Comportamento alimentar de estudantes de colégio público do município de Volta Redonda/RJ

Isabelle Moliare Carelli Campos

Licenciada em Ciências Biológicas (UFRJ/Consórcio Cederj)

Maria Maura Barros Duque

Docente da Seeduc/RJ, especialista em Ensino de Ciências e Biologia (UFRJ) e em Biotecnologia (UEM), mestre em Tecnologia Ambiental (UFF)

Introdução

No Brasil, o hábito alimentar, em especial a dieta hiperlipídica, com a passagem dos anos e com o avanço e a adequação pertinentes ao comportamento e ao estilo de vida do brasileiro, destacando aspectos culturais, sociais e econômicos construídos principalmente pelo desenvolvimento urbano e industrial vivenciado pela sociedade, tem influenciado uma transição nutricional (Oldra et al., 2016).

Considera-se que a transição nutricional é influenciada nas fases de infância e adolescência; é importante desenvolver nessas etapas a sensibilização e a mobilização quanto ao autocuidado em relação à construção de hábitos alimentares e de estilo de vida saudáveis para a fomentação do estado nutricional, assegurando a promoção da saúde de forma natural sem a dependência de medicação e de investimentos em recursos para tratamento de doenças que só tendem ao enfraquecimento do organismo (Coleone et al., 2017).

Em relação aos aspectos sociais e econômicos, a disponibilidade de tempo é apontada como fator que se sobrepõe à decisão de opção alimentar. Os adolescentes, diante do estilo de vida, da rotina de estudo e/ou trabalho e das obrigações do dia a dia, encontram-se sem tempo até para alimentar-se; essa é a razão para a adesão ao consumo de alimentos fritos, devido à agilidade que demanda o preparo da fritura, em detrimento de outros pratos, a adequação a tipos variados de alimentos e a demarcação de suas qualidades sensoriais (Bastos, 2014).

O comportamento alimentar de adolescentes sofre a interferência de inúmeros aspectos, como poder de compra, ambiente, diversidade e qualidade dos alimentos e o tempo que tem ou é gasto para o consumo e/ou preparo do alimento (Santos, 2015).

O objetivo deste estudo é caracterizar o consumo alimentar de estudantes do 1° ano do Ensino Médio de um colégio público de Volta Redonda/RJ.

Desenvolvimento

Este trabalho foi produzido em um colégio público, com aplicação de questionário fechado. Tabularam-se os dados coletados, organizando e estruturando-os em planilhas, discutindo e comparando os resultados com os achados de outros autores.

A investigação aconteceu no município de Volta Redonda/RJ, em um colégio público localizado no Aterrado, um bairro residencial e comercial importante da cidade. O motivo principal para a escolha do colégio foi a oferta de ensino público, o que compreende educandos de cultura, vivência, costumes, etnias e condições financeiras diversas. Esses aspectos podem influenciar positivamente as informações coletadas quanto à diversificação e à pertinência com a realidade dos hábitos alimentares de adolescentes nessa faixa etária.

O questionário era composto por 13 questões de respostas fechadas, de múltipla escolha, elaboradas com base no referencial teórico investigado, evidenciando linguagem clara e objetiva. Elas foram formuladas em especial para avaliação do consumo de frituras; também foi questionada a utilização de alimentos saudáveis, com propriedades antioxidantes. Essa avaliação adotou a frequência qualitativa, demonstrando opções que evidenciaram características do hábito alimentar do participante, (quase todos os dias, mais de uma vez por dia, duas vezes na semana, raramente ou não consome). Outra questão remeteu à percepção do participante sobre o valor antropométrico (massa corporal); foram coletados os valores sociodemográficos (sexo e idade); a prática de exercício físico foi avaliada.

A coleta dos dados ocorreu em 25 de agosto de 2017, no turno matutino, em quatro turmas do 1º ano do Ensino Médio com média de 23 estudantes por turma. A amostra era de 89 participantes, de ambos os sexos, idade entre 15 e 18 anos e 16,5 de idade média; são 57,30% (n = 51) do sexo feminino. O questionário foi entregue a cada estudante, o qual preencheu uma opção relativa à resposta das questões objetivas.

