O lúdico como facilitador no ensino da Libras na Educação Infantil

Gertrudes Erundina Dantas Neta

Licenciada em Letras – Libras (UFPB)

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Doutorando (Prodema/UFPB)

A educação tem a finalidade de formar os educandos e prepará-los para atuar em sociedade, buscar seus sonhos e realizar-se como ser humanos ativos no mundo contemporâneo. Portanto, seu papel vai além do simples ato de ensinar (Moratori, 2003). Para tanto, o repertório do(a) professor(a) deve ser diversificado, para que possa atuar com toda a diversidade de pensamento, cultura, valores e saberes que os educandos trazem consigo, pois cada criança é um universo particular, com suas dificuldades, limitações, possíveis problemas de todas as ordens e potencialidades que podem ser exploradas e estimuladas para o seu pleno desenvolvimento (Córdula, 2013a).

Quando essa diversidade de educandos inclui Surdos, a escola deve estar preparada para realizar todo o processo de inclusão para seu pleno desenvolvimento e integração na comunidade escolar, além de atuar conjuntamente com os professores para que ocorra a formação desse educando em sua língua materna: a Libras (Quadros, 2004).

Portanto, a escola e os professores devem estar preparados para atuar no ensino da Libras tanto como primeira língua (L1) para a criança surda como segunda língua (L2) para crianças ouvintes. Portanto, diversificar sua metodologia de ensino se faz necessário, e o lúdico vem como um caminho para ser adaptado e utilizado pelo corpo docente.

          

O lúdico e a formação do educando

Lúdico pode promover atividades voluntárias dos participantes, leva ao envolvimento de todos, de forma a desenvolver a sociabilidade, a autonomia e estímulo à cognição, pelas tarefas, desafios ou obstáculos a serem vencidos no seu desenvolvimento (Fortuna, 2000). A ludicidade está presente na condição humana, sendo um fenômeno universal da humanidade, em todas as sociedades e culturas, em diversas etapas da vida, principalmente na infância (Dallabona; Mendes, 2004). É no brincar que se promove a condição humana e a preparação para a vida adulta; brincar é uma concepção analisada pelas diversas áreas das ciências humanas (Quadro 1).

Quadro 1: Conceitos de brincar nas esferas do saber humano.

Filosófico

“O brincar é abordado como um mecanismo para contrapor à racionalidade. A emoção deverá estar junto à ação humana tanto quanto a razão”.

Sociológico

“O brincar tem sido visto como a forma mais pura da inserção da criança na sociedade. Brincando, a criança vai assimilando crenças, costumes, regras, leis e hábitos do em que vive”.

Psicológico

“O brincar está presente em todo o desenvolvimento da criança nas diferentes formas de modificação de seu comportamento”.

Pedagógico

“O brincar tem-se revelado uma estratégia poderosa para a criança aprender”.

Fonte: Dallabona e Mendes (2004, p. 4).

Portanto, lúdico é brincar e jogar, tendo origem a etimológica no latim ludus (Salomão et al., 2007) e envolve o amplo universo dos jogos (analógicos, digitais, populares), as brincadeiras (de rua, de roda, folclóricas etc.) e as dinâmicas de grupo no intuito de promover o desenvolvimento e a aprendizagem (Moratori, 2003; Grübel; Bez, 2006; Salomão et al., 2007; Fialho, 2008; Pinto; Tavares, 2010).

A atividade lúdica favorece a comunicação da criança com o meio e com ela mesma, pois assim ela descobrirá novas formas de se comunicar e, com isso, de maneira dinâmica, conseguirá compreender o meio em que está inserida e a si própria (Amarilha, 1997; Ferreira et al., 2004).

São evidentes os resultados que o lúdico – com jogos e brincadeiras – traz ao desenvolvimento da criança na fase de aquisições de competências e habilidades (Vygotsky, 1984 apud Kishimoto, 1997). Por essa razão, o processo de ensino-aprendizagem só teria grandes ganhos com a utilização dessa metodologia de ensino, necessitando apenas uma mudança no âmbito educacional e do planejamento do(a) professor(a) para sua utilização ao longo dos bimestres letivos (Salomão et al., 2007; Ferreira et al., 2013).

Nesse sentido, o lúdico pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do ser humano, auxiliando não só na aprendizagem, mas também nos desenvolvimentos social, pessoal e cultural, o que acaba por facilitar o processo de socialização, comunicação, expressão e construção do pensamento da criança (Pinto; Tavares, 2010; Goedert et al., 2013).

