Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Educação na Atmosfera Eletrônica

Por Vicky Phillips

Tradução e adaptação: Janete Bolite Frant

Ser um professor virtual

Numa recente viagem de negócios, um senhor, que sentava ao meu lado puxando papo, perguntou sobre meu trabalho. Eu respondi que planejo e ministro cursos na universidade. "Ahn!", disse ele, "Onde você leciona?". Uma resposta peculiarmente honesta saiu de minha boca antes que eu me desse conta: "Em nenhum lugar".

E é verdade. Desde 1990 venho lecionando em programas de Educação a Distância, naquilo que um colega meu se refere como "universidade no teclado". Meu trabalho acontece entre a conexão do meu computador com o telefone e o computador de um grupo de alunos universitários localizados a muitas milhas de distância e que, em geral, são mais velhos que a média dos universitários.

Em 1990, desenhei o primeiro centro para aprendizagem a distância dos Estados Unidos. Desde então já trabalhei on-line com mais de 7 mil aprendizes. Nunca encontrei, presencialmente, com nenhum deles.

O recém-companheiro de viagem queria saber mais sobre esse tipo de trabalho, eu continuei - "Eu leciono no ciberespaço, sou um professor virtual de universidades virtuais".

Seu rosto continuava limpo como um céu de brigadeiro, e eu não conseguia saber se o silêncio era devido ao respeito por esse trabalho ou se ele estava confuso. Concluí que os dois motivos eram igualmente importantes e comecei a explicar sobre o declínio dos campi e o crescimento da mente americana educada, segundo meu ponto de vista.

Educação a Distância ou programas educativos onde professor e aluno nunca se encontram presencialmente não são nada novos. Em 1840, o Sr. Isaac Pitman, de Bath, Inglaterra, teve a ideia de ensinar habilidades de secretaria a aprendizes das áreas rurais e começou pedindo que eles reescrevessem a Bíblia em letra cursiva e enviassem essa versão por correio para obterem suas notas.

Eu não ensino caligrafia, ensino psicologia e recursos humanos e escrevo muitas de minhas aulas da mesma forma que o Sr. Isaac. O correio que utilizo é a rede mundial de computadores (World Wide Web). Utilizo os murais eletrônicos para colocar as atividades e devolvo as mesmas com correções, comentários ou nota por correio eletrônico. Às vezes ministro aulas em sala de bate-papo quando se faz necessário.

Este é um modo válido de oferecer uma educação superior de qualidade? Será que é possível aprender sem estar sentado em carteiras arrumadas em fila numa sala ouvindo um professor, seguindo o método cuspe-e-giz? Claro que sim. De fato, enquanto muita gente acha difícil imaginar uma universidade sem prédio, eu hoje acho difícil ensinar em qualquer outro lugar que não na liberdade de um ciberespaço.

No ciberespaço, eu escuto, leio, comento e reflito sobre o que meus alunos têm a dizer - cada um, individualmente. Eles são obrigados a escrever o que sabem, não basta sentar passivamente na última carteira pensando na morte da bezerra. É preciso pensar e escrever, participar ativamente do aprendizado.

Não conheço meus alunos pelos seus rostos ou pelo lugar na sala mas através de suas ideias expressas nas atividades semanais que ficam publicamente expostas on-line. Meu papel, hoje, é o de guia. Em geral, o que os estudantes escrevem uns aos outros ou o modo como colocam suas ideias ou seu trabalho nos artigos e debates é extremamente edificante.

A idade média de meus alunos é 40 anos, vários têm 50 ou 60 anos. Eles não poderiam interromper suas carreiras profissionais para frequentar uma universidade presencial-uma entidade moldada segundo os monastérios dos tempos medievais.

Eles sabem o que procuram numa universidade, e uma cibereducação é talhada para eles, pois respeita suas habilidades de definir o conhecimento que lhes é mais apropriado. Sem a censura do olhar de colegas ou do professor, que poderia interromper sua fala, os alunos sentem-se mais encorajados a expor seus pontos de vista usando a escrita, o que permite abrir um debate com a turma.

A ideia de que o melhor ensino para a mente americana é o modelo de uma fábrica - onde os estudantes sentam em fileiras bem arrumadas, levantando suas mãos para pedir permissão de falar, ajustando-se à aulas expositivas de 50 minutos que quebram o saber em pedaços - nunca se mostrou como um método eficaz. Mais ainda, numa linha de montagem todos recebem a mesma informação via livro-texto, aula expositiva e revisão de conteúdos para que todos passem com a mesma qualidade nas provas.

Talvez o fato de ensinar um curso de artes liberais via um ambiente virtual faça sentido para mim porque me remete ao que aprendi ser uma verdadeira educação em artes liberais. Quando estudei filosofia em Atenas, Grécia, me disseram que para aprender algo de verdade deveria jogar fora livros-texto e cadernos de aula. E contar apenas com a habilidade natural de pensar criticamente uma determinada situação. Platão e seus discípulos vagavam ao redor de Atenas argumentando aqui e ali até chegarem a um entendimento.

Aprendi o que Platão sabia: uma educação de verdade não ocorre em prédios, ocorre na cabeça do estudante. Bons estudantes evitam a memorização, em seu lugar desenvolvem habilidades de debater e argumentar sobre um tema.
Em suma, bons estudantes desenvolvem habilidades em trocar palavras com outros colegas com uma fantástica precisão intelectual.

Meus ciberalunos têm livros-texto e livros como auxiliares da aprendizagem - não como o único néctar do saber a ser bebido; eles vão beber também na fonte da cooperatividade através de seus esforços on-line em debates, conferências e artigos. Eles pensam sobre o que vão dizer e vêm para a aula, a cada semana, tão bem preparados para argumentar e digitar suas ideias como poucas vezes acontece numa aula presencial.

A universidade virtual, por mais estranha que pareça, é tão clássica que seria praticada por Platão se houvesse uma forma de autoestrada de comunicação naquele tempo.

Quanto a mim? Eu sou a favor de menos educação acontecendo entre quatro paredes e mais aprendizagem acontecendo na mente dos estudantes.

Direitos reservados para o site geteducated.com (2000). O texto original (em inglês) encontra-se no endereço http://www.geteducated.com/articles/virtprof.htm

Publicado em 31 de dezembro de 2005

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.