu verso, chamado de segunda capa; ao mesmo tempo, as páginas do livro se apresentam em pares. Assim, o livro é um objeto essencialmente duplo e regido pelo número dois.
Essa duplicidade ganha dimensão mais específica se pensarmos o próprio livro como imagem em analogia à imagem da casa e todas as outras imagens que ela possa conter, tornando-se uma interface para a “a dialética do exterior e do interior.”
Labyrinth, de Richard Long, 1991. Fonte: Studienzentrum für Küntlerpublikationen Bremen.
As imagens do livro Labyrinth, de Richard Long (Frankfurt am Main: Städelsche Galerie im Städelschen Kunstinstitut, 1991) prop õem um sentido exterior à casa, como caminhos que vêm de dentro pra fora do livro. São fotos de estradas em que as páginas da direita e esquerda dialogam, ora por coincidência, ora por oposição do sentido dos caminhos, sempre semelhantes e sem paisagem. A duplicidade das imagens remete a duas relações distintas: a primeira reforça o sentido de adequação das imagens ao suporte, ou seja, a duplicidade das páginas é evidenciada, acentuada pelos pares de imagens. A segunda remonta à origem performática da imagem ao privilegiar o aspecto duplo, estereográfico, enfatizando a captação dos olhos como anterior à captação da máquina.
O livro-catálogo, de tamanho pequeno e capa tipográfica cartonada com espessura fina, traz no miolo uma série de fotos em preto e branco de estradas, em que as imagens das páginas da direita e esquerda dialogam ora pela semelhança da forma e da luz, ora por oposição desses elementos ou, ainda, por concordância de sentidos do caminho. As fotos não têm horizonte ou propriamente alguma paisagem, mas a estrada que descreve determinado percurso do artista e, assim, atribui forte narratividade ao livro. O percurso descrito são trechos de uma performance em que o artista registrou trechos em determinada sequência, como um tipo de narrativa visual.
Os caminhos fazem parte do imaginário trazido por Bachelard no capítulo que tematiza a casa, quando declara: “e que lindo objeto dinâmico é um caminho! Como permanecem precisas na consciência muscular as veredas familiares da colina! Um poeta evoca todo esse dinamismo num único verso” (Bachelard, 2008b, p. 30).
Raum, de Heinz Gappmayr, 1977. Fonte: Studienzentrum für Küntlerpublikationen Bremen.
No sentido interior à casa, é impossível não nos referirmos à geometria de um quarto representado no livro Raum, de Heinz Gappmayr (München: Ottenhausen, 1983). O livro tem capa branca, cartonada, fina e plastificada, com título e autor em tipografia discreta na cor preta no canto superior esquerdo, e traz no miolo quarenta páginas brancas vazias. Após um primeiro momento de estarrecimento, pouco a pouco esse vazio da página aberta deixa à vista duas “paredes” e um “canto” em ângulo de noventa graus. O vazio de Gappmayr, que parece sugerir que seja completado pela imaginação do leitor, pode também ser referido no capítulo “Os cantos” da Poética do espaço, pela ambiguidade do verso de Nöel Arnaud citado por Bachelard: “Sou o espaço onde estou”.
Em primeiro lugar, o canto é um refúgio que nos assegura um primeiro valor de ser: a imobilidade. Ele é o local seguro, o local próximo da minha imobilidade. O canto é uma espécie de meia caixa, metade paredes, metade porta. Será uma distração para a dialética do interior e do exterior (Bachelard, 2008b, p. 146).
As maiores afinidades entre imagens literárias e bibliográficas estão no suporte livro e na fruição pela leitura. Bachelard afirma essa relação de forma incisiva quando vê sentido em dizer que “se lê uma casa”, que “se lê um quarto”, explicando em seguida que “quarto e casa são diagramas de psicologia que guiam os escritores e os poetas na análise da intimidade”[ii] (Bachelard, 2008b, p. 55). Casa e quarto, assim como livro e página, são leituras distintas e complementares – o todo e a parte – e se capas são como portas, ilustrações são como janelas: a capa anuncia o conteúdo do interior do livro, enquanto a ilustração apresenta o mundo exterior, como se olhássemos através de janelas.
Ladies & gentlemen, de Antoni Muntadas, 2001. Fonte: Studienzentrum für Küntlerpublikationen Bremen.
