A avaliação da aprendizagem escolar de acordo com a visão da Psicopedagogia

Rebecca Faria da Silva

Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Faculdades Integradas Simonsen)

Concepção de avaliação além do autoritarismo

A avaliação da aprendizagem escolar é um meio e não um fim em si mesma. A prática escolar predominante hoje se realiza dentro de um modelo que pressupõe a educação como um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade, sendo o autoritarismo elemento necessário para a garantia desse modelo social, utilizando a prática da avaliação manifestada de forma autoritária. Opostamente, é fundamental posicionar a avaliação a serviço de uma metodologia que entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de transformação social.

Vivemos sob o modelo burguês de sociedade, em que o poder é centralizado e hierarquizado. Os exames são classificatórios, ou seja, classificam os alunos em aprovados ou reprovados e excluem grande parte dos educandos, estabelecendo uma escala de notas de zero a dez. Trata-se de um método seletivo e excludente. Nesse sentido observa-se o que Luckesi afirma:

A atual prática da avaliação escolar estipulou como função do ato de avaliar a classificação e não o diagnóstico, como deveria ser constitutivamente. Ou seja, o julgamento de valor sobre o objeto avaliado passa a ter a função estática de classificar um objeto ou um ser humano histórico num padrão definitivamente determinado. Do ponto de vista da aprendizagem escolar, poderá ser definitivamente classificado como inferior, médio ou superior. Classificações essas que são registradas e podem ser transformadas em números e por isso, adquirem a possibilidade de serem somadas e divididas em médias (Luckesi, 1999, p. 34).

O ato de avaliar geralmente não é utilizado como forma de repensar a prática, e sim como meio de julgá-la e torná-la estratificada. Com a função classificatória, a avaliação não auxilia o avanço e o crescimento do aluno, somente a função diagnóstica serve para essa finalidade. Um grande poder é atribuído ao professor; sempre se entendeu que avaliar o aluno era verificar o quanto ele havia assimilado do conteúdo transmitido. Como afirmou Luckesi ao Jornal do Brasil em 2000, “o professor detém o poder: escolhe os assuntos das provas, elabora questões, julga se elas são adequadas, aplica-as, corrige, qualifica, aprova ou reprova. Ao educando cabe submeter-se a esse ritual e temer a exclusão”.

O uso autoritário da avaliação escolar transforma-a em mecanismo disciplinador de condutas sociais. É uma prática comum ameaçar os alunos na escola com o poder e peso da avaliação, caso a ordem social da instituição ou das salas de aula sejam infligidas. De instrumento diagnóstico para o crescimento, a avaliação passa a ameaça, e disciplina os alunos pelo medo, ganha o direito e função de premiar ou castigar os educandos dentro de um ritual pedagógico. A avaliação não deveria ser fonte de decisão sobre o castigo, mas de decisão sobre os caminhos do desenvolvimento escolar sadio.

Perrenoud (1999) classifica as funções da avaliação entre muitas lógicas, as quais regulam a aprendizagem, o trabalho, as relações de autoridade e cooperação em aula e de certa forma, as relações entre família e escola ou entre profissionais da educação. Ele afirma:

Avaliar é – cedo ou tarde – criar hierarquias de excelência em função das quais se decidirão a progressão no curso seguido, a seleção no início do Secundário, a orientação para diversos tipos de estudo, a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, frequentemente, a contratação. Avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e no mundo, valorizar formas e normas de excelência, definir um aluno modelo, aplicado e dócil para uns, imaginativo e autônomo para outros (Perrenoud, 1999, p. 9).

No caso da avaliação a serviço da seleção, Perrenoud explica que tradicionalmente a avaliação é associada na escola à criação de hierarquias. Os alunos são comparados e depois classificados em virtude de uma norma de excelência definida pelo professor ou pelo modelo dos melhores alunos. O autor critica também a avaliação que visa à certificação, uma vez que esta fornece poucos detalhes dos saberes, das competências e do nível de conhecimento adquiridos. Afirma que as provas tradicionais se revelam de pouca utilidade porque são essencialmente concebidas mais para a classificação dos alunos do que para a identificação do nível de domínio de cada um, permite dar boas e más notas, criando assim hierarquia.

