A formação de professores e o ensino a distância: contribuições como práticas pedagógicas
Darcilene Ramos Lopes
Este trabalho de revisão de literatura tece uma abordagem sobre a contribuição do ensino a distância como prática pedagógica na formação e desenvolvimento de professores. A escolha dessa temática deu-se a partir do interesse pelo uso das novas tecnologias para a qualificação docente como ferramenta auxiliadora no processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista as constantes mudanças ocorridas dentro e fora do espaço escolar, onde educandos e educadores têm lançado mão dessa ferramenta para adequar-se ao mundo globalizado.
Nesse contexto, fazer uso correto das novas tecnologias como o ensino a distância, de forma a reconstruir olhares em torno do processo de formação e desenvolvimento dos docentes, torna-se importante para uma visão reflexiva e a necessidade de consolidar uma ação mais efetiva, em que tais ferramentas sejam exploradas não só como meio de informação e sim como fonte conectora com o mundo virtual. Portanto, o objetivo deste artigo é estudar a contribuição do ensino a distância como prática pedagógica na formação e desenvolvimento de educadores.
Formação de educadores e desenvolvimento educacional docente
O conceito de formação de professor, segundo Geraldi (2003), está associado à ideia de processo, trajetória de vida pessoal e profissional, que envolve opções, vai ao encontro da necessidade de construção de patamares cada vez mais avançados de ser, saber e fazer. Analisando essa afirmativa, verifica-se que a profissão do professor requer uma produção e transmissão de conhecimentos contínuos. Diante das novas realidades e da complexidade de saberes envolvidos na sua formação profissional, é preciso uma formação teórica mais aprofundada, posse de capacidade operativa nas exigências da profissão e de propósitos éticos para trabalhar com a diversidade cultural.
Para Arroyo (2007), a formação de professores tem sido muito discutida dentro de uma perspectiva transformadora. Constata-se que uma das preocupações evidenciadas nas investigações mais recentes na literatura da área e que vem provocando debates e encaminhamento de propostas sobre formação inicial e continuada de docentes é um movimento em que o processo de formação contínua ocupa lugar de destaque, em associação crescente à evolução qualitativa das práticas formativas e pedagógicas.
Em relação às práticas de formação de professores, a tendência investigativa mais nova e mais forte é a que concebe o ensino como atividade reflexiva. Dentro dessa perspectiva, Libâneo (2006) define como um conceito que perpassa não somente a formação de professores como também o currículo, o ensino, a metodologia de docência. A ideia é que o docente possa pensar sua prática, ou seja, que ele desenvolva uma capacidade reflexiva sobre a sua própria prática. Essa capacidade requer do professor que ele exerça uma reflexão sobre o seu próprio trabalho, a sua maneira de ensinar; ele necessita delinear os seus objetivos e instrumentos de trabalho, pois se acredita que os professores também possuem teorias que podem ajudar na construção de conhecimentos referentes ao ensino.
A formação de professores enseja não apenas procurar os meios pedagógico-didáticos de melhorar e potencializar a aprendizagem pelas competências do pensar, mas também de ganhar elementos conceituais para a apropriação crítica da realidade. É necessário associar o movimento do ensino do pensar ao processo da reflexão dialética de senso crítico de maneira lógico-epistemológica.
As escolas formadoras de professores necessitam formar indivíduos pensantes, com capacidade de pensar epistêmico, isto é, pessoas que desenvolvam capacidades básicas de pensamento, elementos conceituais, que lhes facultem, mais do que saber coisas, mais do que receber uma informação, se colocar ante a realidade, apropriar-se do momento histórico para pensar historicamente essa realidade e reagir a ela (Libâneo, 2006, p. 88).
Libâneo (2006) expõe uma proposta de formação inicial e continuada de professores que está voltada para as concepções mais novas do processo de ensino-aprendizagem. No entanto, ela se contrapõe às tendências correntes dos sistemas de ensino de treinar professores, oferecer cursos “práticos”, passar “pacotes” de novas teorias e metodologias distanciadas do saber e da experiência dos professores.
