Filmes na sala de aula como estratégia pedagógica para aprendizagem ativa
Erisnaldo Francisco Reis
Biólogo, mestre em Ensino de Ciências Exatas (Univates), professor da rede estadual de Minas Gerais
Andreia Aparecida Guimarães Strohschoen
Doutora em Ciências e Ecologia, professora dos programas de pós-graduação em Ensino de Ciências Exatas (Univates)
Introdução
O ensino de Ciências ou de outra disciplina é um desafio para os professores. Nesse sentido, os educadores buscam diferentes estratégias para o trabalho em sala de aula, com possibilidade de melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem dos conteúdos escolares. Uma estratégia utilizada por educadores são as produções cinematográficas que têm fundo educacional.
É de conhecimento que o cinema não é apenas para lazer. Constitui-se também numa importante fonte de conhecimento e reflexão. A Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais (SEEMG) afirma que os filmes podem ser ferramentas interessantes para serem utilizadas na Educação. Ressalta que podem ser usados como base para trabalhar conteúdo curricular ou para levantar debate sobre questão relevante para o estudo da disciplina (Minas Gerais, 2016) e podem ser trabalhados em sala de aula de forma interdisciplinar. Com base em um filme, podem ser realizadas atividades extracurriculares, e há a possibilidade de utilizá-los como material de suporte.
Determinadas produções cinematográficas trazem informações que podem ajudar a refletir ou complementar assuntos tratados em sala de aula. Direcionando para a área da Biologia, nota-se que assuntos ligados a essa disciplina são recorrentes em muitas produções cinematográficas que podem ser utilizadas na escola para estudar alguns temas (Minas Gerais, 2016). Considerando-se isso é que idealizamos a atividade pedagógica que ora se descreve.
A pesquisa envolveu uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola estadual do município de Rubim, Minas Gerais. Optou-se pelo filme O óleo de Lorenzo, de 1992, por se tratar de uma produção com foco em Biologia e fundamento multidisciplinar. Objetivou-se precipuamente analisar o uso de filme para ensino e aprendizagem de conteúdo de Biologia. Especificamente, objetivou-se propor atividades pedagógicas a partir do filme buscando a aprendizagem ativa dos alunos; relacionar disciplinas escolares por meio de atividades orais e escritas desenvolvidas com os alunos; analisar as percepções dos alunos acerca do ensino e da aprendizagem de conteúdo a partir de filme.
Com as informações descritas neste artigo, espera-se contribuir para o enriquecimento do conhecimento de acadêmicos e docentes no que se refere à utilização de metodologia e tecnologias para o trabalho com filmes em sala de aula.
Fundamentos teóricos
A escola é o espaço para desenvolver competências e habilidades dos estudantes; no entanto, observamos que atualmente há grande desinteresse deles pelos conteúdos, além de perda de reconhecimento da autoridade do professor e da ocorrência de transmissão de informações durante as aulas. Para que a aprendizagem seja efetiva, os estudantes devem fazer mais do que ouvir, sendo agentes ativos do processo de aprendizagem (Freiberger; Berbel, 2010). A interação do estudante com o assunto, ouvindo, falando, perguntando, discutindo, fazendo e ensinando é muito importante para a construção do conhecimento; essas atividades estão inseridas na aprendizagem ativa, a qual é norteada por metodologias ativas (Lovato et al., 2018).
Na educação, os professores têm utilizado vídeo como apoio às aulas já faz um bom tempo. Sabe-se que, antes do final da década de 1970, filmes de ficção e documentários de curta, média e longas metragens estavam confinados aos circuitos de exibição e às programações dos canais de televisão. Atualmente, com a evolução tecnológica, o acesso à produção cinematográfica se tornou fácil, o que pode viabilizar a utilização de filmes como apoio pedagógico.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mais especificamente no parágrafo 8º do Artigo 26, está escrito que a exibição de filmes de produção nacional se constitui componente curricular complementar que deverá estar integrado á proposta pedagógica da escola (Brasil, 1996). A Lei enfatiza que a exibição de filmes de produção nacional é obrigatória por, no mínimo, duas horas mensais.
São inúmeras as formas de uso de filmes em sala de aula. Nesse sentido, cabe ao professor encontrar neles alguma forma de explorar o conteúdo que será estudado com os alunos; não se pode ficar atrelado à disciplina em si, pois se entende que o filme pode possibilitar melhoria na forma de lidar com os alunos, já que numa sala de aula não se ensina apenas conhecimentos científicos, mas valores sociais muito importantes que serão levados para fora da escola. Teixeira (2006, p. 8) ressalta que “ver filmes, discuti-los, interpretá-los é uma via para ultrapassar as nossas arraigadas posturas etnocêntricas e avaliações preconceituosas, construindo um conhecimento descentrado e escapando às posturas 'naturalizantes' do senso comum”.