A avaliação apenas deixará de ser autoritária se o modelo social e a concepção teórico-prática da educação deixarem de ser autoritários. Então o primeiro passo a redirecionar os caminhos da prática da avaliação é assumir um posicionamento pedagógico claro e explícito para que se possa orientar a prática pedagógica no planejamento, na execução e na avaliação. Isso implica o resgate da avaliação em sua essência constitutiva, ou seja, uma avaliação educacional voltada para a transformação. Para não ser autoritária e conservadora, deverá ter a função diagnóstica para auxiliar cada educando no seu processo de competência e crescimento para a autonomia.

A avaliação na perspectiva amorosa, afetiva e acolhedora, é aquela que traz na sua intencionalidade a integração e inclusão pelos mais variados meios, respeitando e valorizando a subjetividade do aluno no decorrer da construção do conhecimento. Essa forma de avaliar evita julgamentos e rótulos e não seleciona, mas faz um diagnóstico e por meio dele toma decisões para melhorar a aprendizagem do educando.

O objetivo da avaliação é intervir para melhorar, porém a maioria das escolas promove exames que são uma prática de avaliação e não a avaliação em si. Esse ato de avaliar é classificatório e seletivo; a avaliação diagnóstica, ao contrário, é inclusiva. Classificar o ato de avaliar a aprendizagem por si só é um ato amoroso (Entrevista de Luckesi à revista Nova Escola, 2006).

A prática escolar usualmente denominada de avaliação constitui-se de provas e exames, pouco tem a ver com a verdadeira avaliação da aprendizagem. Assim sendo, exclui uma parte dos alunos; manifesta-se, pois, como uma prática seletiva. Tratando dessa compreensão da avaliação como um ato amoroso, Luckesi afirma que:

Podemos entender a avaliação da aprendizagem escolar como um ato amoroso, na medida em que a avaliação tem por objetivo diagnosticar e incluir o educando pelos mais variados meios, no curso da aprendizagem satisfatória, que integre todas as suas experiências de vida (Luckesi, 1999, p. 173).

Luckesi (1999) define avaliação da aprendizagem como um ato amoroso no sentido de que a avaliação por si só deve ser um ato acolhedor e inclusivo, que integra, diferentemente do julgamento puro e simples, que não dá oportunidades, distingue apenas o certo do errado partindo de padrões predeterminados. Assim, o verdadeiro papel da avaliação visa à inclusão, não à exclusão.

Para o autor, o ato amoroso é aquele que acolhe a situação como ela é; nesse ato não julga, não exclui. A avaliação, portanto, não deve afastar o educando do educador, mas antes acolher e integrar. O ato de avaliar é o ato do homem bem constituído, não se fundamenta nos atos de mecanismos de defesa como estratégia de sobrevivência, que são atitudes regressivas, conservadoras e primitivas da condição humana. No processo avaliativo, deve existir acolhimento, uma atitude que caracteriza o homem livre, reflexivo e questionador.

A avaliação tem como papel criar condições para que sejam obtidos resultados daquilo que se deseja alcançar, que é a qualidade do aprendizado do aluno. É preciso dar oportunidade para que o educando possa mostrar sua maneira peculiar de aprender e somar isso a suas experiências extraescolares.

A função diagnóstica da avaliação serve como instrumento auxiliar da aprendizagem e não como instrumento de aprovação ou reprovação. Portanto, o ato de avaliar, sob a perspectiva amorosa, se destina ao diagnóstico e por isso mesmo à inclusão; desse modo, por si só se constitui um ato amoroso.

Avaliação sob a perspectiva inclusiva

A educação faz parte da especificidade humana, um ato de intervenção no mundo, é relacionada à cidadania. Segundo Freire (2009), “a educação não é transferência de conhecimentos, mas criação de possibilidades para a sua própria produção ou construção”. É preciso que a educação vá além, que possibilite o desenvolvimento de habilidades e autonomia para que os cidadãos possam refletir sobre as condições que lhes são oferecidas.

Porém a perspectiva de uma avaliação classificatória e seletiva torna-se um fator de exclusão escolar. Tradicionalmente, as experiências avaliativas remetem a uma concepção que classifica as aprendizagens em certas ou erradas, separando aqueles estudantes que aprenderam os conteúdos programados daqueles que aparentemente não aprenderam. Agindo sob essa perspectiva, alguns professores criam e utilizam a avaliação excludente, baseada no autoritarismo, na punição e na imposição de poder, perpetuando assim de geração em geração a imagem da avaliação como atividade de controle e exclusão.

