Uma perspectiva sobre metodologias e práticas docentes vistas por uma aluna de pedagogia no estágio supervisionado

Cynara da Costa Silva

Graduada em Pedagogia (UERN)

A prática docente nos anos iniciais é algo de extrema importância, pois é nesse contato, nessa relação de ensino-aprendizagem, que o aluno vai – ou não –, tomando gosto pela escola, pelos estudos, para ter um futuro promissor. Sabemos que é de responsabilidade dos professores dos anos iniciais trabalhar conhecimentos que são necessários ao desenvolvimento intelectual, social, pessoal do aluno. Mas alguns métodos podem se tornar prejudiciais a essa construção de conhecimento. Segundo Vygotsky (1994), “é importante buscar respeitar o percurso de aprendizagem de cada estudante e procurar outros recursos para estimular o aprendizado e o desenvolvimento”. Ou seja, muitas vezes a seriedade com que esse ensino é tratado pelos professores pode prejudicar/bloquear o processo de aprendizagem de alguns alunos. O lúdico é uma ferramenta de grande importância nas salas de aula dos anos iniciais, não apenas da Educação Infantil, e algumas dessas práticas docentes descartam esse recurso. “É importante ressaltar que o lúdico pode proporcionar um desenvolvimento sábio harmonioso, que o brinquedo é objeto concreto da brincadeira e envolve afetividade, convívio social e operação mental facilitando a apreensão da realidade” (Kishimoto, 2010).

O estágio supervisionado obrigatório é o momento de aprendizagem, de colocarmos nossos conhecimentos e orientações em prática, de contribuir para a formação de outras pessoas e principalmente de aprender com a nossa prática e com a experiência dos que já estão nessa carreira há mais tempo. Esse estágio nos anos inicias do Ensino Fundamental foi o mais desafiador possível. Não somente para quem está estagiando, mas também para a escola que recebe os futuros pedagogos. É uma imensa responsabilidade estar à frente de uma sala de aula para ser avaliado, pois a formação do professor deve estar resgatando aquilo que ele aprendeu há muitos anos e aprender novos conteúdos, buscar novas práticas e métodos de ensino. O objetivo do trabalho é produzir, desenvolver nossos planos e habilidades, levando atividades e propostas lúdicas que auxiliem no desenvolvimento intelectual e social de cada criança.

Com tudo isso, cria-se certa angústia, quando cada aula ministrada não sai como planejado; quando alcançados os objetivos estabelecidos para aquela aula, há euforia. Assim como os estagiários, os professores titulares das salas também deveriam fazer essa reflexão, pois alguns destes apresentam práticas “ultrapassadas”, que tratam os alunos não como crianças como seres em formação, mas como seres que estão ali apenas para reproduzir, captar os conhecimentos e só. Como as crianças da atualidade vão atentar às aprendizagens passadas por meio de práticas obsoletas?

Experiências e expectativas

Este estudo foi baseado em textos referentes à disciplina Estágio Supervisionado II, como “Uma grande caminhada começa com o primeiro passo – o diagnóstico da escola”, de Socorro Lucena, que norteou no início da pesquisa. Um cronograma foi seguido em que foram feitas várias atividades, como: diagnóstico da escola para coleta de informações úteis; análise e interpretação de dados com base nos objetivos da instituição; avaliação contínua do professor no período de observação; tomada de decisões com base na escolha de prioridades e das formas mais eficazes de produzir mudanças na instituição em função dos objetivos. Também foi utilizado um roteiro para a semana de observação, onde deveriam ser observadas as condições físicas, materiais e histórico-pedagógicas da instituição; a dinâmica do cotidiano escolar e o planejamento das atividades e a prática do professor titular. Esse roteiro serviu de auxílio para a produção dos planejamentos e durante as duas semanas de regência na instituição de ensino. Pôde-se perceber várias práticas positivas de professores diferentes, assim como práticas desgastadas e/ou fora do nosso currículo atual, da teoria estudada atualmente na universidade. Mas isso é visto como uma coisa necessária. Houve diferença quando apresentadas na sala de aula atividades diferentes que instigam o pensamento e a criatividade de cada aluno.

