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Sexualidade na sala de aula

Marina S. Rodrigues Almeida

Psicóloga, psicopedagoga e pedagoga

marina@iron.com.br

A sexualidade infantil

Hoje, as crianças, em sua maioria, já sabem que o bebê "sai da barriga da mãe". Mas essa é a resposta mais simples. Outras perguntas complementares ainda suscitam dúvida e ansiedade no momento de serem respondidas, principalmente quando questionam "como o bebê entrou na barriga da mãe".

Além disso, comportamentos infantis que demonstram a sexualidade da criança são muitas vezes difíceis de serem trabalhados, tanto em casa como na escola. Brincadeiras de descoberta sexual, masturbação e atitudes que aparentam homossexualidade são alguns fatos comuns observados no cotidiano infantil e seguidamente são pouco compreendidos ou malconduzidos pelos adultos que lidam com as crianças. Portanto, é necessário um maior entendimento teórico sobre sexualidade infantil para que haja menos inadequações no manejo desses comportamentos.

A sexualidade da criança começa no imaginário dos pais, antes mesmo do nascimento. Todos os pais têm expectativas em relação a seus filhos, conscientes ou inconscientes, e uma delas diz respeito à sexualidade da criança. Ao nascer, a criança pode corresponder ou não à expectativa e se desenvolverá conforme for a aceitação do sexo da criança pelos pais.

A partir do nascimento, podemos classificar a curiosidade sexual de forma genérica em uma ordem sequencial:

  • 1ª - descobrimento do próprio corpo;
  • 2ª - eliminação de excreções;
  • 3ª - diferenciação dos sexos;
  • 4ª - nascimento;
  • 5ª - puberdade;
  • 6ª - adolescência.

Para responder aos questionamentos de ordem sexual das crianças, deve-se ter claro que "a criança que tem idade para perguntar tem idade para ouvir a resposta". O tom de voz, o olhar e a postura de quem responde devem ser valorizados para que não sejam artificiais nem repressores.

Para satisfazer a curiosidade infantil, o adulto deve seguir os seguintes princípios:

  • saber por que e de onde vem a pergunta;
  • honestidade;
  • restringir-se à pergunta feita, sem se estender;
  • progredir com base no que a criança já conhece;
  • fornecer explicações em linguagem simples e familiar;
  • sempre que possível, corresponder ao momento em que a criança solicita;
  • repetir, se necessário.

Em relação aos comportamentos sexuais observados em sala de aula - como beijos, exploração do corpo do colega, jogos sexuais -, o educador pode pautar-se sobre os mesmos princípios que usa para outros comportamentos inadequados em aula, ou seja, demonstrar que entende a curiosidade, mas que a escola é um lugar onde se deve respeitar a vontade dos outros e que os alunos estão lá para aprender, brincar etc.

O educador não deve se omitir. Ao contrário, deve orientar brincadeiras e comportamentos adequados, mas sem passar valores morais reprovadores, como se a curiosidade fosse algo negativo, "feio" ou pecaminoso.

Alguns profissionais, na tentativa de serem "modernos", estimulam uma sexualidade precoce, incentivando danças de músicas atuais erotizadas, namoros entre os alunos, identificação com modelos da mídia etc. As crianças e os adolescentes procuram corresponder às expectativas dos adultos e acabam se expondo inadequadamente para sua faixa etária e assumindo rótulos distorcidos de seu gênero sexual, como, por exemplo, mulher se exibe, veste-se de vermelho e usa batom, ao passo que o homem é machão, usa calça comprida, veste-se de azul etc. Essas questões deverão ser debatidas e esclarecidas na escola, mostrando que há uma diferença entre o real e o imaginário social, midiático, familiar, escolar, promovendo, dessa forma, uma consciência humanizadora e possível.

A sexualidade infantil é inerente a qualquer criança, e sua demonstração será particular a cada uma. Aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzi-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão, tendo sempre em mente uma reflexão de sua própria sexualidade.

A questão de convocar os pais para conversar sobre a sexualidade do aluno deverá ser investigada caso a caso: qual o propósito dessa convocação? Com que vou contribuir? O que espero dos pais? Por que isso me incomoda? Há sincera preocupação ou preconceito disfarçado? Por que acredito que ser heterossexual é o correto, aceitável? Por que a homossexualidade me incomoda? Na dúvida, antes de convocar os pais, deve-se procurar algum profissional da escola para discutir com ele o assunto.

Lembre-se de que qualquer forma de discriminação é crime previsto na Constituição Federal.

Homossexualidade

Eis um tema delicado, a ser cogitado com prudência, cautela e ampla reflexão na atualidade de nossas experiências evolutivas.

A homossexualidade se define pela preferência sexual para relacionar-se e conviver com uma pessoa de seu mesmo sexo. Esse impulso, na ciência do comportamento, ainda não encontra explicações razoáveis ou justas na área da psicologia, porque essa ciência ainda não está inteiramente realizada.

Nesse sentido, a orientação da libido de uma pessoa em direção a um objeto do mesmo sexo, ou em direção a um objeto do sexo oposto, não tem diferença essencial qualitativa ou normativa, isto é, esta ou aquela orientação não é mais ou menos adequada, normal ou patológica do que outra.

