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Saúde do Professor

Mara Lúcia Martins

Para melhorar a alimentação e o ambiente de trabalho

Dando continuidade aos artigos sobre a Saúde do Professor: apesar de ter altos índices de estresse e problemas com a voz as doenças causadas pela profissão do professor são várias. Alimentação e ambiente de trabalho são duas preocupações que revelam que as condições de trabalho não são as mais favoráveis. Dados do Dieese, de 2004, revelam, ainda, que as desvantagens da profissão trouxeram como consequência sua caracterização como carreira feminina, a chamada feminização.

Hoje finalizamos o assunto - e iniciamos a discussão - escrevendo, principalmente, para os educadores da rede pública, os quais representam uma das maiores categorias profissionais do país, e por isso chamam a atenção de médicos e especialistas sobre as condições de trabalho a que são submetidos. E transformar essas condições é um grande desafio, para que o professor não tenha problemas e não falte à escola.

Distância x alimentação

A primeira questão que se apresenta problemática é a relação tempo/trabalho. É o primeiro passo, muito importante na medida em que existem essas distâncias enormes, muito mais do que geográficas, separam o bom desempenho da profissão e a adequação de suas tarefas com o seu bem-estar físico e psicológico.

O problema da distância que o profissional precisa percorrer até o trabalho, por exemplo, tem como consequência mais visível uma irritação, que é transmitida aos colegas e aos alunos. O pior: sempre correndo contra o tempo e, na maioria das vezes, trabalhando em mais de uma escola, o professor também tem intervalos cada vez menores, o que se reflete num padrão de alimentação rápido e prático, gerando, assim, deficiências nutricionais.

Os especialistas confirmam que é preciso pelo menos 20 minutos para que o cérebro se certifique de que o organismo está devidamente nutrido. Ainda que hoje, na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro as cantinas das escolas ofereçam uma alimentação mais saudável, por falta de tempo, o professor acaba por comer rápido e mal.

Lanche coletivo é estimulante

Numa escola onde a falta de infraestrutura e a localização - numa região violenta da Baixada Fluminense (RJ) - eram motivos para que os professores deixassem de ir ao trabalho, a ideia foi organizar um lanche coletivo. Além dos benefícios para a alimentação, a iniciativa possibilitou o encontro e a troca entre os profissionais, contribuiu para o estreitamento das relações interpessoais e melhorou o clima organizacional, criando um ambiente de trabalho mais agradável e motivador.

...mesmo quando eu penso em faltar nesse dia, eu lembro que tem o lanche e vou. Não necessariamente por causa do lanche, mas porque é um momento de fraternidade tão grande entre nós que a gente gosta de ir, entendeu?!... Nós ficamos mais espontâneos uns com os outros, e isso permitiu que a gente, por exemplo, na hora do papo sério tenha espontaneidade também de dizer " olha você tá falando alto demais, tá me atrapalhando, acho que se você conseguir abaixar a sua voz, eu vou abaixar a minha também". Então, fica melhor e a gente sai abraçado da sala! (depoimento de um professor)

Ambiente de trabalho

Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) - Relatório anual de 2004 -, para mais de 1/3 dos professores as condições da sala de aula são as piores instalações das escolas. E a sala dos professores 37%. Cerca de 1/3 dos entrevistados avaliou como péssimas as instalações da estrutura física da escola e a maioria apontou o barulho, o calor e a ventilação como insuficientes como situação de incômodo no trabalho. 73% assinalaram a superlotação nas salas de aula como um dos principais motivos de sofrimento no trabalho. 13% afirmaram ter sofrido algum tipo de acidente de trabalho, muito mais mulheres do que homens.

O ambiente em que a escola está inserida também é motivo de preocupação dos professores. Há casos de escolas que estão em áreas de extremo risco, aonde os professores chegam a ser ameaçados por alunos e por pais de alunos. Também são frequentes tiros dentro da escola e de alunos assassinados pelo tráfico de drogas no horário de aula, o que provoca tensão permanente e uma alta rotatividade dos professores.

Como consequência: a feminização

Some-se a todas essas deficiências no ambiente escolar à desvalorização do trabalho do professor pela sociedade e considerando o fato de que o número de mulheres professoras - 62% - é maior que o de homens, é fácil concluir que elas estão mais sujeitas a doenças diagnosticadas pelo exercício da profissão, o que se agrava com a dupla jornada de trabalho.

Da categoria profissional dos docentes da rede estadual 83% são compostos por mulheres, mas são elas que faltam menos. E, maioria das vezes, faltam por estarem doentes. E estão doentes porque trabalham como professoras. A revindicação delas é que essa atividade estressante seja compensada com uma melhoria nas condições de trabalho - recomendação da Unesco e da OIT. Diante de uma estatística de que cada professor dá 45 aulas semanais é necessário um cuidado maior para a dinâmica praticada no dia-a-dia da profissão

Saúde para vocês, que merecem muito!

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Publicado em 23/08/2005

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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