Elaboração de experimentos para feira de ciências: uma proposta no âmbito do PIBID

Adriana Oliveira Bernardes

Polo Cederj Nova Friburgo, Seeduc/RJ, Professora Supervisora PIBID

Douglas da Costa Cardinot

Licenciando em Física, PIBID, PIBIC (Cefet/RJ - Campus Nova Friburgo)

Danyel Coelho de Oliveira

Licenciando em Física, PIBID, PIBIC (Cefet/RJ - Campus Nova Friburgo)

Heloise Santos

Licenciando em Física, PIBID, PIBIC (Cefet/RJ - Campus Nova Friburgo)

Introdução

As feiras de ciências vêm se destacando como excelentes recursos pedagógicos a serem utilizados juntos a alunos do Ensino Fundamental e Médio para o aprendizado da Física. No Colégio Estadual Canadá, no qual há parceria com o Cefet/RJ – Campus Nova Friburgo, alunos do Projeto de Iniciação à Docência (PIBID) graduandos em Física acompanharam as atividades desenvolvidas na escola em 2014, visando a conhecer o contexto escolar e atuar sobre ele, supervisionados pelo professor responsável pela disciplina.

Sabemos que recursos como as feiras científicas trazem benefícios ao processo de ensino e aprendizado devido às várias fases que fazem parte de sua elaboração, favorecendo o desenvolvimento do aluno.

A elaboração de uma feira é composta das seguintes etapas:

  • Pesquisa do material a ser utilizado;
  • Pesquisa dos princípios físicos envolvidos na construção e no funcionamento do aparelho;
  • Pesquisa da parte histórica envolvida, ou seja, quem inventou, quando e em que contexto deu-se a descoberta (Bernardes, 2013, p. 179570).

Por possuir várias fases de elaboração e atividades diversificadas, as feiras colaboram para o desenvolvimento de habilidades e competências os alunos, como a expressão oral e o raciocínio lógico.

As Orientações Curriculares (2006, p. 9) enfatizam sua importância, quando afirmam que “a educação na escola deve envolver: elaborar comunicações orais ou escritas para relatar, analisar e sistematizar eventos, fenômenos, experimentos, questões, entrevistas, visitas, correspondências”.

As feiras desenvolvidas nas escolas normalmente envolvem todas as atividades mencionadas, podendo assim trabalhar habilidades e competências nos alunos que na maioria das vezes são deixadas de lado pelo professor que centra seu trabalho em aulas expositivas e resolução de exercícios, o que colabora para exclusão do aluno do processo de ensino-aprendizagem e colabora para que a Física seja considerada pelos alunos como de difícil assimilação.

Também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) abordam a questão do desenvolvimento de habilidades e competências pelos alunos e quais as demandas para tal, analisando especificamente no caso da Física o que seria mais adequado:

habilidades e competências concretizam-se em ações, objetos, assuntos, experiências que envolvem um determinado olhar sobre a realidade, ao qual denominamos Física, podendo ser desenvolvidas em tópicos diferentes, assumindo formas diferentes em cada caso, tornando-se mais ou menos adequadas dependendo do contexto em que estão sendo desenvolvidas. Forma e conteúdo são, portanto, profundamente interdependentes e condicionados aos temas a serem trabalhados (PCN, 2001, p. 231).

Outra questão a ser discutida é em relação à finalidade do ensino; sobre essa questão, a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 ressalta que “o aprimoramento do educando como pessoa humana e o desenvolvimento da autonomia intelectual são finalidades do Ensino Médio”. Nesse sentido, consideramos que a elaboração de feiras científicas nas escolas contribui significantemente para isso, apresentando-se como subsídio importante da equipe de professores da área de Ciências para a formação efetiva de um aluno cidadão.