Com base nisso, faz-se importante evidenciar o lúdico, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras e, consequentemente, como esses elementos podem ser relevantes ao desenvolvimento e à aprendizagem das crianças, sejam elas surdas ou ouvintes. Assim, este estudo tem como objetivo, analisar a importância do lúdico como metodologia eficaz na aquisição da Libras na educação formal.

Metodologia

Para a realização do presente estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica (Gil, 2008), em livros e artigos, utilizando como ferramenta de busca o Google Acadêmico, empregando as palavras-chave: Desenvolvimento/Lúdico/Aprendizagem, Jogos/Educação/Aprendizagem, Jogos/Brincadeiras/Alfabetização, AEE/Lúdico/Surdo, Lúdico/Aprendizagem/Brincadeiras e Libras/Educação/Bilíngue/Aquisição/Linguística/Ludicidade/Educação Infantil, de 2005 a 2016.

Como revisão literária, foram utilizados autores centrais, como Velasco (1996), Almeida (1995), Sneyders (1996) e Vygotsky (1998). Outros artigos foram selecionados para discussão de temas específicos de forma conceitual; estão dispostos nas referências. Para análise do material bibliográfico selecionado, foi utilizado o método descritivo qualitativo (Gerhardt, 2009).

Análises de dados

Pelos critérios das palavras-chave, foram selecionados seis artigos (Quadro 2) publicados entre 2008 e 2016 em cinco periódicos (Quadro 3), porém alguns trabalhos contemplam mais de uma palavra-chave. Assim foram compostos os resultados e os processos de discussão construídos ao longo deste estudo.

Quadro 2: Quantitativo de artigos pesquisados nas bases na internet, com as palavras-chave da pesquisa  

Palavras-chave

Quantidade de artigos

Desenvolvimento/Lúdico/Aprendizagem

1

Jogos/Educação/Aprendizagem

1

Jogos/Brincadeiras/Alfabetização

1

AEE/Lúdico/Surdo

1

Lúdico/Aprendizagem/Brincadeiras

1

Libras/Educação/Bilíngue/Aquisição/Linguística/Ludicidade/Educação Infantil

1

Fonte: Google Acadêmico.

Quadro 3: Quantitativo de artigos de 2008 a 2016 pesquisados em periódicos na internet

Período

Volume

Ano

Quantidade de artigos

Humanidades

V. 23

2008

1

Psicologia em Estudo

V. 15

2010

1

Nativa - Revista de Ciências Sociais do Norte de Mato Grosso

V.  01

2013

2

Revista Multidisciplinar PeyKeyo Científico

V. 01

2016

1

Encontro Alagoano de Educação Inclusiva

V. 01

2016

1

Educação Infantil e os jogos

É indiscutível que, ao longo da história, a educação tem despertado o interesse pelos problemas relacionados ao fato de como educar. É coerente que a aprendizagem aconteça de forma alegre, dinâmica e que a criança tenha desejo de buscá-la. A ludicidade faz com que a criança aprenda de forma espontânea, pois os exemplos dos jogos didáticos não podem ser visto apenas como passatempo ou distração, nele deve haver objetivos concretos que colaborem para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança (Almeida, 1995).
Dessa forma, torna-se primordial que as brincadeiras e os jogos sejam utilizados no procedimento pedagógico, de modo que os conteúdos a serem ministrados possam ser atrelados às formas lúdicas de trabalho. Isso porque, segundo Oliveira (1993), Vygotsky trouxe a visão de que a relação do homem com o mundo é uma relação direta, porém mediada por ferramentas auxiliares na atividade humana.

Durante o processo de ensino pela ludicidade, temos o envolvimento tanto do professor como dos alunos, de forma mútua. Há uma interação intrínseca que normalmente não acontece pela pedagogia convencional, pois se quebram, no momento do brincar para a aprendizagem, todas as formalidades impostas pelo ensino escolar, e ambos – professor e alunos – passam a atuar conjuntamente na construção do processo de aprendizagem (Córdula, 2013b, p. 2).

Segundo Santos (1999), brincar é viver na concepção da criança. Toda criança brinca, gosta de brincar e se sente bem quando o faz. Para a autora, do ponto de vista pedagógico, brincar tem se revelado uma estratégia poderosa para a criança aprender. Partindo do ponto de que “brincar é viver”, Santos (1999) afirma que, se a criança brinca, ela se diverte; divertindo-se, ela aprende e assim vive de forma plena a fase em que se encontra.

