Divulgando astronomia em jornal impresso, na coluna Astronomia e Educação
Adriana Oliveira Bernardes
Mestre em Ensino de Ciências (UENF)
A divulgação científica no Brasil ocorre efetivamente desde o século XVIII, apesar de serem grandes as dificuldades na época e de todo o conhecimento no Brasil, naquele tempo, estar voltado apenas para questões de ordem prática.
Podemos dizer que uma divulgação científica mais intensa começou a ocorrer no Brasil a partir da década de 1980. Nessa época surgiram programas de televisão e revistas voltados para o tema, entre outras formas de divulgação. Ainda que sem o apoio devido, a divulgação de Astronomia se deu de forma efetiva em diversas instituições de ensino formal e em clubes de Astronomia, que são instituições de ensino não formal, juntamente com museus e planetários. Em 2009, com os 400 anos da utilização da luneta por Galileu Galilei para observar o céu, a Unesco declarou ser aquele o Ano Internacional da Astronomia. Diversas instituições realizaram atividades de divulgação de Astronomia, se equiparando a países que já realizam tradicionalmente tais atividades. Neste artigo apresentaremos um trabalho de divulgação de Astronomia realizado em 2011 em um jornal impresso, o Nova Imprensa, de Nova Friburgo (região serrana do Estado do Rio de Janeiro): a coluna Astronomia e Educação, que durou um ano e meio, tinha por objetivo divulgar o tema de forma simples e que pudesse ser compreendida pelos leitores.
Divulgação Científica no Brasil
No século XIX, em relação à divulgação científica no Brasil, podemos concluir que:
os primeiros jornais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, O Patriota e o Correio Braziliense (editado na Inglaterra) publicaram artigos e notícias relacionados à ciência. Em O Patriota, que duraria apenas dois anos, entre 1813 e 1814, vieram à luz vários artigos de cunho científico ou divulgativo, alguns dos quais remanescentes de textos apresentados à antiga Sociedade Literária. Silva Alvarenga publicou nele vários poemas nos quais abordava temas ligados à ciência Moreira (apud Massarani, 2008, p. 63).
Segundo esse autor, ”o espaço dedicado à ciência nos jornais é, no geral, bastante limitado e há ainda poucos jornalistas especializados em Ciência, porém esse número vem aumentando no Brasil desde o fim do século XX".
A divulgação de Ciência no Brasil hoje vem se realizando de forma diversa: em blogs, jornais, revistas, televisão, centros de ciências e clubes de astronomia, entre outros.
Arguello (apud Massarani, 2008, p. 206) afirma que ”a informação científica é essencial para o próprio processo de fazer ciências, mas é também essencial na educação em ciências”.
Araújo-Jorge (apud Massarani, 2008, p. 267) considera que,
tendo acesso aos conhecimentos por intermédio da divulgação científica, a sociedade poderá ainda ter meios de melhor julgar uma série de questões que estão colocadas em face do vertiginoso crescimento científico.
Bueno (apud Massarani, 2008, p. 230) sugere que
um país como o Brasil, que se caracteriza por um índice elevado de analfabetismo científico, não pode prescindir da contribuição de cientistas, pesquisadores, professores e comunicadores sociais no processo de democratização do conhecimento.
Esse mesmo autor (idem, p. 231) afirma, em relação a situação da divulgação científica em nosso pais:
a situação ainda está longe de ser ideal. Na maioria das instituições responsáveis pela produção de ciência e tecnologia, inexiste uma autêntica cultura de comunicação. Isso significa que não têm sido implementados canais adequados para o relacionamento com o público leigo; a estrutura que responde pelo planejamento e execução das atividades de comunicação muitas vezes não está profissionalizada, e uma parte considerável do esforço de divulgação concentra-se na promoção de pessoas geralmente situadas no topo da administração.
Em relação ao surgimento da internet e sua influência na divulgação científica, pode-se afirmar que:
a expansão do acesso à internet provocou autêntica explosão na divulgação científica, ao lado da ampliação de oportunidades de difusão em veículos comerciais, como jornais, revistas, vídeos e a própria TV (aberta ou a cabo). São transmissões simultâneas e até concorrentes que atingem estudantes de todos os níveis escolares (Carneiro; Almeida apud Massarani, 2008, p. 213).
Divulgação de Astronomia
A divulgação de Astronomia no Brasil hoje é realizada tanto por profissionais da Astronomia quanto por astrônomos amadores e amantes desta ciência.
Esse trabalho é realizado em centros de ciência, museus e clubes de astronomia, entre outros.
Em 2009, declarado pela Unesco Ano Internacional da Astronomia, essa divulgação se intensificou.
Segundo Damineli (2010, p. 105),
O fascínio pelos astros se expressa no rosto da jovem que, como outros 2,3 milhões de brasileiros, acorreram aos 16 mil eventos oferecidos ao longo do Ano Internacional das Astronomia (2009). Esse gigantesco programa de divulgação científica foi oferecido por 160 grupos de astrônomos amadores e 80 instituições universitárias, planetários e centros de ciência (Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas – Maceió).
