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Giz ou gis na sala de aula? A utilização de sistemas de informação geográfica no ensino médio.

Janaína Eliza Fadel

Mestre em Geomática pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

1. Introdução

O título deste texto é uma brincadeira feita a partir da observações de pessoas que, geralmente, não conhecem o significado da sigla GIS, e quando se deparam com algum material produzido pelas técnicas da geomática (Ciência e tecnologia para obtenção, análise, interpretação, distribuição e uso da informação espacial.), tendem a trocar os nomes. Na verdade, GIS é a sigla, em inglês, do que chamamos de Sistema de Informação Geográfica (SIG). Existe alguma controvérsia no mundo acadêmico em relação à tradução do termo; muitos estudiosos utilizam a denominação Sistemas Geográficos de Informação (SGI) em detrimento do SIG. O texto se refere à utilização deste tipo de ferramenta no Ensino da Geografia. A atividade que será proposta é recomendada para alunos do Ensino Médio, dada à necessidade de realização de trabalho de campo, para o levantamento sobre algumas variáveis de uma área a ser determinada para o estudo.

O professor divide a turma em grupos, escolhe uma área de estudo e um tipo de variável.

Neste texto, a variável adotada foi a escola; foi feito o levantamento de todas as escolas situadas no bairro do Grajaú, localizado na Zona Norte do município do Rio de Janeiro. Relaciona-se, em seguida, a inserção de pontos no ArcView (software da família ESRI, utilizado para elaboração de mapas em meio digital), que indicarão a localização das escolas ao adicionar o tema referente à mesma. Ao clicarmos em qualquer ponto será visualizada uma tabela contendo todas as informações disponíveis sobre a referida escola. Também poderão ser fotografadas algumas das escolas; a utilização do "scanner" nas fotografias permitirá que as mesmas sejam convertidas em uma imagem em algum formato compatível ao "software" em questão.

2. Objetivos

Objetivo Geral:

Apontar alternativas para o Ensino de Geografia, levando-se em conta que vivemos na Era da Informação e das Tecnologias de Ponta.

Objetivo Específico do texto:

Analisar a distribuição espacial de alunos e professores das escolas do bairro do Grajaú que ofereçam o curso do último ano do ensino fundamental (8a. Série). Da mesma forma, pretende-se analisar a distribuição das escolas por nível de educação.

3. Metodologia

A partir deste item, serão abordados os passos para um possível trabalho em sala de aula com alunos do Ensino Médio. Todos estes passos referem-se à coleta, análise e à elaboração de um produto final (o mapa), tendo como variável as escolas do bairro do Grajaú, como já mencionado anteriormente. Mas vale ressaltar que a área de estudo, bem como a variável a ser estudada, poderá ser eleita pelo professor responsável pela elaboração da atividade, seguindo as orientações básicas, aqui direcionadas, para uma área de estudo específica.

3.1. Descrição das atividades

Uma das principais atividades desta pesquisa foi o trabalho de campo, mas a coleta de dados nas fontes de interesse, sua análise e conversão em mapas e gráficos também foram de fundamental importância para um resultado conclusivo.

Logo abaixo serão listados os passos que o professor deverá seguir com sua turma, para o levantamento de dados sobre sua área/variável de pesquisa. Lembrando-se, mais uma vez, que os exemplos são dados tendo por base o bairro do Grajaú e suas escolas.

  1. Levantamento de dados: o primeiro lugar visitado para o levantamento bibliográfico sobre a história do bairro do Grajaú foi a sede da IX Região Administrativa (R.A.) - Vila Isabel. Esta R.A. engloba os bairros do Andaraí, Grajaú, Maracanã e Vila Isabel. Na ocasião, aproveitou-se para pesquisar as escolas que constavam nos registros da referida Região Administrativa.
  2. Com esta listagem, criou-se uma tabela, contendo informações sobre endereço, telefone e nível de educação.
  3. Trabalho de campo no bairro para confirmar a existência das escolas e completar as informações de endereço.
  4. Definição de dados a serem pesquisados (alunos, professores, tipo de avaliação de cada escola etc.).
  5. Elaboração de formulário para preenchimento por parte das escolas.
  6. Visita às escolas do bairro que possuem turmas de  8ª série.
  7. Elaboração das tabelas para serem preenchidas com as informações prestadas pelas escolas.
  8. Preenchimento das tabelas com as informações obtidas através dos formulários.
  9. Elaboração e preenchimento de tabelas referentes ao número de alunos e professores nas ruas do bairro do Grajaú.
  10. Elaboração de projeto no ArcView.
  11. Elaboração de Layout: Mapa Municipal, Mapa da Área de Planejamento (AP-2), Mapa da Região Administrativa (R.A. IX-Vila Isabel), Mapa de arruamentos dos bairros da IX. R.A., Mapa da localização de cada escola pesquisada, Mapa da distribuição espacial de alunos e professores (por escola).

