A música no contexto da Psicopedagogia e a utilização de instrumentos musicais como ferramentas de aprendizagem
Francisco Lindoval de Oliveira
Professor tutor universitário, licenciado em Turismo (UNIRIO), especialista em EJA (UFF) e em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Unesa), músico com formação em instrumentos de cordas e teoria musical (Escola de Música Municipal Chiquinha Gonzaga – Itaguaí/RJ)
A música e os instrumentos musicais inseridos no contexto psicopedagógico podem e devem ser utilizados para tentar, de uma nova forma, superar algo que não foi possível da forma convencional. Por haver esforço espontâneo da parte do indivíduo, seja criança ou adulto, provavelmente ele esteja mais empenhado para compreender algo que antes não foi possível. Semelhante aos jogos, o objetivo da utilização de instrumentos musicais para esses casos é alterar os esquemas antigos do indivíduo quando adultos e organizar os esquemas em desenvolvimento das crianças, a fim de que eles consigam internalizar e reter mais informações, trazendo significados para o que estão tentando aprender.
A música, por sua vez, estimula o pensamento e a ordenação de espaço e tempo. Pela música, é possível que o indivíduo interaja socialmente, quando o exercício da música é realizado em grupo, como a prática de conjunto. A utilização dos instrumentos musicais também possibilita a exploração da parte cognitiva, mas principalmente a motora e afetiva do indivíduo, já que possibilita vantagens adquiridas, entre as quais estão o desenvolvimento cognitivo, parte motora, social, até o desenvolvimento de habilidades como a coordenação.
Podemos observar a quantidade de brinquedos musicais, desenhos animados, shows educativos que utilizam músicas para transmitir informações. A música tem um poder fenomenal, que facilita transmitir alguma informação desejada, além, é claro, de desenvolver as mais diversas habilidades e inteligências.
A proposta desta pesquisa remete ao enfrentamento das dificuldades do desenvolvimento de indivíduos que por diversos motivos não conseguem assimilar, desenvolver e aplicar ações elementares relacionadas às atividades cognitivas, sensoriais, motoras e neurológicas. A grande questão que pretende este trabalho é analisar os impactos positivos que o ensino da música e a utilização de instrumentos musicais podem proporcionar, cujos ganhos são surpreendentes.
Atualmente, há muitos estudos dedicados para provar a influência que a música exerce sobre as pessoas, estudos estes que vão desde o terreno condutivo até o desenvolvimento físico ou psicológico. Com foco na infância, podemos afirmar que a música é fundamental para obter respostas positivas nas crianças. Daí a importância da música em todas as fases do desenvolvimento infantil.
Há muitos benefícios que podem ser obtidos praticando música:
- melhorar as habilidades psicomotoras;
- desenvolver habilidades cognitivas;
- aumentar a capacidade de concentração e memória.
Atualmente, percebe-se que a música tem relevância até mesmo no campo da Medicina, apresentando resultados muito positivos. Um exemplo prático são os Doutores da Alegria, que utilizam elementos cênicos e musicais. Outra proposta que tem ganhado destaque é a Musicoterapia. A música é uma ferramenta fundamental para pais e educadores em geral, já que é uma ótima condutora para transmitir qualquer tipo de aprendizado de forma lúdica.
Este trabalho tem como objetivo geral analisar a iniciação musical e a utilização de instrumentos musicais como recursos de intervenções psicopedagógicas. A expectativa é que o tema remeta a uma análise mais profunda dos aspectos da música como tratamento multidisciplinar, cujo recurso, que não é novo, porém a que pouco se tem recorrido, talvez pela falta de capacitação e habilidades musicais dos educadores. Como objetivo específico pretende demonstrar que a música e os instrumentos musicais podem colaborar com os mais variados processos de ensino-aprendizagem, socialização e superação de dificuldades cognitivas e sensoriais. Além disso, tem como objetivo estudar sobre os benefícios da Educação Musical, conceituar música, destacar a relação da música na vida do indivíduo e sua influência na saúde e no desenvolvimento das pessoas, sobretudo aquelas que apresentam dificuldades e transtornos de aprendizagem.
