Tintas naturais como proposta de atividade de Educação Ambiental, Ciência e Artes

Juliene Lemos Saback

Pós-graduanda em Educação e Divulgação Científica (IFRJ), licenciada em Letras – Português/Inglês (UCB), licencianda em Geografia (UERJ)

É consenso mundial que a Educação Ambiental se torna cada vez mais importante para ser trabalhada em vários níveis e setores da sociedade, como escolas, museus, universidades, parques, empresas e tantos outros locais de educação formal ou não formal. A necessidade de abordar as questões ambientais se mostra então indispensável, tendo em vista todo desgaste e degradação ambiental que vêm ocorrendo no planeta.

A Educação Ambiental assume papel primordial na construção de um senso de responsabilidade dos indivíduos perante suas ações no dia a dia, assim como de analisar e refletir não apenas o seu papel na sociedade, mas também dos demais atores que a compõem, como empresas e o governo. Trata-se, portanto, de uma discussão de ordem socioambiental que envolve questões políticas, sociais, econômicas e ambientais.

É importante pensar em uma educação que proponha o desenvolvimento de processos que possibilitem o senso de respeito à diversidade biológica, cultural, étnica, concomitantemente ao fortalecimento da sociedade e com a reconsideração dos modelos de utilização dos recursos naturais, além das relações dos seres humanos com o meio ambiente (Silva; Trajber, 2007).

A Educação Ambiental vem sendo fundamental na sensibilização da população, por promover o debate acerca dos impactos ambientais que têm ocorrido com cada vez mais frequência, como a “poluição atmosférica e dos recursos hídricos, erosão do solo, queimadas, desmatamentos, perda da biodiversidade, enchentes e inundações, problemas sociais etc.” (Capeche, 2010, p. 7).

Dessa forma, realizar uma atividade de Ciências, Artes e meio ambiente pode ser um fator positivo para alcançar a sensibilização ambiental. A utilização do solo, por exemplo, pode ser um ponto pertinente para a promoção dessa sensibilização, pois o contato com um recurso natural é de grande valia para a percepção do quanto a natureza está próxima de nós.

Educação Ambiental através da arte

A arte é uma forma de expressão das mais antigas da humanidade e, desde a Pré-História, já ocorria com pinturas em cavernas espalhadas pelo mundo, como forma de contar os acontecimentos, as vivências e culturas, por exemplo. Era comum a tentativa do homem de captar a natureza e suas formas, reproduzindo-as nas rochas.

É possível perceber a arte e a natureza integrados pelos registros rupestres, que são conjuntos de imagens reproduzidas nas rochas de cavernas, grutas ou mesmo ao ar livre. Podem ocorrer mediante dois tipos de técnicas: o gravado, que acontece através da remoção ou abertura na rocha, e o pintado, com a utilização de pigmentos.

Pinturas artísticas podem ser produzidas por meio de processos químicos ou por meios naturais, que seriam formas mais sustentáveis de utilização de tintas para pinturas, empregando pigmentos. Essas tintas naturais podem ser fabricadas facilmente com a utilização de produtos tais quais temperos ou até mesmo com cores diferentes de solo.

O solo é elemento integrador do ambiente e vem apresentando degradação crescente em todo o mundo, por conta do uso descontrolado, que ocorre muitas vezes por falta de conhecimento de suas características, função e importância na natureza (Carvalho et al., 2007).

Pensar em atividades que proporcionem o contato das pessoas com o solo pode ser uma estratégia positiva para o desenvolvimento de novos saberes que possam contribuir para uma visão mais ampla do uso e da preservação do solo.

Assim, a utilização dos mais variados tipos e colorações de solo para atividades de pintura pode gerar maior estímulo para o ensino de solos, assim como aprimorar a criatividade e contribuir para a alfabetização ecológica, impactando positivamente o processo de desenvolvimento sustentável.

Aliás, é possível ser sustentável nas atitudes diárias, não importa o lugar em que se vive. A Educação Ambiental é o facilitador desse processo de entendimento da sustentabilidade, que busca o equilíbrio entre o social, o econômico e o ambiental. Atividades como as de Ciências e Artes podem ser um facilitador para que essa informação seja passada, pois podem influenciar diretamente a percepção dos indivíduos sobre a importância dos recursos naturais.

