As perspectivas profissionais do curso de Pedagogia: uma análise bibliográfica dos campos de atuação do pedagogo

Carlos Júnio Santos Sousa

Pós-graduado em Docência do Ensino Superior, graduado em Pedagogia (Universidade Estadual do Piauí – UESPI)

Maria Sueli Lopes da Silva

Professora universitária, (Faculdade Maurício de Nassau, Parnaíba/PI), especialista em Docência do Ensino Superior

Introdução

A escolha por uma profissão no campo educacional requer uma visão da sociedade que busca sempre o crescimento pessoal e profissional, pois “associa-se a processos de comunicação e interação pelos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades, técnicas, atitudes, valores existentes” (Libâneo, 2010, p. 32).

Entende-se que escolher ser um profissional na área da Pedagogia requer muito mais que apenas ministrar aulas para crianças da Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio (na modalidade Normal), de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

Nosso interesse pelo tema surgiu pela escolha profissional que obtivemos ao entrar no ensino superior. Este artigo, elaborado como trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Docência do Ensino Superior da Faculdade Maurício de Nassau, em Parnaíba/PI, visa mostrar os subsídios teóricos que dão oportunidade de acesso ao Ensino Superior e o campo profissional do acadêmico de Pedagogia. Teve como problemática: quais as perspectivas profissionais do curso de Pedagogia e os campos de abrangência educacional de atuação do pedagogo?

Assim, o objetivo geral é estudar as perspectivas profissionais do curso de Pedagogia e os campos de abrangência educacional de atuação do pedagogo; como objetivos específicos, contribuir para o processo de escolha profissional do aluno ingressante no curso de Pedagogia; analisar as formas de acesso ao ensino superior; e conhecer teoricamente o campo profissional do pedagogo. Metodologicamente, buscou-se uma análise de cunho bibliográfico, utilizando-se livros dos autores como Libâneo (2010), Tardif (2008) e Pimenta (2006), além de trabalhos científicos publicados que se referem ao tema.

A escolha profissional no curso de Pedagogia

Falar sobre a escolha profissional remete a alguns pontos encontrados pelos alunos nesse momento: o gosto, as dúvidas, a decisão, a escolha, a interferência financeira, a universidade, o mercado de trabalho, as informações sobre o curso, as influências, o autoconceito, a identificação e o vestibular (Levenus; Nunes, 2010). Os estudantes

mencionam o que gostam em termos de ocupação, referendando a ideia de que nesse momento o jovem está definindo sua identidade [...]. Em raras ocasiões houve verbalizações nas quais os sujeitos declararam estar decididos quanto à profissão [...]. O sentimento de dúvida é inerente ao ser humano. Nas fases iniciais do desenvolvimento, a capacidade de discriminação é tênue ou inexistente [...]. Para fazer uma escolha ajustada, pressupomos que exista capacidade de adaptação, de interpretação e de juízo da realidade, de discriminação, de hierarquização dos objetos e, em especial, capacidade para esclarecer a ambiguidade e tolerar a ambivalência nas relações do objeto [...]. A posição socioeconômica da família influi diretamente no desenvolvimento vocacional do jovem no sentido de oferecer maiores e menores possibilidades educacionais [...]. O ingresso à universidade adquire caráter de tarefa evolutiva por si só [...]. É um importante item a ser considerado na escolha [...]. Um dos principais itens observados para que ocorra um consistente processo de escolha profissional é a informação [...]. As influências, explícitas ou sutis, existem e devem ser consideradas [...]. A formação do autoconceito ocorre na infância [...]. Escolha por identificação é um item raro (Levenus; Nunes, 2010, p. 39-50).

Nesse sentido, pontuam-se alguns pontos relevantes para a escolha profissional, destacando os mais importantes como sujeitos indispensáveis para esse momento de conflito em todos o que buscam escolher uma profissão.

As motivações relacionadas à escolha de uma profissão apoiam-se na experiência e na convivência familiar, na vontade de ser um profissional de sucesso e no desenvolvimento pessoal. Mas “a escolha profissional não é necessariamente entendida como pré-requisito para a conquista dessa felicidade” (Bock, 2010, p. 136); não basta ser feliz profissionalmente, a vida requer outros momentos que se interligam com o meio profissional, sejam afetivos, familiares, de lazer e culturais.

Desse modo, escolher ser um profissional da Pedagogia requer pensamento e reflexão acerca dos seus objetivos perante o trabalho como professor e interlocutor de saberes, além de especialistas educacionais, conhecendo e lutando pelos seus objetivos e seu compromisso pela educação.

O que fazem os pedagogos?

Para entender o papel do pedagogo na sociedade é preciso um breve conceito sobre educação; Libâneo (2010, p. 30) descreve:

Educação é um conjunto de ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. É uma prática social que atua na configuração da existência humana individual e grupal para realizar nos sujeitos humanos as características do ser humano.

Para esse autor, pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica.

Com esse pensamento, conclui-se que a educação é um campo educacional bastante amplo da Pedagogia, em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento. Levando em consideração a educação formal e informal, conclui-se que atua nas ações influenciadas pelo meio, o ambiente social e cultural, pelas ações escolares na formação de indivíduos no ambiente humano, institucionalizado e sistemático.