Escreveu Freud nos Três ensaios sobre a sexualidade, de 1905:

O afeto de uma criança por seus pais é sem dúvida o traço infantil mais importante que, depois de revivido na puberdade, indica o caminho para sua escolha de um objeto sexual, mas não é o único. Outros pontos de partida com a mesma origem primitiva possibilitam ao homem desenvolver mais de uma linha sexual, baseada não menos em sua infância, mas também no ambiente, nas relações, na história individual etc., estabelecendo condições muito variadas para sua escolha de objeto sexual. [...] As inumeráveis peculiaridades da vida erótica dos seres humanos, assim como o caráter compulsivo do processo de apaixonar-se, são inteiramente ininteligíveis, salvo pela referência à infância e como efeitos residuais da infância. Isso é uma citação. Dá para recuar o texto?

É interessante assinalar que a homossexualidade e a heterossexualidade são comportamentos e, como tais, não significam necessariamente identidades.

Freud tinha uma noção clara dessa questão e, não obstante as dificuldades e os aspectos, patológicos ou não, relacionados com os comportamentos sexuais, jamais considerou homossexualidade como algo patológico em si. Pelo contrário, a partir dele, a psicanálise desenvolveu, independente das várias escolas de pensamento analítico, uma visão que procurou, como em qualquer outro comportamento humano, relacionar sua raiz à origem corporal e material da mente, ou seja, ao mundo da infância.

No ensaio "Sobre a psicogênese de um caso de homossexualismo feminino", de 1920, Freud escreveu: "Não compete à psicanálise solucionar o problema do homossexualismo. Ela deve contentar-se com revelar os mecanismos psíquicos que culminaram na determinação da escolha de objeto e remontar os caminhos que levam deles até as disposições instintuais". Portanto, a psicanálise contribui para o individuo redefinir sua vida, sua autoestima, seu posicionamento no mundo mental e adaptação ao mundo social.

Se a raiz é infantil, quando se trata de um adulto, ou mesmo de uma criança ou adolescente, a árvore já nasceu, cresceu e sua folhagem abre-se para algo que ainda não se perfez. Tudo que é vivo é inconcluso, imperfeito, não terminado, incluindo o modo de comportar-se. Assim, não é possível uma intervenção analítica, escolar ou moral. Resta-nos, então, compreensão e empatia. Caso esses sentimentos não apareçam, provavelmente a relação entre o aluno e o educador (ou do analista com o paciente) será truncada, provavelmente não haverá crescimento humano.

É útil considerarmos a sutil diferença de tratarmos qualquer pessoa por sua orientação sexual e transformá-la na identidade do sujeito: ele é gay, ela é lésbica etc. Criamos, assim, um estigma de identidade. Dessa forma, "[...] um adjetivo pode se tornar um nome, e o possuidor de uma pulsão homossexual é, então, chamado um homossexual. Aquilo que era apenas uma pulsão dentre outras foi transformado, pela magia das palavras, em uma identidade, um estado, um distúrbio, uma doença, uma perversão".

Não existe nada que possa "explicar" a homossexualidade, e, portanto, não pode existir teoria unitária quanto à etiologia, à dinâmica ou ao tratamento. Há homossexualidades, e suas etiologias, suas dinâmicas e suas aparências são tão variadas quanto aquelas da heterossexualidade.

Podemos ressaltar as contribuições de Bion, quando enfatiza a relação entre capacidade de sonhar, capacidade para pensar e o mundo bruto das sensações e das emoções que poderão ou não estar comprometidas. Cabe ao educador explorar essas áreas por meio dos conteúdos pedagógicos. A capacidade de pensar é determinante para o aprendizado, sendo o resultado das transformações possíveis entre experiência corporal/sexualidade, criação e experiência estética.

Bibliografia recomendada

AUGUSTO, Maria das Graças F.; COSTA, Moacir; PALADINO, Sandra M. As crianças querem saber. E agora? - Orientação para pais e profissionais sobre sexualidade (3 a 8 anos). São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
AZEVEDO, Maria Amélia. Educação sexual: uma proposta, um desafio. São Paulo: Cortez, 1988.
BARROSO, Carmem; BRUSCHINI, Cristina. Sexo e juventude: como discutir a sexualidade em casa e na escola. São Paulo: Cortez, 1998.
______. Educação sexual: debate aberto. Petrópolis: Vozes, 1982.
BOCK, Vivien Rose. Professor e psicologia aplicada na escola. Porto Alegre: Kinder, 1996.
MASTER, William; JOHNSON, Virginia. Homossexualidade em perspectiva. São Paulo: Artes Médicas, 1979.
SUPLICY, Marta. Conversando sobre sexo com adolescentes. São Paulo: FTD.
SUPLICY et al. Guia de orientação sexual: diretrizes e metodologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
TORDJMAN, Gilbert; MORAND, Claude. Uma vivência de amor: falando de sexo 6 a 9 anos. São Paulo: Scipione.

Publicado em 31 de dezembro de 2005

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