Tempo de esperança no Sul global: retrato de uma liderança falha

Dimar Monteiro Sanca

Graduando de Sociologia e Bacharel em Humanidades (Unilab)

Não basta que o Sul global não queira ser dominado e explorado. Sustenta-se pela experiência histórica e considerável interdependência entre passado e presente. No início do século XIX, a Europa, ainda com ideais iluministas, conhecia seus progressos em relação a outros continentes, destacando sua capacidade econômica, seu crescimento industrial e financeiro indissociável a processos coloniais. Consumava-se, da segunda metade do século XVIII e primeira metade do século XIX, a independência dos Estados Unidos e do Brasil essencialmente.

O imperialismo emergiu como fenômeno europeu com domínio e exploração de colônias africanas e asiáticas. O Império Britânico era o maior na época, sucedido do Império Francês. Os colonizadores impunham seus os modelos culturais e padrões de vida aos povos colonizados na “perspectiva civilizacional”. Contudo, a política colonial não se dissocia da perspectiva industrial e cultural dos tempos modernos.

O domínio da técnica e da ciência moderna era desigual, dando azo ao período de apogeu da Europa através de investimentos capitais, aquisição de matérias-primas baratas, produção industrial e mercados para escoamento de produtos. Entre os países europeus mais industrializados destacavam-se Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha, comparativamente aos países do Sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália, também colonizadores.

Em torno da dominação política e cultural e da exploração econômica europeia, o velho continente, por outro lado, possuía suas rivalidades econômicas e controle de melhores mercados, diversidades políticas e sociais e tensões nacionalistas. Nisso, Japão e Estados Unidos se constituíam como concorrentes aos principais países europeus com domínios graduais de mercados mundiais, principalmente asiáticos.

No intuito de trazer coerência argumentativa, torna-se imperativo traçar e abordar os fatos históricos que determinaram a condição humana nos países centrais e periféricos depois da Segunda Guerra.

Eixo cronológico da geopolítica mundial: direitos humanos politizados e deveres morais sepultados

O fim da Guerra Fria (1945-1991) desenhou a cartografia da nova ordem mundial; os Estados Unidos da América estabeleceram-se como “líderes” econômicos, políticos e militares à escala global.

A bipolarização do mundo (capitalismo e socialismo) finalmente conheceu os resultados dos eventos do Pós-Guerra. As transformações econômicas eram inevitáveis, o colapso da Europa já era um dado concreto por ser o palco das mais sangrentas guerras que o mundo já assistiu, ocasionando perdas colossais de matérias-primas e consequentes capacidades econômicas e pagamento de dívidas contraídas por questões logísticas, o que requalificou o status do continente de credora a devedora em pleno século XX.

A ascensão dos Estados Unidos, de modo geral, melhorou a qualidade de vida da população local, se comparada com a então União Soviética, que iniciou a Primeira Guerra com sua industrialização debilitada no regime czarista. A “desordem” estruturada pela classe proletária imersa em condições de trabalhos inadequadas e consequente qualidade de vida na Rússia czarista sustentou ideias e ideais revolucionários. Em 1905, a classe proletária assistiu a suas forças revolucionárias sendo desmanteladas pela violência do regime.

O triunfo da Revolução Russa de outubro de 1917, liderada por Vladimir Lênin e Léon Trotsky, foi sustentado ideologicamente pelo marxismo-leninismo. O resultado da revolução permitiu a contínua nacionalização dos principais setores da economia, porém baseada em nova estratégia econômica. A natureza da transição de poder sistematizou a face da nova política nacionalista, baseada em monopartidarismo: Partido Comunista.

A construção da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) em 1922 possibilitou as relativas autonomias administrativas regionais; incluía uma diversidade cultural, porém a língua oficial na federação permanecia russa.

Da construção da URSS a 1939 (início da Segunda Guerra Mundial), o mundo assistiu a mudanças econômicas, sociais, culturais e políticas, destacando a ascensão de Mussolini ao poder em 1922: Itália fascista; a morte de Lênin, em 1924; a expulsão de Trotsky (líder do Exército Vermelho vitorioso na Guerra Civil Russa) do Partido Comunista em 1925 – em 1929 ele se exilou durante a “caça às bruxas de Stálin (ex-secretário geral do Partido Comunista)”, ocasionada pela acesa disputa da liderança do país após a morte de Lênin; a queda de Bolsa de Valores em Nova Iorque, em 1929; a implementação da república na Espanha, em 1931; a política de New Deal de Franklin Roosevelt, em 1933; a ascensão de Hitler ao poder, em 1933; o fim da Guerra Civil Espanhola, em 1935; e em 1939 o início da Segunda Guerra Mundial.