A feira também é um recurso inclusivo, trazendo integração entre a diversidade de alunos que integram o ambiente escolar, em relação à questão. Castro e Bernardes (2016, p. 6) afirmam que “recursos inclusivos como as feiras de ciências são de suma importância para motivar o aluno ao aprendizado e, por conseguinte, colaborar para a obtenção de melhores resultados pelo mesmo”.

As feiras desenvolvidas na escola são importantes e provocam a discussão de temas científicos no ambiente escolar; nesse sentido, podemos considerar que

o estudante que vivencia a metodologia da descoberta (investigação) não se contenta mais com as aulas meramente expositivas. Ele passa a solicitar de seu professor a continuidade do trabalho, como uma maneira de atender à forma natural de aprender, e o que o indivíduo aprende fazendo não esquece mais (Neves; Gonçalves, 1989, p. 241).

Por outro lado, a experiência de um trabalho como esse pelo graduando em Física é fundamental para ele, no sentido de que, uma vez atuando como professor, já tenha vivenciado outras formas de ensinar.

Tal recurso é capaz de oferecer aos escolares a possibilidade de ser ativo no processo de ensino-aprendizagem, no qual pesquisa e elabora experimentos; consideramos que um trabalho como esse motiva e incentiva o aluno ao aprendizado. Nesse sentido, segundo Neves e Gonçalves (1989, p. 242), “a satisfação do estudante é grande ao participar de uma feira, constituindo-se numa verdadeira festa”.

As feiras científicas promovem principalmente uma possibilidade de contextualização das disciplinas, o que é importante quando a matéria é tida pelos alunos como de difícil assimilação. É importante que o aluno tenha uma visão inclusiva da disciplina, percebendo que pode discutir, elaborar e aprender, o que não ocorre num aprendizado centrado na resolução de exercícios.

É muito importante que as feiras retratem o ensino que está sendo trabalhado em sala de aula e não seja apenas um evento no qual são apresentados experimentos e discussões científicas.

Essas ideias são reforçadas por Hartmann e Zimmermann (2009), quando afirmam que “a participação em feiras de ciências é, portanto, a culminação de um processo de estudo, investigação e produção que tem por objetivo a educação científica dos estudantes”.

Em relação à importância das feiras escolares, podemos considerar que

a comunicação das produções científicas para o público visitante, por sua vez, contribuiu para a divulgação da ciência e para que os alunos demonstrem sua criatividade, seu raciocínio lógico, sua capacidade de pesquisar e seus conhecimentos científicos (Hartmann; Zimmermann, 2009).

Ou seja, as feiras científicas promovem não só o aprendizado contextualizado da matéria como também proporcionam a divulgação científica na escola, o que é extremamente relevante quando se almeja uma formação cidadã do aluno, tendo a escola papel fundamental na visão do aluno sobre os vários contextos em que vive na sociedade, inclusive no contexto científico.

Objetivos

O trabalho foi realizado propondo utilizar as feiras de ciências como recurso pedagógico para trabalhar os conteúdos do Currículo Mínimo Estadual de Física e proporcionar interação entre alunos do Ensino Médio e do projeto PIBID num contexto de ensino e aprendizagem dentro da escola.

Metodologia

Neste trabalho realizamos uma pesquisa quantitativa, na qual obtivemos percentuais da aceitação da feira na escola por meio da aplicação de questionário, aplicado nas turmas participantes; ele envolveu as seguintes perguntas:

  1. Você gostou de ter participado da feira de ciências?
  2. O que você achou da participação dos alunos PIBID?
  3. Você acha que aprendeu durante a feira de ciências?

Foi realizada também uma pesquisa qualitativa na qual, em contato com membros da comunidade escolar, realizamos uma entrevista perguntando o que pensavam da realização do evento na escola; obtivemos alguns depoimentos.

O trabalho foi realizado em escola pública do Estado do Rio de Janeiro, especificamente nas duas turmas de 2º ano do Ensino Médio, com um total de aproximadamente setenta alunos.