3.2. Elaboração dos Projetos no ArcView®

Quando é criado um projeto no "ArcView", este é composto por temas que são adicionados a uma "View" ou Vista. Cada projeto (".apr")pode possuir "n" vistas.

Dando prosseguimento ao levantamento de dados sobre a área de estudo, foram criados dois projetos para visualização final (através de mapas). Um mais direcionado ao bairro do Grajaú (escolas e arruamentos) e o outro direcionado aos níveis de visualização, partindo do todo às partes. Em outras palavras, localizando o bairro dentro do município do Rio de Janeiro até chegar ao nível da Região Administrativa.

No primeiro projeto denominado "escola.apr", a vista escola possui os temas: vias de circulação e escola. Este último foi criado por mim (pode ser criado pelos alunos). As demais vistas receberam o nome da escola a que estavam associadas, indicando se sua retratação era a da distribuição espacial de alunos ou professores. Desse modo, cada escola contou com duas vistas.

Em todas as vistas incluiu-se os temas mar (que indica a ocorrência do Oceano Atlântico ou da Baía de Guanabara) e bairro. Este último tema sofreu algumas edições em sua tabela.

Na tabela bairro, foram acrescentadas algumas colunas (atributos) que indicam a ocorrência ou não de cada evento num determinado bairro. Como exemplo, será citado o caso da E. M. Panamá. Os campos foram denominados de "Pan_prof"  (indicando quantos professores tem em cada bairro, de zero até um número "x" de professores) e "Pan_alun" (indicando quantos alunos tem em cada bairro, de zero até um número "x" de alunos).

Os bairros em que se tinha algum registro de ocorrência de alunos ou professores, receberam o valor correspondente, enquanto que aqueles sem registro receberam o valor zero (0 alunos ou 0 professores).

É importante ressaltar que caso não fosse incluído o valor zero e o campo fosse deixado em branco, ao se fazer a classificação pelo atributo sem o devido preenchimento, os bairros correspondentes não seriam visualizados.

No segundo projeto denominado "apra.apr", conta-se com três vistas. Na primeira (Município), os temas são: mar, bairro (com destaque para o bairro do Grajaú) e limite municipal. Na segunda (AP), os temas são: mar e bairro, que está classificado por áreas de planejamento. E na terceira (RA), tem-se apenas o tema bairro classificado por regiões administrativas.

Finalmente, para cada vista foi criado um "layout" (o mapa final). Este foi exportado sob a extensão "jpeg", gerando assim uma figura que, consequentemente, poderá ser incorporada ao texto do trabalho dos alunos.

4. Análise dos Mapas

O mapa é um instrumento fundamental não somente para a Geografia como para a utilização de qualquer pessoa que necessite se orientar. O ideal seria que todas as pessoas ao longo de sua vida escolar tivessem um estudo baseado na leitura e interpretação de mapas. Faz-se necessário uma alfabetização cartográfica desde as séries iniciais e o acompanhamento do ensino com mapas ao longo da vida escolar.

Saber interpretar um mapa é tão importante quanto saber ler, escrever e fazer contas. Infelizmente as pessoas só se dão conta desta necessidade quando viajam e não conseguem localizar a estrada em que estão, ou mesmo quando não conseguem localizar sua própria casa numa planta da cidade.

Tendo isto em vista, investiu-se na elaboração de mapas para localizar o bairro em vários níveis e espacializar alunos e professores.

4.1. Localizando o Bairro do Grajaú

O bairro do Grajaú localiza-se na zona norte do município do Rio de Janeiro, pertence à Área de Planejamento 2 (AP-2), está incluído na IX Região Administrativa e os bairros limítrofes são: Alto da Boa Vista, Andaraí, Engenho Novo, Jacarepaguá, Lins de Vasconcelos, Tijuca e Vila Isabel.


Figura 1 - Município do Rio de Janeiro e Localização do Bairro do Grajaú

Figura 2 AP-2 , com destaque para o bairro do Grajaú e seus vizinhos.

