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Rosa de todos os sertões

Luís Estrela de Matos

Poeta por (in)vocação, contista e professor universitário


Ilustração de Poty

Mais do que prodígio (lia em francês desde os seis anos), era um cordisburguense das Gerais. Minas-linguagem. Montanhas aleijadinhas. Vai carlos ser gauche na vida. Vai joão ser gauche na língua. Quatro anos de evitação. Fugiu o mais que pôde de ser imortal na cadeira que lhe aguardava. Uma vez aceito, o infarto levou-o para outras paragens, outras campinas... outras veredas.

E ler Guimarães é isso: um infarto da experiência do ler, sobre(...)salto constante. Umas esquinas que não nos deixam mesmo quando julgamos que basta fechar o livro.

Mas se o livro-rosa é a vida? Há que ser tão e mandacaru pra enfrentar o redemundo e seu demo lexical. Guimarães Joyce!!! No... Guimarães Rosa. O nosso guimarães de todas as veredas. "O sertão está em toda a parte". Grande Riobaldo. Um balde de rio nos desvãos da linguagem, lavando e jogando detrito onde pureza é ser sujo. Se acheguem nesta frase: "o amor? pássaro que põe ovos de ferro". Às margens do velho chico, Riobaldo conta seus causos a um estranho senhor desconhecido. Diadorim é valente, de ferro, mas tem delicadeza no olhar. A verdura de seus olhos quase afogam Riobaldo no crepitar-se de si. Mas e o Demo? Se ele existe é bom nem assuntar, que nas veredas ele se demonstra quão grande é.

"Moço: Deus é paciência. O contrário, é o diabo". Filho único na obra, pois trata-se de romance, Grande sertão: veredas é experiência de vida... algo que transcende o simples ler. Um épico regional com gosto de lírico universal? Pois nunca vi nas minhas andanças literárias alguém brincar tanto assim com a língua. E poesia o tempo todo, experiência do grande, prosa do mundo, no tamanho-minas, nos trazendo pra perto Homero e suas odisseias em forma de ilíadas.

"e, eu rio, rio abaixo, rio afora, rio adentro - o rio"... Ehh Rio...baldo Rosa. Demo Guimarães. E uma oitava acima JOÃO... então: NONADA.

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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