O livro Ladies & gentlemen, do artista espanhol Antoni Muntadas (Barcelona: Actar, 2001) combina ideias e tipos de imagem, apresentando-se como um photo book, mas, além da imagem fotográfica, a obra abarca também a imagem icônica, por meio dos pictogramas de porta de banheiros, que são o tema do trabalho; o colecionismo, que funciona como um conceito norteador do acúmulo de imagens sobre o mesmo tema e seguindo determinados padrões; e a ideia de narrativa circular, que, ao incluir as imagens das capas, promove uma possível reinserção do leitor na narrativa, de forma cíclica.
Em termos formais, ressaltamos a adequação da imagem dupla ao espaço duplo do suporte, ou seja, o pequeno livro de capa flexível e guarda em papel fosco traz no miolo fotos coloridas de entradas de lugares com sinalização de gênero. Em geral, são portas de banheiros públicos femininos e masculinos fotografadas separadamente com o mesmo padrão de imagem e aplicadas sempre em pares, nas páginas esquerdas e direitas, respectivamente.
A pertinência da combinação se dá por uma analogia inicial entre a porta e a capa do livro e se desenvolve na sequência pela combinação entre os pares de imagens relativas a pares de gênero e aplicadas sobre pares de páginas. Nesse sentido, o livro explora o aspecto de objeto, uma vez que as imagens pictográficas reduzem a possibilidade de narrativa sequencial a uma exposição descritiva da coleção de imagens, como a reafirmação do tema.
Por outro lado, a imagem das capas e a inevitável analogia com o objeto retratado nas imagens incumbem-se de promover a inclusão das capas, constituindo assim uma narrativa circular. Desse modo, a “Dialética do exterior e do interior”, nono capítulo da Poética do Espaço é tomada aqui como a representação dos espaços do livro por uma analogia ao binômio aberto/fechado. A linguagem visual torna-se parte do jogo em que o fora tende a prevalecer sobre o dentro. “No reino das imagens, o jogo entre exterior e a intimidade não é um jogo equilibrado” (Bachelard, 2008b, p. 19).
Todo o propósito da linguagem visual em livros requer, assim como um texto literário, um percurso por seu interior, uma imersão silenciosa, como um tipo de mediação dialógica em que a leitura textual suscita imagens e a leitura de imagens suscita sua decodificação em palavras. O bom livro prende em seu jogo, seja ele de palavras ou de imagens. Essa dimensão da linguagem como jogo que aprisiona em seu interior é referida por Barthes quando afirma que “não pode haver liberdade senão fora da linguagem. Infelizmente, a linguagem humana é sem exterior: é um lugar fechado” (Barthes, 1980, p. 16).
ABC, de William Wegman, 1982. Fonte: Studienzentrum für Küntlerpublikationen Bremen.
O aspecto material tem papel crucial na aproximação do leitor com o livro ágrafo; junto a esse aspecto qualitativo do objeto, a qualidade das imagens pode reafirmar ou potencializar visualmente o que é afirmado sensorialmente no contato sensível com a obra. O luxuoso ABC, de William Wegman (New York: Hyperion Books for Children, 1982), é um livro grande, capa dura fotográfica em cores, com autor e título e sobrecapa repetindo as informações da capa. O miolo traz imagens fotográficas, com diálogo entre as páginas pares e ímpares. As paginas da esquerda anunciam sempre a letra em questão como imagem de cães representando uma letra e breve comentário verbal, enquanto na direita uma imagem em cores representa um comentário visual a partir de uma palavra que começa com a letra em questão.
O trabalho retrata o objeto central da obra de Wegman combinando a ingenuidade que o artista frequentemente capta em seus vídeos e fotos com o limiar entre a arte bibliográfica e a linguagem da publicidade, devido ao grau de elaboração das imagens combinadas à qualidade da edição do livro. Há, portanto, dois aspectos complementares neste trabalho: a complexidade na produção da imagem e edição do objeto em relação à aparente ingenuidade do tema e proposição da obra.
No entanto, há nesse contraste uma escolha bastante assertiva que lida com diferentes camadas de significado, desde o carisma imediato da imagem do animal de estimação (mas também da criança) na publicidade; passando pela analogia à infância, por serem os ABCs uma das tipologias mais antigas de livros de imagem, remetendo à origem educativa dos primeiros livros destinados à infância e chegando à crítica social metaforizada e ambígua por trás da complexidade das imagens e do objeto.
Se a gênese e fruição das imagens estão interligadas numa relação entre intuição racional e sensível de forma inversamente complementar, o mesmo exemplo vai mostrar que a estrutura das imagens bibliográficas varia em relação ao suporte livro, pela articulação de materiais que proporcionem o jogo entre sintaxe e semântica.