Entretanto, a brincadeira pode ser vista como um meio de aprendizagem, uma vez que nesse divertimento, no custo que se tem em praticá-lo, haja aprendizagem tanto para o que deve trazer à sua vida como para o seu divertimento. Deve-se levar em consideração que o brincar deve ser direcionado de forma segura, para que se alcancem os objetivos necessários, os quais devem ajudar nas habilidades cognitivas, motoras e linguísticas.

Se conduzidas de forma correta, as atividades lúdicas podem contribuir para a melhoria do ensino na Educação Infantil, pois definem valores, visão de mundo, um olhar crítico, o que favorece a criança a conceituar seus próprios valores e opiniões sobre tudo aquilo que a rodeia, sejam conhecimentos acadêmicos, seja convivência social no meio em que está inserida (Almeida, 1995).

A criança, pela sua natureza criativa, faz com aquilo que tem na mão diversos tipos de brinquedos, principalmente as que pertencem a famílias com pouco poder aquisitivo; logo, “não importa o tipo, o material a função, a cor, a forma, o tamanho nem origem. A criança é capaz de descobri-los no próprio corpo” (Velasco, 1996, p. 42). Com os processos acentuados de urbanização e modernização das cidades e as mudanças de hábitos que ocorrem ao longo do tempo, o brincar sofreu várias mudanças no decorrer dos séculos (Kishimoto, 1997).

A educação contemporânea passa por um momento de transformação, em que a aprendizagem deve ocorrer de forma prazerosa, estimulando as múltiplas áreas psicocognitivas, como define Sneyders (1996, p. 36) ao dizer que “educar é ir em direção da alegria”, o que proporciona uma aprendizagem significativa e marcante para o educando.

A atividade docente através do lúdico permite que a criança aprenda de forma alegre, espontânea e envolvente, favorecendo a interação com os demais alunos, estimulando as suas aptidões motoras, a concentração, o raciocínio rápido e a criatividade (Ferreira et al., 2004; Ferreira et al., 2013; Goedert et al., 2013).

Os jogos favorecem o domínio das habilidades de comunicação, nas suas várias formas, facilitando a autoexpressão. Encorajam o desenvolvimento intelectual por meio do exercício da atenção, e também pelo uso progressivo de processos mentais mais complexos, como comparação e discriminação; e pelo estimulo à imaginação. Todas as vontades e desejos das crianças são possíveis de serem realizados por meio do uso da imaginação, que a criança faz através do jogo (Gioca, 2001, p. 22).

A metodologia lúdica também favorece a aquisição da Libras, tendo em vista que essa língua necessita da percepção do meio que envolve o educando para uma aprendizagem real e contextualizada (Cruz, 2008; Oliveira, 2010; Souza; Silva, 2010; Oliveira; Silva, 2016; Silva, 2016). Com isso, o jogo e o próprio brincar estimulam a necessidade do visual, do gesto, do contato direto com o objeto (Gioca, 2001).

Para que a ação do lúdico contribua na aquisição da Libras, é preciso que se tenha a consciência de sua contribuição legítima para a criança, já que essa língua, conforme já foi destacado, precisa para ser adquirida, do real/concreto e do visual. Segundo Vygotsky (1998), o brincar tem papel muito acentuado na construção do pensamento na criança e, sendo assim, contribui de maneira significativa para sua formação cognitiva.

O lúdico na Educação Infantil

O estudo de Dohme (2003, p. 79), ao tratar dos jogos como ação lúdica, considera-os como importantes instrumentos para o desenvolvimento de crianças e jovens. Longe de servir apenas como fonte de diversão, eles propiciam situações que podem ser exploradas de diversas maneiras educativas. Portanto, o jogo para a criança constitui um fim, ela participa com o objetivo de obter prazer. Para os adultos que desejam usar o jogo com objetivos educacionais, ele serve como meio, ou seja, um veículo capaz de levar até a criança uma mensagem educacional. Assim, a tarefa do adulto é escolher o jogo adequado para transmitir a mensagem desejada para fomentar o processo de ensino-aprendizagem (Dohme, 2003).