Análise de dados

Para analisar os dados coletados, foram utilizadas a tabulação e a estatística descritiva em forma de percentual e média organizada e estruturada em planilha Excel 2016. Foi incluído o levantamento bibliográfico no intuito de criticar os dados analisados.

Questionados sobre o tipo de óleo alimentar mais usado no preparo dos alimentos consumidos pelos participantes, 47,10% (n = 42) são adeptos do óleo de soja; os outros entrevistados (52,90%, n = 47) informaram que usam óleo de milho, girassol, açafrão ou banha. Foi observado que a soma das porcentagens totais dos óleos vegetais mais utilizados pelos participantes, milho, açafrão, soja e girassol, 64% (n = 57) supera os lipídios saturados, a banha proveniente de animal, contra 5,6% (n = 5). Deve-se levar em consideração que os óleos vegetais usados são poli-insaturados, sendo mais indicados para fritura por imersão.

Constatou-se que 51,80% (n = 46) dos participantes consomem fritura quase todos os dias; 12,40% (n = 11) mais de uma vez por dia; 30,30% (n = 27), duas vezes por semana; 2,20% (n = 2) consomem raramente; e 3,30% (n=3) não consomem frituras.

Foi comparado o consumo em relação aos sexos; 5,8% (n = 3) das meninas não consomem frituras, contra 0% dos meninos, evidenciando que elas consomem menos que eles. Além disso, o consumo delas ocorreu em frequência mais diversificada, visto que 3,9% (n = 2) raramente consomem fritura.

O consumo de leite integral e derivados e alimentos constituídos por lipídios saturados também foi analisado; 65,20% (n = 58) dos participantes consomem esses alimentos quase todos os dias; 16,90% (n = 16), mais de uma vez por dia; 16,90% (n = 15), duas vezes por semana. Na confrontação entre os sexos, foi constatado que as meninas consomem mais alimentos que contêm lipídios saturados 66,70% (n = 34) do que os meninos (63,10%, n = 24).

Quando questionados sobre a frequência do consumo de carnes de porco ou boi com muita gordura, 8,90% (n = 8) consomem quase todos os dias; 39,30% (n = 35), duas vezes por semana; e 51,80% (n = 46) não consomem. Foi verificado, por registro escrito de alguns estudantes consumidores dessas carnes, que têm por hábito retirar a gordura aparente antes de consumir. Esses estudantes reconhecem que o consumo de muita gordura deve ser evitado; assim, preocupam-se em retirar essa gordura das carnes. Na comparação entre os sexos, foi observado que 55,3% (n = 21) dos meninos não consomem esses tipos de carnes, em detrimento de 27,4% (n = 14) das meninas.

Um estudo realizado no Distrito Federal avaliou 206 pessoas entre 14 e 22 anos; foi analisado o consumo de carne, constatando que 70,8% têm o hábito de retirar a gordura visível (Martins, 2013).

Foi constatado que 62,90% (n = 56) consomem alimentos industrializados e fast foods quase todos os dias; 14,60% (n = 13), mais de uma vez por dia; 20,20% (n = 18), duas vezes por semana; os que não consomem alimentos industrializados e fast foods atingiram o percentual de 2,30% (n = 2). Observou-se que o consumo desses alimentos é maior entre os meninos (65,7%, n = 25) para quase todos os dias, em detrimento de 60,8% (n = 31) das meninas.

Foi questionado sobre alguns tipos de alimentos constituídos por proteínas vegetais e carboidratos, consumidos mais vezes ao dia pelos participantes. Para a opção carnes, peixes e frangos, foi atingido o percentual de 21,30% (n = 19); para frutas, legumes e verduras encontrou-se 19,10% (n = 17); para pão, massas e arroz, verificou-se 41,50% (n = 37); na opção doce e frituras, 18,10% (n = 16).

Foi constatado que os alimentos mais consumidos durante o dia, tanto pelos meninos (42,1%, n = 16) quanto pelas meninas (41,1%, n-21) são pão, massa e arroz.