A ascensão de regimes ditatoriais no Velho Continente antes da Segunda Guerra Mundial, com destaque para Alemanha e Itália, se devia principalmente às crises econômicas que se sucediam depois da Primeira Guerra Mundial, inerentes à luta de classes e partidária e a mecanização desses regimes como medida de prevenção à nova revolução bolchevique.

O fim da Guerra e a vitória dos aliados, em 1945, tiveram consequências dramáticas para o mundo, dando destaque à reconfiguração do mapa político mundial; ao julgamento de Nuremberg; à desmilitarização da Alemanha à perda dos seus territórios conquistados e à sua sequente divisão em Alemanha Oriental (sob ocupação da URSS) e Alemanha Ocidental (sob ocupação de Estados Unidos, Inglaterra e França) e a criação do Estado de Israel em 1948.

Os caminhos da paz passaram pela criação da Organização das Nações Unidas, em 1945, com sede em Nova Iorque, instituição que propõe defender direitos e liberdades individuais.

Sem grandes mistérios, instalou-se a Guerra Fria entre as duas maiores potências: Estados Unidos e URSS. O poderio norte-americano, baseado na superioridade bélica, estratégica e econômica, suplantou a afirmação do socialismo no cenário internacional, protagonizado por um Estado federado fragmentado pelas crises sociais e econômicas ao longo do processo da sua afirmação como potência mundial.

A hegemonia dos Estados Unidos e a (des)ordem mundial: um breve apontamento

Após a Segunda Guerra Mundial, o histórico processo de descolonização em África e na Ásia não se concretizou como consequência da Guerra, ou seja, em 1945, a maioria das colônias em África e Ásia ainda continuava sob domínio colonial. Esse processo contou com apoio das superpotências – Estados Unidos e URSS – para a descolonização, principalmente este último, como estratégia de ampliar suas zonas de influência. A manutenção do monopólio do Ocidente, liderado por Estados Unidos, sobre os países periféricos caracteriza as sucessivas tensões internacionais, os conflitos regionais e as ingerências externas no contexto dos países.

No início deste século, o mundo assistiu com perplexidade ao ataque às Torres Gêmeas, o World Trade Center, um dos símbolos na cidade de Nova York (em 11 de setembro de 2001), que vitimou centenas de pessoas. Sustenta-se que a ação foi coordenada pelo grupo terrorista Al Qaeda, liderado por Osama Bin Laden. O fato dividiu as opiniões, entre ação terrorista e teoria de conspiração. Quais as relações entre o ataque de 11 de setembro e as posteriores intervenções dos Estados Unidos nos países não ocidentais, especialmente no Médio Oriente?

Em 2003, os Estados Unidos derrubaram Saddam Hussein, então presidente do Iraque, com a alegação de que ele protegia grupos terroristas e desenvolvia armas de destruição em massa, numa invasão que não foi aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Da invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão de 2001, sob a presidência de George W. Bush, e a retirada das tropas em 2011, sob a presidência de Barack Obama, o processo teve custos de milhões de dólares americanos. Uma década de combate ao terrorismo ou “caça” aos recursos petrolíferos?

O governo Obama encerrou as operações militares no Afeganistão iniciadas em 2001 e no Iraque em 2003 entre os custos de manutenção de tropas norte-americanas e a perspectiva de retomada de economia nacional. Lembremo-nos dos efeitos da crise econômica mundial de 2008 para a população norte-americana: país em recessão, desemprego em alta, necessidade de adoção de novo plano de saúde e dilemas nos processos migratórios.

Com a retirada dos Estados Unidos, o restabelecimento de células terroristas na região e no território afegão, parcialmente controlado por talibãs, vitimou cidadãos com crimes severos e protagonizou centenas de refugiados. A longa ruína afegã desestabiliza a expansão do mercado chinês na zona Leste, tendente a fortalecer economias de países como Índia, um dos principais mercados ingleses até aos meados do século XX, e neutraliza a expansão do “socialismo soviético”, que tinha pairado no ambiente político afegão, razão pela qual os norte-americanos fortaleceram suas bases militares na região, no Paquistão.