Na história, pode ser observado que desde o século XIX o cinema e a ciência estabelecem relações. Há registros dessa articulação como forma de entretenimento e de divulgar seus propósitos científicos (Oliveira, 2006). Para esse autor, a vivacidade das imagens e sua reprodutibilidade facilitaram sua aceitação como pura representação da realidade. Ainda segundo ele, o cinema pode ser encarado como uma das inovações da modernidade, dessa forma assumindo como meio pelo qual o conhecimento circula e onde novas experiências e valores culturais são difundidos.
De acordo com Maestrelli e Ferrari (2006, p. 35), “o uso de material audiovisual tem sido amplamente difundido nos diversos níveis de ensino, do Fundamental ao universitário”. Na ideia dessas autoras, animações, documentários e vídeos produzidos especialmente para uso em salas de aula têm se multiplicado, mas o acesso a esses materiais nem sempre é fácil. Elas ressaltam que, embora alguns deles estejam disponíveis gratuitamente na internet, muitas vezes integram livros relativamente caros ou são comercializados a preços incompatíveis com as condições de professores de escolas públicas, o que talvez seja o motivo da redução do uso na educação básica.
Para Oliveira et al. (2013), o uso de filmes constitui um recurso válido no ensino de Ciências. Salientam que a utilização desse material em sala de aula contribui para práticas interculturais críticas e numa perspectiva interdisciplinar.
Coelho e Viana (2010) salientam que o educador precisa descobrir nos filmes o processo de escolarização e tentar retirar deles reflexões que instiguem os alunos a raciocinar mais profundamente, pois aí está a chave da utilização do cinema na sala de aula. Mencionam que “a informação que deve ser retirada do filme nem sempre está explícita nas cenas; pode estar subentendida em uma fala, em um cenário, em um modo de agir dos personagens etc.” (p. 92).
O uso de filmes em sala de aula pode tornar as aulas mais dinâmicas e o cotidiano escolar passa a ser menos cansativo para professores e alunos. Outro ponto importante é que filmes tornam os alunos mais interessados, pelo fato de a aula “fugir” do comum, mas sempre relacionada ao conteúdo programático da disciplina (Coelho; Viana, 2010, p. 92).
Posto isto, pensa-se que a utilização do filme como prática pedagógica pode fazer o aluno se interessar pelo conhecimento e pela pesquisa de modo mais vivo e interessante que o ensino tradicional, apoiado em aulas expositivas e seminários. As autoras supracitadas enfatizam que o filme na escola só se justifica se ele estiver direcionado a despertar o interesse pelo ensino no sentido tradicional e, ao mesmo tempo, mostrar novas possibilidades educacionais apoiadas na narrativa cinematográfica.
O filme pode ser utilizado como instrumental didático ilustrando conteúdos, principalmente referentes a fatos históricos; como motivador, na introdução de temas psicológicos, filosóficos e políticos, estimulando o debate; ou como um objeto de conhecimento, na medida em que é uma forma de reconstrução da realidade (Cipolini, 2008, p. 19).
Assim, depreende-se que o filme é verdadeiramente uma possibilidade metodológica para o professor se apoiar nos processos de ensino e de aprendizagem e pode levar o aluno a refletir sobre suas vivências e as não vivências, como via de transformar a realidade para melhoria do seu estar no mundo.
O filme em voga, O óleo de Lorenzo, produção norte-americana de 1992, se baseia em fatos. O filme retrata a história de Lorenzo Odone, um garoto com adrenoleucodistrofia (ALD), uma doença genética rara que causa dano à bainha de mielina dos neurônios e pode levar à morte em poucos anos. “Pessoas com ALD acumulam altos níveis de ácidos graxos de cadeia longa devido à ausência da enzima responsável pela sua degradação” (Maestrelli; Ferrari, 2006, p. 35). No filme, Lorenzo apresenta a forma mais comum de ALD, que tem herança recessiva ligada ao cromossomo X. O filme traz o relato da forma como os pais se dedicaram ao estudo da doença do filho, chegando a patrocinar um congresso entre cientistas que poderiam contribuir para o melhor entendimento da doença, na época bem pouco conhecida (Maestrelli; Ferrari, 2006).