O trabalho realizado pelos participantes do PIBID graduandos em Física com os alunos do Ensino Médio se deu da seguinte forma: inicialmente o aluno foi orientado a pesquisar o tema sugerido pelo professor, fazendo com que buscasse outras fontes de leitura além daquelas utilizadas no espaço escolar, aumentando o leque de conteúdos. Nessa etapa, alunos PIBID atuaram junto aos estudantes, sugerindo temas adicionais, sites e material para leitura. Após o período de pesquisas, os alunos da escola elaboraram apresentações audiovisuais para que pudessem apresentar os conteúdos pesquisados por eles, tendo que se preparar para apresentar ao público um trabalho que contava com enfoque histórico do tema, explicação dos conceitos físicos envolvidos e a explicação do experimento.

Resultados

A feira de ciências foi bem aceita pelos alunos do colégio e movimentou toda a escola, tornando-se um importante divulgador de Física, aproximando-se da comunidade escolar. Notou-se grande interesse pelos conteúdos que pesquisaram e, consequentemente, maior motivação para seu aprendizado.

Pesquisa quantitativa

A pesquisa quantitativa foi realizada por alunos do projeto PIBID junto a 57 alunos participantes da feira. Os gráficos a seguir mostram os resultados alcançados.


Figura 1: Gráfico das respostas à primeira pergunta.

A Figura 1 mostra que 88% dos alunos responderam que sim, que gostaram de participar da feira de ciências; 12% afirmaram que não.


Figura 2: Gráfico das respostas à segunda pergunta.

Pelo gráfico, é possível perceber que 30% dos alunos afirmaram que foi importante, 10% não gostaram e 60% acharam que foi muito importante.

Figura 3: Gráfico das respostas à terceira pergunta.

As respostas à pergunta 3 mostram que 86% dos alunos declararam que sim, que aprenderam durante a feira; 14%, que não.

Em relação à pergunta 1, observamos que a maioria dos alunos (88%) gostou de ter participado da feira, o que é importante, pois nem sempre apreciam as atividades propostas pelos professores. Nas respostas à pergunta 2, observamos que 90% dos alunos consideraram o trabalho dos alunos PIBID importante ou muito importante.

Com a pergunta 3, verificamos que 86% dos alunos, ou seja, a maioria, consideram que obtiveram aprendizado durante as atividades da feira de ciências.

Pesquisa qualitativa

Foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, por meio de entrevistas junto a professores, alunos e funcionários para avaliação do que eles pensam sobre ‘feira de ciências’.

Selecionamos uma de cada segmento entrevistado. Foram obtidos os seguintes depoimentos:

“A feira de ciências é um recurso ótimo pedagógico. Bem, a partir do aluno interagir com outros – para fazer seu trabalho ou pesquisa – e consegue relacionar a seu cotidiano, eu acho que há um crescimento não só de quem está apresentando, mas também de quem está assistindo. Até quem está assistindo pode se interessar também, porque fica curioso e, com isso, eu acho que o importante é instigar a curiosidade de quem assiste e também de quem apresenta”.

“A feira é uma importante ferramenta para incentivo educacional do aluno. Uma forma de expor o conteúdo com diferenciação, tirando a monotonia de sala de aula”.

“Eu acho que qualquer atividade extraclasse motiva muito os alunos e como eles já veem essa feira de ciências há algum tempo, eles ficam bem motivados. A feira está contaminando de maneira positiva os outros alunos. Eu acho que tem sido um trabalho bem legal e a motivação deles também, a cada dia, vem aumentando”.

Podemos observar, tanto no discurso dos professores, quanto de alunos e funcionários, que consideram as feiras de ciências uma atividade que motiva o aprendizado dos alunos e colabora para seu aprendizado.

Em todos os discursos observamos que a feira de ciências é bem vista por eles, que acreditam que as feiras são mais eficazes que as aulas expositivas.

