Reflexões sobre a gestão participativa e democrática
Kátia Farias Antero
Doutoranda em Ciências da Educação (Unigrendal)
Introdução
Ser um gestor vai muito além de ser o representante maior de uma escola. Seu papel vai muito além de simplesmente tomar decisões sobre a escola e ficar à frente de um grupo. Ele é um planejador. É aquele que entrega atribuições para pessoas e quer delas um resultado. Um dos grandes problemas que ainda enfrentamos hoje nas escolas é nos depararmos com muitos gestores que não sabem ou não aceitam trabalhar em conjunto, sem saber lidar com pessoas e administrando conflitos. Com o objetivo de investigar a importância da gestão democrática e ações desempenhadas por uma gestora para esse fim, analisamos o trabalho da Maria Barbosa da Silva Azevedo (pseudônimo), uma profissional da gestão que exerce sua função na creche Nila Dunda, no Distrito de Galante, no município de Campina Grande-PB. Utilizamos como recurso leitura permanente dos fundamentos teóricos, análise de imagens, observação e questionários. Embasamos nossa pesquisa com as contribuições de Libâneo (2008) e Lück (2000), dentre outros. Realizamos toda a análise desse processo fazendo um paralelo entre as discussões teóricas e a prática das ações desenvolvidas pela gestora. Esse trabalho foi desenvolvido com êxito, pois alcançamos todos os fins propostos e acreditamos que esse trabalho possa incentivar a reflexão de como ser um gestor democrático e participativo.
Se pararmos para observar a relação pessoal no cotidiano escolar do gestor e demais funcionários, verificaremos que o contato do gestor com os demais é bastante dificultoso, pois enfrenta problemas no desenvolver de seu trabalho com o “orientar os outros”, na dificuldade com os consensos, com o comprometimento e engajamento do grupo.
Quando a gestão abre espaço para que a comunidade participe, esta última também acaba tendo responsabilidade com a tomada de decisões iniciadas pela escola, possibilitando que todos os membros, sejam eles pais ou funcionários, se sintam importantes no fazer da educação, abrangendo novas metas.
Assim, é possível que as pessoas da escola desenvolvam seu papel real, contribuindo umas com as outras, em que cada indivíduo possua o conhecimento de sua função e possa auxiliar na participação dos demais. Dessa forma, o gestor se torna parceiro e faz com que outras pessoas também se tornem atuantes nessa transmissão e troca de conhecimentos no fazer pedagógico. Como afirma Cury (2001, p. 205),
a relação posta na transmissão do ensino público implica a hierarquia de funções (mestre/estudante), e isso não quer dizer nem hierarquia entre pessoas nem quer dizer que o estudante jamais chegue à condição de mestre. Pelo contrário, a relação do conhecimento existente na transmissão pedagógica tem como fim não a perpetuação da diferença entre saberes, mas a parceria entre sujeitos.
De acordo com essa afirmação, todos são iguais, mesmo sendo necessária a presença do gestor na escola e sabendo que existe uma hierarquia específica no interior da escola.
No decorrer deste trabalho abordaremos questões de gestão de forma mais particular para a visão democrática, tendo como objetivo explanar investigação sobre a importância da gestão democrática e ações desempenhadas por uma gestora. Por esse fato, esta produção é bastante pertinente a todas as pessoas que se interessam e pesquisam sobre questões educacionais concernentes à gestão escolar.
O gestor democrático e seus desafios
Ocupar a gestão é saber ouvir a todos, sendo um articulador entre todos os segmentos da escola. O gestor decide com a participação de todos da escola, inclusive pais e funcionários. Esse profissional vai mudando sua prática, pois é necessário nos dias atuais. Como afirma Libâneo (2008, p. 34), “os indivíduos e os grupos mudam o próprio contexto em que trabalham”.
Segundo Cury (2005), gestão implica a presença do outro, de interlocutores com os quais se dialoga e com os quais se produzem respostas para a superação de conflitos: “pela arte de interrogar e pela paciência em buscar respostas que possam auxiliar no governo da educação, segundo a justiça. Nessa perspectiva, a gestão implica o diálogo como forma superior de encontro das pessoas e solução dos conflitos” (Cury, 2005).