Assumir uma sala de aula é uma responsabilidade de tamanha dimensão que necessita de saberes docentes, exigindo preparação dedicada e cuidadosa, pois necessita que o professor seja um profissional que esteja em constante movimento e saiba relacionar seu fazer com a reflexão sobre esse fazer. Como são desenvolvidas as práticas desses professores dos anos iniciais do ensino fundamental? Sabemos que os profissionais da educação – não importa de qual nível de ensino –, precisam ter saberes que rodeiam a sua prática, sejam eles saberes profissionais, disciplinares, curriculares, experienciais, docentes; desses, devemos destacar os experienciais, aqueles que levam em conta o aluno e a sua maneira de aprender. Não é positivo o professor ser exemplar, com seus planos de aulas perfeitos e conseguir que todos os alunos permaneçam sentados nas cadeiras, em silêncio e olhando para a frente, sabendo todo o conteúdo, se não souber transpassá-los de forma significativa, de uma forma que se faça entender; para isso, ele deve se aproximar do aluno, construir uma relação de respeito, sim, mas mais ainda de afetividade.

Essa sequência de conhecimentos é classificada por Gauthier et al. (1998) como tradição pedagógica – relativa ao saber dar aulas, que será adaptado e modificado pelo saber experiencial, podendo ser validado pelo saber da ação pedagógica; e ação pedagógica – saber experiencial tornado público e testado. Podemos perceber, em alguns dos professores, que já estão acomodados com as práticas que têm, então não se arriscam a mudar. Mas os tempos mudam e, com isso, o aluno e suas necessidades também. Mas percebamos que a necessidade da criança de brincar continua. O brincar faz parte do processo de aprendizagem de todo ser humano, que se inicia desde a infância, podendo se estender à adolescência, à juventude e até a alguns momentos da fase adulta. Independentemente da idade, a brincadeira pode (e deve) ser inserida no contexto de aprendizado, como elo do objeto do conhecimento com a aprendizagem, pois o recurso possibilita um conhecimento mais sólido e permanente ao que está aprendendo. Por isso, o brincar na sala de aula é extremamente relevante para a aquisição da aprendizagem, seja qual for o nível de ensino. O estágio é relevante não apenas para o estagiário como também para os professores que nos recebem, pois nossa prática, muitas vezes – e isso foi relatado por uma das professoras de estágio – os faz repensar a prática. Prática essa que está, podemos perceber na escola, muito engessada e dependente do livro didático, sendo aquela coisa de sempre, mecânica. “Abram o livro tal na página tal”, seguido da leitura de uma breve explicação sobre o assunto para que eles possam resolver as questões presentes também no livro. O foco não era desviado; era como se o único objetivo fosse concluir todas as páginas daqueles livros até o final do ano e isso provaria que as aulas aconteceram e os conteúdos foram passados. Em algumas salas, não se podia passar um dia sem que o livro fosse trabalhado. E o aluno, como fica nessa situação? Sua criatividade, sua forma de expressão, como são trabalhadas assim? Também podemos destacar, dentro dessas práticas obsoletas, assim como o lúdico e a brincadeira, a forma como as crianças expressam suas alegrias e seus interesses são repreendidos dentro da sala de aula.