Nesse tipo de avaliação, as provas ou testes são fatores negativos de motivação para os estudantes, que, diante da ameaça do professor, se dedicam aos estudos não porque os encaram como sendo importantes, necessários ou prazerosos, mas porque são “ameaçados” pela reprovação. São levados a estudar pelo medo, o que gera uma mera memorização momentânea.

Por outro lado, a avaliação inclusiva, ou seja, aquela que busca a inclusão do aluno, baseia-se na valorização dele. Utilizando esse instrumento, o educador encara o aprendente como um indivíduo crítico, tornando a aprendizagem mais agradável e produtiva. Busca formar cidadãos conscientes, não passivos. Nesse sentido, temos a contribuição de Demo (1994, p. 20) a respeito, quando diz que “o papel da educação é um fator de mudança na sociedade que tende a formar bons cidadãos, conscientes de seus direitos e deveres perante a sociedade”.

O erro e o fracasso escolar geralmente são ligados à reprovação do aluno, mas o erro faz parte do aprendizado e possibilita uma melhor oportunidade de crescimento diante das situações no cotidiano escolar. É ideal que o professor não tenha a visão do erro como indício do fracasso, mas antes ter uma postura comprometida com a concepção do erro construtivo, o que significa encarar o conhecimento produzido pelo educando em processo de construção.

Assim sendo, acerto é importante, mas o fracasso também. “Não existimos para decretar fracassos, mas promover aprendizagens” (Carvalho, 1997, p. 54). O erro sinaliza um indício do processo de construção de conhecimentos; portanto, o educador tem como função trabalhar as potencialidades dos educandos, investir em seu crescimento para que a avaliação ocorra de forma interativa entre o professor e o aluno em busca de um mesmo objetivo: a aprendizagem.

Conforme já citado, segundo Luckesi (1999) avaliar é um ato amoroso. Portanto, a avaliação tem grande significado para o professor; por meio dela ele pode reconhecer a importância de acolher os acertos e erros do aluno para ajudá-lo a progredir. Faz parte da tarefa docente não apenas ensinar conteúdos, mas ensinar a refletir, compreender a realidade e participar das suas mudanças.

Com esses questionamentos, refletir sobre a importância da avaliação na escola é pensar e agir democraticamente para que no futuro ela não seja apenas encarada como um mal necessário, mas como oportunidade para a construção do conhecimento. O objetivo não é eliminar a avaliação, mas usá-la de forma correta, para verificar como o aluno constrói seu conhecimento acerca dos conteúdos trabalhados e como modifica sua compreensão de mundo, elevando assim sua capacidade de intervir na realidade vivida.

A avaliação deve ser diversificada, desenvolvida de várias maneiras, usando diferentes instrumentos de forma contínua. De maneira alguma se deve elaborar uma prova com o objetivo de verificar o que os alunos não sabem. As provas escritas podem abordar questões com situações-problema naturais que surgem no cotidiano; problemas muito dificultosos, como uma espécie de quebra-cabeça, não cabem nesse caso; evidentemente eles deveriam ser aproveitados como desafios durante as aulas, em geral os estudantes aceitam participar pelo prazer em decifrar enigmas.

Notas ou conceitos não deveriam ser o objetivo principal da avaliação; muito mais humano seria pensar na avaliação como instrumento para garantir o sucesso escolar no processo de ensino-aprendizagem. A avaliação tradicional consiste em aplicar provar escritas; há crianças que se amedrontam ou criam bloqueios em situações em que serão avaliadas mediante provas ou testes, por isso seria importante o docente analisar vários tipos de avaliação para escolher qual seria mais apropriada a determinados alunos, incluindo aqueles que possuem alguma dificuldade de aprendizagem ou mesmo deficiências físicas ou intelectuais; nesse campo, o apoio psicopedagógico é de fundamental importância.

