Contação de histórias como prática pedagógica na formação de leitores/escritores na metodologia sociointeracionista

Tatiana Silva de Lima Soares

PPGEA/UFRRJ

Introdução

O ensino sociointeracionista de Língua Portuguesa está baseado em três práticas básicas: o domínio da leitura, a análise linguística e a produção dos textos. Quando se trata de leitura, há de se observar o conhecimento que o aluno traz consigo, toda a sua bagagem linguística (Geraldi, 1997).

A leitura e a escrita são práticas relevantes para a construção social do indivíduo, sua formação como cidadão e como ser transformador e realizador. As análises dos resultados obtidos nesta pesquisa mostraram que alguns alunos se sentem mais seguros para ler e criar histórias escritas quando o professor costuma adotar a dinâmica de contação de histórias em sala de aula. As conclusões do projeto apontam, no entanto, que há carência de prática leitora entre os alunos e uma lacuna na formação docente que impede a utilização da técnica de contação de histórias.

Nesse sentido, entendo que a escola deve buscar capacitação contínua dos professores em diferentes áreas de conhecimento para que o trabalho docente seja facilitador de resultados pedagógicos positivos. Um docente capacitado, neste caso na área de linguagens, torna-se um atrativo nas aulas de leitura e produção textual. A escola é o local em que a participação coletiva dos sujeitos na aquisição de conhecimentos gera resultados socialmente positivos.

Método

Foram utilizados como métodos de coleta de dados: a observação de “contação” das histórias e questionários aplicados às docentes. Em um segundo momento, as crianças produziam textos sobre a história contada. Esta análise procurou destacar os seguintes pontos:

  • a dinâmica da narrativa como ponto de motivação da turma;
  • a clareza nas respostas orais às perguntas da professora; e
  • a facilidade na construção de suas releituras escritas.

O processo investigativo ocorreu por meio de pesquisa exploratória, que, segundo Gil (2002), tem como objetivo tornar o problema mais explícito, abrindo perspectivas para sua retomada num plano mais profundo em etapas posteriores. O presente trabalho baseia-se na abordagem qualitativa, considerando a complexidade e a singularidade do fenômeno a ser estudado.

Em relação aos procedimentos técnicos, a pesquisa foi participativa, ou seja, o pesquisador e os sujeitos da investigação se envolveram de modo integrado.

A escola sociointeracionista e a importância das narrativas orais

A escola colabora com o processo de divulgação oral de histórias orais em seu planejamento. Esse processo pode se desenvolver a partir do planejamento do professor, quando a escola recebe a visita de um contador ou, em alguns casos, quando ela permeia espaços culturais (como feiras do livro e eventos literários). É nas primeiras experiências orais que a criança inicia seu aprendizado, sua compreensão do mundo que a cerca e faz descobertas que poderão colaborar com sua formação como ser humano.

Segundo Abramovitch (2006), ouvir histórias desenvolve o potencial crítico das crianças e eleva sua capacidade de memória e concentração. Assim a criança questiona, pensa e faz reflexões com mais facilidade, desenvolvendo também sua capacidade de resolver conflitos e impasses. É contando histórias que se pode demonstrar sentimentos como raiva, tristeza, alegria, medo.

A contação de histórias também estreita vínculos afetivos entre professores e alunos. A relação de proximidade entre professor e aluno é um fator que auxilia o processo de ensino-aprendizagem (Leite, 2012).

