Emissões de poluentes por veículos automotores

Thainá Louzada dos Santos

Graduada em Ciências Biológicas (UFRJ/ Cederj), pós-graduada em Planejamento, Implementação e Gestão em EAD (UFF/Lante), mestranda em Tecnologia Ambiental (UFF), professora de Ciências, Biologia e Química na rede pública do Estado do Rio de Janeiro

A queima de combustíveis fósseis gera poluição atmosférica nos grandes centros urbanos. Esses combustíveis, em sua queima incompleta, ao serem utilizados em máquinas térmicas e veículos automotores, lançam grande quantidade de gás carbônico na atmosfera, fazendo destes os grandes vilões no que se refere ao aquecimento global e efeito estufa.

A população mundial cresceu aceleradamente com o desenvolvimento das cidades, sendo necessária a produção em larga escala dos bens de consumo (Miranda, 2012). Dessa forma, por volta de aproximadamente 250 anos atrás, surgiram as primeiras fábricas e com elas o homem fez uma nova revolução, mudando totalmente a face do planeta: a Revolução Industrial (Instituto Unibanco, 2003).

Ainda segundo o Instituto Unibanco (2003) a grande vítima dessa reviravolta foi o meio ambiente, para onde foram emitidas as fumaças de carvão das máquinas a vapor; mais tarde esse mesmo local foi aquecido e poluído pela queima de gases derivados do petróleo.

Fomentada pelo espírito capitalista, a Revolução Industrial modificou toda a estrutura econômica e social da Europa e, consequentemente, de todo o mundo (Caniato; Nascimento, 2010).

Atualmente, a sociedade de consumo, incentivada pelo capitalismo exacerbado, leva a sociedade a consumir em busca da satisfação do seu ego com a preocupação exclusiva de seu desempenho em detrimento das causas coletivas, ilusões de onipotência, enaltecimento do poder pessoal, supervalorização do presente com desprezo pelo passado e atitude negligente em relação ao futuro (Caniato; Nascimento, 2010).

Um dos maiores problemas que assolam a sociedade é a poluição atmosférica, que alcançou proporções mundiais. Seus impactos são severamente notados nas comunidades e no meio ambiente, que são negativamente afetados de modo constante pelos níveis elevados de poluição do ar (Instituto Unibanco, 2003).

Entre os países que sofreram notável aumento na motorização individual, o Brasil ganha lugar de destaque, fato que implica a intensificação do tráfego de veículos nos grandes centros urbanos, bem como congestionamentos cada vez mais frequentes (Drumm et al., 2014).

De acordo com Teixeira et al. (2008), os veículos automotores causam emissões com grande variedade de substâncias tóxicas, as quais, em contato com o sistema respiratório, podem causar diversos efeitos negativos à saúde, principalmente em crianças e idosos.

O rápido aumento da frota, como consequência do crescimento da população, a inadequação dos sistemas viários para atendimento das demandas de trânsito e transporte e a ineficiência dos transportes coletivos vêm causando um processo de saturação das vias de tráfego dos centros urbanos de forma contínua. O aumento da emissão de gases poluentes causados pela manutenção inadequada dos motores e pela deterioração e adulteração dos sistemas de escapamentos dos veículos nessas vias é agravado pela diminuição da velocidade média dos veículos, acarretando muitas vezes níveis de poluição superiores aos padrões aceitáveis (Dutra et al., 2004).

Constituição e classificação dos poluentes automotores

A constituição dos poluentes emitidos pelo tubo de escapamento dos veículos é gerada durante a reação incompleta que ocorre no motor (Dutra et al., 2004).

Segundo Cunha (2002), a qualidade do ar de uma região sofre influência direta dos níveis de poluição atmosférica, os quais estão vinculados a um complexo de fontes emissoras móveis (veículos automotores, aviões e trens) e estacionárias (indústrias, queima de lixo, emissões naturais entre outras). O transporte e a diluição na atmosfera, bem como a magnitude do lançamento, determinam o estado atual da qualidade do ar atmosférico.

Os poluentes atmosféricos podem ser classificados em dois grupos: poluentes primários e poluentes secundários. Os primários são emitidos diretamente pelas fontes e podem, na baixa atmosfera, sofrer transformações e reações fotoquímicas, dando origem aos poluentes secundários. Estes necessitam de certo tempo para sua formação e ocorrem à medida que as massas de ar se deslocam; é comum que concentrações elevadas desses poluentes atinjam áreas mais afastadas das fontes de emissão que os poluentes primários (Loureiro, 2005).