Há exemplos de atividades que propiciam momentos de avaliação além das provas escritas: sessões de cálculo mental, atividades orais, incluindo aquelas em que o aluno pode utilizar o quadro-negro ou branco, aulas de resolução de problemas, trabalhos extras, como pesquisas propostas pelo professor ou eleitas pela turma, jogos que ocorram em sala de aula e eventuais autoavaliações. O professor pode fazer registros sobre os alunos para avaliar seus avanços e dificuldades e assim poderá também refletir sobre sua própria prática docente.

Além disso, a avaliação vai além da sala de aula; diversos aspetos dos discentes devem ser levados em conta, como seus resultados em trabalhos individuais ou em grupo, em âmbitos afetivos, cognitivos, sociais, dentre outros. O exame desses elementos constitui um processo global que envolve todo o histórico escolar.

A responsabilidade de avaliar o aluno não se limita apenas ao professor; este pode receber auxílio dos orientadores, psicopedagogos, enfim, toda a equipe pedagógica da instituição deve participar da construção do conhecimento do aluno e suas aprendizagens. O psicopedagogo, com sua visão diferenciada no contexto escolar, pode promover e desenvolver esse trabalho em equipe com todos os participantes do processo educacional, visando a uma educação transformadora.

O olhar psicopedagógico sobre a avaliação escolar

Segundo Hoffmann (2008), a avaliação educacional transformou-se em um sintoma do sistema de ensino atual, confirmador de injustiças sociais e ineficaz em aspectos como: para que avaliar e para quem? A prática avaliativa reproduz e revela fortemente as vivências do docente, tanto sendo estudante como sendo educador. Dessa forma, o maior desafio da ferramenta do avaliar é como é encarada pelos profissionais da educação: como poder, sinônimo de autoritarismo.

Uma nova perspectiva de avaliação exige do educador a concepção de que os estudantes são sujeitos do seu próprio desenvolvimento dentro do contexto de sua realidade social e política; são seres autônomos intelectual e moralmente, capazes e livres para tomar suas próprias decisões. Nesse sentido, a Psicopedagogia contribui para a construção do homem como um cidadão consciente, crítico, que faz parte da sociedade e dos processos dela.

Nesse sentido, Luckesi (1999) ressalta que, na vida escolar, fomos sempre muito mais examinados do que avaliados. Os educadores têm de investir na aprendizagem da avaliação, pois na maioria dos casos acabam por perpetuar o que aconteceu com eles próprios quando alunos. Ou seja, foram examinados por seus professores mediante exames escolares; agora são examinadores de seus alunos, utilizando os mesmos instrumentos.

Diante dessa dimensão educativa, os erros e dúvidas dos alunos devem ser encarados como episódios significativos e impulsionadores do processo avaliativo. Assim, avaliar é dinamizar oportunidades de ação-reflexão por parte do professor, o que exige de sua parte um acompanhamento permanente. O psicopedagogo orienta o corpo docente a buscar novos caminhos e perspectivas, tem um papel a cumprir quando o objetivo é repensar a avaliação e buscar novas alternativas que dinamizem o processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Libâneo (1994), a avaliação é em última análise uma reflexão do nível qualitativo do trabalho escolar do professor e do aluno. Sabe-se também que ela é complexa e não envolve apenas testes e provas para determinar uma nota. Lamentavelmente, a avaliação na escola tem sido resumida a dar e tirar ponto, sendo apenas uma função de controle, dando a ela um caráter quantitativo. As notas demonstram de forma abreviada os resultados do processo de avaliação com função controladora, expressando o resultado em notas e conceitos. O autor fala também da importância de valorizar todas as formas de avaliação ou instrumentos, e não apenas a prova no fim do bimestre como grande nota absoluta, que não valoriza o processo.

A avaliação é elemento integrante do processo de ensino-aprendizagem e ganhou na atualidade espaço muito amplo nos processos de ensino, requer amparo com componentes especializados e grande capacidade de observação dos profissionais envolvidos. Porém, ainda hoje, é vista por muitos como ato de mensurar o conteúdo que foi aprendido pelo aluno em cada período escolar. Essa forma de avaliação quase sempre é aproveitada de forma quantitativa, tendo em vista a nota como objetivo maior e pouco utilizada para estabelecer uma qualidade do ensino obtido pelo educando.