As práticas devem ser evoluídas a cada dia; é complexo chamar a atenção do aluno nessa atualidade tão difícil de construir uma relação de afetividade. Deve-se instigá-los a participar, a criar, a ser autores do seu próprio desenvolvimento. Como por exemplo, usar a Etnomatemática – que é ensinar a Matemática mediante a história dos conteúdos para uma turma de 5º ano e dar aula de centena, dezena e unidade a partir do surgimento dos sistemas de numeração e a lógica em torno do sistema; ou, ao trabalhar Geografia (poluição, mudança nas paisagens), pedir que os alunos façam um desenho sobre o que entendeu de cada assunto para a confecção de um livrinho; ou ainda propor uma atividade para trabalhar ordem crescente/decrescente, números ordinais – em que cada um com um número fixo na farda teria que dançar ao som de uma música posta e, ao pausá-la, eles deveriam se organizar na ordem dos números. E o momento de diversão não aconteceu. Eles não dançaram, não pularam, só ficavam andando, bem desanimados, vale ressaltar, com muita insistência minha. Mas como sempre tem aqueles mais espertos, que mesmo com toda apreensão e sendo chamada a atenção para “se comportar”, não conseguem se conter, e quando isso acontecia eram repreendidos, mesmo essa sendo a proposta da brincadeira, eu ouvia um “Menino, fique direito! Se ajeite! Não faça isso! Se você não se comportar você vai voltar para a sala”. Isso acontecer em uma turma de 3º ano faz refletir sobre como queremos que seja nossa prática docente futuramente, se vamos querer alunos sem autonomia, meros reprodutores de conhecimento.

O silenciamento dos alunos, seja em uma competição, em uma dinâmica, em uma brincadeira, é muito recorrente, e frases do tipo “Pessoal, faça silêncio”, “Quem não fizer silêncio e não se sentar vai ficar sem o intervalo”, “Psiu!”, “Gente, torça baixinho”, me fazem pensar em como será que essas crianças irão se portar futuramente, em como eu quero que seja minha prática docente, e fica a indagação: como uma turma de 3º ano vai se conter em um momento em que as crianças estão competindo por algo? Como irão torcer em silêncio? Sabe-se que o silêncio e a concentração são fatores primordiais para que os alunos consigam aprender e absorver os conteúdos que estão sendo transmitidos, mas o diálogo é o que sustenta a relação professor-aluno e sem ele não se chega a lugar algum. Quando começa uma conversa paralela, por mais baixa que seja, entre alunos que já terminaram a atividade solicitada, isso também acontece. Ah, os alunos já fizeram o que foi pedido. Eles são crianças que não têm nenhuma obrigação de atividades no momento, como conseguirão ficar parados, sentados olhando para a frente, sem nada para fazer? Não conseguem! Aí ainda se escutam coisas do tipo “gente, eu não quero que vocês sejam robôs, perfeitinhos, que ficam aí parados só olhando para mim e reproduzindo o que eu peço. Mas vocês devem saber se comportar. Na sala de aula vocês devem ficar sentados e em silêncio. Conversem e brinquem na hora do intervalo”. Então quer dizer que as crianças não podem brincar dentro da sala de aula? Ela já ficou “tachada” como “local para transmitir conhecimentos de forma tradicional”. Percebi também que quando partia para uma atividade mais lúdica, que os fazia levantar, dançar, se movimentar, alguns não gostavam de participar. Não sabiam como fazer. Muitas vezes a seriedade com que o ensino é tratado pelos professores pode prejudicar/bloquear o processo de aprendizagem de alguns alunos.

O lúdico é uma ferramenta de grande importância nas salas de aula, não apenas da Educação Infantil como também dos anos iniciais, e algumas dessas práticas docentes descartam esse valioso recurso. Isso não quer dizer que o aluno não irá aprender por estar brincando, mas sim que o aluno irá aprender com o auxílio da brincadeira. Uma brincadeira direcionada, com objetivos a serem alcançados, facilitando assim a assimilação dos conteúdos e desenvolvimento da aprendizagem de forma prazerosa, sem aquele peso que muitas vezes inibe os alunos de participarem de forma ativa nas aulas.