Para Libâneo (2006, p. 88-89), o repensar da formação inicial e continuada de professores envolve:
a) busca de respostas aos desafios decorrentes das novas relações entre sociedade e educação, a partir de um referencial crítico de qualidade de ensino. Isto supõe levar em conta os novos paradigmas da produção e do conhecimento, subordinando-os a uma concepção emancipadora de qualidade de ensino; b) uma concepção de formação do professor crítico-reflexivo, dentro do entendimento de que a prática é a referência da teoria, a teoria é o nutriente de uma prática de melhor qualidade; c) utilização da investigação-ação como uma das abordagens metodológicas orientadoras da pesquisa; d) adoção da perspectiva sociointeracionista do processo de ensino-aprendizagem; e) competências e habilidades profissionais em novas condições e modalidades de trabalho, indo além de suas responsabilidades de sala de aula, como membro de uma equipe que trabalha conjuntamente, discutindo no grupo suas concepções, práticas e experiências, tendo como elemento norteador o projeto pedagógico.
Dentro dessa linha, é preciso que as instituições formadoras ajudem o professor a desenvolver essa formação crítico-reflexiva para que ele possa entender o seu próprio processo de pensamento e refletir de maneira crítica sobre a sua prática, de forma que ele trabalhe no âmbito socioconstrutivista, no sentido de planejar e promover na sala de aula situações em que o aluno saiba estruturar as suas ideias, analisar os seus próprios pensamentos, expor seus pensamentos, resolver problemas, ou seja, tem que fazê-lo pensar. Para isso acontecer, é necessário que o processo de formação do professor possua essas características.
Freire (1997, p. 28) reforça a importância do docente se capacitar continuamente ao afirmar que:
Ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo conteúdo que não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe. A responsabilidade, ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Essa atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática.
Nota-se que Freire enfatiza a necessidade do professor de se preparar, envolver, conhecer, aprender, estudar, ler para a tarefa docente; dessa forma, o aprendizado do ensinante ao ensinar se dá na medida em que o ensinante, com humildade e abertura, se ache continuamente disponível para aprender, repensar o passado, rever as suas posições. Assim, há sempre algo diferente, que merece a atenção do professor, para o entendimento crítico dos processos do cotidiano educativo, quer participe como aprendiz e, portanto, ensinante, ou como ensinante e, por isso, aprendiz também.
Imbernón (2013, p. 104) em uma de suas obras, em que aborda a formação docente e profissional, comenta que exigir a qualidade da formação e do ensino é uma questão ética e de responsabilidade social. A qualidade da instituição escolar depende da qualidade dos alunos por meio de suas contribuições à sociedade, da qualidade do que foi aprendido e da forma como foi ensinado. O autor, nessa abordagem, apresenta a qualidade do ponto de vista didático ou pedagógico, isto é, a qualidade da formação vista como a otimização do processo formativo. “Para tanto, a efetividade da formação, a apropriação de aprendizagens flexíveis e adequadas à mudança e a transmissão dessa aprendizagem são importantes”.
Assim, observa-se que a qualidade não está somente no conteúdo, mas também na interatividade do processo, na dinâmica do grupo, no emprego das atividades, no estilo do professor, no material didático que é utilizado, entre outros aspectos.
Arroyo (2007) afirma que concepções diferentes sobre formação do professor confrontam-se segundo diferentes pressupostos filosóficos e epistemo-metodológicos que lhes são subjacentes. De acordo com o autor, essas concepções podem ser reunidas basicamente em duas grandes tendências: a) a primeira, conhecida como estruturante – equivale à formação tradicional, comportamentalista, tecnicista, em que se definem previamente programas, procedimentos e recursos a partir de uma lógica de racionalidade científica e técnica, aplicados aos diversos grupos de professores; b) a segunda, conhecida como interativo-construtivista – tomando por base uma perspectiva dialética, reflexiva, crítica e investigativa, organiza-se a partir dos contextos educativos e das necessidades dos sujeitos a quem se destina.
