O lúdico como processo inclusivo no ambiente escolar

João Paulo Bulhões e Mattos

Aluno do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva para Professores da Educação Básica (Cecierj)

Helena Velloso

Professora do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva para Professores da Educação Básica (Cecierj)

O presente trabalho aborda a importância da ludicidade no processo inclusivo de alunos portadores de necessidades especiais no ambiente de atividades escolares, mostrando sua relevância no processo de ensino-aprendizagem.

Fala-se muito sobre a inclusão dos alunos com necessidades especiais em classes regulares de ensino, mas o poder público não tem oferecido condições para as escolas atuarem apropriadamente com esse público; muitos dos professores não tiveram formação específica na sua graduação ou não fizeram curso de formação continuada para que o processo de inclusão seja o mais assertivo possível, de maneira que o educando sinta-se realmente integrado ao ambiente escolar e que esse trabalho seja efetivo e eficaz. O professor tem que ser preparado para adaptar o currículo para esse aluno, e tal formação não é contemplada em muitas licenciaturas.

A inclusão dos alunos com necessidades especiais é, para Sassaki (1997, p. 41),

um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluídas e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos.

Sabe-se ainda que o ato de incluir esses alunos está previsto em lei específica e precisa ser respeitado, para que eles sejam incluídos no ambiente educacional. No entanto, é necessário pensar de que forma a inclusão pode contribuir para a formação desse alunado.

É importante salientar que não é só garantir o cumprimento do direito dos alunos especiais de serem incluídos, mas promover condições para que esse processo inclusivo seja efetivo e eficaz; não é somente mais uma ordem que tem que se executada sem o compromisso real com o desenvolvimento do aluno.

A lei vigente é um importante modo de garantir o direito dos portadores de necessidades especiais e, por conseguinte, é um modo de acabar com a discriminação, na medida em que o educando especial for incluído na escola de forma natural sendo aceito da maneira que é e com suas limitações, com respeito e aceitação dos demais alunos. É fundamental reforçar que a atividade lúdica pode auxiliar, e muito, para que a inclusão ocorra.

O objetivo principal deste trabalho é mostrar a importância da ludicidade no desenvolvimento da aprendizagem do aluno com necessidade especial. A atividade lúdica é algo muito importante para a formação da criança; a escola é o espaço no qual a inclusão ocorrerá de forma mais natural. Segundo Staimback e Staimback (1999, XII apud Gil, 1999), a escola "é um lugar do qual todos fazem parte, em que todos são aceitos, onde todos ajudam e são ajudados por seus colegas"; por isso é importante entender que não será apenas a lei que fará com que o processo inclusivo realmente aconteça nas escolas públicas; é preciso que a ludicidade seja um meio de contribuição para que o processo de inclusão aconteça.

Para Oliveira (2004), a atividade lúdica ajuda no envolvimento do aluno nas atividades dentro da escola, facilita os avanços no seu processo de aprendizagem e em seu desenvolvimento psicomotor. 

O presente trabalho problematiza a inclusão de alunos portadores de necessidades no ambiente educacional pensando em quais seriam as melhores abordagens; dessa forma, ressalta a importância de inserir o aluno portador de necessidades especiais em uma classe regular de ensino, considerando que a escola tem a função de proporcionar a integração e a socialização dos educandos independentemente das limitações que apresentem, sendo uma escola para todos. Logo, a ludicidade pode ser uma atividade facilitadora do processo.

Metodologia

A metodologia proposta para a construção deste resumo foi a pesquisa bibliográfica mediante o método descritivo, que seria um estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros e revistas especializados na área. Daí se parte para a análise do material, seguindo as etapas: leitura exploratória, que trará conhecimento sobre questões problematizadoras que desencadearão o aprimoramento de ideias; leitura seletiva, através da qual foi selecionada a literatura pertinente aos propósitos do artigo; e leitura analítica dos textos. Almejamos que seja compreendida a importância da ludicidade no processo de inclusão dos alunos com necessidades especiais.

Resultado e discussão

Procurou-se refletir sobre a importância da ludicidade no processo de inclusão de alunos portadores de necessidades especiais no âmbito escolar, sem abrir mão das problemáticas que permeiam esse processo.

Levando em consideração as leituras realizadas, percebe-se o significativo interesse pelo reconhecimento do indivíduo como ser único e as possibilidades pedagógicas que a escola deve promover; contudo, no Brasil existem leis que indicam a necessidade de distinção das pessoas com necessidades especiais em relação aos demais alunos. O que se observa é que essas normas são implantadas de modo lento e parcial e que não visam o atendimento da pessoa mais importante, que é o aluno com necessidades especiais, sendo ignoradas pela sociedade; quando esses indivíduos reivindicam seus direitos, têm que recorrer à legislação.

A inclusão não é uma prática educativa a ser feita de qualquer forma; exige conhecimento de pais, professores, demais profissionais e sociedade para que seja eficaz e produtiva para o aluno. Ela reforça a ideia de que as diferenças podem e devem ser aceitas e respeitadas por todos. Hoje em dia, na sociedade percebe-se a fase de mudanças nos setores educacional, político, social e econômico. Com isso, é importante evitar os erros do passado e criar para os alunos com necessidades especiais uma estratégia em sala de aula e oferecer recursos adequados para desenvolver o conhecimento de modo agradável nos espaços educacionais, que favoreçam com isso uma verdadeira inclusão. Para isso, tem que haver conscientização da sociedade, capacitação dos docentes para uma atuação produtiva e o estabelecimento do respeito pelos demais alunos em relação aos alunos especiais.

