Grupo de estudo para Olimpíadas de Matemática: desenvolvendo habilidades cognitivas de quem gosta de Matemática
Rosangela Ramon
Graduada em Matemática (Universidade Comunitária Regional de Chapecó), especialização em Educação Matemática pela UFSC e mestrado em Modelagem Matemática pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, docente do IFSC
Felipe Lorenzon
Aluno do Ensino Médio Integrado em Alimentos (IFSC), bolsista do projeto, premiado em diversas olimpíadas de Matemática
As olimpíadas de Matemática são realizadas em diversos países; considera-se a melhor forma de incentivar o estudo da Matemática além do contexto escolar. Atualmente, muito se ouve falar em olimpíadas de Matemática. Existem diversas delas, mas de forma geral todas apresentam os mesmos objetivos e a mesma estrutura, diferenciando-se em pequenos aspectos, como números de questões e quantidade de fases.
A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) tem como objetivos incentivar e contribuir para a melhoria do ensino da Matemática, identificando novos talentos e incentivando seu ingresso em universidades nas áreas científicas e tecnológicas. Também tem como intenção contribuir para a valorização dos professores das escolas públicas, contribuir para a integração das escolas brasileiras e realizar a inclusão social por meio da difusão do conhecimento (OBMEP, 2018).
Outra olimpíada da qual os estudantes podem participar é a Olimpíada Regional de Matemática (ORM), que é aplicada somente em Santa Catarina e tem modelo semelhante ao da OBMEP. Em 2018 foi realizada a primeira edição da Olimpíada de Matemática dos Institutos Federais, a OMIF, que teve abrangência nacional. Há de se citar também a Olimpíada de Matemática do Oeste Catarinense (OMOC), que é uma realização da Universidade da Fronteira Sul – Campus Chapecó, e a Olimpíada Regional de Matemática da Unochapecó, que envolve a participação de estudantes do oeste de Santa Catarina, noroeste do Rio Grande do Sul e sudoeste do Paraná. Outra olimpíada de destaque é a Canguru de Matemática.
O Grupo de Estudo para Olimpíadas de Matemática surgiu em 2016; não é uma atividade de reforço para alunos que apresentam dificuldade em Matemática, e sim um estímulo aos estudantes com habilidades desenvolvidas nessa área e com gosto pelo estudo e pela resolução de problemas matemáticos. O que se percebe é que muitos competidores, mesmo gostando da Matemática, não têm desenvolvida a habilidade de justificar a resolução das questões; em alguns casos não estudaram conteúdos que são cobrados nas provas das olimpíadas de Matemática. Tendo isso em vista, surgiu o grupo de estudos que pretende preparar alunos para realizar as olimpíadas.
O projeto Grupo de Estudo para Olimpíadas de Matemática procura despertar o interesse e a imaginação dos alunos, mostrando uma disciplina diferente daquela resumida em regras e fórmulas. Procura-se estimular a criatividade e o raciocínio lógico dos educandos, tornando-os sujeitos ativos na construção de seus conhecimentos.
Aprender Matemática é mais do que manejar fórmulas, saber fazer contas ou marcar x nas respostas: é interpretar, criar significados, construir seus próprios instrumentos para resolver problemas, estar preparado para perceber esses mesmos problemas, desenvolver o raciocínio lógico, a capacidade de conceber, projetar e transcender o imediatamente sensível (Paraná, 1990, p. 66).
Baseado nos PCN (Brasil, 1998), destaca-se que a Matemática deve ser vista pelo estudante como um conhecimento que melhora o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua capacidade expressiva e de sua imaginação. A prática de resoluções de problemas traz segurança na busca de novos conhecimentos, e isso se torna muito gratificante quando, após várias tentativas, a solução surge, quebrando o desafio descrito na questão.
É necessário desenvolver habilidades que permitam pôr à prova os resultados, testar seus efeitos, comparar diferentes caminhos, para obter a solução. Nessa forma de trabalho, o valor da resposta correta cede lugar ao valor do processo de resolução (Brasil, 1997, p. 45).
Metodologia
Uma vez por semana, um grupo de 25 alunos provenientes de escolas públicas de Xanxerê/SC se reúne no IFSC – Câmpus Xanxerê para estudar problemas que são encontrados nas Olimpíadas de Matemática. A escolaridade dos discentes varia desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio. No início de cada encontro, são apresentados problemas matemáticos. Os estudantes, em grupo, realizam tentativas para sua resolução. O objetivo é que todos consigam resolvê-los e justificá-los de forma sistemática. Muitas vezes, os estudantes de discutem as resoluções e as diferentes maneiras de fazê-la. Valoriza-se o processo de resolução, entendendo o raciocínio que cada grupo utilizou para resolver o problema proposto. Esse é um momento rico para a construção do conhecimento. Dante (1991, p. 13) salienta:
Uma aula de Matemática em que os alunos, incentivados e orientados pelo professor, trabalhem de modo ativo – individualmente ou em pequenos grupos – na aventura de buscar a solução de um problema que os desafia é mais dinâmica e motivadora do que a que segue o clássico esquema de explicar e repetir. O real prazer de estudar está na satisfação que surge quando o aluno por si só resolve um problema. Quanto mais difícil, maior a satisfação em resolvê-lo. Um bom problema suscita a curiosidade e desencadeia no aluno um comportamento de pesquisa, diminuindo sua passividade e conformismo.
Além das atividades presenciais, os alunos são instigados a resolver dois exercícios com grau de dificuldade mais elevado. Essa atividade é feita de forma individual. Existem também as atividades chamadas de “Tarefas online”, nas quais os alunos resolvem seis problemas: quatro objetivos e dois dissertativos.
Resultados e discussão
Ao término do projeto, foi realizada uma enquete com os participantes, questionando o desenvolvimento cognitivo proporcionado pelo presente projeto. A Figura 1 mostra o resultado; é possível perceber que os estudantes consideram que o nível de conhecimento aumentou ao participar do projeto.
Figura 1: Evolução do estudante participante do projeto
Fonte: Elaborado pelos autores.
O resultado da enquete vai ao encontro dos resultados obtidos nas Olimpíadas de Matemática. Vários alunos já tiveram destaque em diversas delas, recebendo medalhas e menções honrosas. Os estudantes, de modo geral, desenvolveram mais suas habilidades na busca da resolução de problemas e no desenvolvimento do raciocínio lógico, além de terem aprendido diversos novos conceitos.
Referências
OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS. Apresentação. Disponível em: http://www.obmep.org.br/apresentacao.htm. Acesso em: 14 jul. 2018.
DANTE, Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de Matemática. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino de Primeiro Grau. Currículo básico para a escola pública do Paraná. Curitiba: SEED/DEPG, 1990.
BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Publicado em 09 de julho de 2019
Como citar este artigo (ABNT)
RAMON, Rosangela; LORENZON, Felipe. Grupo de estudo para Olimpíadas de Matemática: desenvolvendo habilidades cognitivas de quem gosta de Matemática. Revista Educação Pública, v. 19, nº 13, 9 de julho de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/13/grupo-de-estudo-para-olimpiadas-de-matematica-desenvolvendo-habilidades-cognitivas-de-quem-gosta-de-matematica
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