Objetivo

O objetivo deste trabalho é contribuir para a sensibilização ambiental de crianças, jovens e adultos pela utilização de técnicas artísticas, para que a partir delas seja possível verificar as seguintes questões, de acordo com os objetivos específicos abaixo enumerados:

  • Verificar a percepção dos indivíduos em relação ao uso da Arte nas práticas de Educação Ambiental;
  • Analisar se a utilização dos recursos naturais (solo) cumpre o papel de fonte de sensibilização ambiental.

Metodologia

A metodologia compreende uma oficina prática de uso do solo no preparo de tinta, a ser utilizada em atividades de pintura em tecido, parede ou papel, para público geral. De acordo com Capeche (2010), a oficina pode ser desenvolvida por meio de atividades lúdicas e educativas, tanto em sala de aula durante aulas de Artes Ciências ou Geografia como em eventos como feiras de Ciências, ações sociais e de cidadania, além de datas comemorativas, como Dia do Meio Ambiente, Dia da Terra, Dia da Água, Dia da Árvore e Dia do Índio, entre outros.

Serão apresentados aos participantes da atividade tipos de solos diferentes, com texturas e cores também distintos uns dos outros, informando como esses solos são formados na natureza, o porquê de sua coloração e de sua textura. É interessante também abordar questões sobre as interações do solo com a água e com os demais agentes que estão presentes nele, além de sua utilidade socioambiental. Após a explicação, será tratada a utilização dos solos para a produção artística.

A partir disso, será iniciado o preparo da tinta, que é um processo bem simples e envolve a mistura de solo peneirado, água e cola branca. A quantidade de ingredientes pode variar um pouco em função da textura do solo, o qual pode requerer o uso de mais ou menos água para a completa solubilização, sendo em geral duas partes de solo peneirado, duas partes de água e uma parte de cola branca, como sugere Capeche (2010). Solos mais argilosos podem vir a precisar de mais água; os de textura média, um pouco menos. Assim, os conceitos de várias áreas das Ciências poderão ser relacionados para explicar questões de solubilidade e granulometria, entre outros.

Com as tintas prontas, os participantes da atividade podem realizar pinturas artísticas em papéis, telas e outros objetos passíveis de serem pintados, além de haver a possibilidade de utilizar as tintas em pinturas de paredes e móveis.


Figura 1: Pinturas feitas com tinta produzida com solo

Resultados esperados

A partir da realização dessa atividade, espera-se que os participantes tenham maior entendimento e compreensão da importância dos recursos naturais e que percebam que nós, seres humanos, também fazemos parte do meio ambiente e que as ações que realizamos no dia a dia impactam diretamente nossas vidas.

Assim, a oficina de arte com uso do solo pode ser um fator de motivação para que os participantes mudem seus hábitos, a fim de melhorar suas práticas com relação à preservação do meio ambiente e possibilitar uma análise mais crítica acerca de como o homem vem utilizando o solo.

Referências bibliográficas

A evolução histórica da arte e o processo de regulamentação jurídica do trabalho artístico. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=d736bb10d83a904a. Acesso em: 14 jul. 2019.

Arte rupestre. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/VERBETE%20ARTE%20RUPESTRE%20-%20pronto%20pdf.pdf. Acesso em: 14 maio 2019.

CAPECHE, C. L. Educação ambiental tendo o solo como material didático: pintura com tinta de solo e colagem de solo sobre superfícies. Rio de Janeiro: Embrapa, 2010.

CARVALHO, A. F.; HONÓRIO, L. de M.; ALMEIDA, M. R. de; SANTOS, P. C. dos; QUIRINO, P. E. Cores da Terra: fazendo tinta com terra. Universidade Federal de Viçosa. Programa Teia/Programa Cores da Terra. Viçosa, 2007.

MELLO, S. S.; TRAJBER, R. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em Educação Ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental; Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental; Unesco, 2007.

SOUSA, T. T. C.; SOUSA, M. H. C.; SOUSA, M. M. S. P.; VITAL, A. F. M.; PEREIRA, J. W. Pintura com tinta de terra: o lúdico como proposta educativa nas aulas de Geografia e Ciências. CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2014.

Publicado em 17 de dezembro de 2019

Como citar este artigo (ABNT)

SABACK, Juliene Lemos. Tintas naturais como proposta de atividade de Educação Ambiental, Ciência e Artes. Revista Educação Pública, v. 19, nº 34, 17 de dezembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/34/tintas-naturais-como-proposta-de-atividade-de-educacao-ambiental-ciencia-e-artes

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