Riquezas e curió(sidades) de Paracambi

Maria Cleonice Florencio Pinto

Professora da Escola Municipal Prefeito Hélio Ferreira da Silva, Paracambi/RJ

Alice Neves Conceição

Aluna da Escola Municipal Prefeito Hélio Ferreira da Silva, Paracambi/RJ

Ana Letícia de O. Marioti

Aluna da Escola Municipal Prefeito Hélio Ferreira da Silva, Paracambi/RJ

Nicole Cristini Soares da Silva

Aluna da Escola Municipal Prefeito Hélio Ferreira da Silva, Paracambi/RJ

O Parque Natural Municipal do Curió (PNMC) em Paracambi é um fragmento da Mata Atlântica; foi criado em 2009 e ocupa 913 hectares (ITPA, 2010). Ainda que seja bastante significativo, os moradores da cidade pouco conhecem os recursos naturais abrangidos nessa unidade de conservação. Infelizmente, a flora, a fauna, rios e águas subterrâneas sofrem ação antrópica negativa, seja por caça e retirada ilegal de espécimes, seja por incêndio e poluição direta na vegetação, nos rios e no entorno.

Próximo ao PNMC, as regiões são constantemente desmatadas para implantação de pastagens e agricultura, o que acaba causando perturbação à conservação da natureza, com os mananciais completamente comprometidos; concomitantemente a isso, ocorre ameaça à perda da biodiversidade.

Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), compreende-se como recursos biológicos “os recursos genéticos, organismos ou partes destes […] com potencial utilidade ou valor para a humanidade” (MMA, 2000). Os recursos biológicos alocados no PNMC são muitos. Porém existem poucos registros; a maioria deles é identificada em monografias de TCC de universitários do Rio de Janeiro. Numa entrevista cedida pela atual gestora do PNMC, a senhora Adriane confirmou que ainda não foi criado um herbário com identificação da coleção de plantas encontradas no local nem um catálogo listando as espécies de animais e fungos. O PNMC está inserido na bacia hidrográfica do Guandu. Por isso, existe necessidade de reconhecer seus recursos biológicos, pois são essenciais para a manutenção das características que mantêm o fluxo de rios que participam do abastecimento de água para a população do Rio de Janeiro.

Segundo a Agenda 2030 proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), para transformar a realidade percebida pela desigualdade em vários âmbitos (de gênero, social, econômica e muitas outras), é preciso que haja ações colaborativas, desde o muito grande – governos –, ao muito pequeno – o cidadão comum. Dessa forma, as propostas desse projeto objetivam não deixar ninguém para trás, reconhecendo que o potencial do PNMC pode e deve fazer parte do desenvolvimento econômico da região de forma sustentável e harmônica, procurando atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas.

A cultura popular e o conhecimento empírico passado por gerações, como uso de chás medicinais, devem ser mantidos e divulgados. As plantas utilizadas podem ter seus princípios ativos isolados em laboratório e utilizados na produção de fármacos, por exemplo. Com isso, novos negócios podem ser promovidos, como implementação de cooperativa que faça o cultivo de plantas e sementes e a venda desses produtos para os laboratórios farmacêuticos; capacitação de mulheres na identificação botânica, visto que, por questão cultural, são as que mais conhecem as plantas e ervas medicinais; capacitação de mão de obra técnica no uso de plantas em paisagem de áreas urbanas e jardins. Enfim, são diversas alternativas propiciadas pelas riquezas do Curió.

Objetivos

Desenvolver estratégias que envolvam a comunidade para o reconhecimento e valorização dos recursos naturais do PNMC para que sejam utilizados na criação e elaboração de programas com geração de renda de forma sustentável.

Levantamento da área geográfica do PNMC; investigação de grupos de plantas, animais e fungos através de busca na internet; criar um blog para divulgação dos recursos naturais do PNMC; elaborar um protótipo de herbário utilizando exsicata.