Conclusão

A feira de ciências como ferramenta pedagógica revelou-se muito produtiva e enriquecedora do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a feira repercutiu em toda a escola, o que fez destacar-se como ferramenta de divulgação científica em que os protagonistas foram os próprios alunos.

A interação dos escolares com alunos PIBID foi importante, propiciando benefícios para os estudantes quanto para os graduandos, que, antes do término do curso, tiveram contato com a escola e com as dificuldades encontradas para realizar o trabalho.

As pesquisas mostram que o aluno se sente motivado com a escola e acredita que pode aprender dessa maneira; professores e funcionários conseguem enxergar benefícios na utilização das feiras para o aprendizado dos alunos.

Considerações finais

No Estado do Rio de Janeiro, desde 2012, o professor está trabalhando Física com um currículo diferenciado, no qual deve dar enfoque histórico-filosófico. Uma das formas possíveis de trabalhar os conteúdos ministrados em sala de aula e expandir as possibilidades de aprendizado do aluno é com feiras de ciências, nas quais, além da abordagem de fenômenos, ocorre uma abordagem histórico-filosófica. Trabalhando dessa forma podemos incentivar os alunos a pesquisar, a elaborar apresentações orais e experimentos.

Nesse contexto, contamos com a colaboração de alunos PIBID, que, além de atuar na escola de forma positiva, auxiliando o professor, puderam também aprender a desenvolver junto aos alunos recursos que possam auxiliar sua aprendizagem.

Os trabalhos que vêm sendo realizados com feiras de ciências mostram que elas colaboram muito para a aprendizagem do aluno, como afirmam Dornfeld e Maltone (2011):

As atividades da feira que puderam contribuir para melhorar a sua formação inicial foram: motivação causada pela atividade diferenciada, aprimoramento em relação ao conteúdo específico de Ciências e Biologia, melhorar as relações interpessoais, aspectos relacionados com a prática docente, preocupação com a aprendizagem dos alunos-visitantes e com a interação da universidade com as escolas.

Por tratar-se de um trabalho realizado no âmbito PIBID, podemos também considerar o aprendizado propiciado a estes alunos na escola, mostrando que, no lugar de aulas expositivas, pode-se oferecer aos alunos recursos em que possam ser motivados e que crie neles uma visão da Física que pode ser aprendida, discutida e ao mesmo tempo motivante para o entendimento do mundo que os cerca.

Referências

BERNARDES, Adriana Oliveira. Feira de ciências como recurso pedagógico para trabalhar tópicos de Astronomia do Currículo Mínimo Estadual de Física do Rio de Janeiro. 2013. Disponível em:
http://educere.bruc.com.br/ANAIS2013/relatos_2.html. Acesso em 10 nov. 2016.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1997.

BRASIL. PCN+ para o Ensino de Ciências e Matemática. Brasília: Ministério da Educação, 2002.

BRASIL. LDB. Lei de Diretrizes e Bases, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acesso em 23 nov. 2014.

CASTRO, Mariana Gonçalves F.; BERNARDES, Adriana O. Feira de ciências: um recurso didático inclusivo. II Congresso Internacional de Educação Inclusiva. Cintedi, 2016. Campina Grande. Anais (on-line). Disponível em: http://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/TRABALHO_EV060_MD4_SA16_ID1393_28092016004203.pdf. Acesso em 18 jan. 2017.

DORNFELD, C. B.; MALTONE, K. L. A feira de Ciências como auxílio para a formação inicial de professores de professores de Ciências e Biologia. Revista Eletrônica de Educação, v. 5.2, p. 42-58, 2011.

HARTMANN, A. M.; ZIMMERMAN, E. Feira de ciências: a interdisciplinaridade e a contextualização em produções de estudante de ensino médio. VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. 2009.

NEVES, S. R. G.; GONÇALVES, T. V. O. Feiras de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 6, nº 3, p. 241-247, 2009.

Publicado em 02 de maio de 2017

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