Cada escola expressa um processo histórico; por isso, mesmo “imersa em um processo histórico de amplo alcance, é sempre uma versão local e particular desse movimento” (Ezpeleta; Rockwell, 1989, p. 11).
De acordo com Penin e Vieira (2002 apud Vieira, 2002), a escola sofre mudanças relacionando-se com os momentos históricos. “Sempre que a sociedade defronta-se com mudanças significativas em suas bases sociais e tecnológicas, novas atribuições são exigidas à escola” (p. 13). Por isso, a escola deve assumir as características de uma instituição que atenda ás suas necessidades.
Ser gestor é se atualizar de acordo com as necessidades, devendo se atualizar e conhecer as mais recentes contribuições dos educadores sobre os processos de capacitação de lideranças educacionais. Assim, “os gestores devem conscientizar-se de que seu papel na escola de hoje é muito mais de um líder que de um burocrata. Espera-se dele que assuma a direção como um membro ativo da comunidade escolar” (Santos, 2002, p. XVI).
Será possível realizar uma gestão em que a comunidade possa participar ativamente no desenvolver pedagógico da escola? É o que o sujeito desta pesquisa revela por suas ações em seu local de trabalho.
Desenvolvimento
Com o objetivo de investigar a importância da gestão participativa, analisamos o trabalho da gestora Maria Barbosa da Silva Azevedo (pseudônimo), que exerce sua função na creche Nila Dunda, localizada no Distrito de Galante, no município de Campina Grande-PB. Ela é professora da Educação Infantil desde 1997 e exerce a função de gestora desde 2007; está no seu segundo mandato por eleição.
A gestora focaliza seu trabalho centralizando-se em uma gestão participativa. Ela tem consciência de que trabalhos e desafios se enfrentam em toda parte e sabe da grande responsabilidade que tem seu exercício, até porque lidar com pessoas não é muito fácil, porque são realidades e pensamentos diferentes.
Ela busca sempre estar próxima das pessoas de sua comunidade, investigando as necessidades e tomando conhecimento do dia a dia dos seus alunos, procurando ter e manter boa relação com os pais e clareza nos seus objetivos com todos da escola, o que revela seu comprometimento.
Constantemente reflete sobre suas ações e, antes da tomada de decisão, procura interagir com os membros da comunidade na qual a escola está inserida. Reuniões pedagógicas são realizadas rotineiramente, a fim de buscar soluções em conjunto para superar os obstáculos. Nesse processo, monitora e avalia sua ação, para promover seu aprimoramento.
Acreditando numa sociedade igualitária e justa para todos, trata todos os indivíduos sem diferença, seja ela social, econômica ou racial; a voz de todos se faz importante, e ela sabe que muitos deles têm a acrescentar e contribuir. Procura satisfazer as exigências do grupo, mesmo sabendo que não é fácil democratizar na prática. Seu trabalho é feito à base do diálogo e do respeito.
Com o corpo interno da creche, realiza reuniões e em conjunto procura saber a opinião de todos sobre projetos e ações tomadas ou que ainda estão em processo de reflexão a serem praticadas. Valoriza todos os funcionários que trabalham com prazer no que fazem, pois sabe que suas opiniões são importantes naquele local.
Na primeira reunião do ano, sonda o que foi positivo e negativo do ano anterior, pois o que foi proveitoso e teve sucesso pode ser copiado. Esse é o momento em que verifica que uma ação não teve êxito e de que forma poder-se-ia transformá-la para que melhorasse.
A gestão fornece um caderno de planejamento que é entregue a todos os professores; ali há um roteiro de atividades, de modo que facilita o desenvolver do professor, o acompanhamento do gestor e o aprendizado do aluno. Após quinze dias, realiza-se uma avaliação a respeito desse planejamento feito para sondar os pontos positivos e negativos.
Dos eventos realizados pela creche, apresenta para o público interno a Mostra Criança 1, que é como se fosse uma mostra pedagógica realizada apenas para os alunos, não é aberta à comunidade. Essa mostra é realizada a cada semana em um determinado mês; cada turma se apresenta a cada sexta-feira. Quando todos se apresentam internamente, é a vez da Mostra Criança II, esta de caráter aberto ao público. Durante todo o trabalho, a gestora acompanha passo a passo o fazer pedagógico das professoras e procura auxiliá-las no que necessitam.