A primeira seção traz o conceito de música. A segunda aborda a utilização da música e de instrumentos musicais e as diferenças para a Musicoterapia. A terceira apresenta os principais benefícios para quem estuda música e aprende a tocar um instrumento musical. A quarta seção aborda a influência da Educação Musical nos processos de ensino-aprendizagem na Educação Infantil. A quinta discute a utilização da música como ferramenta para aprendizagem. A sexta discorre sobre a musicalização na Psicopedagogia. Por fim, a sétima seção aborda a utilização da música e de instrumentos musicais com pessoas com transtornos e dificuldades de aprendizagem.
A metodologia utilizada se detém na pesquisa bibliográfica; portanto, é exploratória e descritiva; segundo Gil (2002) é realizada a partir de um levantamento de material com dados já analisados e publicados por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos e websites.
Conceituando música
A palavra música deriva do grego musiké téchne, que significa “a arte das musas”. A música é a combinação de ritmo, harmonia e melodia de maneira agradável ao ouvido. É manifestação artística e cultural de um povo em determinada época ou região; também é considerada veículo usado para expressar os sentimentos. A música é uma forma de expressão que utiliza os sons como matéria-prima, assim como a linguagem convencional utiliza palavras na fala.
A música é constituída por três elementos: melodia, harmonia e ritmo. A melodia é uma sucessão de sons musicais combinados; a harmonia é a combinação dos sons simultâneos; e o ritmo é a duração e a acentuação dos sons e das pausas. Se não houver um desses elementos, é impossível fazer música.
Houaiss (apud Bréscia, 2003, p. 25) conceitua música como “combinação harmoniosa e expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc.”. Para ele, existem muitas divisões e agrupamentos por gêneros, estilos e formas. Na classificação por gênero, temos a música erudita ou clássica, a música popular, a música tradicional e a música religiosa.
Para Vaggione (2001), ninguém pode dizer o que é música, a não ser por proposições normativas, porque “música em si” é de fato algo não demonstrável e sua prática não é nem arbitrária nem baseada em fundações físicas ou metafísicas.
A música expandiu-se ao longo dos anos, e atualmente tem diversas utilidades não apenas como arte, mas também no contexto militar, educacional ou terapêutico. Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais.
A utilização da música e de instrumentos musicais e as diferenças para a Musicoterapia
É importante destacar a utilização da música e de instrumentos musicais como ferramentas na aprendizagem e diferenciar esse recurso da Musicoterapia.
Brescia (2003) afirma que a música é a construção do conhecimento para despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo a criatividade, a sensibilidade, a concentração, a atenção, a memória, o respeito, a socialização etc. Hille e Schupp (2013) estudaram a forma como a aprendizagem de um instrumento musical ao longo da infância e da adolescência afeta o desenvolvimento de competências, capacidades cognitivas, resultados escolares, personalidade, uso do tempo e ambição. Os resultados de seu estudo indicam que a aprendizagem de um instrumento musical durante essas fases da vida promove aumento do desenvolvimento de competências cognitivas, influencia na melhoria do desempenho escolar, atua em aspetos de personalidade. Os resultados também reforçam as conclusões de inúmeros estudos que têm sido realizados no sentido de enfatizar e sistematizar os benefícios provenientes da aprendizagem instrumental.
O contato com os instrumentos musicais favorece a observação de padrões de comportamento de autodisciplina e das relações sociais e auxilia o desenvolvimento da coordenação motora e rítmica. O primeiro contato com os instrumentos deve ser de maneira livre e espontânea; os instrumentos musicais devem estar ao alcance das crianças na escola.
Rosa (1990) afirma que a maioria dos instrumentos da bandinha rítmica é de percussão, com variação rítmica e não melódica. Essa limitação não garante que esses instrumentos sejam mais fáceis de tocar, pois é mais difícil perceber o ritmo de alguns do que de outros. Para Mársico (1982, p. 125), “os instrumentos de percussão podem ser considerados extensões dos instrumentos naturais de percussão – mãos, pés, dedos”.