Não basta avaliar a aprendizagem priorizando a questão do aspecto quantitativo (a nota) sobre o qualitativo (o que foi apreendido). Luckesi (1999) fala a respeito disso quando diz: “a característica que de imediato se evidencia na nossa prática educativa é a de que a avaliação da aprendizagem ganha um espaço tão amplo nos processos de ensino que nossa prática educativa escolar passou a ser direcionada por uma Pedagogia do Exame”.

Dessa forma, o sistema de ensino continua ligado a aprovação e reprovação, os responsáveis pelos discentes desejam que eles sejam aprovados mediante uma prova ou teste específico que por vezes não tem a função de diagnosticar, mas enfatizar a rotulação de uma aprendizagem e não a sua construção.

Ainda sob a visão de Luckesi (1999), “a avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de seu modo de agir, e por isso é necessário que seja usada da melhor forma possível”. Avaliar, segundo o autor, é um ato amoroso, por isso é preciso trazer o educando para esse processo; este é um dos objetivos da Psicopedagogia Institucional: oportunizar aprendizagens afetivamente.

Segundo Bossa (1994), “a Psicopedagogia no Brasil hoje é uma área que estuda e lida com a aprendizagem e suas dificuldades e, numa ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”. A Psicopedagogia ocupa-se de uma educação que contribui para a construção do homem como cidadão consciente, crítico e participativo na sociedade. É uma área multidisciplinar do conhecimento, que focaliza o processo de aprendizagem considerando diferentes fatores que contribuem para a construção desse processo.

A atuação do psicopedagogo e suas contribuições para o processo de avaliação englobam o ser cognoscente (aluno) e a instituição de ensino (escola) dentro dos contextos psicopedagógico e educacional. O sistema educativo que engloba tanto a instituição escolar como a família necessita de auxílio para compreender as diferenças individuais do sujeito, levando em conta seus interesses, aspectos cognitivos, afetivos e biológicos que interferem e atuam diretamente em sua individualidade e aprendizado.

O papel do profissional da Psicopedagogia é compreender essa problemática, realizando articulações necessárias entre o aluno, família e escola. Cabe a ele buscar saber como o indivíduo se desenvolve durante as diferentes etapas de vida e como atua a influência da escola e da família sobre ele, se ocorre positivamente ou não.

A avaliação educacional vem, ao longo dos anos, se transformando em uma prática autoritária, privilegiando a seletividade e discriminação dos alunos, resultando em danos pessoais e sociais; nesse processo entra o trabalho do psicopedagogo: na prevenção dos problemas de aprendizagem.

Com um levantamento institucional, o psicopedagogo pode identificar possíveis causas de problemas com fatores orgânicos, psicológicos e sociais, entre outros, e elaborar junto aos docentes um plano de prevenção, utilização de recursos, métodos, conteúdos e objetivos a serem abordados para que a autoestima dos alunos e seus conhecimentos sejam valorizados, gerando bem-estar no ambiente escolar.

O psicopedagogo tem a função institucional de viabilizar o corpo docente a buscar novas perspectivas que dinamizem o processo de ensino-aprendizagem, avaliações necessárias para que o professor não avalie apenas os educandos, mas também se avalie em busca de novos olhares e adequações necessárias à sua prática. Assim, o psicopedagogo, como mediador desse processo, subsidia o professor com alternativas de intervenção que facilitem o processo de ensino-aprendizagem e tem o objetivo de desmitificá-lo, tornando esse momento de avaliação prazeroso para o aprendente e para o docente avaliador.

Dessa forma, a Psicopedagogia, no âmbito da atuação preventiva, se dedica às áreas relacionadas ao planejamento educacional e ao assessoramento pedagógico, colaborando com os planos educacionais pertinentes. Sendo assim, a reunião pedagógica e os conselhos de classe se constituem em encontros para refletir crítica e coletivamente a prática, e por si só já são considerados um exercício constante de avaliação por parte dos profissionais da escola.

O ideal seria que cada instituição escolar pudesse contar com apoio psicopedagógico, pois a Psicopedagogia na escola busca a melhor qualidade na construção da aprendizagem e promover a melhora das relações entre alunos e educadores. Incentiva a autonomia na busca do conhecimento e, ao mesmo tempo, possibilita uma postura crítica em relação à escola e à sociedade que representa.

