Artes Visuais em cena: motivações iniciais

Ailza de Freitas Oliveira

Doutoranda em Educação (PPGE/UFPB)

Fernando Antonio Abath Luna Cardoso Cananéa

Doutor em Educação (PPGE/UFPB)

Com o objetivo de desenvolver atividades pedagógicas interdisciplinares envolvendo a comunidade escolar pautadas no tema “Artes Visuais na Paraíba” e a fim de atender aos critérios propostos no Prêmio Escola Nota 10 e à apreensão de conhecimento pedagógico sobre os artistas estudados, elaboramos um projeto interdisciplinar numa escola pública da rede municipal de ensino na cidade de João Pessoa, com estudantes da Educação Infantil, do Ensino Fundamental I e II e da Educação de Jovens e Adultos neste ano letivo.

Nossa proposta se pautou no cumprimento das ações indicadas no Projeto Interdisciplinar Escola Nota 10 – 2018, que, em sua apresentação, “determina às escolas da rede municipal de ensino a elaboração e o desenvolvimento de um projeto interdisciplinar focado na formação cultural de todos os estudantes da rede”. Para tanto, a Sedec realizou ação formativa e informativa sobre o tema, momento em que duas das professoras de Artes da escola, acompanhadas da gestora geral, apreciaram os percursos metodológicos e técnicos propostos para a elaboração e desenvolvimento do projeto, bem como elaboraram suas ideias iniciais, repassadas colaborativamente aos demais integrantes do corpo docente e posteriormente aprovadas para desenvolvimento no projeto.

Dessa forma, Artes Visuais em Cena foi uma proposta desenvolvida em oito disciplinas curriculares no 2º e 3º bimestres do ano letivo de 2018 com todas as turmas e em todos os turnos da escola pautando-se em sete artistas visuais paraibanos.

O projeto político-pedagógico (PPP) da Escola Municipal Seráfico da Nóbrega (2018, p. 7-8) apregoa que “todo o trabalho aqui elaborado reflete o compromisso da escola com a transformação social e o repensar de fazeres e atitudes pedagógicos” e complementa que com tal postura objetiva “a melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem, reconhecendo o educando como protagonista deles”. Dessa forma, o projeto Artes Visuais em Cena esteve em consonância com os parâmetros que sustentam os ideais pedagógicos do PPP escolar, uma vez que auxiliou no desenvolvimento e no exercício do protagonismo estudantil, propondo atividades em que a autonomia impere.

Celeiro das mais belas, qualitativas e variadas produções artísticas, a Paraíba tem muitos talentos nas artes visuais, do litoral ao sertão; vários são os nomes que assinam tantas telas pintadas em nosso estado. Podemos traçar um arco-íris de vertentes artísticas, renomadas ou anônimas, que contam com qualidade, diversidade e criatividade e assinam no nosso estado a grafia de ser um vasto espaço de produção e difusão das artes visuais.

Imersos em pesquisas nesse vasto universo das artes visuais, em encontros coletivos para nossas ações interdisciplinares selecionamos sete artistas paraibanos de diferentes técnicas nas artes visuais, com distintas temáticas abordadas e oriundos de diversas cidades do nosso estado. Atentos à questão de gênero, escolhemos estudar três mulheres e quatro homens. Nosso projeto teve como proposta trabalhar a biografia, a produção artística e a releitura das obras de sete artistas paraibanos, compondo nosso arco-íris artístico.

O primeiro artista é o multimídia Archidy Picado Filho, com apreciação da técnica pintura em tela sobre a temática personagens, lateralidade e movimento. Natural de João Pessoa/PB, nasceu em 19 de junho de 1961, é graduado em Artes Visuais (UFPB, 1994) e desenvolve várias atividades artístico-culturais, como pintura, desenho, cartum, ilustração, escrita literária e música.

O pintor/ator/palhaço Dadá Venceslau (Venceslau de Sousa Justino) é o segundo artista, com apreciação da técnica pintura em tela sobre a temática circo. Natural de Patos/PB, nasceu em 12 de fevereiro de 1961; sua formação artístico-educacional conta com graduação em Educação Artística (UFPB, 1996) e especialização em Arte-Educação (Unavida – UVA, João Pessoa). Desenvolve atividades artístico-culturais como ator, cenógrafo, aderecista, figurinista, artista plástico, palhaço e arte-educador. Já expôs suas obras no Centro Cultural São Francisco; no Centro Cultural da Câmara dos Vereadores; na Estação Cabo Branco; na Funesc e no Centro Cultural Vergueiro (São Paulo), entre outros.

Nossa terceira pesquisa habitou na biografia e produção artística da ceramista Nené Cavalcanti, com apreciação da modelagem em argila e a temática anjos e mulheres. A ceramista é natural de Alagoa Nova/PB, nascida em 1948. Desenvolve atividades como artista plástica e escultora; formou-se primeiro em Enfermagem e depois em Pedagogia, mas o que definiu seu destino profissional foi o curso de Educação Artística, a partir do qual passou a dedicar-se exclusivamente às artes plásticas.