Segundo a teoria de Vygotsky, escola sociointeracionista é aquela que utiliza o método coletivo de construção do pensamento. Tal concepção teórica remete à interação do indivíduo com a sua cultura. De acordo com Vygotsky (1998), é no meio social que o indivíduo se desenvolve, tornando-se um ser humano completo. Nesse contexto, a linguagem é trabalhada a partir de seu uso efetivo, entendendo que o sujeito e sua linguagem são construções e têm modificações constantes. O sujeito, para essa metodologia, é um ser ativo tanto na oralidade quanto na escrita. Sendo assim, a linguagem é explorada de forma consciente ou não, por meio de recursos linguísticos usados pelo falante. O objetivo da escola que propõe uma metodologia sociointeracionista é possibilitar que todos os alunos se tornem leitores e escritores habilidosos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, p. 64-65) definem a importância da inserção da leitura no ambiente escolar, que traz como pontos favoráveis a ampliação da visão de mundo e a inserção do leitor na cultura do letramento, bem como o estímulo e o desejo de outras leituras, possibilitando assim a vivência de emoções e sentimentos, a prática de imaginar, criar e fantasiar; proporciona a expansão do conhecimento a respeito da própria leitura; aproxima o leitor dos textos e os torna familiares, fáceis de codificar. Colabora ainda com a condição para a leitura fluente e para a produção de textos, além de possibilitar produções orais e escritas. A leitura possibilita ao leitor a compreensão da relação existente entre o que falamos e o que escrevemos, trazendo conhecimentos linguísticos e ortográficos que facilitam a produção textual.

Segundo Coelho (2000), a literatura tem por finalidade o entretenimento, a instrução e a educação. Na infância, os livros devem proporcionar a formação ética e a educação por meio da sensibilidade. É assim que a literatura colabora com o processo de ensino-aprendizagem, pois lendo e ouvindo histórias o sujeito desenvolve sua sensibilidade, seu gosto literário, sua arte e amplia sua maneira de ver e entender o mundo que o cerca, além de ter despertada a curiosidade intelectual.

A instituição em análise propõe um trabalho de aprendizagem que concebe o homem como ser social, cultural e histórico. Nela, a motivação para a leitura é sempre divertida e lúdica, nunca forçando a aluno, mas colaborando com seu desejo de ler (Alves, 2004). Uma análise individual pode ser o ponto de partida para novas formas de reconstrução do conhecimento que não foi adquirido pelo aluno segundo os objetivos propostos pelo docente.

Considerações finais

Neste estudo, investigamos como a prática de contação de histórias e de entrosamento de natureza sociointeracionista auxilia nos processos de aprendizagem dos alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental. Por meio de pesquisa qualitativa, concluímos que os alunos observados desenvolveram uma melhora significativa no processo de ensino-aprendizagem com auxílio das oficinas de contação de histórias.

O entrosamento escolar, fundamentado no sociointeracionismo, colaborou para a aquisição de mais uma estratégia de ensino para a instituição da pesquisa, pois a partir de então serão oferecidas oficinas semanais de contação de histórias para os alunos do ensino fundamental e da educação infantil.

A escola é vista como um lugar de construção, reconstrução e inovação dos conhecimentos; deve dar especial atenção à contação de histórias, pois essa atividade contribuiu muito para a aprendizagem escolar em todos os aspectos: psicológico, cognitivo, físico, social, proporcionando maior desenvolvimento criativo nos alunos.

Elencar as vantagens da atividade é citar melhoras significativas na aprendizagem de conteúdos, na socialização, na comunicação entre colegas de classe e professores, na criatividade, no desabrochar de novos sentimentos e na parte comportamental em sala de aula.

Fazendo a relação entre os dados, observamos que a importância das histórias na escola se deve ao fato de elas proporcionarem o desenvolvimento completo do aluno, buscando desenvolver até mesmo o fortalecimento da autoestima, além da função lúdica, da criação e da vontade de ler e escrever.

Comprovada a relevância didática da contação de histórias como prática cotidiana na escola, é importante o aprofundamento deste estudo com novos enfoques, novas abordagens e novos grupos estudados no tema contação de histórias e suas contribuições.

Referências

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5ª ed. São Paulo: Scipione, 2006.

ALVES, Rubem. O desejo de ensinar e a arte de aprender. Campinas: Fundação Educar D. Paschoal, 2004.

BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.

______. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teorias, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.

GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Publicado em 30 de maio de 2017

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