Figura 3 IX R.A. - Vila Isabel

4.2. Porcentagem das escolas por nível de educação

A maior concentração das trinta e sete escolas está no nível da Educação Infantil, com 52% do total. Somando os três tipos de níveis de escolaridade que englobam a educação infantil, a porcentagem aumenta, chegando a 91,89% (ver Gráfico 1). Isto corresponde aos níveis da educação infantil; educação infantil e ensino fundamental;  educação infantil, ensino fundamental e médio. O bairro conta apenas com quatro escolas com o ensino médio.


Gráfico 1 - Distribuição das escolas por nível de educação.

4.3. Distribuição Espacial de alunos e professores

O Bairro do Grajaú conta com nove escolas que possuem o último ano do Ensino Fundamental (8ª série). Destas, três são municipais e seis são particulares.

Foram elaborados mapas com a distribuição por bairros de todos os professores que ministram aulas nas turmas de oitava série (somente aqueles que moram no município do Rio de Janeiro), mapas com a distribuição dos alunos de uma das turmas de cada escola e mapas com a localização de cada escola, no qual as informações contidas referem-se à escola em destaque (em amarelo). Contamos ainda com uma tabela para cada escola com as ruas daqueles alunos e professores moradores apenas do Bairro do Grajaú.

Não será possível, neste texto, colocar todos os mapas elaborados para cada escola. Entretanto, é interessante verificar pelo menos um dos casos. Tomaremos como exemplo a Escola Municipal Francisco Campos.


Figura 4 - Localização da Escola Municipal Francisco Campos

Figura 5 - Distribuição Espacial dos Professores

Figura 6 - Distribuição espacial de Alunos

Tabela 1 - Relação das ruas e quantidade de alunos e professores
Rua /Alunos Quantidade Rua/Professores Quantidade
Av. Menezes Cortes 1 Barão de Mesquita 1
Barão de Mesquita 1 Canavieiras 1
Barão do Bom Retiro 1 Engenheiro Richard 1
Borda do Mato 1 Grajaú 1
Caçapava 2 Total 4
Caruaru 1    
Engenheiro Morsing 4    
Sá Viana 3    
Total 14    

5. Análise dos dados

Nos mapas que retratam a distribuição espacial dos professores que trabalham nas escolas analisadas e que tenham turmas da série em questão, foram suprimidos aqueles professores que moram em outros municípios. Isto se deve ao fato de que a análise foi feita levando-se em conta somente o Município do Rio de Janeiro. Entretanto, apesar de não ter sido retratada em mapas, eventuais ocorrências (uma vez que a maioria dos professores de todas as escolas analisadas reside no município em questão), manteve-se no banco de dados estes indivíduos.

Quanto às informações referentes aos alunos e as escolas, deve-se verificar aquelas contidas nos formulários para que se possa fazer um balanço sobre os dados coletados.

Em relação às escolas, numa primeira observação, verifica-se que as particulares apenas possuem turmas no turno da manhã, enquanto que entre as municipais, apenas uma delas apresenta este mesmo quadro.

Em relação ao número total de alunos, nas escolas municipais verifica-se uma média que varia entre 28 a 42 alunos por turma (em cada escola). Destas escolas a que tem o menor número de alunos (uma média de 28 alunos por turma) e turmas (apenas duas) é a Escola Municipal Panamá. Acredita-se que isto ocorra devido ao fato de que esta escola esteja na fronteira do bairro do Grajaú com o bairro do Andaraí. É possível que a distribuição de alunos na rede municipal seja feita, preferencialmente, nas escolas deste último bairro. Nas outras duas escolas, há uma maior concentração de alunos, com turmas que variam de 34 a 43 alunos.

Nas escolas particulares este quadro só não é totalmente oposto porque uma das escolas possui quatro turmas, com uma média de 29 alunos. É o caso do Colégio da Companhia de Maria. Logo em seguida vem a ECO, que apesar de ter apenas uma turma, possui 26 alunos. As demais escolas são de porte menor e atendem, basicamente, a alunos moradores deste bairro, possuindo apenas uma turma, que varia de 7 a 16 alunos em cada escola.

Em relação aos mapas, fica evidente a maior concentração de alunos de todas as escolas no bairro do Grajaú. A única exceção é a Escola Municipal Panamá, onde apenas 19% dos alunos são provenientes do Grajaú. A maior concentração fica no bairro do Andaraí, que atinge a marca de 38%.

Com estas afirmações acima, chega-se à conclusão que nas escolas particulares a maioria dos alunos é residente do bairro em análise, e quando eles são de outros bairros observa-se que os mesmos são limítrofes ao Grajaú. De acordo com a leitura dos mapas, observa-se que quando tem uma ocorrência de outro bairro, mais distante, este se concentra na zona sul ou na região de Jacarepaguá.