Por que temos que estar sempre na posição de detentores do saber? E por que não na posição de aprendiz também? Devemos assumir e ser humildes para dizer que aprendemos muito; isso não é vergonhoso, pelo contrário. Quando sentimos o nosso “eu” aflorado esquecemo-nos de aprender e sentimos mais a necessidade de melhorar quando nos avaliamos primeiro, antes de tentar avaliar o outro, e com isso é possível perceber que talvez tenhamos cometido o mesmo erro no passado e que agora reconhecemos nossas limitações. Nós estamos passando por um processo longo e contínuo que a cada dia mais abre as portas do nosso entendimento para que possamos aprender mais de acordo com as experiências adquiridas, que nos servem de bagagem para continuar essa longa jornada do saber.
Segundo Ribas e Queiroz et al. (2012),

o professor, como principal responsável pela organização das situações de aprendizagem, deve saber o valor da brincadeira para o desenvolvimento do aluno. Cabe a ele oferecer um espaço que mescle brincadeira com as aulas cotidianas, um ambiente favorável à aprendizagem escolar e que proporcione alegria, prazer, movimento e solidariedade no ato de brincar.

O professor, sendo o mediador da aprendizagem entre os alunos, deve sempre estar atualizado, com novas metodologias ativas, brincadeiras, para que suas crianças possam desfrutar de todos os momentos, espaços e vivências que lhe são necessários na infância para que cresçam como educandos atuantes, ativos, críticos e reflexivos, participativos, com autonomia e capazes de enfrentar desafios.

Considerações finais

Os estágios supervisionados, não só o II, tratado aqui, são de suma importância para quem está iniciando o processo de experiência na prática. Deve, desse modo, ser ofertado no início da graduação, pois muitas pessoas percebem se querem, de fato, seguir na docência graças a essas experiências. É a partir daí que se sabe qual caminho trilhar, se está apto para seguir com a docência. Sabemos que não é fácil, mas, se é a nossa escolha, vale a pena enfrentar os desafios e lutar por uma educação de qualidade.

O educador não precisa ensinar a criança a brincar, pois esse é um ato que acontece espontaneamente, mas sim planejar e organizar situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada, propiciando às crianças a possibilidade de escolher os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar. Dessa maneira, poderão elaborar de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais (RCNEI, 1998, p. 29).

O professor, como mediador da aprendizagem, deve fazer uso de novas metodologias, procurando sempre incluir na sua prática as brincadeiras, pois seu objetivo é formar educandos atuantes, reflexivos, participativos, autônomos, críticos, dinâmicos e capazes de enfrentar desafios. Para que se obtenha, assim como obtive no meu Estágio Supervisionado II, resultados positivos da minha prática docente iniciante, a respeito das relações que construí (professor-aluno), das conquistas dos estudantes em alcançar novos saberes a partir de metodologias ativas e diferentes. E que, nós, iniciantes nessa carreira da docência, não possamos perder de vista o nosso dever para com as nossas crianças nem o nosso amor pela nossa profissão.

Referências

ALMEIDA, Ana Maria Bezerra de. Dialogando com a escola: reflexões do estágio e da ação docente nos cursos de formação de professores. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2004.

FRANCO, Maria Amélia. Pedagogia como Ciência da Educação. Campinas: Papirus, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2004.

RIBAS, Adriana Tressa; QUEIROZ, Alessandra Cristina Silva de. O brincar em sala de aula a partir da perspectiva do professor. Disponível em: https://bit.ly/2JgeKIQ

SOUZA, Jânua; BONELA, Luciane. A importância do estágio supervisionado na formação do profissional de Educação Física: uma visão docente e discente. Movimentum - Revista Digital de Educação Física, Ipatinga, v. 2, nº 2, ago./dez. 2007.

Publicado em 10 de dezembro de 2019

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Cynara da Costa. Uma perspectiva sobre metodologias e práticas docentes vistas por uma aluna de pedagogia através do estágio supervisionado. Revista Educação Pública, v. 19, nº 33, 10 de dezembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/33/uma-perspectiva-sobre-metodologias-e-praticas-docentes-vistas-por-uma-aluna-de-pedagogia-no-estagio-supervisionado

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