A oposição norte-americana ao regime de Bashar Al Assad, no contexto da guerra civil iniciada em 2011, condenou o Estado sírio aos destinos da Afeganistão, Iraque, Líbia e demais países em que a política externa e o poderio militar norte-americanos retrocederam no tempo. Os rebeldes sírios, sob o ponto de vista da política norte-americana, não se constituem como ascensão ou propagação de grupos terroristas, o que enquadra entre os “motivos” de invasão a Afeganistão e Iraque. A primeira alegação para a intervenção militar norte-americana na Síria foi o ataque do governo sírio aos civis, concretamente em Alepo; a segunda alegação foi o uso de armas químicas contra o próprio povo por parte do regime sírio.

A política externa do Ocidente liderado pelos Estados Unidos agrava conflitos nos países de eixo oposto por meio de notícias politizadas que sustentam, a priori, a legitimidade inerente à opinião pública quando do uso da violência para solucionar os conflitos. A oposição na Síria, carinhosamente apelidada pela mídia ocidental de “rebeldes de oposição ao regime Assad”, já dispusera de mísseis antiaéreos sofisticados e outros armamentos que dão sustento ao conflito sírio ao longo dos anos.

A geopolítica mundial direciona-se para países do Médio Oriente, África e América Latina (Sul global) sob o espectro da sua dominação total: entre conflitos diplomáticos e sanções econômicas e invasões militares, tanques, porta-aviões e caças-bombardeiros.
Como isentar o Ocidente de responsabilidade no financiamento da guerra e terror nos países periféricos?

Dentre os países do G8, a Rússia se destaca por suas relações estreitas com a Síria, para a qual fornece suportes logísticos, assim como ao Irã; todavia, os acordos comerciais têm sido priorizados pelo regime russo, dada sua condição de “país satélite” à política externa norte-americana e por ter influência de menor expressão comparativamente ao país de Donald Trump no mundo.

A Rússia se fortaleceu com a ascensão do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) devido aos recursos energéticos, avanços tecnológicos e políticas públicas que visam amenizar os efeitos da fúria do regime de Washington por meio de sanções econômicas. Essa estratégia visa consequentemente pautar e analisar as desigualdades sociais internas, perspectivando fazer face às maiores economias tradicionais, como Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos.

Diversas negociações se sucederam, com tendências e interesses norte-americanos em negociar com Irã o processo de enriquecimento do urânio como forma de (re)estabelecer limites às atividades nucleares iranianas. O acordo foi assinado no então governo Obama, em 2015. Interpretam-se as vantagens do poderio militar no panorama político mundial que promoveu a proliferação de armas de destruição em massa, nos últimos anos, principalmente no Médio Oriente. Buscam-se soberanias em relação às intervenções norte-americanas. Isso culminou com o agudizar de tensões na Península Coreana, crise internacional entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, na discordância de sucessivos testes balísticos norte-coreanos que “colocam em causa a segurança internacional”, uma crise internacional entre as pendências e os efeitos da Guerra Fria entre ambos os países desde a Guerra de Coreia na década de 1950.

O país asiático pode constituir ameaça à influência dos Estados Unidos na Ásia e a credibilidade dos EUA na arena internacional? As sanções contra a Coreia de Norte foram insuficientes para moldar os então interesses na (re)construção do seu poder bélico.

A estratégica e condicionada “dependência emocional” da China ao Estado norte-americano na resolução das tensões diplomáticas entre Estados Unidos e Coreia de Norte, considerando a influência chinesa no país vizinho, não deixa de ser exponencial.

A pressão colateral da China aos Estados Unidos desenfreou o “perigoso” regime de Pyongyang, (in)visibilizando “condicionamentos” e “jogos de interesses” de Xi Jinping para estreitar relações, especialmente comerciais, entre as duas superpotências. A geopolítica asiática ganha forma e conteúdo, pois a região tem se constituído em um dos berços da economia industrial moderna.

Até que ponto a geopolítica asiática liderada pela China neste momento pode vir a equilibrar o balanço e os contornos da geopolítica ocidental?

Na América Latina, os acontecimentos da última década retratam as “ideologias americanistas”. Destacam-se as ingerências norte-americanas nos países latinos, principalmente com as importantes conquistas sociais, políticas e econômicas nos governos populares, como os governos Lula, Kirchner, Evo Morales e Hugo Chávez. A beira do fim dessas lideranças, a América Latina sofre uma significativa reconfiguração, pois as principais economias têm mergulhado numa crise política e econômica que desencadeia problemas sociais como educação, desemprego, segurança pública, saúde. Essa realidade se reflete nas crescentes greves, paralisações e outras manifestações sociais na região.