Não se pode afirmar com certeza, mas ao observar os mapas, somos levados a crer que a escolha destas escolas por parte dos familiares dos alunos deve-se a comodidade de ver seus filhos estudando em escolas próximas a sua casa. Ou quando estes moram em bairros mais distantes, pelo fato de ser uma boa escola com um custo mais acessível. Entretanto, a confirmação destas afirmações requer um novo estudo e trabalho.

Quanto às escolas municipais, o quadro é um pouco diferente. Em duas escolas nota-se a concentração de alunos residentes no Grajaú. Na terceira escola a concentração fica no bairro do Andaraí. Entretanto, nos três casos observa-se o mesmo que ocorre nas escolas particulares, no que diz respeito aos bairros limítrofes. Entretanto, quando se observa os demais bairros que possuem alunos estudando nestas escolas, nota-se que há uma tendência destes bairros serem do subúrbio.

Provavelmente estes alunos que residem em outros bairros, principalmente aqueles mais distantes, estudam em alguma escola do Grajaú porque foi a única escola que tinha vaga, ou porque se mudaram e já estudavam nesta escola, ou mesmo por indicação. Mais uma vez, abre-se caminho para outras afirmações que certamente requerem um novo trabalho.

6. Considerações Finais

Em relação ao objetivo geral deste texto, considera-se que o mesmo foi alcançado na medida em que foram enumerados todos os passos que um professor poderá seguir para realizar, em sala de aula, uma alternativa de ensino, voltada para o uso das novas tecnologias.

Como mencionado várias vezes, tanto a área de estudo quanto a variável poderá ter outro enfoque, como por exemplo: um determinado município, outro bairro, uma cidade (como área de estudo); postos de saúde, estabelecimentos industriais, estabelecimentos comerciais (como variável a ser pesquisada). As opções são inúmeras e o professor poderá adequar uma área de estudo e uma variável de acordo com o conteúdo tratado em sala de aula.

Em relação ao objetivo específico, temos:

  1. Sobre a distribuição espacial dos professores conclui-se que esta informação pode ter grande importância para as escolas.
    Sabendo-se os bairros e mesmo os municípios nos quais seus professores residem fica mais fácil identificar possíveis problemas e prever a possibilidade de atraso. Caso seja noticiado um acidente na Ponte Rio - Niterói, uma greve de transportes de última hora, ou outro imprevisto, a escola saberá que certo professor, provavelmente, irá se atrasar.
    Por outra parte, pode-se também procurar adequar os horários das aulas levando-se em conta a relação existente entre a distância escola/residência. O projeto pedagógico da escola pode ser beneficiado quando se tem ideia do número de professores que residem no bairro e, portanto, o conhecem melhor.
  2. Sobre a distribuição dos alunos conclui-se que, com esta informação, fica mais fácil localizar a demanda de alunos por determinada série e verificar a distância da escola para a casa do aluno. Assim, uma vez constatada a existência de matrícula de um número considerável de alunos provenientes de outros bairros, principalmente aqueles mais distantes, algumas medidas deveriam ser tomadas a fim de diagnosticar as melhores medidas a serem tomadas por parte dos órgãos competentes. Um exemplo seria constatar o motivo da demanda destes alunos oriundos de outros bairros. Caso seja diagnosticada a falta de escola em tal bairro, caberia analisar a possibilidade de investimentos nas já existentes ou mesmo investir na construção de novas, acarretando o aumento do número de vagas em dado bairro.

7. Referências Bibliográficas

FADEL, Janaína Eliza. Retratação e análise da distribuição espacial de alunos e professores das escolas do bairro do Grajaú/RJ: um exemplo da utilização de técnicas de Geomática. Niterói: UFF Trabalho de Conclusão de Curso, 2001. 45p.

INSTITUTO MUNICIPAL DE URBANISMO PEREIRA PASSOS. Diretoria de Informações Geográficas. Rio Atlas 98. Rio de Janeiro. 1998. Mídia Digital.

RAMIREZ, Milton Ramos. Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados para Geoprocessamento. Rio de Janeiro: UFRJ Coord. Prog. Pós Grad. Engenharia, 1994. 241p. p.30-31.

RAMOS, Cristhiane da Silva. Considerações sobre o desenvolvimento de aplicações cartográficas em meio digital. In: COLÓQUIO DE CARTOGRAFIA PARA ESCOLARES, 4, 2001, Maringá. Anais ... Maringá: DGE/Pós Graduação/UEM, 2001. 67p. p.15.

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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