Desta última entende-se que a formação profissional é indissociável da experiência de vida e, da mesma forma, a formação do professor é um processo que não se esgota na formação inicial, mas, pelo contrário, a ela se impõe, como indispensável, a formação continuada.
A inserção de novas tecnologias na educação
A preparação dos professores para a utilização do computador e da internet, segundo Moran (1999, p. 6), representa o primeiro passo. O acesso dos professores e dos alunos ao computador e à internet deve ser facilitado, de modo que todos tenham acesso mais frequente e personalizado, utilizando as novas tecnologias. “Ter salas de aula conectadas, ter salas ambiente para pesquisa, laboratórios bem equipados. Facilitar que os professores possam ter seus próprios computadores. Facilitar que cada aluno possa ter um computador pessoal portátil”. Essa é a escola idealizada pelo autor, mas sabe-se que essa situação é, nos dias de hoje, uma utopia em nosso país. Ao mesmo tempo, entende-se que o ensino de qualidade passa necessariamente pelo acesso rápido, constante e amplo a todas as tecnologias, especialmente, as telemáticas.
O segundo passo é auxiliar na familiarização com o computador, com seus aplicativos e com a internet. No nível básico, é aprender a usá-lo como ferramenta. No nível mais avançado, é ter domínio das ferramentas da web, do e-mail, de aprender a pesquisar nos sites de busca (search), a participar de listas de discussão, entre outros aprendizados. O terceiro passo é ajudar os professores no emprego pedagógico da internet e dos programas multimídia. Deve ser ensinado aos docentes como são realizadas as diversas espécies de pesquisa: pesquisa aberta, onde há liberdade de escolha do lugar (tema pesquisado livremente); pesquisa dirigida, focada para um endereço específico ou um site determinado; pesquisa nos sites de busca, nos bancos de dados, nas bibliotecas virtuais, nos centros de referência; pesquisa dos temas mais gerais para os mais específicos, pesquisa grupal ou pessoal. O quarto passo é o uso da internet em um projeto isolado de uma turma, como algo complementar ou um projeto voluntário, com alunos se inscrevendo. Moran (1999) observa que a internet pode ser um projeto entre diversas instituições escolares ou grupos, na mesma cidade, de muitas cidades ou países. O projeto pode evoluir para a interdisciplinaridade, integrando diversas áreas e professores. A internet pode integrar um projeto institucional envolvendo toda a entidade escolar de modo mais colaborativo.
Caminhos para integrar as tecnologias num ensino inovador
A internet é um meio de comunicação que proporciona a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. O emprego da internet como sistema de comunicação e forma de organização explodiu nos últimos anos do último milênio. Castells (2003) tece comentário interessante ao afirmar que a Era da Internet representa o fim da Geografia. Se for analisar, de fato, a internet apresenta uma geografia própria, uma geografia elaborada de redes e nós, que processam fluxos de informação gerados e administrados a partir de lugares. Moran (1999, p. 7) também compartilha o pensamento de que, na sociedade da informação, todos estão reaprendendo a conhecer, a comunicar-se, a ensinar, reaprendendo a integrar o ser humano e o tecnológico, a integrar o indivíduo, o grupo e o social; o autor revela que é importante conectar sempre o ensino com a vida do aluno. “Chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela representação (dramatizações, simulações), pela multimídia, pela interação online e offline”.
