A Educação Ambiental no Ensino de Jovens e Adultos nas escolas públicas: dificuldades e desafios

Monalisa Cristina Silva Medeiros

Geógrafa, doutoranda em Recursos Naturais (UFCG)

José Adailton Lima Silva

Geógrafo, doutorando em Recursos Naturais (UFCG)

Cristiane Aureliano de Sousa

Geógrafa, especialista em Fundamentos da Educação (UEPB)

Laíse Nascimento Cabral

Geógrafa, doutoranda em Recursos Naturais (UFCG)

Introdução

Atualmente, presenciamos uma problemática ambiental alarmante, e diante disso é fundamental a conscientização das pessoas em relação ao mundo em que vivem para que possam ter acesso a uma melhor qualidade de vida sem desrespeitar o meio ambiente, tentando assim criar um modelo de comportamento que leve toda a sociedade a refletir e repensar seus valores acerca do meio ambiente.

A Educação Ambiental (EA) é uma ferramenta de extrema importância nesse processo e tem sido um componente importante para se repensar as teorias e práticas que fundamentam as ações educativas nos contextos formais ou informais, com finalidade de constituir verdadeiras comunidades de aprendizagem com vista a um desenvolvimento sustentável.

A Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu artigo 2º reforça que “a Educação Ambiental é um componente permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (Brasil, 1999, p. 01).

Logo, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) também deve contemplar a Educação Ambiental em seu currículo. Essa modalidade de ensino é destinada às pessoas que não tiveram acesso ou oportunidade de estudar na idade adequada nos Ensinos Fundamental e Médio. Paranhos e Shuvartz (2013) ressaltam muito bem que no EJA a historização da relação entre sociedade e meio ambiente deve ser considerada e que esses discentes vivenciaram transformações do ambiente ao longo de sua história de vida; problematizar essas transformações pode fornecer subsídios para a compreensão dos motivos e das causas do desgaste dessa relação conflituosa, bem como é uma maneira pertinente de gerar novos valores e atitudes acerca das questões ambientais.

Pesquisar a inserção da EA nessa modalidade de ensino possibilitará elementos para aferir se os reais objetivos da EA estão sendo alcançados. Nesse contexto, este estudo/reflexão apresenta como objetivo analisar a inserção da Educação Ambiental na EJA, identificar a visão dos docentes e discentes acerca da EA e observar como está sendo trabalhada pelos professores em sala de aula para compreender as dificuldades e os desafios enfrentados por essa modalidade educacional.

Educação Ambiental (EA) e Educação de Jovens e Adultos (EJA)

As questões ambientais constituem um grande desafio para toda a humanidade. A crise ambiental, na atualidade, é resultado da estreita relação entre o ambiente natural e o social que provocou o desequilíbrio socioambiental. Assim, são necessárias medidas urgentes quanto a uma conscientização das pessoas que as leve a gerar novos conceitos sobre a importância da preservação do meio ambiente; nesse sentido é inquestionável a relevância da Educação Ambiental.

De acordo com Dias (2004, p 523), a EA consiste no processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem novos conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir e resolver problemas ambientais, presentes e futuros. Medina (2001) enfatiza também que a EA propicia às pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente, de modo a assumir uma posição consciente e participativa, e reflete na melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado.

Compreender a realidade que desencadeia os conflitos entre ser humano e ambiente natural revela a importância de trabalhar a Educação Ambiental em todos os segmentos da sociedade. De forma mais específica, este estudo deteve-se no alunado do EJA, uma vez que, conforme destaca Guimarães et al. (2008), o público dessa modalidade tem pouca escolarização, pois em algum momento foi evadido da escola formal; vale ressaltar que, em sua maioria, pertence às classes sociais em situação de vulnerabilidade socioambiental expostas aos preconceitos e desigualdades econômicas.

O programa para Educação de Jovens e Adultos, por um lado, é consequência das condições precárias de vida de uma parcela da população, que é obrigada a abandonar a escola, na maioria das vezes para trabalhar, evidenciando a exclusão social. Por outro lado, também é produto de um processo de organização e luta da sociedade civil comprometida com os interesses das classes populares (Oliveira; Santos, 2009).

A Educação de Jovens e Adultos e a Educação Ambiental estão presentes nas políticas públicas brasileiras; segundo Paranhos e Shuvartz (2013), sua relação foi concretizada a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que forneceu subsídios para a elaboração de normas infraconstitucionais que efetivassem o enlace EJA/EA.

A Constituição Federal, em seu Art. 225 ,estabelece que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (Brasil, 1988, p. 140). E o fato que marca a inserção da EA na EJA é a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99), em seu Art. 9º, inciso V, que estabelece o desenvolvimento da Educação Ambiental na Educação de Jovens e Adultos. A escola, portanto, é um dos agentes fundamentais para a divulgação dos princípios e práticas da Educação Ambiental.