Figura 1: Imagem de divulgação do filme O óleo de Lorenzo
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-35570/
Nesse contexto, o filme é uma possibilidade para o trabalho educacional. Por considerar o filme como recurso que pode auxiliar nos processos de ensino e de aprendizagem, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais apresentou onze sugestões de filmes para serem trabalhados com os alunos, incluindo o filme em questão neste artigo. As outras produções sugeridas são: Osmose Jones (2001); A ilha (2005); E a banda continua a tocar (1993); Gattaca – Experiência genética (1997); Criação (2009); Jurassic Park – Parque dos Dinossauros (1993); Epidemia (1995); Avatar (2009); O núcleo – Missão ao centro da Terra (2003) e A marcha dos pinguins (2005). Todos possuem fundamentos educacionais, no entanto, os professores devem ter atenção quanto à visão que se pode ter do filme com o qual se propõe o trabalho. É importante que o trabalho ocorra com visão crítica. Além disso, deve-se ficar atento a possíveis inconsistências entre a verdade científica e aquilo que é apresentado na produção (Minas Gerais, 2016).
Metodologia
A pesquisa aqui apresentada foi qualitativa descritiva. Segundo Godoy (1995), na pesquisa qualitativa um fenômeno pode ser bem compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno. Para Gil (2007), a pesquisa descritiva é um tipo de estudo para descrever as características de determinadas populações ou fenômenos. Uma de suas peculiaridades está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática.
Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário, por ser o instrumento mais usado para o levantamento de informações, além de possibilitar ao pesquisador abranger maior número de pessoas e de informações em curto espaço de tempo (Barros; Lehfeld, 2007). O questionário foi elaborado pelos autores deste artigo para levantar junto ao público-alvo as possíveis informações relacionadas à prática pedagógica com o filme O óleo de Lorenzo. O questionário é constituído por três questões abertas acerca do uso de filme como ferramenta de ensino e de aprendizagem de conteúdos de Biologia. As questões versam especificamente sobre o que pensam do uso de filme para aprender Biologia, se o filme utilizadofoi significativo para a aprendizagem e por que e se foi possível estabelecer associações das situações presentes no filme com os conteúdos estudados em Biologia e nas demais disciplinas escolares.
Nas atividades descritas foram envolvidos 30 alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola estadual do município de Rubim, Estado de Minas Gerais. A opção pelo filme O óleo de Lorenzo está relacionada ao fato de seu foco estar centrado na Biologia e apresentar caráter multidisciplinar.
O planejamento das atividades foi apresentado ao Serviço de Especialistas Educacionais da escola, que deu o aval para o desenvolvimento da prática pedagógica. Os alunos assistiram ao filme utilizando a sala de vídeo da escola em duas aulas de Biologia e uma de Língua Portuguesa. As discussões foram desenvolvidas pelos alunos organizados em quatro grupos, identificados de 1 a 4 para a realização das atividades escritas, que ocorreram em duas aulas, além da parte extraclasse.
As atividades foram elaboradas pelo professor, constituídas por uma pesquisa preliminar comum a todos os grupos, na qual pesquisaram significados dos termos “herança genética ligada ao sexo”, “mielina”, “imunossupressão”, “ácidos carboxílicos”, “lipídios”, “ácido oleico”. Para cada grupo foram elaboradas quatro questões diferentes focando situações apresentadas no filme. Essas questões passavam por Biologia e Química; uma questão tinha conteúdo específico de Língua Portuguesa, focando figuras de linguagem que surgem ao longo do filme para explicar determinadas situações da doença apresentada, adrenoleucodistrofia (ALD). Os alunos elaboraram ainda um relato escrito trazendo a síntese do enredo do filme e detalhes da doença. Além disso, cada grupo apresentou oralmente suas percepções e as associações que conseguiram estabelecer com os conteúdos das disciplinas focadas nas atividades.
Após a concretização de todas as atividades, foi disponibilizado aos alunos o questionário para avaliação das atividades. Ao longo do desenvolvimento delas, observações foram realizadas, com atenção para o envolvimento dos alunos, a interação entre eles, a autonomia para a busca de informações e a oralidade na apresentação das informações na conclusão das atividades.
Resultados e discussão
Analisando as atividades, constatou-se que os alunos buscaram as informações prévias sugeridas com autonomia. Segundo Freire (2000, p. 66), “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. Todas as atividades foram desenvolvidas pelos alunos. A maioria deles se mostrou interessada e participativa e interagiu nos grupos.
Nos trabalhos, os alunos organizaram a busca de informações, promoveram discussões e realizaram atividades escritas. O Grupo 1 descreveu o que é mielina e o que a falta dela pode causar, o que são enzimas e o seu papel no organismo. Também explicou o que são triglicerídeos, destacando a questão das gorduras saturadas e insaturadas. Os alunos desse grupo ainda descreveram o que são ácidos carboxílicos, apontaram que estes trazem um átomo de carbono conectado a outro por ligação dupla e uma ligação simples com um grupo OH. Nessa situação, nota-se que a Química foi focada. O grupo elaborou um texto apresentando de modo sintético as informações do filme e as observações que realizaram acerca da adrenoleucodistrofia (ALD).