Para Drumm et al. (2014), os poluentes primários estão submetidos a processos complexos de transporte, mistura e transformação química após sua emissão para a atmosfera, fato que permite uma distribuição variável das suas concentrações na atmosfera tanto no tempo como no espaço.

As distribuições das concentrações de poluentes na atmosfera dependem basicamente das condições de emissão e meteorológicas, podendo alguns poluentes, antes de atingir o nível do solo, ser transportados a grandes distâncias (Tundo; Zecchini, 2007).

Principais poluentes atmosféricos e suas fontes

Monóxido de carbono (CO)

Proveniente de combustões incompletas em veículos automotores, é um gás incolor inodoro e venenoso; devido à sua origem, pode ser encontrado em altos níveis de concentração em áreas de intensa circulação de veículos nos centros urbanos (Drumm et al., 2014).

Esse poluente é emitido em centenas de milhões de toneladas diariamente, oriundas de processos naturais e antropogênicos; além disso, apresenta grande toxicidade ao ser humano, tendo em vista sua afinidade com a hemoglobina (Guimarães, 2011).

Material particulado (MP)

Esta classificação abrange uma classe de poluentes constituída de poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera devido ao pequeno tamanho (PCPV, 2005).
Quanto menor o tamanho das partículas maior o efeito sobre a saúde, devido à facilidade de penetrar profundamente no aparelho respiratório (Vesilind; Morgan, 2011).

Dióxido de nitrogênio (NO2)

Altamente tóxico ao ser humano, este gás apresenta cor marrom alaranjada, odor forte e irritante; pode levar à formação de ácido nítrico, nitratos, compostos orgânicos e à formação da chuva ácida (Vesilind; Morgan, 2011).

Ozônio (O3)

Principal componente da névoa fotoquímica, é um gás altamente reativo, incolor e inodoro nas concentrações ambientais. É produzido quando hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio reagem na atmosfera ativados pela radiação solar; exerce também importante função ecológica ao absorver radiações ultravioletas do Sol, porém pode ser nocivo nas camadas inferiores da atmosfera (Braga, 2005).

Impactos da poluição atmosférica

Estabelecer relação direta entre determinado poluente e os efeitos que ele provoca no meio ambiente não é fácil, considerando sua dispersão no ar, a distância que sua concentração alcança e o seu tempo de exposição. Dessa forma, a poluição atmosférica pode causar impactos locais, regionais e globais (Mota, 2000).

Impactos locais

De acordo com Moreira (2007), esses impactos são verificados nas áreas próximas às fontes de poluição. Um dos seus principais efeitos é o dano à saúde humana, quando a concentração de poluentes do ar aumenta sem que sejam dispersos pela ação da meterorologia, da topografia e de outros fatores.

O efeito smog é outro impacto muito conhecido nas grandes cidades, caracterizado pela diminuição na visibilidade e prejudicando o tráfego em geral (Drumm et al., 2014). Ao inalar o smog, o indivíduo desenvolve uma inflamação respiratória que pode persistir por até 18 horas, provocando dificuldade em respirar e intensificando asma, alergias e problemas cardíacos (Miranda; Baptista, 2008).

Impactos regionais e continentais

Os impactos regionais apresentam como característica a observação de seus efeitos a distâncias maiores das fontes; um dos principais exemplos é a chuva ácida. Essas chuvas podem se deslocar por quilômetros de distância de seu ponto de origem devido a correntes aéreas e regimes pluviais, levando seus efeitos deletérios a regiões onde esses gases não são normalmente observados (Mota, 2000).

As chuvas ácidas provocam alterações dos ambientes naturais, das águas dos solos e principalmente da vegetação; deteriora também muitos materiais empregados na construção civil e monumentos históricos (Ribeiro, 2009).

Impacto global

Este impacto é referente aos poluentes atmosféricos que podem afetar todo o planeta. O efeito estufa é o problema de maior importância causado pelo uso dos combustíveis fósseis, podendo ser definido como o aumento da temperatura média da Terra devido à concentração atmosférica exacerbada de alguns gases, como o gás carbônico, os clorofluorcarbonos, o metano e os óxidos nitrosos. Esses gases capturam parte de irradiação infravermelha que a Terra devolve para o espaço, provocando o aumento da temperatura atmosférica com as decorrentes mudanças climáticas (Drumm et al., 2014; Lora; Teixeira, 2001).