Aspectos metodológicos

O estudo foi desenvolvido por meio de uma abordagem qualitativa, pois visa provocar o esclarecimento de uma situação para tomada de consciência, pelos pesquisadores, dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar estratégias para resolvê-los (Chizzotti, 2000). Foi realizado na E. E. E. F. Poeta Carlos Drummond de Andrade, localizada no município de Campina Grande, Estado da Paraíba, na modalidade EJA. O universo considerado foi o Ensino Fundamental II – discentes do 6º ano ao 9º ano, assim como professores de todas as disciplinas. A coleta de dados baseou-se na aplicação de questionários e observações in loco para melhor compreender a realidade do espaço e para a construção da análise.

No total foram realizadas 40 entrevistas com os discentes, sendo dez entrevistas em cada turma, e nove com os professores. Os questionários eram compostos por cinco questões, como perguntas abertas, que, segundo Lakatos e Marconi (2007. p. 206), “são as que permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria, e emitir opiniões”.

Na modalidade Educação de Jovens e Adultos, foram diagnosticadas várias dificuldades e desafios quanto ao desenvolvimento da Educação Ambiental e a evidente inadequação de uma educação que não proporciona ao educando formas de compreender e atuar no mundo para uma melhoria em conjunto.

Os alunos

Dos 40 alunos questionados, 52% eram do sexo masculino e 48% do sexo feminino. A idade variou de 16 anos a 52 anos. A maioria está na faixa etária de 19 a 37 anos (46%). Esses discentes apresentam seu conhecimento sobre as questões ambientais de maneira confusa, uma vez que não são levados a pensar de forma crítica sobre a problemática, e assim tornam-se apenas ouvintes e não praticantes, quando deveriam ser estimulados, por meio de atividades e projetos, a exercer essa consciência a partir de sua realidade e comunidade.

A Educação Ambiental possibilita um processo educativo no qual os discentes (que na maioria das vezes não têm consciência e senso crítico em relação à situação ambiental que vivem) alcancem uma formação cidadã ecológica, e, assim, tenham uma contribuição para um desenvolvimento mais sustentável do planeta. Além disso, pode torná-los aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental, num comprometimento com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global (Guimarães, 2008).

O conceito de meio ambiente, extremamente importante, demonstra a carência do entendimento acerca do conceito, pois para 30% dos alunos o termo significa o lugar que vivemos; para 20%, a natureza; para 20%, o planeta como um todo; 30% não souberam responder, o que demonstra uma situação preocupante.

A Constituição Federal, no inciso VI de seu Art. 225, estabelece que cabe ao Poder Público “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (Brasil, 1988, p. 140).

Sobre o conceito de Educação Ambiental, 48% dos alunos afirmaram que consiste em preservar a natureza. Para 17% deles, refere-se a reciclagem e a não jogar lixo no chão; 22% declararam que EA é o ensino sobre a natureza e 13% não souberam responder.

Para 37% a responsabilidade pela promoção/desenvolvimento da Educação Ambiental é dos geógrafos; para 20%, dos biólogos (Ciências); para 23%, dos governantes (políticos); 10% destacam que a responsabilidade é de toda comunidade escolar e 10% não souberam responder. A Educação Ambiental é transdisciplinar e deve ser desenvolvida em todos os segmentos da sociedade, da educação formal à não formal.

A EA deve ser trabalhada de forma interdisciplinar, mas as atuais condições da escola pública pesquisada levam ao total desânimo dos docentes; esta é a principal dificuldade apontada pelos próprios alunos.

Oliveira e Santos (2009) ressaltam que a proposta educativa envolve a visão de mundo como um todo e não pode ser reduzida a apenas um departamento, uma disciplina ou programa específico. No entanto, na escola mencionada, foi constatado a partir dos próprios alunos que a Educação Ambiental é abordada apenas em Geografia e Ciências.

Quanto ao desenvolvimento de atividades em EA, apesar do pouco conhecimento sobre a temática, 75% afirmaram ter participado; 25%, não. No entanto, foi constatado que essas atividades foram apenas de cunho teórico, nada prático; todos afirmaram nunca ter participado de projeto de EA desenvolvido pela escola.

Considerando a importância da temática ambiental, é necessário que se desenvolvam meios que possam contribuir para a conscientização mediante uma postura participativa de professores, alunos e sociedade, uma vez que a escola deve proporcionar possibilidades de sensibilização e motivação para um envolvimento ativo e se pôr a trabalhar com atitudes, formação de valores, ensino e aprendizagem de habilidades e procedimentos; este é o grande desafio para a educação (PCN, 1997, p. 67).

Os PCN enfatizam a importância da inserção da EA, como é exigência das políticas públicas, mas fica evidente que ainda existem muitas dificuldades e desafios a serem vencidos. Sobre isso, Bizerril e Faria (2001, p. 57) afirmam que “resta a dúvida sobre os limites da capacidade das escolas em compreender as propostas contidas no documento, bem como em ter motivação suficiente ou metodologia para executá-las”.