O Grupo 2 descreveu o que é imunossupressão, as características dos lipídios e do ácido oleico. Enfatizou os sintomas que a ALD provoca no organismo e que a doença é congênita, afetando o sexo masculino – um defeito no metabolismo que provoca degeneração no cérebro.
O Grupo 3 focou as alternativas de dieta como tratamento; contudo, ressaltou que a dieta indicada pelos médicos não funcionou, pois, pela falta de ácido graxo, o organismo sintetiza por biossíntese. O grupo explicou o que significa aumento compensatório, argumentando que, quando há falta de gorduras saturadas, o organismo tenta compensar produzindo mais do que necessita.
No Grupo 4, o foco foi para a questão do conhecimento dos médicos acerca da doença e as alternativas sugeridas para o tratamento. Os alunos ainda apontaram as dificuldades que os pais do garoto do filme encontraram para conseguir o tratamento. Destacaram a luta intensa para encontrar químicos para produzir a fórmula dos óleos que acreditavam serem possíveis para curar a ALD. Argumentaram acerca das dificuldades dos pais do garoto para receber apoio científico e financeiro; o preconceito por serem leigos em Bioquímica e Medicina e a impossibilidade de realização de testes em humanos, dentre outras.
Na discussão geral, os alunos trouxeram a observação de que determinadas pesquisas científicas são priorizadas levando em consideração o interesse financeiro dos investidores. Salientaram a utilização do método científico e argumentaram que esse método se baseia em experimentos para encontrar resultados e que, no caso dos pais do garoto (Lorenzo), utilizaram o método científico.
A atividade se caracterizou como interdisciplinar, pois passou por Biologia, Química e Língua Portuguesa. Os alunos não demonstraram dificuldades para fazer as conexões entre as disciplinas. Para Piaget (1988, p. 3), “do ponto de vista pedagógico, é evidente que a educação se deverá orientar para uma redução geral das barreiras ou para a abertura de múltiplas portas laterais, a fim de possibilitar aos alunos [...] a livre transferência de uma seção para outra”.
No caso de Língua Portuguesa, foi observada a organização de informações, os relatos escritos e a oralidade para expor suas ideias. Como tinham uma questão específica de Língua Portuguesa relacionada ao estabelecimento de analogias e metáforas para explicar fenômenos apresentados no filme, trouxeram a comparação do organismo humano com uma pia, quando se abre uma torneira e a vazão não dá conta de eliminar o excesso. No caso do filme, o consumo de gordura aumentava e o organismo não acompanhava, como uma pia entupida. Os alunos também relataram as cadeias de carbono que foram representadas com clipes para papel, em que cada clipe é um átomo de carbono, e juntos formam uma cadeia – no caso do filme, uma cadeia de gordura monoinsaturada. Eles trouxeram a expressão “voo às cegas no tratamento”: segundo eles, os médicos realizavam o tratamento do garoto sem saber qual medicamento era adequado e qual efeito adverso poderia causar. Argumentaram que a doença foi tratada como um país, pois era preciso estudar para dominar as áreas – no caso da medicina, relacionada com a ALD. Ainda perceberam a comparação de Lorenzo como um paradoxo bioquímico e citaram a questão da comparação metafórica na expressão “comida para o cérebro”. Nessas situações, o foco foi para as figuras de linguagem, conteúdo de Língua Portuguesa.
O filme traz uma linguagem direta, com descrições científicas e as dificuldades que a as famílias podem encontrar para a cura de doenças. Isso foi perceptível para os alunos, que também mencionaram a importância do uso do método científico numa pesquisa, como citado anteriormente. Para Maestrelli e Ferrari (2006), “a linguagem direta e as descrições impessoais dos relatos científicos, enumerando os graves sintomas da progressão da doença, confrontam a vivência do curso da doença e a necessidade de esperança de cura por parte dos pacientes e de suas famílias”.
Partindo do filme em voga, podem ser discutidos diversos aspectos. Nesse sentido, Maestrelli e Ferrari (2006, p. 36) afirmam que “o filme O óleo de Lorenzo é apropriado ainda para se discutir os aspectos econômicos que influenciam a pesquisa científica e a complexidade das relações entre a ciência e a sociedade”.
