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Crise de identidade? Na Geografia?

Léo Silva

Impressão seria criada por temas comuns e mudança na forma de pesquisar e ensinar

Globalização e ciberespaço, mais facilmente associados aos estudos de economia ou sociologia, por vezes podem causar espanto quanto aparecem tratados por geógrafos. Algumas pessoas chegam a pensar que a ciência passa por uma crise de identidade. Nada mais longe da verdade.

Como explica o geógrafo Ronaldo Carvalho, professor do Departamento de Extensão da Fundação Cecier/Consórcio Cederj, dada a complexidade desses fenômenos, eles são pesquisados por várias ciências. A geografia, em particular, vai estudar a sua espacialização.

Como exemplo disso, Ronaldo cita as pesquisas sobre ciberespaço. "O que estamos estudando não é a rede de computadores, mas como o espaço geográfico é operado e articulado pelas tecnologias digitais", disse.

O professor observa que mesmo as lógicas espaciais operadas por computador, como o sistema de produção ou de telecomunicações, bem como as transações financeiras e a logística dependem das características do espaço a ser ocupado para poderem ser usadas.

Assim, a capacidade de operar a distância não é igual para todos os lugares, como destaca Ronaldo. A escolha dos sites depende de que a infraestrutura existente lá garanta essa flexibilidade.

E isso tem um preço. A distinção entre os espaços que têm, digitalmente incluídos, e os que não têm essa infraestrutura. Essa distinção acaba por derrubar o mito de que o espaço estaria perdendo importância.

Ruptura

Muitos ainda se devem lembrar do quadro da TV Pirata em que o assaltante obriga a vítima a recitar os principais afluentes do rio Amazonas, decorados durante as aulas de geografia. Depois de acertar a resposta, ele diz que sempre soube que aquilo serviria para alguma coisa.

Foi exatamente a ruptura com esse tipo de geografia, que enfatiza a coleção de dados, dita descritiva no jargão da área, que, para Ronaldo, pode ter levado algumas pessoas a perceberem que o campo passava por uma crise de identidade.

Segundo ele, essa ruptura foi promovida no final dos anos 1970 pelas correntes posteriormente chamadas de crítica e radical, que sofreram forte influência do materialismo histórico e "de outras vertentes da sociologia e da ciência política".

Para Ronaldo, talvez a sobrevalorização dos processos sociais tenha levado a se dar um menor peso a espacialidade. O que estaria mudando agora, "com a poeira baixando, a coisa está voltando ao normal", declara.

Contudo, ele ressalta que, mesmo dentro desse processo, geógrafos como Milton Santos, David Harvey e Neil Smith sempre tiveram clareza da dimensão espacial.

Publicado em 23 de agosto de 2005

Leia também a entrevista com Milton Santos.

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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