Materiais e métodos

Foi feita uma entrevista na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Paracambi, com a diretora de gestão ambiental, Adriane S. Pereira que forneceu informações sobre a área, dados relevantes e imagens armazenadas na Secretaria.

As pesquisas na internet foram feitas pelas alunas, com base em descrições realizadas por pesquisadores do PNMC em atividades como escrita de monografias, e no site do ITPA.

As alunas arquivaram imagens e entrevistas para que as sessões ficassem atrativas aos visitantes, especialmente para o catálogo virtual de animais e fungos, além de imagens de ações antrópicas (poluição) e um herbário virtual.

Resultados e discussão

O projeto foi apresentado na Feira Municipal de Ciências, Tecnologia e Inovação (Femucti) e na Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro (Fecti). As alunas se mostraram entusiasmadas pela organização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Paracambi e com a possibilidade de fazerem parte da construção de um material que contribua para o desenvolvimento econômico da cidade. Com a busca na internet e as imagens cedidas por amigos (Figuras 2, 3 e 4), espera-se que haja envolvimento ativo no blog por parte de alunos da escola, professores, pessoas da comunidade e até pesquisadores.

Acredita-se que o projeto alcance investidores financeiros e componentes sociais para implementação de cooperativas trabalhistas com auxílio de orientação acadêmica e, com isso, contribuir para o desenvolvimento econômico e sustentável da região, para a conservação do parque e redução das desigualdades.


Figura 1: Alunas visitando a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Paracambi
Fonte: Arquivo pessoal.

Figuras 2, 3 e 4: Foto da ave que deu o nome ao parque, Oryzoborus angolensis. Curió significa “amigo do homem”; réptil (cobra) sem identificação; fungos sem identificação

Fonte: Disponível em: http://www.itpa.org.br/?page_id=474. Figuras 3 e 4 retiradas no interior do PNMC; arquivo pessoal.

Conclusões

Diante das propostas listadas pela ONU em seu documento Agenda 2030 e os objetivos de desenvolvimento sustentável especificados como metas a serem trabalhadas pelas sociedades, percebe-se que este projeto, utilizando a educomunicação como estratégia no reconhecimento dos recursos naturais e para sua preservação, é de extrema relevância para envolver a sociedade que busca viver com qualidade e igualdade em seus direitos e benefícios, dando ênfase ao ODS 10: Redução das desigualdades.

A distribuição de renda numa comunidade pode ter seu processo respeitando a natureza, resgatando culturas populares e estimulando a participação de todos, do “muito grande ao muito pequeno”. Acreditamos que este projeto atende aos requisitos da Agenda 2030 e atinge as gerações futuras, ainda que não saibam, que aguardam da atual o reconhecimento de que sem natureza não há vida.

Referências

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental. Programa Nacional de Educação Ambiental. Educomunicação socioambiental: comunicação popular e educação. Org.: Francisco de Assis Morais da Costa. Brasília: MMA, 2008.

INCT. Herbário Virtual da Flora e dos Fungos – Reflora e o serviço Exsicatae: imagens de espécimes on-line. Disponível em: http://inct.florabrasil.net/net/inct-herb. Acesso em: 16 jul. 2018.

ITPA – INSTITUTO TERRA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL; SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE DE PARACAMBI. Plano de manejo do Parque Natural Municipal do Curió de Paracambi. Prefeitura Municipal de Paracambi, 2010.

PIMENTEL, C. A relação da planta com a água. Seropédica: Edur/UFRRJ, 2004.

Publicado em 12 de março de 2019

Como citar este artigo (ABNT)

PINTO, Maria Cleonice Florencio; CONCEIÇÃO, Alice Neves; MARIOTI, Ana Letícia de O.; SILVA, Nicole Cristini Soares da. Riquezas e curió(sidades) de Paracambi. Revista Educação Pública, v. 19, nº 5, 12 de março de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/5/riquezas-e-curiosidades-de-paracambi

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.