Entre os gases causadores do efeito estufa, o de maior importância é o gás carbônico, que é o principal composto resultante da combustão completa de combustíveis; quando em grande quantidade, junto com outros poluentes, forma um filtro na atmosfera. Durante o dia, a Terra é aquecida pelo sol e à noite perde o calor armazenado, tendo, por consequência, uma redução de temperatura; entretanto, com a camada de poluentes presentes, o calor fica retido na Terra provocando aumento na temperatura média (Moreira, 2007).

Segundo Pinto (2005), 32% das emissões de carbono no Brasil são provenientes das atividades de transporte. Esse número é considerado elevado em comparação com a média mundial e justificado pelo predomínio do modal rodoviário sobre os demais.

Considerações finais

Diversos fenômenos nocivos ao meio ambiente (chuva ácida, efeito estufa e efeito smog) e ao homem (alergias e doenças respiratórias, entre outras) estão associadas à poluição atmosférica.
A melhora da qualidade do ar que respiramos faz-se necessária em prol do desenvolvimento sustentável; estudos futuros devem aprimorar as medidas de redução da poluição atmosférica de origem veicular.

Referências

CANIATO, A. P.; NASCIMENTO, L. V. A subjetividade na sociedade de consumo: do sofrimento narcísico em tempos de excesso e privação. Disponível em: www.psicologia.ufrj.br/abp. Acesso em: 18 set. 2015.

DRUMM, F. C.; GERHARDT, A. E.; FERNANDES, G. D.; CHAGAS, P.; SUCOLOTTI, M. S.; KEMERICH, P. D. C.; Poluição atmosférica proveniente da queima de combustíveis derivados do petróleo e veículos automotores. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/reget/article/viewFile/10537/pdf. Acesso em: 17 set. 2015.

DUTRA, E. G.; VALLE, R. M.; GOMES, B. C.; FIORANTE, E. F.; DUTRA, L. G. Emissão de gases poluentes por veículos leves a gasolina na atmosfera de Belo Horizonte. Disponível em www.feam.br. Acesso em: 19 set. 2015.

INSTITUTO UNIBANCO. As fábricas e a poluição ambiental. Publicado em junho de 2003 pela Fundação Victor Civita. Disponível em: www.novaescola.com.br. Acesso em: 18 set. 2015.

MIRANDA, F. S. P. A mudança no paradigma econômico, a Revolução Industrial e a positivação do Direito do Trabalho. Disponível em: http://www.facsaoroque.br/novo/publicacoes/pdf/v3-n1-2012/Fer1.pdf. Acesso em: 17 set. 2015.

MIRANDA; BATISTA. A poluição do ar na cidade de Goiânia-GO e a prática de exercícios físicos. 2008, EFR, v. 2.

MOREIRA, O. C. L. Comparação entre os poluentes atmosféricos e ruídos emitidos por uma caldeira flamotubular movida a gás natural e a óleo combustível BPF. 2ª dissertação. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2007.

MOTA, S. Impactos ambientais das atividades humanas. Introdução à Engenharia Ambiental. 2ª ed. Rio de Janeiro: ABES, 2000.
LORA, E. S.; TEIXEIRA, F. N. Energia e meio ambiente. conservação de energia: eficiência energética de instalações e equipamentos. Itajubá, FUPA, 2011, cap. 2, p. 30-89.

LOUREIRO, L. N. Panorâmica sobre emissões atmosféricas estudo de caso: avaliação do inventário emissões atmosféricas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro para fontes móveis. Tese. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

PINTO. Análise das emissões veiculares em regiões urbanas e metodologia para quantificação de poluentes. Dissertação. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, 2005.

PCPV. Plano de Controle da Poluição por Veículos em Uso. Governo do Estado do Ceará, 2005.
TEIXEIRA, E. C.; FELTES, S.; SANTANA, E. R. R. Estudo das emissões de fontes móveis na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Química Nova, v. 31, p. 244, 2008.

TUNDO, P.; ZECHINNI, F. Mudanças climáticas globais. Publicado em julho de 2007 pelo Consórcio Inter-Universitário Nacional “A Química para o Ambiente” e IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada). Disponível em: http:// www.incaweb.org/piblications/pdf/climate_monograph_por.pdf. Acesso em: 17 set. 2015.

VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à Engenharia Ambiental. 2ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

Publicado em 29 de março de 2016

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.