Na visão de Moran (1999), o professor deve ajudar o aluno a ir do concreto ao abstrato, do imediato para o contexto, do vivencial para o intelectual. Os professores, diretores e administradores devem estar constantemente em processo de atualização por meio de cursos de educação a distância (EaD), de grupos de discussões significativas, participando de projetos colaborativos dentro e fora das instituições em que trabalham. O autor lembra que se terá de aprender a trabalhar a informação e o conhecimento de maneiras novas; isso se aplica tanto aos cursos tradicionais como aos cursos a distância, no sentido de pesquisar muito e comunicando-se permanentemente. Isso possibilita mais rapidez no entendimento completo dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador. Desse modo, isso pode mudar os pensamentos, sentimentos e valores.
Moran (1999) acrescenta que os educadores devem atuar para modificar as estruturas arcaicas, autoritárias de ensino. Apenas pessoas livres, autônomas podem educar para a liberdade, para a autonomia, podem transformar a sociedade. Ensinar com as novas mídias é uma revolução; devem ser mudados os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos, é necessário que haja integração.
Tajra (2010) defende que a tecnologia educacional é uma maneira sistemática de elaborar, levar a cabo e avaliar todo o processo de aprendizagem em termos de objetivos específicos, baseados na investigação da aprendizagem e da comunicação humana, empregando uma combinação de recursos humanos e materiais para conseguir uma aprendizagem mais efetiva. O teórico afirma que a inserção do uso das novas tecnologias na área educacional trouxe para os profissionais da educação uma grande preocupação, e a maioria não se sente preparada para enfrentar essa nova metodologia, atualmente inserida no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, muitos professores procuram aprimorar seus conhecimentos tecnológicos reconhecendo a necessidade de propiciar aos alunos uma educação emancipadora com atividades que utilizem as novas tecnologias como ferramenta pedagógica e assimilem a realidade vivida pelos alunos fora do espaço escolar.
Paiva (2013, p. 1) ressalta que “quando surge uma nova tecnologia, a primeira atitude é de desconfiança e de rejeição. Aos poucos, a tecnologia começa a fazer parte das atividades sociais da linguagem e a escola acaba por incorporá-la em suas práticas pedagógicas”. Após a inserção da tecnologia na educação, vem o estágio da normalização, definido por Paiva como “um estado em que a tecnologia se integra de tal forma às práticas pedagógicas que deixa de ser vista como cura milagrosa ou como algo a ser temido” (2013, p. 48).
Hoje, boa parte dos educadores procura empregar a tecnologia a favor da educação, não abortando os métodos antigos, porém somando-os aos novos processos e viabilizando-os como suporte para elaboração dos seus planos de aula. As novas tecnologias não substituem o professor, mas modificam algumas das suas ações.
No atual contexto educacional, vê-se a internet como ferramenta pedagógica sendo usada para mediar a construção do processo de ensino-aprendizagem, sendo de boa aceitação tanto por educandos como para educadores pelas variedades das informações obtidas quando utilizada como fonte de pesquisa, tornando a aula mais prazerosa e interessante, pois se assimila a experiência de mundo além dos muros da escola que quase todas as crianças trazem em sua bagagem cultural, porque o espaço escolar é composto por várias culturas e formas diferentes de ver o mundo.
Para Gadotti (2002, p. 5), as consequências da evolução das novas tecnologias focadas na comunicação de massa, na difusão do conhecimento, ainda não se fizeram sentir completamente no ensino, pelo menos em grande parte das nações, mas a aprendizagem a distância, principalmente a baseada na internet, é a grande novidade do novo milênio. Os jovens adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. “Eles já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital”. Para o autor, a função da escola será cada vez mais ensinar a pensar criticamente, o que está em sintonia com a formação de professor defendida pelos teóricos (Freire, 1998; Geraldi, 2003; Libâneo, 2006; Arroyo, 2007; Imbernón, 2013). Para acontecer isso, é necessário dominar mais metodologias e linguagens, inclusive a linguagem eletrônica.