Nesse contexto, o psicopedagogo institucional auxilia todos os participantes da escola para que ela se torne um lugar que promova o conhecimento e não apenas um depósito de informações. Dessa forma, quando há ação mediadora do educador junto ao psicopedagogo o resultado confere um trabalho pedagógico que valoriza as experiências culturais, contribuindo para a execução satisfatória dos objetivos educacionais, possibilitando uma ação transformadora a serviço da educação.

A presença do psicopedagogo na instituição escolar contribui não somente no processo de ensino-aprendizagem, mas também para a melhora das relações interpessoais. Desse modo, quando o trabalho da Psicopedagogia encontra parcerias na escola, pode promover efeitos positivos para a minimização das dificuldades de aprendizagem no contexto escolar, mas também requer o envolvimento de toda a equipe pedagógica e um desejo de mudanças para que as transformações de fato ocorram. Eis o desafio do psicopedagogo: ressignificar sua prática cotidianamente em prol de uma educação de qualidade!

Considerações finais

A Psicopedagogia considera o ser humano como uma unidade complexa, ou seja, um ser pluridimensional, sujeito da construção do próprio conhecimento e autonomia, determinado por dimensões cognitivas e afetivas que o constituem. Ao ocupar-se com a aprendizagem humana, a Psicopedagogia busca a melhoria das relações, observando histórias pessoais de cada indivíduo, refletindo e integrando um olhar voltado para o sujeito que aprende e como aprende, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem.

Esta pesquisa teve como objeto de estudo uma reflexão sobre a avaliação educacional que favoreça a troca de experiências entre educadores e educandos, contribuindo para uma melhor prática pedagógica, direcionada a uma abordagem educativa transformadora, tendo em vista que a avaliação deve contribuir para a formação de sujeitos pensantes, críticos e livres. Na avaliação o aluno não é o único avaliado; todo o trabalho pedagógico oferecido a ele também é analisado, avaliado, repensado e modificado sempre que necessário.

A avaliação não é um fim, mas um meio de superar as dificuldades e continuar progredindo na aprendizagem, enquanto medir é um processo interpretativo, pois supõe julgamento a partir de uma escala de valores. Dessa forma, a avaliação assume sentido orientador. Para o professor, é um meio de aperfeiçoar seus procedimentos de ensino.

É imprescindível que a escola valorize a família dos educandos, buscando sempre aproximá-la do ambiente escolar, e que os docentes busquem trabalhar a realidade dos alunos associada aos conteúdos sistemáticos, tendo capacidade de contextualizá-los, promovendo interdisciplinaridade, articulação de conhecimentos, evitando sua fragmentação, utilizando recursos didáticos a fim de tornar suas aulas dinâmicas e prazerosas. O que se espera da escola e do sistema educativo contemporâneo é que papel do professor seja mediar a aprendizagem, levar o aluno a aprender para conhecer, aprender a aprender, exercitar a atenção, memória e pensamento autônomo.

Partindo do princípio de que a avaliação é um processo e não uma atividade isolada, e como tal é parte integrante do processo ensino-aprendizagem, torna-se indispensável a criação e a manutenção de um sistema de avaliação capaz de fornecer informações consistentes e periódicas a respeito do desempenho dos alunos, que deve orientar e possibilitar aos docentes estar a par dos avanços educativos dos discentes, buscando aperfeiçoar seu progresso.

Se a avaliação contribuir para o desenvolvimento das capacidades dos alunos, pode-se dizer que ela se converte em ferramenta pedagógica, em um elemento que melhora a aprendizagem do aluno e a qualidade do ensino. A função da avaliação dentro desse conceito seria diagnosticar, reforçar, permitir, crescer.

O olhar do docente não deve ser o de juiz, pois assim estará se distanciando do saber psicopedagógico, que faz o trabalho de autoanálise das dificuldades e possibilidades no aprender. O papel do professor é de conselheiro, orientador, não de executor de provas e testes. A abordagem de avaliação como punição deve ser substituída pela aprendizagem contínua. Questionam-se assim os processos de avaliação centrados apenas no desempenho cognitivo e direcionados especialmente para o ato de aprovar ou reprovar alunos.

