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Redes de conhecimento e professores: impacto da tecnologia na escola

Leonardo Soares Quirino da Silva

Estamos em uma sala de aula do início dos anos 1950, na França. Os alunos, com os ombros levantados, olhar fixo, acompanham a fala da pessoa que lhes veio apresentar um aparelho de TV. A professora, com o corpo tenso, a face virada para os alunos, tenta ver, com os cantos dos olhos e espanto na face, o que fala o expositor, a única pessoa à vontade na sala. É a primeira vez que um aparelho de televisão entra em uma sala de aula no país.

Essa imagem de tensão ante a tecnologia foi usada pela professora Nilda Alves, do Programa de Pós-Graduação em Pedagogia da Uerj, na palestra de abertura do III Seminário internacional: as redes do conhecimento e a tecnologia - professores/professoras: textos, imagens e sons (III Semint), realizado entre os dias 6 e 9 de junho, como exemplo de que às vezes é necessário mudar tudo em função da incorporação de uma nova tecnologia, apesar desta desrespeitar o que havia antigamente.

Segundo Nilda, uma das organizadoras do evento, nessa terceira edição do Semint, a tecnologia e as redes de conhecimento foram discutidas tendo por centro o professor. Para a professora, escolas e todas as outras organizações que tem atividades educacionais - igrejas, partidos políticos, movimentos sociais e outros - estão perdendo força por desconsiderarem o fato de que a sociedade atual é permeada por essas redes. Por isso, é preciso investigar esse fenômeno e a educação.

Perspectiva histórica

Em todas as edições do Semint acontece a última mesa, quando um grupo de pesquisadores que acompanhou todas as palestras apresenta uma síntese do evento, segundo a professora da Uerj, que participou desse grupo.

Este ano, entre essas apresentações com balanços pessoais sobre o evento, Nilda destaca a observação da professora Rosália Duarte (PUC-Rio) que observou o fato de ser o primeiro seminário sobre tecnologia em que ela esteve que se preocupou com a questão da histórica.

Segunda a professora Nilda, essa preocupação esteve presente em todas as mesas redondas. Na primeira - Paisagens da formação de professoras/professores -, no dia 7, por exemplo, ela destaca a apresentação do professor Loïc Chalmel, da Universidade de Rennes.

Da exposição do professor francês, Nilda destacou o fato de ele mostrar como o fenômeno das redes é bem anterior à revolução da informação e como as ideias que circulam por essas redes influem nas práticas pedagógicas, entre elas a maneira de se representar a realidade.

Neste caso, Loïc apresentou como a rã era apresentada nos livros didáticos. No início do século XX, o animal era mostrado parado contemplativo. Depois, em certo momento, era necessário ir ao campo observar o anfíbio em seu habitat. Por fim, o professor mostrou um livro didático deste século em que há uma série de fotos da rã durante o salto.

Na segunda mesa redonda, no dia 8 de junho - Práticas de professores e professoras: textos, imagens e sons -, Nilda chamou a atenção para a exposição da professora portuguesa Carmo Barbosa. Com base nas sugestões presentes nos livros didáticos mais usados, Carmo conseguiu reconstruir a metodologia usada pelos professores no período.

Na mesa do terceiro dia, foi a oportunidade do professor de filosofia Milton von Zuben (PUC-Campinas) discutir o que a tecnologia está trazendo de crise para a humanidade. Segundo a Nilda, Zuben mostrou como os artefatos tecnológicos têm marcado uma ruptura efetivamente epistemológica, na teoria da ciência, para qual a filosofia ainda não tem resposta.

Conhecimento: construção x criação

Segundo a professora, a ideia da realização do primeiro seminário, em 2003, partiu da observação de que existem outras formas de produção de conhecimento que não a científica, feita pelos professores da linha de pesquisa sobre currículo do Programa de Pós-Graduação em Educação (PropEd).

Para Nilda, na via que ela chama de científica, o conhecimento é construído de forma linear. "Você põe uma base e, acima dessa base, outra coisa e outra em movimento linear, seguindo um plano", fala.

No caso das redes, ela observa, não existe esse plano. "Dependendo das relações que você tenha, do que você vê, do que você passa, de quem você tenha contato, você vai ter um determinado tipo de conhecimento que tem haver com esse processo, que não é nada linear, que é exatamente em redes", salienta.

Como esse conhecimento é produzido por essas relações, para Nilda, o correto, neste caso, é dizer criação e não construção.

Publicado em 20/06/2005

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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