Ambientes virtuais de aprendizagem e a prática pedagógica
Entender o cenário das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), e das práticas pedagógicas na educação, de acordo com Hetkowski (2014), demanda dinamizar as áreas empíricas e teóricas, procurando entrelaçar e aprofundar essas áreas. É também preciso entender a natureza dinâmica e interativa da pluralidade constitutiva da ação pedagógica, a qual requer um entendimento epistemológico das práticas estabelecidas e das práticas que podem ser criadas em ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs).
Os AVAs se referem a uma modalidade de sistemas web que auxilia na troca de paradigma entre o ensino tradicionalmente centralizado para uma modalidade de ensino direcionada para a colaboração de modo descentralizado. Um sistema do tipo AVA, segundo Carvalho Neto e Takaoka (2009, p. 4), “permite a criação de uma comunidade virtual voltada para o processo de ensino”.
Vale ressaltar que o ambiente virtual é entendido como um espaço onde acontece a construção de conhecimento por meio do desenvolvimento de atividades educativas, utilizando os recursos tecnológicos da informação e comunicação, de modo a valorizar a interação síncrona e assíncrona entre professores, tutores e estudantes (Galão et al., 2008).
Dessa forma, a capacitação da pessoa se faz via computador com os recursos da internet, ou seja, a pessoa receberá o conteúdo do curso acessando o AVA via internet. Outro aspecto a ressaltar é que, toda vez que a pessoa tiver alguma dificuldade ou dúvida, ela tem à sua disposição a tutoria eletrônica no próprio AVA ou faz contato com um tutor responsável pelo curso por meio de e-mail ou telefone.
As TIC, segundo Hetkowski (2014), possibilitam mostrar os ambientes interativos representados pelas listas de discussão, fóruns, e-mails, plataformas online, chats, Wikipédia[1], TWiki[2], entre outros ambientes que apresentam características hipertextuais, virtuais, bidirecionais, participativas, hibridas, permutáveis, potenciais, favorecendo as seguintes situações: a) convite ao sujeito-participante experimentar e vivenciar os processos de autoria coletiva; b) aprendizagem interativa suportada pelos ambientes digitais; c) mudança na postura do professor como condutor do diálogo, da multiplicidade e da recursividade; d) redimensionamento da escola tradicional e não tradicional como espaço potencial para o desenvolvimento do conhecimento; e) construção do saber específico ao saber genérico e ético; f) valorização da educação não linear; g) ampliação das redes sociais digitais, que reúnem culturas, educação, políticas, economia e processos civilizatórios.
Para Lévy (2007), o processo interativo mediado pelas TIC está norteado por características virtuais como potencialização, atualização e possibilidades, as quais promovem um movimento desestabilizante e desterritoralizante no entendimento e nas relações de vizinhança, visando entrelaçamentos de interesses individuais e coletivos, de escuta dialógica, de clarificação às dúvidas ou mesmo de tensões com vistas a mudanças na prática pedagógica.
Ensino a distância
A história da educação a distância (EaD) começou no Senac, logo após a sua fundação, em 1946. A primeira experiência de EaD foi em 1947, em São Paulo, por meio do uso do rádio, objetivando a oferta de cursos na área de comércio. O propósito daquela experiência pioneira estava em técnicas de vendas, noções de comércio, noções de contabilidade e cultura geral. Assim, a Educação a Distância evoluiu e, segundo Waehneldt (2014), em 2000, houve um salto tecnológico na oferta de Educação a Distância, ao ser constituída a Rede Sesc/Senac de Teleconferência. Dessa forma, apareceu uma mídia adicional com o objetivo de realizar um trabalho de educação corporativa, de educação permanente, especialmente no tocante ao desenvolvimento de recursos humanos.
A Educação a Distância possui características de flexibilidade em relação ao espaço e tempo que podem se adequar às mais variadas demandas. É uma metodologia direcionada para atender adultos com compromissos familiares e profissionais, pois possibilita a continuidade dos estudos sem deixar de lado as outras atividades. São desenvolvidas soluções e metodologias para os programas de EaD tendo como finalidade principal estar continuamente conectando conteúdos, organizações e pessoas na busca do conhecimento.