A Musicoterapia é uma ciência recente, que começou a ser sistematizada a partir de meados do século XX. Para Bruscia (2000), “a Musicoterapia não é uma disciplina isolada e singular claramente definida e com fronteiras imutáveis. Ao contrário, ela é uma combinação dinâmica de muitas disciplinas em torno de duas áreas: música e terapia”.
A Musicoterapia é a utilização da música com objetivos clínicos e socioeducativos, para auxiliar no tratamento e prevenção de problemas de saúde mental. A Musicoterapia se dedica a desenvolver potenciais ou reestabelecer funções do paciente para que ele atinja uma qualidade de vida melhor como forma de prevenção, reabilitação ou tratamento de doenças. É um processo efetuado entre o paciente e um musicoterapeuta, que deve ser um profissional qualificado que utiliza elementos próprios da música. Esse profissional atende às necessidades específicas de cada paciente, baseando-se sobretudo em fundamentos científicos.
Os objetivos terapêuticos da Musicoterapia consistem em estimular a comunicação, o relacionamento, o aprendizado, a mobilização, a expressão e a organização. Durante uma sessão de Musicoterapia, os objetivos são não musicais, por isso não é necessário que o paciente possua habilidades musicais para recorrer a esse tipo de terapia.
Os principais benefícios para quem estuda música e aprende a tocar um instrumento musical
De acordo com um artigo publicado no site Music Jungle, tocar um instrumento musical gera em torno de 18 benefícios. Mas aqui vale apena destacar alguns de caráter relevante e que se associam aos objetivos da Psicopedagogia.
- Melhora as habilidades de trabalho em equipe – o trabalho em equipe é um aspecto muito importante do sucesso na vida, e tocar um instrumento requer que o indivíduo trabalhe interagindo com outras pessoas para fazer música.
- Melhora a coordenação motora - a arte de tocar um instrumento musical requer muita coordenação entre os olhos e as mãos, pois ao ler as notas musicais em uma partitura o cérebro subconscientemente converte aquela nota em movimentos específicos, padrões motores e ainda adiciona ritmos.
- Melhora as habilidades com Matemática – a música está cheia de elementos da Matemática; uma evidência disso é que ler uma partitura requer que o individuo faça contas, entenda a matemática dos tempos, dos ritmos. Por isso, aprender teoria musical também pode ajudar bastante com Matemática. Estudos revelam que estudantes que tocam instrumentos musicais ou estudam artes geralmente são melhores em Matemática e tiram notas mais altas que os demais.
- Melhora a leitura e a habilidade de compreensão – de acordo com estudo publicado no jornal Psychology of Music (Psicologia da Música), “crianças expostas a um programa de vários anos de ensino de música envolvendo treinamento complexo de ritmo, tonal e habilidades práticas apresentam um desempenho cognitivo muito superior em leitura do que outras crianças que não tiveram treinamento musical. Não é uma surpresa saber disso, já que o estudo da música envolve constante leitura e compreensão. Quanto você vê um desenho de uma nota em uma página, você tem que reconhecer o nome daquela nota e traduzir em um movimento com o corpo”. Ao mesmo tempo, tem que entender o ritmo e forçar o corpo a reproduzir determinado padrão rítmico.
- Mantém a concentração afiada – tocar um instrumento requer concentração na afinação, no tom, no tempo, no ritmo, na duração da nota e no timbre. E tocar com outras pessoas requer muita concentração para escutar o que os outros também estão tocando.
- Promove as habilidades sociais – tocar um instrumento musical pode ser uma forma ótima para melhorar as habilidades sociais. Muitos músicos se juntam a orquestras e bandas e alguns deles se tornam grandes amigos. É muito comum saírem amizades para a vida toda nesses encontros.
- Melhora as habilidades de escuta – apesar de ser um pouco óbvio, tocar um instrumento requer que a pessoa aprenda a escutar muito bem as coisas. Terá que aprender a se ouvir para perceber quando está tocando uma nota errada. Afinar um instrumento significar escutar e identificar se a nota que está sendo tocada está alta ou baixa. Quanto alguém está tocando em uma banda ou orquestra, tem que escutar a banda, entender a parte da música que estão tocando e o que tem que ser executado naquele momento. Tocar um instrumento é garantia de que uma pessoa terá que aprender a escutar melhor.