Nesse aspecto, é preciso avaliar os alunos de acordo com as suas potencialidades e especificidades para que o professor possa diagnosticar o que ainda não aprenderam. Reprovar é a saída mais fácil, mas nem sempre é a melhor solução. Faz-se necessário que o próprio profissional avalie sua prática e que a instituição escolar disponibilize suportes aos docentes e apoio escolar, incluindo amparo psicopedagógico, para que realizem seu trabalho visando promover seu aperfeiçoamento.

A avaliação deve ser compreendida como um meio de inclusão e não de exclusão; avaliar é acima de tudo promover o conhecimento de mundo tanto do educador quanto do educando e, mais do que isso, é servir de ponte entre essas duas partes para que se realize a verdadeira aprendizagem.

Compreendendo que as diferenças são positivas e fundamentais para o crescimento dos sujeitos e do grupo do qual fazem parte no processo de conhecimento da realidade, a ação de avaliar deve ser processual e reveladora das possibilidades de construção de um processo educativo mais rico e mais dinâmico, que deve abranger a organização escolar como um todo: as relações internas à escola, o trabalho docente, a organização do ensino, o processo de aprendizagem do aluno e a sua relação com a sociedade.

A avaliação deve priorizar a identificação dos problemas, dos avanços e verificar as possibilidades de continuidade do processo educativo, constituindo-se em um processo investigador e de caráter formativo do qual professores, alunos e pais participem ativamente. Avaliar abrange muito mais que medir a quantidade de conhecimentos adquiridos pelos alunos; deve-se avaliar para promover. Promover no sentido de uma avaliação que valorize o desenvolvimento moral e intelectual. Avaliar para promover a cidadania, encarar o aluno como sujeito digno de respeito, ciente de seus direitos e deveres.

A aprendizagem ocorre quando há o desejo do aluno em aprender, a motivação está no interior do seu ser, cabe ao educador compreender como a aquisição de conhecimento se processa, como o estudante se apropria desse conhecimento. Para tanto, deve optar por mudar seus antigos hábitos e, dentro de uma visão psicopedagógica, transformá-los em motivação de aprendizagem, buscar o novo por utilizar o cotidiano em sala de aula e recriar novas alternativas junto aos educandos.

Após analisar o significado do termo avaliação e salientar os problemas enfrentados por professores em relação à avaliação do processo de ensino-aprendizagem, compreende-se a necessidade de mudança. É preciso repensar as formas de avaliar os discentes, a necessidade de mudar surge como um desafio, no sentido de situar o relevante papel dos profissionais comprometidos com a educação, os professores, agentes de mudança!

Referências

ARANHA, M. L. A história da Educação. São Paulo: Moderna, 1989.

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em 5 fev. 2016.

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CARVALHO, José Sérgio de Fonseca de. As noções de erro e fracasso no contexto escolar: algumas considerações preliminares. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997.

DEMO, Pedro. Educação e qualidade. Campinas: Papirus, 1994. Coleção Magistério-formação e trabalho pedagógico.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação: mito & desafio – uma perspectiva construtivista. Educação e Realidade, Porto Alegre, 39ª ed. 2008.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Coleção Magistério – 2º Grau – Série Formação do Professor. São Paulo: Cortez, 1994. 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1999. 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: compreensão e prática. Entrevista concedida ao Jornal do Brasil e publicada em 21 jul. 2000. Disponível em: http://www.luckesi.com.br/textos/art_avaliacao/art_avaliacao_entrev_jornal_do_Brasil2000.pdf. Acesso em 22 abr. 2016.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Entrevista à revista Nova Escola, nº 191, abril 2006. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/cipriano-carlos-luckesi-424733.shtml.

MORETTO, Vasco Pedro. Prova: um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulamentação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

SHOR, Ira; FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

Sites pesquisados

APRENDENDO A PENSAR – Metamorfose  digital. Disponível em: http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=554#ixzz49EROH2jz. Acesso em 24 maio 2016.

http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/a-avaliacao-acordo-com-os-pcns.htm. Acesso em 5 fev. 2016.

http://www.pedagogia.com.br/artigos/funcoes_avaliacao/?pagina=2. Acesso dia 14 mar. 2016.

http://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-do-psicopedagogo/48/. Acesso em 27 abr. 2016.

Publicado em 13 de junho de 2017

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.