Como apontam Barros et al. (2013, p. 99), “o cinema é capaz de atingir tão profundamente criteriosas e importantes bases para o ensino e aprendizado”; contudo, ressaltam que não basta apenas pegar um filme e repassá-lo de maneira aleatória. Salientam que
é fundamental conhecer o filme primeiramente em sua intenção, incluindo linguagem e abordagens sociológicas e psicológicas, para que depois estejamos capacitados para relacionar as características mais importantes desses canais de comunicação, juntamente com o campo que pretendemos atingir em termos de informação (Barros et al., 2013, p. 99).
Do exposto, fica a ideia de que se faz necessário ter conhecimento do filme e suas características que são relevantes para os processos de ensino e de aprendizagem para em seguida planejar atividades relacionadas a ele.
No que se refere ao questionário disponibilizado, 98% dos alunos apresentaram argumentos aprovando a utilização do filme como ferramenta de auxílio para ensinar e aprender conteúdos de Biologia e de outras disciplinas. Os outros 2% não responderam ao questionário. Os excertos dos alunos transcritos aqui confirmam a aceitação. Para a primeira questão, que versa sobre o que pensam do uso de filme para aprender Biologia, expressaram: “Importante, pois a maioria dos filmes, além de ajudar nas matérias, mostra fatos da realidade” (Aluno 3). “Eu acho uma ótima ideia, porque parece que os alunos se interessam mais com o conteúdo do filme (matéria) do que com as matérias que passam na sala” (Aluno 6). “Eu acho uma ótima ideia, porque hoje o mundo está muito tecnológico e é uma boa forma de ensinar as matérias” (Aluno 4). “É um modo diferente de ensino; diferente, mas de grande aprendizado. Muito bom, gostei muito!” (Aluno 5). “Ótimo. Deveria passar sempre” (Aluno 3). “Eu acho uma ótima ferramenta de ensino, porque quando alguém explica algo decorado, nós não aprendemos, e com o filme aprendemos com a história” (Aluno 7).
Para a segunda questão, que argui se o filme O óleo de Lorenzo foi significativo e por que, os alunos disseram: “Sim, pois fez com que nosso aprendizado expandisse” (Aluno 8). “Com certeza sim. Isso foi aprendizagem pura, principalmente sobre a ALD, que é uma doença rara de que eu nunca ouvi falar. Com o filme, deu para entender toda essa matéria” (Aluno 9). “Sim. Porque aprendi sobre a doença [...] e trouxe coisas da vida” (Aluno 10).
A terceira questão indagou se os alunos conseguiram estabelecer relações entre o filme e os conteúdos estudados das disciplinas; eles expuseram: “Sim. Além de aprender sobre a doença, é um método que torna mais fácil compreender os conteúdos de Biologia, mais que com o livro” (Aluno 1). “Sim. Porque com o filme eu aprendi sobre Biologia, um pouco de Química e situações da vida, com o sofrimento da mãe de Lorenzo” (Aluno 2). Posto isto, infere-se que os alunos aceitaram a metodologia e aprenderam, conforme seus argumentos.
Nesse contexto, o resultado da prática aqui descrita vem ao encontro da ideia de Souza et al. (2016, p. 688), que explicitam que “o uso de filmes em sala de aula configura um valioso recurso pedagógico no processo de ensino-aprendizagem, ao despertar o interesse dos estudantes”. Atividades desse tipo podem despertar nos alunos o interesse pelo conteúdo e, consequentemente, pela aprendizagem, que é ponto central do ensino.
Considerações finais
Analisamos o uso de filme para o ensino e aprendizagem de conteúdo de Biologia. Com base na análise realizada, notamos que os filmes podem se constituir numa ferramenta para auxiliar nos processos de ensino e de aprendizagem de conteúdos escolares. Pode ser dito que o filme O óleo de Lorenzo traz possibilidade de realizar trabalhos em sala de aula, em específico na disciplina de Biologia, mas pode se relacionar com as demais disciplinas do Ensino Médio, tais como Filosofia e Sociologia.
Fazer a articulação da prática pedagógica com o cinema reforça a ideia de que diferentes metodologias que valorizam o lúdico são possíveis e podem favorecer a aprendizagem dos alunos.
No caso específico do filme em destaque, ele foi um recurso proveitoso para o ensino e para a aprendizagem, uma vez que possibilitou trabalhar com os alunos conteúdos planejados. Vale destacar que a prática da projeção de filmes em instituições de ensino deve estar fundamentada sempre no planejamento.
Não se encerra aqui a discussão, uma vez que outros aspectos da utilização de filmes podem ser pesquisados com foco no uso do filme como recurso metodológico para os processos de ensino e de aprendizagem, visando a melhoria na qualidade do ensino.
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Publicado em 31 de julho de 2018
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