Essa interação entre autor/público (criação/fruição) é a base onde se estabelece a gênese e a estrutura das imagens bibliográficas, que estão ligadas na mesma relação especular identificada pelo binômio razão/sentidos. Assim, ao seguirmos o interesse da epistemologia de Bachelard em busca da gênese, da estrutura e do funcionamento da imagem poética, deduzimos que é possível mapear funções do conhecimento científico, mas que, assim como “a imagem poética é essencialmente variacional”, também o seu funcionamento vai variar, não havendo assim a uma função para “o produto mais fugaz da consciência: a imagem poética.” (Bachelard, 2008b, p. 4).
A síntese entre autor e público ganha sentido em si mesma e representa a potência cíclica que pode partir de ambos os lados do binômio concebido em sua totalidade. Marcelo de Carvalho afirma, a esse respeito, que a compreensão da totalidade do ser humano, como espírito, alma e corpo, constitui a “tripla raiz da imaginação poética, que (...) encara um dinamismo essencialmente polarizador e antitético, fazendo de nós leitores-criadores” (Carvalho, 2013, p. 19). Esse sentido de unidade, completude, circularidade está no capítulo conclusivo na Poética do espaço sob o título de “A fenomenologia do redondo”.
Considerações finais
Apresentamos aqui questões da imagem poética em livros de artista a partir da obra de Bachelard, tendo na primeira parte os fundamentos epistemológicos e uma contextualização de sua filosofia. Neste ponto inicial, delineamos as primeiras polarizações que vão dar o sentido dialético às suas proposições e os primeiros indícios de seu interesse pelas imagens literárias. Na segunda parte, apontamos a força dos binômios de oposição, a negação do passado e da objetividade das imagens poéticas e buscamos analogias entre imagens poéticas e imagens bibliográficas.
Identificamos como “especular” a relação entre gênese e fruição da imagem bibliográfica e deduzimos que essa relação é mediada pela intuição racional e sensível para mostrar que a estrutura dessas imagens vai variar em relação ao suporte e à articulação dos materiais. Descrevemos algumas distinções entre a materialidade das imagens bibliográficas e a imaterialidade das imagens poéticas.
No livro Labyrinth, de Richard Long, como forma de representação em sintonia com a dialética entre interior e exterior; em seguida apresentamos a obra Raum, de Heinz Gappmayr, em que o autor incita a imaginação do leitor evocando, por meio do vazio interno do livro, a geometria do interior de um quarto, e exemplificamos como livro e página são leituras distintas e complementares – o todo e a parte, indissociáveis entre si.
Ao comentar o livro Ladies & gentlemen, de Antoni Muntadas, também partimos dessa noção para apontar tipologias de imagens e a forma circular da sua narrativa interna. Por último apresentamos o complexo ABC, de William Wegman, dissecando as diferentes camadas de significado desde o carisma imediato dos animais de estimação (mas também da criança) na publicidade; a analogia à infância, por ser uma tipologia ancestral de livros de imagem; e a ambígua crítica social por trás da elaboração das imagens e do objeto.
Reconhecemos assim a oposição e complementaridade entre as primeiras dimensões, (linha/plano) no processo criativo e entre as dimensões das imagens e dos objetos (plano/objeto) na dialética entre exterior e interior. A linguagem das imagens, articulada por binômios, polaridades e jogos dialógicos, remete ao tempo/espaço como binômio fundamental e estrutura em que apoiamos nossa metodologia de análise. Assim, reconhecemos essas estruturas dialéticas como raiz da imaginação poética, que “encara um dinamismo essencialmente polarizador e antitético, fazendo de nós leitores-criadores” (Carvalho, 2013, p. 19).
Referências
BACHELARD, Gaston. Estudos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008a.
______. Poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2008b.
______. Os pensadores. Organização e prefácio de José Américo Pessanha. São Paulo: Nova Cultural, 1978.
______. Epistemologia. Organização e nota de D. Lecourt. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1980.
CARVALHO, Marcelo de. Conhecimento e devaneio. Gaston Bachelard e a androginia da alma. Rio de Janeiro: Mauad X, 2013.
CASSIRER, Ernst. Ensaios sobre o homem. São Paulo: Martins Fontes. 1994.
DURAND, Gilbert. O imaginário. Rio de Janeiro: Difel, 1994.
HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
JAPIASSU, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
[i] Os livros referidos são: A psicanálise do fogo, 1938; A água e os sonhos, 1942; O ar e os sonhos, 1943; A Terra e os devaneios da vontade, 1948; A Terra e os devaneios do repouso, 1948.
[ii] Nesta citação, como em muitos outros momentos, Bachelard traz a psicologia como analogia e reforça a função complementar do antagonista, apontada por Durand.
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Publicado em 24 de maio de 2016
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