Em relação à OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia), coordenada pelo professor João Batista Garcia Canalle, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Damineli (2010, p. 106) afirma que,
organizada pela Sociedade Astronômica Brasileira, já atinge mais de dez mil escolas do Pais, 75 mil professores e 860 mil estudantes; tem sido uma ferramenta importante para difundir material didático e interesse pela astronomia a todos os cantos do pais.
Os Encontros Regionais de Astronomia (Ereas), que vêm ocorrendo desde 2009, também têm contribuído bastante para a divulgação da área, atuando principalmente junto a professores que trabalham nessa disciplina.
Desde 2009, têm sido realizados Encontros Regionais de Astronomia que culminarão com um congresso nacional que objetiva oferecer aos órgãos governamentais (MEC) ações para melhorar a formação dos professores de ciências em Astronomia e a qualidade do conteúdo dos livros no ensino fundamental.
Jornal Nova Imprensa
O jornal Nova Imprensa foi fundado em 2010 na cidade de Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro. Saía às quartas e sextas-feiras, em versão impressa e on-line. Esta versão propiciava a interação entre jornalistas e colunistas e o público em geral.
O periódico circulava nas seguintes cidades do interior do Rio de Janeiro: Nova Friburgo, Bom Jardim, Cordeiro, Cantagalo, Trajano de Morais, Duas Barras, Carmo e Cachoeiras de Macacu. Contava com outras duas colunas, além da coluna Astronomia e Educação: Ciência e Arte - Literatura e Cinema; e Equilíbrio.
A coluna Astronomia e Educação era publicada semanalmente saindo às sextas-feiras.
Coluna Astronomia e Educação
A coluna Astronomia e Educação foi iniciada em 2011, com o objetivo de divulgar Astronomia. Havia diferenças entre a versão impressae a versão on-line, pois nesta havia a adição de imagens.
Foram publicadas 26 colunas, de março a novembro de 2011; versaram sobre Astronomia Básica, História da Astronomia, Astronáutica e temas relacionados à Astronomia.
Resultados
Foram veiculados os textos sob os seguintes títulos (em ordem cronológica):
- Astronomia: da Antiguidade aos dias atuais;
- Poluição Luminosa;
- Olimpíadas de conhecimento;
- Observando o céu: as constelações;
- Conhecendo o CERN;
- Entendendo os buracos negros;
- Stephen Hawking: deficiência e superação no legado do maior físico da atualidade;
- Da luneta de Galileu aos telescópios espaciais;
- 20 anos do telescópio espacial Hubble;
- Carl Sagan: o maior divulgador da ciência do século XX;
- A missão centenário;
- Astronomia para deficientes visuais;
- Mitologia e o nome dos astros;
- Participando do primeiro SNEA (Simpósio Nacional de Educação em Astronomia);
- A lua;
- O legado de Giordano Bruno;
- Planeta Terra;
- Nosso sistema solar – os planetas rochosos;
- Nosso sistema solar – os planetas gasosos;
- Sobre as estrelas;
- Saturno: suas luas, seus anéis e seus mistérios;
- Planetas anões;
- A Via-Láctea;
- As contribuições de Hiparco para a Astronomia;
- Planetas extrassolares;
- Anãs brancas.
Abordagem dos textos
O objetivo dos textos era abordar conteúdos de Astronomia de forma acessível ao público em geral, havendo grande preocupação com os termos utilizados, para que não prejudiquem o entendimento do conteúdo.
Podemos observar, na Figura 1, que 50% dos artigos versaram sobre Astronomia Básica, 27% sobre História da Astronomia, 19% sobre temas relacionados à Astronomia e 4% sobre Astronáutica.
[caption id="attachment_39780" align="aligncenter" width="372"] Figura 1: Temas tratados na coluna[/caption]
Considerações finais
A divulgação científica vem sendo realizada hoje em dia em vários jornais de grande circulação e crescendo a cada ano. Porém ocorre também em cidades pequenas, onde é possível realizar esse trabalho em jornais de pequeno porte, pois há espaço para isso.
Na coluna em questão, foi possível trabalhar temas variados de Astronomia, relacionados também à Astronáutica e à História da Astronomia.
Agradecimentos
Ao professor João Batista Garcia Canalle e ao astrônomo Jair Barroso, do Mast.
Referências
ARAÚJO-JORGE, T. C. In: MASSARANI, L. et al. Ciência e Público - caminhos da divulgação científica no Brasil. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/media/cienciaepublico.pdf.
BUENO, W. C. In: MASSARANI, L. et al. Ciência e Público - caminhos da divulgação científica no Brasil. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/media/cienciaepublico.pdf.
CARNEIRO, C. R.; ALMEIDA, M. O. In: MASSARANI, L. et al. Ciência e Público - caminhos da divulgação científica no Brasil. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/media/cienciaepublico.pdf
DAMINELI, A. Fascínio do universo. Rio de Janeiro: Odysseus, 2010.
MOREIRA, I. C. In: MASSARANI, L. et al. Ciência e público - caminhos da divulgação científica no Brasil. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/media/cienciaepublico.pdf.
Publicado em 19 de janeiro de 2016
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.