Para Benjamin (2002), por meio do jogo induzem-se as crianças desde cedo a aprender os principais costumes inerentes ao ser humano (cultura, hábitos, comportamentos etc.). Os jogos e as brincadeiras são muito importantes para o desenvolvimento infantil, já que fazem parte do seu cotidiano desde o início de suas vidas. O mesmo autor destaca ainda que o jogo é a origem de todo hábito, e, mesmo que a educação ocorra de maneira mais rígida, o jogo sempre persistirá em ter sua incidência. O jogo possibilita incutir nas crianças o senso de responsabilidade e, principalmente, o dos seus limites.

Por outro lado, não havendo o jogo, o brinquedo tem similaridades no desenvolvimento da criança. Ele, por ser um suporte da brincadeira, precisa e pode ser também o suporte para a imaginação e a criatividade, necessitando apenas de orientação para que as crianças o tornem um momento singular em suas vidas, prazeroso e educativo (Fortuna, 2000). Assim, segundo Velasco (1996, p. 51), das mãos das crianças poderão sair “pipas, cata-ventos, carrinhos, bonecas, marionetes, pernas de pau e tantos outros que constituem um importante acervo da cultura popular”.

O brinquedo é, antes de mais nada, uma das principais ou mesmo a principal atividade da criança. Com isto, Vygotsky destaca o caráter central do brinquedo na vida da criança, subsumindo e indo além das funções de exercício funcional, de seu valor expressivo, de seu caráter elaborativo etc. [...] O brinquedo que interessa, para se ponderar o desenvolvimento da criança em termos de sua apropriação dos instrumentos da cultura, é um brinquedo regulado mais ou menos ostensivamente pela própria cultura (Baquero, 1988, p. 101).

Tanto com o jogo como com o brinquedo, a criança é estimulada a adquirir confiança para se relacionar com as pessoas à sua volta e se expressar quanto aos seus sentimentos, o que pode indiscutivelmente contribuir para a socialização e a integração das crianças surdas com as ouvintes de forma bem natural (Cruz, 2010; Oliveira, 2010; Souza; Silva, 2010).

Tal descoberta por parte do público infantil ocorre cada vez com menos intensidade, devido ao fato de os familiares trocarem os jogos analógicos e rudimentares e as brincadeiras populares pelos digitais e eletrônicos, afastando o universo da descoberta e da criatividade ao utilizá-los, reinventá-los e, assim, retroalimentando sua imaginação (Romera et al., 2007). Portanto, fica a cargo da escola e do(a) professor(a) resgatar o jogo e o brinquedo tradicionais, aliando o pedagógico, principalmente para o(a) educando(a) surdo(a), garantindo-lhe autonomia na aquisição do conhecimento.

O lúdico e o pedagógico

Ao tratar de tal temática, tem-se que adentrar sua concepção pedagógica. A palavra lúdico vem do latim ludus, que significa brincar, conforme se pode verificar no Dicionário da Língua Portuguesa (Nascentes, 1998, p. 387). Por sua vez, estão incluídos nesse brincar os jogos, brinquedos, enfim, todas as atividades que se caracterizam pelo prazer, criatividade e espontaneidade. Essas atividades, consequentemente, devem possibilitar a produção do conhecimento: “As atividades lúdicas podem permitir o desabrochar da afetividade. O ambiente descontraído, a atividade prazerosa, a oportunidade de conhecer e valorizar o próximo tendem a criar um clima de compreensão e de amor” (Dohme, 2003, p. 15).

Essa afetividade destacada pela autora é estimulada pela vivência estabelecida entre o educador e a criança; a ludicidade servirá de ponte para influenciar esse vínculo. Por esse motivo, faz-se necessário o resgate do brincar, principalmente nas diferentes metodologias utilizadas em sala de aula pelo professor, propiciando às crianças o verdadeiro prazer no aprender.

No entanto, o que se constata é que as crianças se encontram privadas de tais direitos, por estarem sobrecarregadas de obrigações. Em muitas escolas, as aulas são repletas de autoritarismo, assegurando apenas a transmissão de informações repassadas mecanicamente. Assim sendo, a criança passa a não ter direito de expressar suas ideias (Romera et al., 2007).
É válido ressaltar que a escola tem o papel fundamental de garantir um espaço onde todos são tratados sem distinção, com direitos iguais, para que seja resgatada a infância de cada criança, pois, se enfrentam tantas dificuldades, é preciso que a escola contribua para que a infância dessas crianças seja permeada de sonhos e alegrias, assegurando-lhes o direito que é seu, de brincar por brincar (inato) e do brincar pedagógico (adquirido). Dohme (2003, p. 93) afirma que “o convívio com a fantasia proporcionado pelas atividades lúdicas leva a criança a construir uma cultura própria, que vem a ser o produto da interpretação das propostas culturais fornecidas pela sociedade de adultos”.

