Identidade docente: a formação de professores como requisito imprescindível para a qualidade da educação
Rudvan Cicotti Alves de Jesus
Licenciado em Biologia (UNIT, Campus Farolândia)
Iêda Cicotti de Jesus
Pedagoga (UniAGES)
Lurian Cicotti Alves de Jesus
Graduanda em Engenharia Química (UFS, Campus São Cristóvão)
A educação brasileira passa pela crise de oposição acerca do ideal-real, em questão à desvalorização dos educadores e as metodologias usadas frente ao cenário que exige muito mais do que esta sendo exposto. A fragilização e a difícil tarefa de quebrar paradigmas centrados no comodismo de uma educação de concepção tradicional contribuem para a decadência do ensino-aprendizagem.
A docência responsável pela formação critica do outro abrange em seu perfil uma discrepância na falta de práticas inovadoras, formações continuadas para melhoria do ensino, pois decerto uma boa escola volta-se ao requerimento de bons profissionais, compromissados no desenvolvimento da ação que será realizada.
A identidade docente é algo a se construir diariamente, buscando repensar e transformar a conduta que não trouxe significados. Logo, o exercício da docência requer formação ampla e não neutra ao perfil da área em que se pretende atuar. A didática precisa de atualização permanente, dando ênfase à dimensão pedagógica, podendo transformar em realidade a utopia de uma educação de qualidade para todos e a valorização do profissional responsável por essa tarefa.
A sociedade passa por constantes mudanças; de certa forma, esse aspecto coloca muitos profissionais em situações perplexas com tais transformações. No setor educacional, muitos professores se prendem a metodologias arcaicas, desestimulantes para os sujeitos do século XXI.
No cotidiano de muitos âmbitos escolares, encontra-se o desinteresse não apenas por parte dos alunos, mas por toda a comunidade escolar. Frente à sociedade do conhecimento, ficar em silencio preso a uma carteira apto a receber todas as informações do professor para ser avaliado em um papel que detonará a aprendizagem liquida as chances de despertar o interesse no alunado, prendendo-os apenas ao resultado da nota.
A ausência de práticas pedagógicas inovadoras que despertem o entusiasmo acaba causando a privação de uma educação profícua para elevar a qualificação do ensino promissor.
A formação docente: requisito para a melhoria da educação
A formação inicial do docente vem evidenciando um papel cada vez mais importante no processo educativo, exigindo desse profissional competência, dedicação e motivação. Como Tardif (2002) discute, é através das relações com os pares e, portanto, do confronto entre saberes, produzido pela experiência coletiva dos professores, que os saberes experienciais adquirem certa objetividade. Contudo, para que não sejam tidos como momentos isolados, mas como oportunidade para o desenvolvimento de estratégias que possam melhorar o ensino e a vida profissional do professor, a formação continuada deve ser centrada na escola para o progresso dos que fazem parte dela. Conforme Almeida (2006), a escola é o lugar onde os professores aprendem, é o lugar onde os saberes e as experiências são trocados, validados, apropriados e rejeitados.
A educação continuada consiste em auxiliar os profissionais a participar ativamente do mundo que os cerca, incorporando tal vivência no conjunto dos saberes de sua profissão. Nóvoa (1992) registra que durante muito tempo, quando se falava em formação de professores, falava-se essencialmente da formação inicial do professor. Hoje em dia, é impensável essa situação. A formação de professores é algo que se estabelece num continuum que começa nas escolas de formação inicial, nos primeiros anos de exercício profissional e continuam ao longo de toda a vida profissional, em práticas de formação continuada, tendo como polo de referência as escolas.
Franco (2008) comenta que é preciso ter como princípio alguns pontos primordiais sobre o conhecer para elaborar ações condizentes com a necessidade; para tal prática é necessário refletir para transformar, para compreender, para conhecer e, assim, construir possibilidades de mudança da práxis.
Nesse sentido, ganha destaque o papel da formação de professores; portanto concordamos com Schon (1995) quando indica que há ressonância entre três níveis que compõem o ensino: os alunos, os professores e os sistemas escolares. Esse autor propõe que, na interligação entre esses pontos, o educador tem papel central. Defendemos que é relevante pensar na formação de professores de modo que potencialize reflexões baseadas em saberes práticos que, a partir do cotidiano laboral docente, sejam capazes de estimular modificações dos processos educativos que se desenrolam nas salas de aula. Assim, tentando gerar subsídios para uma formação que englobe o saber prático docente, neste texto damos destaque à formação de professores com caráter reflexivo.
Segundo Leite (2011), cabe aos cursos que formam professores assegurar que o docente saiba lidar com o processo formativo dos alunos em suas varias dimensões, além da cognitiva, englobando a afetiva, a educação dos sentidos, a estética, a ética e os valores emocionais. Para tanto, é preciso que os professores tenham oportunidades de constante atualização e preparo para desenvolver e utilizar novas metodologias, como o trabalho coletivo e interdisciplinar, condições imprescindíveis para o desenvolvimento da capacidade de romper com a fragmentação das disciplinas hoje trabalhadas isoladamente.
Além disso, exige-se uma formação que promova a participação ativa do professor na construção do projeto pedagógico da escola, na solidariedade com os colegas e com os alunos e no compromisso com a emancipação do nosso povo.