O quarto artista é o pintor e cantor Rodrigues Lima, com apreciação da técnica de pintura em tela com a temática frutas e natureza. Natural de Itatuba/PB, tem formação em Educação Artística pela UFPB. Morador do bairro onde a escola está inserida, o artista viabilizará a visitação de nossos estudantes a seu ateliê e à galeria de exposição para aula de campo. Atualmente ele desenvolve atividades como artista plástico, pintor, cantor e paisagista. As duas primeiras habilidades são os focos de nossos estudos.

A quinta cor de nosso arco-íris artístico é da artista gráfica, dançarina, atriz e percussionista Cely Sousa, com apreciação da arte gráfica na elaboração de capas de livros e logomarcas. Cely é natural da cidade portuária de Cabedelo/PB, nascida em 29 de maio de 1967; tem graduação em Educação Artística pela UFPB com habilitação em Artes Visuais e em Artes Cênicas; é especialista em Educação Musical e Ensino de Artes. Integra grupos de cultura popular como atriz, cantora, dançarina, roteirista e percursionista, além de ministrar aulas de Artes na rede pública de ensino e dirigir organização não governamental. Sua atuação como artista gráfica na elaboração de capas de livros e logomarcas norteou nossa pesquisa e serviu de base para a produção dos estudantes.

A sexta artista de nosso arco-íris é a xilogravurista Rose Catão, com a técnica de xilogravura sobre anjos. Natural de Campina Grande/PB e nascida em 31 de outubro de 1940, sua formação artístico-educacional registra em seu currículo graduação em Educação Artística e especialização em cultura Afro-Brasileira, com mestrado em Biblioteconomia pela UFPB. Tem ainda cursos de Desenho e Pintura na Funesc, Gravura (Hermano José e Tereza Carmem, na UFPB) e Xilogravura (José Altino – Atelier Miramar, João Pessoa). Suas atividades são pautadas como artista plástica e professora de Artes com experiência na técnica de xilogravura, técnica que abordamos com nossos estudantes.

Para fechar nosso arco-íris artístico, tivemos o cartunista Régis Soares, com a técnica de charge e temática de questões sociais. Paraibano de João Pessoa, Regis Soares destaca-se por expor suas charges na rua, demonstrando sua preocupação de tornar suas charges acessíveis ao público, chamando a atenção para vários assuntos pertinentes à sociedade. Seu trabalho vem sendo apresentado em forma de outdoor na rua há mais de 20 anos. Várias vezes o seu trabalho enfrentou obstáculos. Reginaldo Soares Coutinho, nascido em 1960, é viúvo, tem dois filhos, é chargista, cartunista e caricaturista.

Em comum, os sete artistas têm acesso a algum dos integrantes do corpo docente, viabilizando a realização das visitas pedagógicas e o diálogo entre as produções dos artistas e dos estudantes; outro aspecto que une nossos sete artistas é serem arte-educadores graduados na UFPB, unindo técnica artística com conhecimento científico; ainda têm em comum habitar João Pessoa/PB, o que pauta seus olhares do nosso campo de atuação.

De distinto entre eles, utilizam técnicas de áreas diferentes das Artes Visuais, o que viabiliza variadas vivências educacionais, como pintura em tela, xilogravura, charge, arte gráfica, modelagem, o que ampliará as possibilidades de aprendizagem dos estudantes; por fim, a consonância mais importante entre eles é a disponibilidade de contribuir com o universo escolar e produção artística relevante no cenário paraibano.

Assim, compomos nosso arco-íris artístico aproximando as produções em artes visuais desenvolvidas por nossos estudantes dos segmentos da Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e nas modalidades Educação de Jovens e Adultos e Educação Especial. As ações foram mediadas pelos educadores que ministram as disciplinas de Artes Cênicas, Música, Educação Física, Língua Portuguesa, História, Geografia, Ensino Religioso e Ciências, mediados pela Pedagogia de Projetos e por uma ação interdisciplinar com a proposta triangular, a fim de compor um arco-íris artístico que também é pedagógico, aprendente e significativo.

As ações estão sendo executadas de forma colaborativa, ainda em curso de desenvolvimento; com as análises dos resultados obtidos, pretendemos redigir artigo posterior; no entanto, percebemos que esse processo de estudo e ensino, associado ao fazer artístico, à apreciação estética e à análise teórica que pauta cada artista conduz ao conhecimento tanto os estudantes envolvidos quanto os docentes, tornando a escola um lugar de aprendizagem significativa.

Referências

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BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação pós-colonialista no Brasil: aprendizagem triangular.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 abr. 2018.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1998.

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL SERÁFICO DA NÓBREGA. Projeto Político-Pedagógico. 2018.

OLIVEIRA, Ailza de Freitas; CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. Ampliando a percepção ambiental e promovendo a educação significativa. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2338. Acesso em: 13 abr. 2018.

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______; ______. Construindo alternativas de aprendizagens com jogos pedagógicos. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2406. Acesso em: 13 abr. 2018.

VENTURA, Paulo Cezar Santos. Por uma Pedagogia de Projetos: uma síntese introdutória. Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p.36-41, jan./jun. 2002. Disponível em: https://seer.dppg.cefetmg.br/index.php/revista-et/article/view/31/26. Acesso em: 12 abr. 2018.

Publicado em 19 de junho de 2018

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