A atual crise na Venezuela anexa a questão da Assembleia Constituinte como pretexto entre análises e fatos considerados. O país não é um dos maiores mercados dos Estados Unidos nem o mais bem-sucedido na região. A intervenção militar, possibilidade já considerada por Donald Trump, pode afetar o Mercosul e consequentemente o BRICS no que diz respeito a investimento do bloco nas terras venezuelanas. A tendência política da elite econômica venezuelana de combater o regime político e impopular de Nicolás Maduro conduziu à retirada de capital privado no país e à consequente queda (drástica) de circulação de bens e pessoas nos territórios venezuelanos, que circundam uma das maiores reservas de petróleo na América Latina. O segundo mandato de Maduro elevou tensões internas e externas por “não serem livres, justos e transparentes”, mediante avaliação dos opositores. 

O esgotamento político e estratégico do Mercosul proporcionado pela ingerência externa proporcionaria tendencialmente acordos comerciais entre Europa, Estados Unidos e América Latina, o que conduziria ao “fim” do mercado latino-americano, pela fraca capacidade econômica e baixo poder de competição dos países latinos em relação aos países europeus.

A economia mundial criou uma teia de sobreposições hierárquicas. A ausência do princípio de casualidade na arena internacional emana mecanicamente o princípio de causalidade, o retrato de uma dominação e exploração global.

Os sucedidos no norte da África – a “Primavera Árabe” – dissolvem em termos práticos os princípios da ONU sobre defender direitos e liberdades individuais e respeitar as soberanias nacionais, dando azo às atrocidades político-institucionais que conduziram, por exemplo, à erradicação da dignidade humana na Líbia após o dramático assassinato do líder Muhammar Khadaffi.

Consideravelmente, a fraca autoridade da Líbia compromete a segurança do continente africano, especialmente a “África branca”, suscetível a ser o ponto de disseminação de terrorismo perante a fraca economia da maioria dos países da região para combater essa “epidemia” e pelo fato de estar entre os “caminhos” para a Europa. Essa consideração exemplifica-se com a recente escravização dos emigrantes africanos na Líbia, o que explicita o nível de segurança no país e de articulação das instituições internacionais movidas por interesses específicos. A dissolução das fronteiras nas intervenções internacionais norte-americanas compromete os princípios de soberanias nacionais e solidariedade internacional.

Barack Obama herdou do republicano George W. Bush com grandes expectativas em torno do seu mandato, não só pelo fato de ser o primeiro negro a presidir o país mais poderoso do mundo, mas também pela expectativa na coordenação da maior crise econômica mundial (2008) após 1929, a queda de Bolsa de Valores de Nova York. Contudo, as desigualdades internas nos Estados Unidos geram de modo forma acessível e sucessiva as invisibilizadas crises socioeconômicas norte-americanas que determinam a “dolarização da economia mundial” e a “necessidade de expansão”.

O elevado orçamento das Forças Armadas norte-americanas deixa transparecer a sua política de “lei e ordem” internacional, indissociável da maximização de controle do sistema econômico norte-americano e do fato de ser um país com dívida pública colossal. O país padece de problemas econômicos, políticos e sociais internos que as políticas públicas não conseguem fazer sustentar efetivamente a rigor da sua dimensão internacional: educação, saúde, segurança pública, querelas sociais (problemas raciais), entre outros. Por outro lado, são problemas residuais, uma vez que possuem grande disparidade entre a população branca e negra no país no que diz respeito à distribuição de renda. A ausência de detalhes da democracia interna retrata o modo de ampliação das suas influências no mundo e, acima de tudo, o modo de efetivação da sua liderança.

Em 2013, a diplomacia norte-americana “foi comprometida com o escândalo de espionagem” com base na revelação de Edward Snowden sobre o serviço de inteligência que acessava informações confidenciais de vários governos ao redor do mundo, entre os quais o Brasil, e de cidadãos comuns inclusive através de rastreamentos de chamadas telefônicas com o intuito de evitar um “novo 11 de setembro”. Dados os efeitos do Império Americano, sem novidades, o caso suscitou ligeiras reações de líderes internacionais. 