É importante a articulação de ações educativas que levem o aluno à prática, de modo a proporcionar mudanças de atitudes, culturais e sociais, facilitando um planejamento estratégico para o desenvolvimento sustentável, e a escola é o espaço mais indicado e privilegiado para implementação dessas atividades.

Os professores

O corpo docente da E. E. E. F. Poeta Carlos Drummond de Andrade é composto por nove professores, e todos concordaram em responder o questionário. Verificou-se que todos os professores estão cientes das responsabilidades socioeducativas confiadas a eles, existindo consenso da importância do tema transversal EA.

Todos revelaram algum conhecimento sobre o conceito de Educação Ambiental: 53% dos professores responderam que a EA consiste na sustentabilidade, 27% afirmaram que é o ensino de práticas educativas quanto ao cuidado e à preservação do meio ambiente e 20% destacaram que consiste na conscientização ambiental. Apesar desse conhecimento, não existem capacitações ou projetos sendo desenvolvidos, e assim não incluem a EA como temas transversais em seus planos de aula.

Outro agravante é a falta de material didático, pois o próprio livro didático é defasado quanto a esses conteúdos e a escola não disponibiliza nenhum material didático para esse fim. Assim, os professores não têm incentivo e se depararam com um cenário desfavorável, além das inúmeras dificuldades pessoais que os professores enfrentam no cotidiano.

Os educadores, em sua totalidade, apontaram que todos são responsáveis pela promoção da Educação Ambiental, desde o poder público, que precisa dar subsídios, às instituições educacionais e à sociedade em geral. Apenas o professor de Geografia e a professora de Ciências afirmaram desenvolver alguma atividade no âmbito da EA, e os demais ressaltaram as dificuldades da escola que os impossibilitam de tal tarefa; todos ainda também afirmaram que no momento não existia nenhum projeto em EA. O professor de Geografia destacou que no ano anterior desenvolveu um projeto com alunos do Ensino Regular.

Os alunos estão totalmente desvinculados de uma pratica educativa ambiental, e o ideal é a aproximação do aluno a experiências vivenciadas no cotidiano para tornar o estudo mais interessante, e assim desenvolva uma postura crítica perante sua realidade, sobretudo para os alunos de EJA, que buscam integração social com expectativa de melhor qualidade de vida.

Os problemas ambientais precisam deixar de ser tratados como algo possível e sim concreto; é essencial uma vinculação mais estreita entre os processos educativos e a realidade, estruturando suas atividades em torno dos problemas concretos que se impõem à comunidade e enfocando-as em uma perspectiva interdisciplinar e globalizadora que seja concebida como um processo contínuo, dirigido a todos os grupos de idade e categoria profissional (Dias, 2004).

Considerações finais

Diante do exposto, pode-se concluir que não há efetivamente o desenvolvimento de uma prática educativa ambiental interdisciplinar e se observa que a deficiência do conceito de Educação Ambiental parte de docentes e discentes. A escola não possui projetos que envolvam os temas Educação Ambiental e meio ambiente; apenas Ciências e Geografia trabalham atividades em nível de sala de aula, mas ainda teóricas, nada práticas. Existem grandes dificuldades e desafios na EJA quanto à EA, e é indispensável a articulação de ações educativas, condições adequadas e o maior envolvimento dos profissionais que trabalham a inserção da EA para a superação da situação atual e assim possibilitar a conscientização dos alunos e o desenvolvimento da criticidade deles, gerando novos conceitos e valores sobre meio ambiente.

Referências

BIZERRIL, Marcelo X. A.; FARIA, Dóris S. Percepção de professores sobre a educação ambiental no Ensino Fundamental. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 82, nº 200/201/202, p. 57-69, jan./dez. 2001.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, 05 out. 1988.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente, saúde. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Lei nº 6.938/81, da Política Nacional de Meio Ambiente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L6938org.htm. Acesso em 04 jan. 2016.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9a ed. São Paulo: Gaia, 2004.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina e Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MEDINA, N. N. A formação dos professores em Educação Ambiental. In: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Panorama da educação ambiental no Ensino Fundamental. Brasília, 2001. Disponível em: http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/pdf/panorama.pdf. Acesso em 26 jan. 2016.

OLIVEIRA, Vagne de Melo Oliveira; SANTOS, Maria Elizabete Pereira. A prática da Educação Ambiental no Ensino de Jovens e Adultos (EJA). IX Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão. Jepex 2009.

PARANHOS, Rones de Deus; SHUVART, Marilda. A relação entre Educação Ambiental e a Educação de Jovens e Adultos sob a perspectiva da trajetória dos educadores. Contexto & Educação, v. 28, nº 91, set./dez. 2013.

Publicado em 30 de agosto de 2016

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