Sobre o consumo de frutas frescas, verduras e legumes, crus ou cozidos, 37% (n = 33) consomem quase todos os dias; 11,30% (n = 10), mais de uma vez por dia; 43,80% (n = 39), duas vezes por semana; e 7,90% (n = 7) não consomem frutas frescas, verduras e legumes, crus ou cozidos.

Foi constatado que 42,20% (n = 16) dos meninos consomem frutas, verduras e legumes quase todos os dias, contra 33,40% (n = 17) de meninas; a porcentagem dos que não consomem, dentre os sexos, foi a mesma (7,9%). Foi verificado que o hábito alimentar dos meninos é mais rico em fibras que o das meninas.

Muniz et al. (2013) avaliaram 600 adolescentes de colégio público no município de Caruaru/PE; na confrontação entre os sexos, foi observado equilíbrio no consumo de frutas; no entanto, no consumo diário de legumes e verduras entre os meninos houve aumento, contradizendo os achados deste estudo, que verificou equilíbrio entre os sexos para não consumo de frutas, verduras e legumes. Contudo foi evidenciado consumo maior de legumes e verduras pelos meninos do que pelas meninas, demonstrando conformidade com aquele estudo.

Foi questionado também sobre o consumo de peixe; 5,70% (n = 5) consomem peixe quase todos os dias; 38,30% (n = 34), duas vezes por semana; 32,50% (n = 29), raramente; 23,5% (n = 21) não consomem peixe.

Foi observado que 50% (n = 19) dos meninos consomem peixe raramente, contra 19,6% (n = 10) das meninas, as quais demonstram menor adesão para o consumo: 33,4% (n = 17), em detrimento de 10,5% (n = 4) dos meninos. No entanto, levando em consideração o consumo duas vezes por semana, foi constatado que o consumo das meninas, 43,1% (n = 22), é maior que o dos meninos (31,5%, n = 12); esse consumo está de acordo com a recomendação mínima do Guia Alimentar da População Brasileira (2014).

No estudo de Martins (2013) com 260 adolescentes e adultos jovens do Distrito Federal, foi constatado que apenas 11,2% consomem peixe duas vezes por semana, o que reafirma a média nacional pouco expressiva, contrariando os achados deste estudo para o consumo total de peixe duas vezes por semana, que teve resultado considerado alto para os hábitos alimentares brasileiros.

Foi avaliado o consumo diário de água; 42,70% (n = 38) dos estudantes consomem menos de 1 litro por dia; para os que consomem um litro, o percentual foi de 35,90% (n = 32); 21,40% (n = 19) consomem mais de um litro.

Quando perguntamos aos participantes se eles se consideram acima do “peso”, os percentuais obtidos com as respostas evidenciaram que 70,70% (n = 63) consideram-se com “peso” normal; 21,30% (n = 19) acreditam que estão pouco acima do normal; e 7,90% (n = 7) consideram-se obesos; na comparação entre os sexos, os meninos não se consideram obesos: 21,10% (n = 8) consideram-se um pouco acima do “peso”; a maioria (78,90%, n = 30) se considera magra. Na percepção das meninas, 11,80% (n = 6) consideram-se obesas e 62,80% (n = 32) consideram-se magras.

Souza et al. (2015) avaliaram os hábitos alimentares de 175 estudantes de colégios públicos e particulares do município de Sobral/CE; foi observado que as meninas são mais sedentárias que os meninos, no entanto houve equilíbrio entre os sexos para esses hábitos, considerados saudáveis e não saudáveis, corroborando os achados deste estudo. Foi constatado, na confrontação entre os colégios, consumo alimentar maior de verduras e legumes para os estudantes de colégio público, e os estudantes de colégio particular demonstram maior condicionado físico.

Foi questionada a prática de exercícios físicos; 39,30% (n = 35) fazem algum exercício; 60,70% (n = 54) não praticam atividades físicas. Na comparação entre os sexos, foi observado que as meninas são mais sedentárias (50,90%, n = 26) que os meninos (26,30%, n = 10). Dos meninos, 73,70% (n = 28) são mais ativos fisicamente.