Bernardo-Rocha e Arata (2003) definem a Educação a Distância como sendo a transmissão de conhecimentos ou informações em que o professor e o aluno estão separados no tempo e no espaço. Esse tipo de ensino pode se classificar em unidirecional quando somente o aluno recebe o conhecimento por meio de livros, vídeo ou conteúdo multimídia; ou bidirecional, quando há a interação entre o aluno e o professor, mediante a troca de experiências e debates com o emprego de meios como, por exemplo, internet, telefone e correspondências.
Nonaka e Takeuchi (2014) salientam que o grande diferencial da EaD é fornecer ao aluno a escolha do próprio local e horário de estudo. A possibilidade de desenvolver produtos customizados, adequados e adaptados às necessidades dos clientes permite ganhos em tempo e adequação no atendimento às demandas específicas, que não estejam contempladas em estruturas educacionais tradicionais. O maior benefício da EaD quanto à educação presencial é a economia.
A expansão da internet e o avanço das tecnologias de informação e comunicação fornecem os alicerces para o desenvolvimento do e-learning e da educação a distância. Cabe ressaltar o advento das redes corporativas, que impulsiona e concede um novo status à Educação a Distância. Dessa forma, o uso da intranet e da internet gera avanços nos treinamentos corporativos. Para um mundo que clama por inovação, é primordial o espírito criativo, envolto em sonhos e muita imaginação.
A educação online é aquela em que a tecnologia possibilita outras formas de interação entre os indivíduos, sem prescindir do professor muito bem preparado. A Educação a Distância, quando bem realizada, longe de ser uma omissão, é outra maneira de estar presente. No entanto, Bayma (2014) adverte que a tecnologia apresenta controvérsias que sinalizam como alertas, ou seja, deve ser usada adequadamente. O emprego impróprio da tecnologia “lembra as mídias que reproduzem aulas expositivas com aparatos tecnológicos caros, acabando por provocar o medo de ousar, tão prejudicial às boas práticas organizacionais” (Bayma, 2014, p. 23). Outro aspecto que evidencia é o fato de que o excesso de informações disponíveis com as novas tecnologias educacionais pode gerar estresse e sensação de impotência da pessoa. Dessa forma, a tecnologia não pode ser considerada uma solução eficaz para resolver todos os problemas.
Cabe ressaltar que, na Educação a Distância, quando do emprego de videoconferências e do e-learning, é essencial expor os benefícios das ferramentas e pontuar as potencialidades que essas mídias podem oferecer para ir além das aulas tradicionais; vale lembrar o que elas podem propiciar de novo e que, dificilmente, poderia ser desenvolvido em aulas presenciais (Bayma, 2014).
Para Longo (2014), o ensino a distância apresenta sua consolidação, muito embora ainda haja resistência e descrédito. O autor identifica algumas tendências e fatores críticos de sucesso, que estão ilustrados no Quadro 1.
O índice de evasão dos cursos a distância é relevante; devem ser analisados os aspectos que atuam como determinantes no abandono do curso pelo aluno, com a finalidade de mensurar o grau de evasão, tendo em vista que a perda de conhecimentos e habilidades provenientes da evasão é imensurável.
Em relação à formação de professores, Hetkowski e Lima Jr. (2002) destacam que a EaD é um processo voltado para a criação de olhares reflexivos e críticos. A EaD surge como possibilidade de propagação, difusão e inclusão do processo de formação e desenvolvimento do professor. Nesse contexto, Pereira (2007) pontua que o crescente investimento de políticas públicas na formação de professores no ensino a distância ocasiona a propagação do saber e a qualificação docente.