A gestora conta com o apoio de uma supervisora e uma assistente social, que vão à escola todos os dias, mas em horários alternados. Uma delas vai á escola todas as manhãs e a outra, toda tarde. Mesmo com horários diferentes, a equipe multiprofissional não encontra maiores dificuldades para desenvolver o melhor da prática pedagógica e atender à clientela.
A cada bimestre, a equipe multiprofissional distribui entre os pais um folheto informativo com a finalidade de informar as atividades desenvolvidas dentro da unidade num parâmetro pedagógico, valorizando todos os envolvidos no processo educativo.
Além das reuniões constantes realizadas com as famílias, a gestora promove os eventos, adequando-os ao tempo disponível da maioria dos responsáveis: Dia das Mães, Dia dos Pais, Festa de São João, entre outros. Em meio a essas atividades, os pais estão sempre acompanhando o que os filhos estão fazendo na escola, e a gestora aproxima-se de forma descontraída para sondar a opinião das famílias sobre o que estão pensando quanto ao fazer da escola e de que forma esse fazer pode ser melhorado.
Maria Azevedo não esquece os funcionários da creche. Promove reuniões e lembra datas de aniversários para ser notificada a importância que cada um deles tem na escola, do vigia ao professor, mantendo o espírito de harmonia entre todos da creche.
Durante sua gestão, ela realizou alguns projetos que marcarão seu legado, coordenados por ela e sua equipe: Pequenos leitores – Supervisora; Família e Creche: uma parceria necessária – Assistente Social; Direitos Fundamentais da Criança na Educação Infantil – Assistente Social; Equipe Multiprofissional: Creche em foco – Equipe; (Re)construindo o Projeto Político-Pedagógico da Creche Municipal Nila Dunda – Assistente Social; Caixas Mágicas – Supervisora; Mão Amiga – Supervisora; Mostra Criança – Supervisora.
Por fim, avalia seu trabalho com todos, pois sabe que a avaliação é uma ferramenta importante para o desenvolvimento do bom trabalho, reconhecendo os pontos bons e ruins e possibilitando definir novos planos de ação para a unidade, de forma que ela venha atender às necessidades como um todo.
Considerações finais
Neste estudo foi possível compreender que o exercício da gestão não é nada fácil e está sendo cada vez mais desafiador para atender a uma sociedade que está cotidianamente em mutação. Por meio da gestão participativa, o caminho pedagógico fica mais eficaz e os participantes se sentem integrantes e participativos de toda e qualquer mudança na escola.
Compreendeu-se, também, que os desafios surgem para serem superados, e se abrirmos as portas da escola para que pais e funcionários participem das decisões tomadas pela escola, será mais fácil superá-los.
Esse trabalho é bastante importante para todos que se interessam em como transformar uma gestão mais tradicional para um olhar mais democrático. Visa mostrar as possibilidades de atrair a comunidade e os pais para as ações que se pretende desenvolver na escola, principalmente aqueles que têm a intenção de divulgar essas ações de transformação do fazer educacional.
Vimos durante todo o processo que, ao abrir as portas da escola para a participação do outro, pais e comunidade, as ações escolares contam com o apoio deles e amplia as possibilidades de tornar mais próxima a relação entre escola e família. Para embasar esse fato, está a importância imensurável da gestão.
Referências
CURY, C. R. J. O Conselho Nacional de Educação e a gestão democrática. In: OLIVEIRA, D. A. (Org.). Gestão democrática da educação. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
______. O princípio da gestão democrática na educação. 2005. Disponível em: www.tvebrasil.com.br/salto. Acesso em 19 out. 2014.
EZPELETA, J.; ROCKWELL, E. Pesquisa participante. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1989.
LIBÂNEO, J. C. A escola como organização de trabalho e lugar de aprendizagem. In: Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5ª ed. Goiânia: M. F. Livros, 2008.
PENIN, S. T. S; VIEIRA, S. L. Refletindo sobre a função social da escola. In: VIEIRA, Sofia Lerche (Org.). Gestão da escola – desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 13-43.
SANTOS, C. R. dos. O gestor educacional de uma escola em mudanças. São Paulo: Pioneira, 2002.
Publicado em 06 de dezembro de 2016
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