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Anno 2000

Lorenzo Aldé

É incrível como mudou o mundo do início do século XX até hoje, ano 2000. A revolução da eletricidade não apenas intensificou a urbanização e o progresso tecnológico, como alterou por completo as relações geopolíticas entre os países.

Sabemos que o carvão e o petróleo, outrora combustíveis primordiais à industrialização e à rápida transformação dos meios de transporte, hoje estão obsoletos. Os motores de bondes, trens, automóveis, aviões e navios são movidos a energia elétrica. O potencial hidráulico passou a ser a força motriz para o desenvolvimento das sociedades.

Assim, testemunhamos o surgimento da hegemonia africana, o poderoso continente que concentra 190 milhões de cavalos-vapor hidroelétricos. A Ásia vem bem abaixo, em segundo lugar, com 71 milhões, seguida pela América do Norte e pela América do Sul. O Brasil, detentor de 50 milhões de cavalos-vapor hidroelétricos, tornou-se a grande potência que conhecemos, enquanto o continente europeu entrou em franca decadência, pois seu potencial de produção de energia supera apenas o da Oceania.

A moeda, no ano 2000, é, também, a energia elétrica. Pagam-se as compras em kilowatts. Paga-se o trabalho en kilowatts.

Na era da eletricidade o rei dos metais é o alumínio, retirado das argilas pela energia elétrica. O alumínio suplantou, com as suas ligas, o ferro, pesado demais e facilmente oxidável, e ainda substitui o papel, tão facilmente deteriorável. De alumínio são os livros. É em folhas de alumínio que se escreve."

Da força das águas nasceu a prosperidade globalizada. Embora ainda existam problemas sociais, não há mais fome, desde que se adotou o trabalho obrigatório mínimo nas usinas distribuidoras de energia.

Assim seria o mundo em nossos dias, de acordo com o exercício futurista assinado pelo Professor F. Labouriau, no primeiro número da revista Cruzeiro, em 10 de novembro de 1928, com o título "A Éra das Forças Hydraulicas".

Um exemplo de como é difícil prever os destinos da humanidade, mas também de como certos desvios de percurso poderiam nos levar a mundos completamente diferentes. A euforia com a energia elétrica era plenamente justificável naquele início de século, e imaginá-la predominante, dada a riqueza hidráulica da Terra, era tentação quase inescapável.

Mas se o autor acabou deixando para a posteridade uma previsão que se mostraria cômica (ou tragicômica), em pelo menos um trecho ele foi capaz de enxergar longe:

As viagens e os próprios passeios diminuíram muito, desde que, sem sair de casa, pode-se ver o que há em qualquer parte da Terra: a televisão, juntada à telefonia, modificou radicalmente os hábitos. Não há necessidade de sair para fazer compras: vê-se, escolhe-se, encomenda-se tudo pelo telefone-televisor automático. Não há mais necessidade de viajar, para ver terras longínquas: é só ligar o receptor, e visita-se, comodamente, qualquer museu, ou qualquer país. Somente os objetos devem ser transportados.

Registro histórico: em 1928 a televisão era absolutamente desconhecida. Criada em 1923, como "iconoscópio", pelo russo naturalizado americano Vladimir Kosma Zworykin, faria sua primeira transmissão, nos Estados Unidos, em 1929.

E esse tal de "telefone-televisor automático", que possibilitaria viajar e fazer compras sem sair de cada, lembra uma certa tecnologia atualíssima. Pois é, a Internet já habitava as mentes delirantes de 80 anos atrás...

Quem sabe a Era das Forças Hidráulicas ainda nos espera em algum ponto do futuro?

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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