Tendo em vista o que foi abordado, os autores mostram em suas pesquisas que é possível a inclusão do aluno com necessidades especiais no ambiente escolar de maneira acolhedora e utilizando a ludicidade como instrumento importante. Claro que o poder público tem papel fundamental para alcançar esses objetivos, investindo mais na estrutura física das escolas e na formação dos profissionais para atender à demanda, fator esse que se faz mister. Ainda é necessária a quebra de paradigmas e crenças para mostrar a todos que cada indivíduo, portador ou não de alguma deficiência, deve ter seus direitos respeitados; logo, como profissionais devemos garantir que os alunos tenham uma educação integral em sua formação – direito esse não é só dos alunos especiais, mas de todos, com garantia do aprendizado em sua plenitude. A inclusão passa por uma mudança na perspectiva de como vemos um ao outro e de como agimos para que todos tenham seus direitos respeitados.

A ludicidade ajuda tanto no processo de ensino-aprendizagem do aluno portador de necessidades especiais quanto dos alunos considerados "normais". Portanto, o lúdico deve ser valorizado e divulgado em todas as escolas como atuação facilitadora que constrói conhecimentos dentro do processo inclusão para todos os alunos, com ou sem deficiência.

Conclusão

No decorrer deste trabalho, vimos que as atividades lúdicas podem ajudar a escola no processo inclusivo de alunos com necessidades especiais. Existe hoje grande preocupação em desenvolver a inclusão desses educandos no ambiente escolar de maneira produtiva e com bons resultados, mas nossas escolas ainda precisam de investimentos em uma estrutura melhor, com profissionais capacitados e mais comprometimentos.

A escola tem que ser o espaço fundamental para a transformação dessa realidade na inclusão de alunos com necessidades especiais, e a ludicidade é um prático instrumento de estimulação utilizado em qualquer etapa do desenvolvimento da psicomotricidade. É um desenvolvimento global de expressão que envolve todos os domínios da natureza, apresentando ainda grandes benefícios dos pontos de vista físico, intelectual, social e didático para a criança. As brincadeiras promovem o desenvolvimento da criatividade e da espontaneidade da criança.

Portanto, mudanças são fundamentais para que o processo inclusivo aconteça verdadeiramente e exigem um esforço coletivo de todos que possibilite que a escola seja vista como um ambiente de construção de conhecimento, deixando de lado a discriminação de idade e capacidade. Para isso, a educação deve ter caráter amplo e complexo, favorecendo a construção ao longo da vida, e todo aluno, independente das dificuldades, pode beneficiar-se dos programas educacionais inclusivos, desde que sejam dadas as oportunidades adequadas para o desenvolvimento de suas potencialidades e que ele atinja os objetivos almejados, respeitado seu limite.

Por fim, este trabalho ressalta que, segundo a literatura pesquisada, a inclusão de alunos com necessidades especiais pode acontecer na escola por meio de atividades lúdicas, que tornam esse processo não só uma obrigação legal, mas uma interação com todos os envolvidos, portadores ou não de algum tipo de deficiência.

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8.069/90, de 13de abril de 1990, atualizada em 12 de novembro de 2003.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 28 fev. 2013.

FREITAS, Eliana Sermidi de; SALVI, Rosana Figueiredo. A ludicidade e a aprendizagem significativa voltada para o ensino de Geografia. s/d. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/89-4. Acesso em: 15 fev. 2013.

GIL, J. P. A . Para além do jogo. Tese (Doutorado), Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 1999.

JOVER, A. Inclusão: qualidade para todos. Nova Escola, São Paulo, 1999.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo: Cortez, 1999.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Pesquisa bibliográfica. In: ______; ______.
Metodologia do trabalho científico. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 43-47.

MARINHO, R. Professor da pré-escola. São Paulo, 1992.

MIRANDA, José Rafael. Habilitação em Educação Especial e formação de professores: Questões sobre a política de inclusão. Dissertação (mestrado), Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2003.

NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantil: simbolismo e jogo. Porto Alegre: Prodil, 1994.

NHARY, Tania Marta da Costa. O que está em jogo no jogo – cultura, imagens e simbolismos na formação de professores. Dissertação (mestrado em Educação), Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2006.

OLIVEIRA, P. S. O que é brinquedo? São Paulo, Brasiliense, 1984.

OLL, C.; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação. Necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995.

REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 10ª ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

SANTOS, M. P. Educação Inclusiva e a Declaração de Salamanca: consequências ao sistema educacional brasileiro. Revista Integração, nº 22, 2000.

SASSAKI, R. K. 1997. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

SCHWARTZ, G. M. O processo educacional em jogo: algumas reflexões sobre a sublimação de lúdico. Licere – Revista do Centro de Estudos de Lazer e Recreação, Belo Horizonte, 1998.

SKLIAR, C. Educação e exclusão: abordagens socioantropológicas em Educação Especial. Porto Alegre: Mediação, 1997.

STAIMBACK, S.; STAIMBACK, W.  Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

Publicado em 07 de janeiro de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

MATTOS, João Paulo Bulhões e; VELLOSO, Helena. O lúdico como processo inclusivo no ambiente escolar. Revista Educação Pública, v. 20, nº 1, 7 de janeiro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/1/o-ludico-como-processo-inclusivo-no-ambiente-escolar

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.