Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
O educador sob algumas óticas ao redor do mundo
Armando Correa de Siqueira Neto
Psicólogo e escritor
A educação atravessou séculos de história, levando pensadores antigos e atuais a explorar seu universo de incalculáveis possibilidades. É por intermédio de seus representantes mais ilustres, os educadores, que se articula o saber na relação ensino-aprendizagem. Pode-se estudar a atuação do educador desde há muito tempo, numa volta ao redor do planeta, do oriente ao ocidente.
Baseando-se nos registros Védicos, remontando aos anos 2.500 a.C., por meio dos Vedas hindus, uma literatura oral, transmitida de professor para discípulo durante muitos séculos, encontra-se o significado da palavra guru, que vem da raiz sânscrita "erguer". Na Índia, vários professores são chamados gurus, cuja conotação caracteriza um mestre espiritual que pode elevar a consciência do estudante e levá-lo além das limitações autoimpostas. Elevar a consciência e transpor limites são alguns dos itens tão amplamente discutidos em encontros de educadores na atualidade, para que a formação das pessoas ganhe um salto qualitativo quanto a sua participação na construção da história sociopolítica e desencadeie o aperfeiçoamento de que carece a sociedade.
Em período posterior, obtêm-se outros conceitos a respeito do educador. Vários escritos de Al-Ghazzali (1058-1111), um importante pensador muçulmano e colaborador dos ensinamentos sufistas descrevem os deveres de um professor - o sufismo é mais proeminente no Oriente Médio e em países que adotam o Islamismo, contudo pode ser encontrado em outros lugares, a exemplo da Europa e da Índia. O primeiro dever do professor é ser compassivo com os estudantes e tratá-los como a seus próprios filhos. Ele deve estar constantemente alerta para os fracassos dos alunos mas, como um pai, deve ser capaz de amá-los. O professor deve fazer o que ensina e não permitir que suas obras desmintam suas palavras. Ele não é uma fonte de informações, mas um exemplo vivo do efeito dos ensinamentos. Os estudantes e o professor estão todos trabalhando juntos.
Encontra-se neste conhecimento sufista as demandas que atualmente movem os educadores na direção de se criar um ambiente adequado para o ensino, bem como oferecer a qualidade de relacionamento que seja estimuladora e que atinja objetivos importantes como o pensamento crítico e a autonomia, a formação da cidadania e a valorização do ser humano.
Em Sócrates, quatro séculos antes de Cristo, era observável a maneira sutil com a qual lidava com os seus estudantes, levando-os a falar, respondendo as suas constantes perguntas, e pouco fazendo afirmações. Em outro momento, nas palavras de Montaigne (1533-1592): "(...) segundo a inteligência da criança, começasse a indicar-lhe o caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e as escolher e discernir por si próprio (...) Não quero que fale sozinho e sim que deixe também o discípulo falar por seu turno". Também preocupado com a qualidade desta relação educacional, Montaigne apontava a importância da atuação do aluno na construção ativa de seu saber e desenvolvimento.
Mais recentemente, Paulo Freire (1921-1997) relata alguns fundamentos para a prática docente e, assim, compartilha de alguns princípios da educação encontrada nos ensinamentos históricos: "Como posso respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade e da real compreensão do papel da ignorância na busca do saber, temo revelar o meu desconhecimento? Como ser educador, se não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos com quem me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte? Não posso desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem".
Na bíblia sagrada, o papel do educador é também sublime. Vê-se em Provérbios 20:5: "Os pensamentos de uma pessoa são como água em poço fundo, mas, quem é inteligente sabe como tirá-los para fora". E, ainda, em 22:6: "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele". Os cuidados acerca da educação dedicada ao aluno são o foco do educador cônscio da responsabilidade que tem mediante a formação do ser humano, seu semelhante.
Ao analisar o saber contido nas tradições de diferentes pensamentos na educação, percebe-se o valor que possui o ato de se educar outrem, desenvolver o amor neste relacionamento, além de gostar verdadeiramente de ser educador. Este ofício é, sem sombra de dúvida, uma forma difícil, mas ao mesmo tempo especial de se dedicar às pessoas. A relevância deste papel e as suas competências fundamentais transformam o ser humano, por meio dos avanços que lhe são proporcionados.
O educador sempre teve, em variadas épocas e em diferentes lugares, a árdua missão de colaborar no desenvolvimento humano. No entanto, quando o amor está presente neste convívio formador, desenvolve-se o prazer conjuntamente, ao perceber as mudanças e belezas que frutificam com o passar do tempo. Do Oriente ao Ocidente, em qualquer período, o educador que vê na sua profissão uma forma de influenciar e ser influenciado pelo desenvolvimento entende a sua importância para a evolução do ser humano.
Publicado em 31 de dezembro de 2005
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.