Silva (1991, p. 3) alerta os docentes:
a chamada “educação permanente” é fundamental para todos os indivíduos e mais fundamental ainda para os educadores. Além de uma dedicação maior à literatura de sua área específica de atuação, procure acompanhar e inter-relacionar os dados provindos de outros campos do conhecimento, principalmente história, política e economia. É o conhecimento da totalidade do real que aumenta o seu poder de julgamento e decisão. E os maiores beneficiados serão você mesmo e os seus alunos.
A complexidade do mundo moderno impõe um processo educativo que estimule novos conhecimentos, competências, habilidades, aptidões e valores capazes de promover o desenvolvimento do potencial empreendedor que todo ser humano traz, independentemente de sua condição social; deve ser uma educação que gere no discente autonomia de argumentação, sentimento, valoração, iniciativa e ação para empreender na própria vida.
Estabelecendo a formação docente, percebe-se o quão é relevante a busca por novos saberes para a melhoria de sua prática. É condicionante compreender que, como seres racionais, somos inconclusos, e é na busca incessante da melhoria da prática educativa que lutamos por um ambiente melhor não apenas para o presente, mas para o futuro.
É interessante a reflexão de um dos mais importantes educadores brasileiros, Paulo Freire. Ele transpõe a ideia de que a educação não transforma o mundo; a educação muda pessoas, e estas é que transformam o mundo. Dessa forma, a educação em sua instância progressiva, com ênfase ao desenvolvimento do sujeito, precisa de pessoas compromissadas com transformar – e não transmitir informações.
Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. “A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática” (Freire, 1991, p. 32).
As palavras de Freire trazem reflexões sobre a formação docente e o valor que o amor e o compromisso pela prática exercem para que haja transformação, tanto do sujeito quanto do ambiente em que estão inseridos.
É certo que a falta de políticas públicas centradas na melhoria da educação está desazada. No papel tudo é lindo; contudo, ao querer a visibilidade desses projetos, poucos são postos em prática.
Decerto a educação precisa de mais investimentos, e aqueles que estão dispostos a fazer parte da docência precisam ter em mente o importar-se com o outro, na busca incessante por novas práticas ou pela melhoria delas. Diante disso, Freire (1998) relata que a formação de professores precisa ser permanente, sempre buscando a melhoria da prática. Sobre esse mesmo ponto, Severino (1991) pondera que a habilidade didática é mutuamente relevante para o resultado convergente que a educação necessita.
Conclusão
Portanto, é de suma importância a formação continuada com postura contemporânea por parte do docente, sendo preciso passar por um processo de autoconhecimento, ter consciência de sua identidade e saber refletir criticamente sobre sua pratica pedagógica para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem e para a sua condição como ser humano em sua totalidade.
Nesse pressuposto, cursos de formação continuada devem ser cada vez mais estabelecidos para a visão ampla do sujeito. Todavia, os docentes precisam ter a mente aberta e entender que, diante tantas mudanças, é preciso estar apto a aprender cada vez mais, associar as práticas pedagógicas aos suportes teóricos existentes, no exercício de sempre se atualizar, substituindo o fragmentado pelo interdisciplinar, transformando a si e ao mundo.
No que concerne à formação de professores como requisito para uma educação de qualidade, é importante reconhecer a importância de formar para varias dimensões, pois vivemos em um ambiente que busca a capacidade de pensar, as habilidades e competências compromissadas para empreender.
Referências
ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; PLACCO, Vera M. N. de Souza. O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. 2ª ed. São Paulo: Setembro, 2002.
FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise de conteúdo. 3ª ed. Brasília: Liber Livro, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
______. A educação na cidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
LEITE, Yoshie Ussami Ferrari. O lugar das práticas pedagógicas na formação inicial de professores. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.
NOVOA, Antônio. Para uma formação de professores construída dentro da profissão. 1992. Disponível em: www.mauricioramonnd.com.br. Acesso em: 03 fev. 2019.
SCHON, D. Formar professores como profissionais reflexivos. 2ª ed. Lisboa: Nova Enciclopédia, 1995.
SEVERINO, A. J. A formação profissional do educador, pressupostos filosóficos e implicações curriculares. Revista Ande, São Paulo, 1991.
SILVA, E. T. De como ser um mau professor / De como ser um bom professor. São Paulo: Cortez, 1991.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Trad. Francisco Pereira. Petrópolis: Vozes, 2002.
Publicado em 17 de setembro de 2019
Como citar este artigo (ABNT)
JESUS, Rudvan Cicotti Alves de; JESUS, Iêda Cicotti de; JESUS, Lurian Cicotti Alves de. Identidade docente: a formação de professores como requisito imprescindível para a qualidade da educação. Revista Educação Pública, v. 19, nº 21, 17 de setembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/21/identidade-docente-a-formacao-de-professores-como-requisito-imprescindivel-para-a-qualidade-da-educacao
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1 Comentário sobre este artigo
Deixe seu comentárioArtigo com fatos reais. Até o momento não sabia como iria fazer meu portfólio. Depois de muitas pesquisas, encontrei esse artigo que me preencheu de muitos conhecimentos sobre a crise da identidade docente na contemporaneidade. Parabéns a toda equipe pela elaboração de um trabalho cheio de informações reais.
Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.