Ensinando Física no quinto ano do Ensino Fundamental: uma proposta envolvendo magnetismo

Carla Vater de Almeida

Escola Municipal Vila Costa Monteiro

Maria Beatriz Dias da Silva Maia Porto

PPGEB/UERJ

Introdução

A inserção de aulas práticas nas aulas de Ciências pode contribuir para uma aprendizagem realmente significativa dos conteúdos abordados, com vistas a colaborar com a alfabetização científica dos alunos. As aulas práticas, quando inseridas em um contexto devidamente problematizado, decorrente de uma postura investigativa de determinado projeto, podem contribuir relevantemente para a aquisição do conhecimento (Lorenzetti; Delizoicov, 2001).

Na realização de atividades práticas, o desenvolvimento dos conteúdos procedimentais é de fundamental importância durante as aulas. É importante a observação atenta do fenômeno em estudo, o estabelecimento de hipóteses, a testagem e o registro de resultados. O cumprimento dessa rotina permite que os alunos ajam de forma ativa sobre o objeto de estudo, possibilitando melhor compreensão do experimento. Dessa forma, nas atividades propostas são introduzidas, sempre que possível, as etapas do método científico (Moreira; Ostermann, 1993), em que o estudante precisa fazer questionamentos, formular hipóteses, testar e verificar essas hipóteses. Essas etapas contribuem para a organização do pensamento e estimulam o raciocínio dos alunos.
O trabalho foi desenvolvido com turmas de quinto ano e baseado na proposta curricular de Niterói, município do Estado do Rio. O tema escolhido foi magnetismo, por exercer fascínio nos alunos e permitir uma abordagem interdisciplinar, considerando a Física, a História e a Geografia.

Objetivos

O objetivo é a inserção de aulas práticas inovadoras na escola, com material de baixo custo, na disciplina de Ciências para alunos do quinto ano do Ensino Fundamental de uma escola pública situada no município de Niterói. Dentre os conteúdos curriculares propostos pela Secretaria de Educação do Município de Niterói, foram propostas e desenvolvidas diversas atividades experimentais em torno desses conteúdos. Neste relato será apresentada a atividade relacionada a magnetismo.

Metodologia

A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação (Thiollent, 2009), de caráter participativo, democrático, que contribui, sempre que possível, para as mudanças sociais e é indicada quando o professor pesquisa sobre a sua própria prática.

A primeira etapa da proposta consistiu na apresentação do tema e das perguntas focais (Correia; Cicuto; Dazzani, 2014): o que são atração e repulsão? O que é magnetismo? Onde os ímãs podem ser encontrados?

Os alunos utilizaram o dicionário para procurar o significado das palavras novas e fazer registro delas. Foi realizada então uma discussão que buscava associações de seus conhecimentos sobre o assunto e as palavras pesquisadas. A discussão permitiu sondar o conhecimento dos discentes sobre ímãs e suas propriedades.

A professora passou à explicação do conceito de Magnetismo; mineral magnetita; magnetismo no cotidiano e propriedades; campo magnético; magnetismo terrestre; História e instrumentos de navegação (bússola). Magnetismo foi definido como a capacidade de atração ou repulsão entre ímãs; foi explicado que nem todos os materiais possuem propriedades magnéticas; o ímã tem dois polos, norte e sul; que no espaço que o circunda existe um campo magnético; que os polos opostos se atraem, os polos iguais se repelem e o planeta Terra se comporta como um grande ímã; que se uma agulha imantada for colocada na presença de um campo magnético, ela se alinha ao campo, e este é o princípio de funcionamento da bússola; que o polo norte da agulha da bússola aponta sempre para o Polo Norte geográfico, e por isso se diz que lá há um Polo Sul magnético; como a bússola foi importante na época das Grandes Navegações. Nesse momento, o aluno poderia associar os seus conhecimentos anteriores aos novos.

Em seguida os alunos manusearem pedaços de ímãs e constataram as explicações fornecidas pela professora. Viram os ímãs se atraindo e se repelindo, a existência dos polos e relataram o que estava ocorrendo, apresentando suas hipóteses. Os estudantes elaboraram nesse momento mapas conceituais individuais (Moreira, 2010).

As explicações sobre magnetismo terrestre e funcionamento da bússola também foram fornecidas, utilizando o mapa-múndi. Foi destacado que os polos geográficos não coincidem com os polos magnéticos.

Os alunos não conheciam a bússola. Na explicação sobre o seu funcionamento, foram explicados os pontos cardeais e colaterais. Os alunos compreenderam que a bússola funciona para mostrar a localização dos polos magnéticos e dos polos geográficos.

Os estudantes construíram a rosa dos ventos utilizando origami, nomeando os pontos cardeais e colaterais, para que construíssem a bússola e pudessem observar a ação do campo magnético da Terra. Notaram que o campo magnético produzido por um ímã pode influenciar na orientação da bússola. Novos mapas conceituais foram feitos.

Resultados

Ao final das atividades práticas, todas as questões levantadas pela professora no início da proposta foram respondidas pelos estudantes. O trabalho levou os alunos ao estudo da rosa dos ventos, pois não conheciam os pontos cardeais, e viram que a agulha bússola se alinhava com o campo magnético da Terra. Além das inserções na área de Física, Geografia e História, foram trabalhadas noções de ortografia, coordenação motora fina e capacidade de trabalhar em grupo. Ao final do projeto, os estudantes fizeram novos mapas conceituais, colaborativos, que revelam que a aprendizagem significativa (Moreira; Masini, 2001) aconteceu.

Considerações

A alfabetização científica nos anos iniciais pode seguir caminhos diversos; dentre eles, destaca-se a inserção de atividades práticas nas aulas de Ciências. Essa foi a proposta deste trabalho, em que o tema de estudo foi magnetismo, em uma abordagem interdisciplinar, considerando Física, Geografia e História. Foram feitas várias atividades, e os alunos eram permanentemente avaliados por meio de seus mapas conceituais. Ao final, os alunos confeccionaram mapas conceituais colaborativos e estes indicaram que a aprendizagem havia sido significativa.

Referências

CORREIA, Paulo Rogério Miranda; CICUTO, Camila Aparecida Tolentino; DAZZANI, Bianca. Análise de vizinhança de mapas conceituais a partir do uso de múltiplos conceitos obrigatórios. Ciência & Educação, Bauru, v. 20(1), jan./mar. 2014.

LORENZETTI, Leonir; DELIZOICOV, Demetrio. Alfabetização científica no contexto das séries iniciais. Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 3(1), p. 45-61, jun. 2001.

MOREIRA, Marco Antonio. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. São Paulo: Centauro, 2010.

MOREIRA, Marco Antonio; MASINI, Elcie F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Centauro, 2001.

MOREIRA, Marco Antonio; OSTERMANN, Fernanda. Sobre o ensino do método científico. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 10(2), p. 108-117, ago. 1993.

PORTO, Maria Beatriz Dias da Silva Maia; PORTO, C. M. A evolução do pensamento cosmológico e o nascimento da ciência moderna. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 30(4), p. 1-9, 2008.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 17ª ed. – São Paulo: Cortez, 2009.

Publicado em 19 de junho de 2018

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