A educação em si remete a alguns pontos importantes para sua efetivação, como repetitiva, de função adaptadora, produção e reprodução social, atividade cultural, atividade planejada, uma ação da sociedade, processo de desenvolvimento humano individual; é vista como “arte, uma técnica, uma interação e muitas outras coisas, mas também a atividade pela qual prometemos às crianças e aos jovens um mundo sensato o qual devem ocupar” (Tardif, 2008, p. 182), com interferências no seu desenvolvimento humano, sem deixar de lembrar a educação informal e não formal, aquela que vem de casa, de seus familiares e da sua comunidade.

O pedagogo, como profissional da educação, atua em vários processos e áreas educacionais, com diversas demandas sociais e educativas, formais ou informais, buscando sempre se referir com a realidade da sociedade atual, deixando de ser apenas um profissional da docência escolar, tornando assim seu trabalho de mais qualidade. Não é deixar de exercer a prática docente, e sim articular com a teoria e a prática. Assim,

ser pedagogo é mais abrangente que ser especialista de ensino. Quando pedagogo direciona sua ação para qualquer situação pedagógica que não seja escolar, a docência não se faz necessária. O que estamos advogando é a formação docente para o caso de o pedagogo assumir as funções dos especialistas de ensino, ou seja, quando ele exerce as ações pedagógicas de suporte ao trabalho docente em escolas ou em outras instâncias do sistema escolar. Entendo, entretanto, que, antes de especializar-se no ensino, o pedagogo deve compreender como ocorrem os processos educativos na sociedade de modo geral para garantir a articulação entre a prática escolar e as demais práticas pedagógicas (Pinto, 2000, p. 168).

Portanto, o pedagogo deverá ter uma formação que visualize o meio teórico educacional e, com isso, a educação escolar, identificando seu lado profissional na docência e nos aspectos pedagógicos e sociais e conscientizando-se do seu papel na sociedade durante, depois e no futuro, sendo um profissional escolar ou extraescolar. A atuação do pedagogo escolar é imprescindível na ajuda aos professores no aprimoramento do seu desempenho na sala de aula (conteúdos, métodos, técnicas, formas de organização da classe), na análise e compreensão das situações de ensino com base nos conhecimentos teóricos, ou seja, na vinculação entre as áreas do conhecimento pedagógico e o trabalho em sala de aula (Libâneo, 2010, p. 61). Buscando estar presente em todos os campos educacionais, o profissional da Educação pode ser um profissional dedicado e compromissado com seu trabalho, com desejos inatos ao pensamento teórico e ao planejamento das ações escolares.

Considerações finais

A escolha profissional pelo curso de Pedagogia, de maneira geral, ainda se encontra desafiando muitos que buscam entrar na docência; por esse curso, possibilita ao indivíduo uma visão direta e coesa sobre Educação, com conhecimentos válidos para “ser” um excelente pedagogo.

Embora não possamos definir de fato como ocorrem os motivos pelos quais um aluno escolhe o curso de Pedagogia como seu escudo profissional, a priori buscamos entender que as manifestações sociais, familiares e pessoais encontram-se como ponto de partida para essa escolha, que esses aspectos sejam relevantes para seu ingresso no Ensino Superior e um futuro profissional da educação.

É necessário entender que a escolha profissional pelo curso de Pedagogia requer primeiramente pensar na educação, nos alunos e nos espaços educacionais em que esse profissional irá atuar, de forma que sejam satisfatórios para seu desenvolvimento como indivíduo interlocutor de conhecimentos.

O percurso traçado pelo ingressante do curso de Pedagogia torna-se igual para todos os cursos superiores, pois precisa pensar e refletir em sua escolha, em seus anseios particulares de ser um profissional dedicado, responsável, ético e acima de tudo com comprometimento com a profissão.

Assim, por meio das leituras e reflexões durante a elaboração deste artigo, percebemos que o pedagogo torna-se um profissional que engloba diretamente os conteúdos educacionais, em instituições escolares e não escolares, sendo um profissional de enorme relevância para a educação, nos meios sociais, humanos e culturais; este trabalho não conclui definitivamente as perspectivas relevantes para a escolha profissional pelo curso de Pedagogia.

Referências

BOCK, Silvio Duarte. Orientação profissional para as classes pobres. São Paulo: Cortez, 2010.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Parecer CNE/CP nº5/05.

LEVENFUS, Rosane Shotgues; NUNES, Maria Lúcia Tiellet. Principais temas abordados por jovens vestibulandos centrados na escolha profissional. In: LEVENFUS, Rosane Shotgues; SOARES, Dulce Helena Penna (Orgs.). Orientação vocacional ocupacional. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

PIMENTA, Selma Garrido Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. In: LIBÂNEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido (Orgs.). Formação dos profissionais da educação: visão crítica e perspectivas de mudança. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.

PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. In: PINTO, Umberto de Andrade. O pedagogo escolar: avançando no debate a partir da experiência desenvolvida nos cursos de complementação pedagógica. São Paulo: Cortez, 2006.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

Publicado em 12 de dezembro de 2017

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