A “Doutrina Monroe” reconfigura-se cada vez mais com fatos que reconduzem a teoria “América para os americanos” para “América e o resto do mundo”. A recente saída do país mais industrializado do acordo de Paris sobre o clima induz reflexões que retratam os Estados Unidos como “agente nocivo à periferia”, compromete-o com “interesses norte-americanos” inerentes à sacralizada lógica de superpotência econômica e política mundial.

As últimas eleições norte-americanas reativaram os dispositivos da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a Rússia pela alegada ingerência russa que culminou na “duvidosa vitória” de Donald Trump sobre a então candidata democrata Hillary Clinton. A autopreservação entre ambos os Estados condicionou os métodos de resolução de conflitos diplomáticos, adotando as sanções econômicas e diplomáticas como “medidas corretivas” tal como aconteceu em 2014 quando da anexação da Crimeia à Rússia, em meio a uma convulsão geral, considerando até uma possível intervenção militar norte-americana.

Além de a anexação da Crimeia ser uma medida política, contrariando a “voz do comando”, o país do Leste europeu tem seus interesses econômicos revelados, pois a Crimeia é uma grande reserva de gás natural na zona Leste, um dos principais produtos da economia russa, pois abastece grande número de países europeus via gasodutos e oleodutos.

Com Donald Trump, a presidência norte-americana privilegia nacionalismo e conservadorismo; isso estimula tensões raciais que polarizam o país ao longo dos tempos e estremece os sentidos de especialistas em Relações Internacionais baseando em discursos diretos e frases do tipo: America First, “O novo político e a ‘nova’ política” não diminuem as probabilidades de maiores incidentes diplomáticos. Aguarda-se o desfecho do inquérito levado a cabo pela Suprema Corte sobre a ingerência russa nas últimas eleições norte-americanas, que conduziram Donald Trump à Casa Branca.

A decisão dos Estados Unidos sobre a Unesco, afirmando: “a necessidade de reformas fundamentais na organização” explicita o modelo do unilateralismo norte-americano, uma vez que os objetivos do órgão podem ser subjugados pela desvinculação do “líder internacional”. A sua política externa se opôs ao princípio de solidariedade e de boa governança, como exemplifica a saída dos EUA no Pacto Mundial sobre Migração e Refugiados e, remotamente, a saída do país na Sociedade das Nações na primeira metade do século XX. Esses casos e fatos se mostram suficientes para constituir a dualidade: interesses nacionais versus deveres internacionais.

Considerações finais

Em jeito de conclusão, esta reflexão não pretende descortinar todos os problemas que o mundo tem enfrentado nos últimos tempos, mas sim considerar que as decisões norte-americanas influenciam consideravelmente (ou determinam) as demais realidades ao redor do mundo.

A ascensão de poderes não estatais como Al Qaeda, Hezbollah, Hamas e Estado Islâmico (Isis) fortaleceu a perspectiva de “protetorar” países fragilizados e com recursos naturais. O infortúnio de pertencer à “segunda soberania”, a exemplo de Afeganistão, Iraque, Líbia, Egito e Síria, retrata a realidade que a humanidade tem vivido ao longo dos anos.

A massiva perda de qualidade de vida da população em diversos países no mundo tem sido influenciada também por altas cotações de dólar e novos créditos por parte do Banco Mundial. A considerada consequência da crise econômica de 2008 na crise econômica vigente a nível internacional retrata as constantes beiradas a colapso do sistema financeiro norte-americano e de “dolarização da economia mundial”. Porém o estreitar das relações comerciais entre Rússia e China pode restabelecer tratados e acordos no momento decisivo na história de ambos os países como potências mundiais.
O futuro nebuloso da periferia na configuração mundial em estado de progresso, presa num capitalismo irresistível e impiedoso, converge na excessiva esperança no futuro ou na espontaneidade de o Ocidente se “conscientizar”. A “conscientização” dos países centrais remeter-se-ia a longa e profunda decadência do capitalismo industrial.

É importante pontuar que o capitalismo se revela religião e o capital é o “guia”. Em tempos modernos, ele cria super-heróis, mitos, salvadores e outras terminologias que remetem a divindade ou milagre.

Publicado em 29 de outubro de 2019

Como citar este artigo (ABNT)

SANCA, Dimar Monteiro. Tempo de esperança no Sul global: retrato de uma liderança falha. Revista Educação Pública, v. 19, nº 27, 29 de outubro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/27/tempo-de-esperanca-no-sul-global-retrato-de-uma-lideranca-falha

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