O brincar no desenvolvimento da criança surda

Atualmente a Educação de Surdos está entrelaçada com o bilinguismo, em que tanto a Libras como o português devem ser ensinados de modo que o ouvinte também obtenha as duas línguas, de modo que a Libras seja para o surdo a L1 e o português a L2, ocorrendo o contrário para os ouvintes (Oliveira, 2010; Silva, 2016). Sobre esse aspecto, Leki (1992) afirma as vantagens de estruturar uma língua dessa forma, quando se faz por emprego de seus usuários naturais; como a Libras é uma língua visual, o brincar ajuda na sua aquisição de forma mais efetiva, tanto para os ouvintes como para os surdos, uma vez que essa abordagem metodológica traz a compreensão do meio em que estão inseridos e de tudo que os cerca.

Ainda há resistência da utilização do lúdico como meio didático-pedagógico de elevar o processo de ensino-aprendizagem, pela demanda de um planejamento mais elaborado, da necessidade de levantamento bibliográfico ou de busca etnográfica na comunidade de origem dos educandos e da importância do(a) professor(a) não só nesta etapa pedagógica como também na sua aplicação, desenvolvimento e finalização juntamente com o educando (Córdula, 2013b; Córdula et al., 2016; Córdula; Nascimento, 2017). Os profissionais que trabalham nessa área devem ter consciência da importância dos jogos e dos brinquedos para a aquisição da língua e de outras habilidades a serem desenvolvidas pelas crianças, como afirma Ortiz (2002, p. 10):

Deve-se estimular atividades lúdicas como meio pedagógico que, junto com outras atividades, como as artísticas e musicais, ajudam a enriquecer a personalidade criadora, necessária para enfrentar os desafios na vida. Para qualquer aprendizagem, tão importante como adquirir é sentir os conhecimentos.

Estimular visualmente e de forma criativa a criança surda é fundamental para que ela possa, de forma natural, adquirir sua língua materna. Vygotsky (1988), em seus estudos, afirma que, havendo a perda de um dos sentidos, os demais devem ser estimulados para que o processo de aprendizagem continue a se processar no sujeito e, assim, o desenvolvimento psicocognitivo continue a se processar.

Fazer com que a visão torne-se eficaz para compensar a ausência da audição deve ser algo trabalhado, pois o canal da visão complementa a audição, e, nessas situações, um sentido compensa a ausência do outro para a interação com o mundo ao seu redor (Quadros, 2004). Portanto, a utilização de métodos que ampliem a aprendizagem visual, com utilização de imagens, jogos e brincadeiras, trará resultados positivos na educação da pessoa surda (Quadros, 2004; Souza; Silva, 2010; Pimentel; Sabino, 2016; Silva, 2016).

Conclusões

O presente estudo pretendeu compreender o processo de ensino-aprendizagem a partir de jogos e brincadeiras como meio de facilitar a aquisição da Libras pela criança surda, mostrando pelas bibliografias consultadas que essa metodologia é eficiente tanto para Libras como para as demais disciplinas e revelou a grande necessidade de conduzir os professores e as instituições escolares a despertar para essa reflexão, assim como a repensar suas práticas pedagógicas.

É imprescindível buscar novas práticas que valorizem o lúdico e que favoreçam um ensino-aprendizagem prazeroso, pois com a sua inserção a sala de aula passará a ser um local alegre, descontraído e motivador do ensino, da aprendizagem e da autonomia do educando. Essencialmente, o trabalho com o lúdico deve ser visto como uma forma de fazer com que o ensino sistematizado da aquisição da Libras na Educação Infantil seja vivenciado de modo que faça sentido tanto para os alunos surdos quanto para os ouvintes da turma.

Esta pesquisa trouxe reflexões relacionadas à temática do lúdico; espera-se possibilitar tantas outras discussões e o fomento de novos estudos, de inserções dessa metodologia na Educação de Surdos e, principalmente, da divulgação dos seus resultados, para que outros educadores do país possam compartilhar e multiplicar essas experiências.

Referências

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Publicado em 11 de julho de 2017

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