História, música e o processo de aprendizagem
Lyjane Queiroz Lucena Chaves
Mestranda em Educação (UERR), especialista no Ensino de Língua Portuguesa e Literatura (UERR) e no Ensino de História e Geografia (Faculdade Claretiano), licenciada em História (UFRR)
A música está presente no nosso dia a dia; todo mundo tem uma música preferida. A música traz em si um contexto, uma mensagem; logo, nada mais interessante do que utilizá-la para firmar a consciência histórica em sala de aula. O objetivo de trabalhar com música no ensino de História é a compreensão do contexto. Por meio deste trabalho, percebe-se como a música pode ser um excelente recurso didático para o ensino de História.
O uso de músicas é uma ferramenta riquíssima nas mãos de quem tem habilidade e domínio (no caso, o professor) e até mesmo do aluno. Nas aulas de História é simplesmente um recurso extraordinário, pois ajuda o aluno a assimilar com maior facilidade os objetivos de determinado assunto. Para o professor, a música serve como complemento e pode ser trabalhada em várias formas de atividade com os alunos.
Neste trabalho, será apresentado um trabalho com música, incluindo os recursos, o cuidado que o professor deve tomar na escolha da canção – uma vez que o linguajar deverá ser de acordo com a série e estabelecido o contexto – e posteriormente uma atividade para o aluno em relação a música escolhida.
A metodologia será baseada no livro História e Música, de Marcos Napolitano (de 2002), em Ensino de História: fundamentos e métodos, de Bittencourt (de 2011), e no livro Ensino de História: coleção ideias em ação, de Kátia Abud (de 2010).
Marcos Napolitano sintetiza a relação da História com a música, além da relação do historiador com a música. Napolitano foca principalmente na música brasileira, que proporciona tanta diversificação étnica, cultural, linguística e até mesmo política. Ele afirma:
A música brasileira forma um enorme e rico patrimônio histórico e cultural, uma das nossas grandes contribuições para a cultura da humanidade. Antes de inventarem a palavra “globalização”, nossa música já era globalizada. Antes de inventarem o termo “multiculturalismo”, nossas canções já falavam de todas as culturas, todos os mundos que formam os brasis. Antes de existir o “primeiro mundo”, já éramos musicalmente modernos. Além disso, nossa música foi o território de encontros e fusões entre o local, o nacional e o cosmopolita; entre a diversão, a política e a arte; entre o batuque mais ancestral e a poesia mais culta. Por tudo isso, a música no Brasil é coisa para ser levada muito a sério (Napolitano, 2002, p. 109).
Napolitano quis destacar, com isso, a importância da música popular brasileira no ensino de História, em que serve como documento histórico que proporciona não só o conhecimento da história da música, mas da História do Brasil; isso pode ser identificado também no seguinte trecho:
Procurei mostrar como a música, no caso específico do Brasil, foi um ponto de fusão importante para os diversos valores culturais, estéticos e ideológicos que formam o grande mosaico chamado “cultura brasileira”. Ponto de encontro de etnias, religiões, ideologias, classes sociais, experiências diversas, ora complementares, ora conflitantes; a música no Brasil foi mais que um veículo neutro de ideias. Ela forneceu os meios, as linguagens, os circuitos pelos quais os vários brasis se comunicaram (Napolitano, 2002, p. 110).
Esse autor fala da qualidade de trabalhar com a música, em virtude do que ela traz, em virtude da sua mensagem. Selecionamos a paródia de Luar do Sertão, chamada de Revolução Industrial, de autor desconhecido. A paródia relata o processo da Revolução Industrial: onde surgiu, a classe operária e a classe dominante, além do sofrimento dos operários, sejam crianças, homens e mulheres. É isto que Napolitano (2002) quer mostrar: é possível dar uma aula com música, devido ao seu rico conteúdo. Podemos encontrar música dos mais variados assuntos.
Além da importância que tem a música, Napolitano (2002) cita a função do historiador em relação à música. Ele diz que, nas músicas e nos consumidores musicais, há características históricas, sociológicas, linguísticas, comunicacionais, enfim, multidisciplinaridade; cabe ao historiador trabalhar com esses estilos, se relacionar com várias disciplinas; o mesmo se dá com o músico, o autor de determinada música.
Abud (2010), além de comentar a importância da música como recurso didático, fala da importância do professor em sala de aula, relacionando à música. Ela cita:
Cabe ao professor, antes de transmitir sua própria cultura musical (no caso, relacionada ao conhecimento histórico), pesquisar o universo musical ao qual o jovem pertence e, daí, encorajar atividades relacionadas com a descoberta e a construção de novas formas de conhecimento por meio da música (Abud, 2010, p. 61).