Quadro 1: Tendências e fatores críticos de sucesso no EaD
Tendências da EAD | Fatores críticos de sucesso |
Soluções com tecnologias mistas – blended learning | Ambientes colaborativos |
Disseminação maior nas universidades corporativas que nas instituições de ensino superior | Tutoria especializada |
Eficácia do e-learning: Sem tutoria: evasão de 70% a 80% Tutoria reativa: evasão de 50% Tutoria colaborativa: evasão de 10% | Projeto acadêmico específico |
Adequação da linguagem | |
Desenho instrucional | |
Estruturação do material didático |
Fonte: Longo (2014, p. 119).
Certeau (2014) destaca que, mesmo diante da expansão da formação de professores, pelas políticas públicas de EaD, infelizmente existe grande quantidade de professores carentes de acesso a essas políticas públicas, que podem propiciar de forma igualitária as diretrizes de ensino de qualidade. O autor esclarece que as políticas de formação continuada não serão a solução das diversidades enfrentadas no contexto da educação, mas uma estratégia que é tida como um caminho a ser usado no processo de construção e desconstrução do fazer pedagógico.
Nesse entendimento, Altoé e Silva (2005) explicam que a ampliação dos sistemas de telecomunicações possibilitará que um número cada vez maior de indivíduos possa se conectar para comunicar-se entre si. Quanto à educação, especialmente nesta sociedade pós-industrial, na qual a informação é ponto central, o resultado é a reconstrução de conhecimentos. As autoras constatam que no atual milênio tecnológico a informação é termo chave. Por meio das tecnologias, principalmente as associadas à Educação a Distância e ao acesso ao conhecimento, a formação pessoal e profissional é potencialmente melhor a partir da redução da distância geográfica, permitindo hipoteticamente que o conhecimento chegue a todas as pessoas; assim, espera-se que haja diminuição das desigualdades sociais.
Conclusão
Constata-se a importância da capacitação do docente para a formação do indivíduo polivalente que o mercado de trabalho demanda, a capacitação não somente para comunicar como também para construir modelos práticos voltados para a realidade do contexto social, foco de sua atividade profissional. Destaca-se, ainda, a necessidade de implantação e de incremento de programas de formação continuada para professores em serviço, de modo a capacitá-los para o desempenho de seu verdadeiro papel de protagonista do processo de reversão do quadro de fracasso escolar em que se acham as instituições de ensino brasileiras.
Observa-se que o docente deve enxergar na tecnologia uma maneira de qualificar melhor as práticas pedagógicas e que alguns aspectos são primordiais nos ambientes virtuais de aprendizagem para que a interatividade se torne efetiva em todas as suas potencialidades, favorecendo a participação e a intervenção dos sujeitos na prática pedagógica; para isso não há modelos prontos a seguir, mas pode-se construir novos e distintos caminhos fundamentados na autonomia, na cooperação, na colaboração, na hipertextualidade, na dialogicidade e na interatividade.
É constatada a relevância do ensino a distância (EaD) como metodologia capaz de possibilitar a troca, o compartilhamento e a disseminação do conhecimento e de informações com o emprego de tecnologias como a internet e o sistema de ambientes virtuais de aprendizagem, com o propósito de capacitar as pessoas para alcançar o sucesso em suas vidas.
Referências
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1 Wikipédia se baseia na lógica do Wiki (programa colaborativo que possibilita a edição coletiva de documentos). É uma enciclopédia que pode ser acessada livremente permitindo aos seus usuários inserir, alterar e/ou deletar informações.
2 Outro termo do Wiki. É caracterizado como uma ferramenta de escrita colaborativa na web, que possibilita que diversas pessoas separadas geograficamente interajam, elaborando um hipertexto, usando apenas um navegador.
Publicado em 23 de julho de 2019
Como citar este artigo (ABNT)
LOPES, Darcilene Lopes. A formação de professores e o ensino a distância: contribuições como práticas pedagógicas. Revista Educação Pública. v. 19, nº 14, 23 de julho de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/14/a-formacao-de-professores-e-o-ensino-a-distancia-contribuicoes-como-praticas-pedagogicas
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