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Aquecimento global: o alarme está acionado

Karla Hansen

Jornalista

Comentar o tempo, reclamar do verão que não houve, do calor exagerado fora de hora ou da chuva intermitente é coisa corriqueira entre nós, desde os antigos. O clima é algo que nos afeta, mas escapa de nosso controle. E o máximo que fazemos é olhar o céu, reclamar, lamentar ou acompanhar as previsões do tempo nos noticiários de TV. Isso se não somos trabalhadores da agricultura ou desempenhamos outra atividade que dependa do clima, ou ainda, quando não somos nós as vítimas de enchentes, de desabamentos ou da seca. E, mesmo nestes casos, os desastres naturais são entendidos, quase sempre, como condenação divina ou acasos da natureza.

Também para a ciência da climatologia e para os institutos de meteorologia, o clima é uma matéria instável e complexa com a qual não se lida com o domínio de certezas absolutas, mas com previsões, baseadas em estudos e observação. Só que, para os pesquisadores, a ocorrência de verões mais quentes, invernos mais frios, enchentes etc., em todo o mundo, não têm nada de casual ou de vingança dos deuses. Mas reflete, sim, os resultados de um acelerado aquecimento da atmosfera, causado pela queima de combustíveis fósseis, que está alterando, radicalmente, o clima na Terra.

As consequências dessa alteração climática já se fazem notar e estudos recentes mostram um panorama catastrófico, que pode se tornar realidade em pouco mais de dez anos e custar milhões de vidas. Isso mesmo, dez anos. Já não se fala mais no futuro das novas gerações, de nossos filhos, netos e bisnetos, mas de nossa própria sobrevivência nos próximos 10 a 20 anos. A luz vermelha já está acesa.

As notícias sobre os efeitos do aquecimento global não são novas, mas ganharam um tom especialmente dramático no último mês, quando a revista norte-americana Fortune, especializada em negócios, publicou um estudo do Pentágono sobre as estratégias para proteger os Estados Unidos de um futuro colapso planetário. Tal catástrofe se resumiria, em linhas gerais, ao congelamento de toda a Europa, à desertificação do México, Caribe e toda a América do Sul, à extinção de mais da metade de todas as espécies de animais existentes hoje, entre outras previsões do inferno em que se transformaria o mundo.

"Climate Collapse, The Pentagon's Weather Nigthmare" ("Colapso Climático, o Pesadelo do Pentágono") - é dessa maneira que a revista apresenta o estudo do Pentágono, segundo o qual os Estados Unidos criariam uma fortaleza antiimigrantes desesperados, sobreviventes da catástrofe ambiental e dos conflitos internacionais gerados pela fome, pela falta de água e de recursos naturais.

Além da Fortune, o tema foi matéria na revista britânica The Observer, a partir da qual ganhou repercussão mundial e povoou os blogs e sites especializados em meio ambiente. Aqui, no Brasil, o porta-voz da notícia foi o jornalista Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa, que escreveu um ótimo artigo na revista Carta Capital, em que analisa os artigos das revistas estrangeiras e os aspectos políticos implícitos na estratégia do Pentágono de salvaguardar os Estados Unidos dos efeitos nefastos do aquecimento global para toda a humanidade.

Em seu artigo, o jornalista explica que o Pentágono estaria trabalhando com a possibilidade "bem real" de estarmos muito perto de um limiar crítico a partir do qual o clima pode virar repentinamente, em menos de uma década. A hipótese seria resultado do derretimento, já visível, das geleiras do Ártico.

"A água doce assim libertada, juntamente com a chuva intensificada pelo aquecimento global, vai se misturar à Corrente do Golfo e reduzir sua salinidade e densidade. A corrente, hoje submarina, seria retida na superfície e perderia seu ímpeto. Isso travaria a 'correia transportadora' que conduz calor do Caribe para a Europa Ocidental e a torna muito mais habitável do que paragens igualmente setentrionais no Canadá, nos EUA e na Rússia (a latitude da Holanda e das Ilhas Britânicas é comparável à do Labrador canadense e da Kamchatka siberiana). Icebergs chegariam à costa de Portugal e a Europa congelaria. Em 2020, a temperatura média já teria caído 3 graus na maior parte do Hemisfério Norte.

Os peixes abandonariam as atuais zonas pesqueiras em busca de águas mais aprazíveis. Na terra ou no mar, espécies incapazes de migrar se extinguiriam (9% a 58% de todas as espécies animais hoje existentes, segundo diferentes hipóteses).

Ao mesmo tempo, a temperatura do resto do mundo subiria e os padrões de chuvas e secas seriam alterados em várias partes do planeta, provocando estiagens e inundações, difundindo para outras partes doenças hoje restritas aos trópicos e agravando os conflitos internacionais, principal razão do interesse do Pentágono no tema".

Pesadelo? Sem dúvida, mas um pesadelo real. Ainda que o cenário apresentado pelo estudo seja assustador, ele não pode ser chamado de exagerado, pois coincide com fontes científicas confiáveis, como se pode conferir na lista de sites que o jornalista indica em seu artigo.

"Uma rã colocada em água quente salta imediatamente para fora, mas colocada em uma panela de água fria sobre um fogo que eleve sua temperatura pouco a pouco, a mesma rã nada tranquilamente até morrer cozida". Dessa maneira, o jornalista brasileiro acusa a indiferença da sociedade civil, em especial da mídia norte-americana, diante do panorama ambiental que nos espera logo ali na esquina.

Com o sinal de alarme acionado, cabe pensar se há tempo ou o que pode ainda ser feito para evitar que o pior aconteça. O certo é que já não podemos mais, como os antigos, olhar para o céu inocentemente, sem vislumbrar a chegada de nuvens carregadas para o futuro próximo da humanidade.

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Publicado em 31 de dezembro de 2005

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