Os dados encontrados em linhas gerais para a não realização de exercícios físicos não levaram em consideração a obrigatoriedade da prática de educação física pelos estudantes, a qual é realizada por eles uma vez por semana, conforme as exigências do currículo escolar; contudo, essa obrigatoriedade não é garantia de condicionamento físico, visto que este é adquirido por meio da prática regular de exercícios físicos, a qual deve ser realizada sob supervisão de um profissional de educação física.

Comparando os resultados do “peso” corporal com esses dados sobre exercício físico, foi constatado que o “peso” normal da maioria dos meninos pode ser explicado pela prática regular de exercícios físicos, a qual elimina as calorias excedentes. As meninas, por serem mais sedentárias, têm mais dificuldade para controlar seu “peso” em nível normal, levando em consideração os hábitos alimentares não saudáveis somados ao sedentarismo.

Santos et al. (2014) analisaram uma amostra com 3.101 adolescentes do município de Jacarezinho/PR; foi constatada na comparação entre os sexos a influência do avanço da faixa etária cronológica na perda do condicionamento físico; os meninos demonstram uma rotina com mais atividade física que as meninas.

Conclusão

Os resultados apontam para uma estabilização dos hábitos alimentares na confrontação entre os sexos, caracterizando uma influência da alimentação tanto saudável quanto da não saudável; enquanto as meninas são sedentárias, os meninos são ativos fisicamente; eles consomem mais frutas, verduras e legumes; elas, peixe; o consumo de frituras e alimentos industrializados e fast food é maior entre os meninos; as meninas consomem mais alimentos ricos em colesterol, como leite integral e derivados e carnes com excesso de lipídios.

A maioria dos estudantes consome frituras quase todos os dias; esse é um hábito alimentar favorável à predisposição de diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). O questionário fechado conseguiu caracterizar o consumo alimentar dos estudantes, em especial a influência da fritura, objetivo deste estudo.

Torna-se necessário investir mais em educação em saúde, com foco especial nas intervenções alimentares e nutricionais, como forma de informação e sensibilização dos adolescentes para hábitos alimentares saudáveis no contexto da segurança alimentar e nutricional.

Referências

BASTOS, Luciane. Conceição Silva. Estudo da formação de compostos carbonílicos, com ênfase em hidroxialdeídos α, β-insaturados, na fase líquida de óleo de soja aquecido e avaliação da influência de íons metálicos.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2ª ed. Brasília, 2014.

COLEONE, J. D. et al. Perfil nutricional e alimentar de escolares matriculados em uma escola municipal. Ciência & Saúde, Passo Fundo, v. 10(1), p. 34-38, jan./mar. 2017.

MARTINS, Islâne Naiara de Sá. Avaliação dos fatores de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes e adultos jovens do Distrito Federal. Monografia (Conclusão do curso de Bacharel em Enfermagem). Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília, Ceilândia, 2013.

MUNIZ, L. C. et al. Prevalência e fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras entre adolescentes de escolas públicas de Caruaru/PE. Ciência & Saúde Coletiva, 2013.

OLDRA, C. de M. et al. Ingestão de macronutrientes e colesterol por pacientes atendidos em uma clínica-escola de nutrição. Biosaúde, Londrina, v. 18, n. 2, 2016.

SANTOS, G. C.; NETO, A. S.; SENA, J. S.; CAMPOS, W. Atividade física em adolescentes: uma comparação entre os sexos, faixas etárias e classes econômicas. Rev. Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 19, n. 4, p. 455-464, 2014.

SANTOS, Luana Galeno dos. Consumo frequente de carne vermelha e processada e sua associação com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis: uma análise a partir da saúde coletiva. Monografia (Conclusão do curso de graduação em Saúde Coletiva). Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília, Ceilândia, 2015.

SOUZA, A. A de et al. Hipertensão arterial em adolescentes: reflexões acerca dos fatores de risco modificáveis. Mostra Interdisciplinar do Curso de Enfermagem, v. 2, n. 01, jun. 2016.

Publicado em 31 de julho de 2018

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.