Este trabalho é voltado aos alunos do Ensino Fundamental; sendo assim, foi escolhida a paródia de Luar do Sertão, de autoria desconhecida. Ela possui linguajar acessível, além de fácil interpretação, além de trazer todo um conteúdo de maneira simples. O recurso a ser utilizado é um vídeo da paródia que traz imagens da época da Revolução Industrial, o que permite ao aluno assimilar a letra da música com a explicação dada pelo professor em sala de aula.
Antes de começar a música, o professor deve fazer uma introdução sobre o assunto de que trata a música e entregar aos alunos a letra da música para que eles possam acompanhar, a fim de realizar uma análise posterior.
Depois da análise da música, seria interessante o professor utilizá-la para algumas atividades, já que ela propõe uma diversificação de atividades; ao longo deste trabalho pudemos analisar algumas delas:
- Pedir ao aluno para interpretar alguns trechos da música;
- Procurar significado das palavras desconhecidas;
- Listar características importantes do conteúdo inseridos na melodia;
- Reconhecer o contexto social e/ou político após sua leitura e explicação;
- Formar grupos para um jogo de quiz, de perguntas e respostas;
- Propor debates;
- Pedir ao aluno que mencione curiosidades sobre o contexto que a música traz.
Análise
Luar do Sertão / Revolução Industrial
Artesanato foi embora e hoje é só a indústria que vigora.
Eu sei que o povo que trabalha sempre chora
De ter tanta exploração, sofrimento.
Esse trecho fala do aparecimento da Revolução Industrial; o artesanato era uma das etapas desse processo. As indústrias, as máquinas chegaram e dominaram, colocando em extinção o artesanato; não se precisa mais da mão de obra, a máquina praticamente faz tudo. A classe operária na época sofria muito em virtude das altas horas de trabalho, sem descanso, salários baixíssimos, em que até mulheres e crianças faziam o trabalho braçal.
A Inglaterra foi o berço da indústria
Porque lá a burguesia conseguiu acumular.
O proletário já nasceu sofrendo muito:
Trabalhar de sol a sol, só para poder se alimentar.
Foi na Inglaterra que começou a Revolução Industrial, devido a diversos fatores, como a acumulação do capital e o domínio sobre as rotas oceânicas. O proletário já nasceu sofrido, pois teve que vender sua mão de obra a preço baixo, uma vez que só quem tinha o poder nas máquinas eram os acumuladores de riqueza, além dos pequenos agricultores, que, devido ao cercamento, foram expulsos de suas terras, vindo para as cidades trabalhar nas fábricas.
Não sou, ô gente, ô não.
Dono dos meios de produção.
A análise desta parte é bem simples: dá a entender que é a classe operária gritando, dizendo que não é dona da produção, são apenas “escravos”, trabalhando duro para os outros (burguesia) acumularem mais capital.
Conclusão
O principal objetivo deste trabalho foi discutir a rica importância da música no ensino de História. Tal objetivo está descrito nas palavras de Katia Abud:
Outro aspecto fundamental na relação entre História, música e o processo de aprendizagem é a articulação entre texto e contexto para que a análise histórica não seja reduzida, limitando, assim, a própria importância do objeto analisado. O grande desafio do pesquisador é mapear os sentidos embutidos numa obra musical, bem como suas formas de inserção na sociedade e na história (Abud, 2010, p. 61-62).
A função desse recurso didático é estimular os alunos quanto ao passado, dar um incentivo para eles irem buscar a compreensão, e o melhor de tudo: estabelecer uma ligação entre a cultura e a linguagem musical. Napolitano, citado neste trabalho, quis mostrar a diversidade na música para todos os estilos, todas as culturas, para variados assuntos. Ou seja, o professor e/ou historiador pode usar a música como excelente complemento. Abud comenta muito a relação do professor com a música. O professor deve verificar o conteúdo da música antes de trabalhá-la em sala de aula.
Kátia Abud traz uma sinopse, em seu livro Ensino de História, que fechará este artigo, pois aborda tudo o que queremos tratar sobre a música e em que sentido as representações históricas, ou melhor, as conclusões dos alunos podem nos ajudar:
podem ajudar na construção do conhecimento histórico ao propiciar a identificação dos diferentes significados dos elementos definitivos e provisórios contidos nessas representações. Estas podem ser compreendidas e trabalhadas de maneira diagnóstica pelo professor por meio da linguagem musical e, assim, se transformar numa ponte entre a realidade atual e o passado histórico de forma a reafirmar a ideia da História como processo em constante transformação baseado na representação do presente (Abud, 2010, p. 77).
Referências
ABUD, Katia. Ensino de História – coleção ideias em ação. São Paulo: Cengage CTP, 2010.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
NAPOLITANO, Marcos. História e música – história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
Publicado em 17 de dezembro de 2019
Como citar este artigo (ABNT)
CHAVES, Lyjane Queiroz Lucena. História, música e o processo de aprendizagem. Revista Educação Pública, v. 19, nº 34, 17 de dezembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/34/historia-musica-e-o-processo-de-aprendizagem
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