- Ensina a ter disciplina – tocar um instrumento musical pode ser um desafio e tanto. Uma das qualidades que os músicos aprendem a ter é disciplina. Treinar o tempo todo nas piores partes das músicas requer disciplina. Os melhores músicos do mundo são mestres na disciplina; por isso eles têm tanto sucesso em seus instrumentos.
Outro benefício importante do estudo da música é o aumento da capacidade de memorização. Estudos revelam que escutar música e tocar um instrumento musical estimulam o cérebro, fazendo aumentar a sua capacidade de memorização.
Um estudo foi feito em dois grupos de crianças entre 3 a 4 anos de idade; um grupo recebia aulas de piano e de canto, enquanto outro grupo não recebeu qualquer tipo de aula musical. Os dois grupos participavam dos mesmos tipos de atividades na pré-escola; o resultado mostrou que as crianças que tiveram aulas de piano semanalmente desenvolveram 34% mais as suas habilidades espaço-temporais do que as outras crianças. Não foi só isso: os pesquisadores ainda disseram que os efeitos durariam um longo prazo.
Tocar um instrumento musical regularmente altera as estruturas da forma e potência do cérebro, dando-lhe maior plasticidade; a música pode ser usada como terapia para melhorar as habilidades cognitivas.
Existem cada vez mais evidências de que os cérebros dos músicos funcionam diferentemente dos cérebros dos que não são músicos. Se um indivíduo aprende a tocar um instrumento musical, as partes do seu cérebro que controlam suas habilidades motoras para trabalhos manuais, natação e corrida, a capacidade de escuta, de guardar informação musical e a memória se tornam cada vez mais aguçadas e mais ativas. Outros resultados mostram que tocar um instrumento musical pode aumentar o coeficiente de inteligência (QI).
Burrows (2000, p. 116), também lista alguns dos benefícios que as crianças podem adquirir com as atividades lúdicas:
- valor de interesse e divertimento;
- descontração;
- cooperação;
- autoquestionamento;
- melhor memória;
- concentração.
Chiarelli e Barreto (2005, p. 9) afirmam que
crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música, quando tudo o mais falhou. A música é um veículo expressivo para o alívio da tensão emocional, superando dificuldades de fala e de linguagem. A música foi usada para melhorar a coordenação motora nos casos de paralisia cerebral e distrofia muscular. Também é usada para ensinar controle de respiração e da dicção nos casos em que existe distúrbio da fala.
Esses autores afirmam ainda que “a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de Matemática, leitura e outras habilidades linguísticas das crianças” (Chiarelli e Barreto, 2005 p. 6). Isso de deve ao fato de que a musicalização requer empenho maior na concentração, e a prática regular torna-se um exercício não só para a música como para outros aspectos da vida.
A influência da Educação Musical nos processos de ensino-aprendizagem na Educação Infantil
O principal propósito da Educação Musical na Educação Infantil é o estímulo à criatividade para inventar e imaginar, fazendo com que as crianças estejam preparadas para compor, construir, escrever, cantar, tocar sem receios e ainda serem capazes de analisar, apreciar, avaliar, estipular critérios e formar opiniões, tornando a aula de música um momento singular de aceitação e acolhimento. Tais práticas ocorrem quando o trabalho em sala de aula permite a estimulação do ato criativo nas crianças, atentando para as características e particularidades dos alunos, perfazendo, acima de tudo, o desenvolvimento do ser humano.
Correia (apud Menegoro, 2008) afirma que a música pode ser usada como recurso no aprendizado de diversas disciplinas, facilitando a aprendizagem de conteúdos a serem trabalhados, tornando a aula dinâmica e atrativa, recordando informações e facilitando a fixação do conteúdo apresentado. Mas a música também deve ser estudada como matéria em si, como linguagem artística, forma de expressão e bem cultural. A escola deve apresentar a música aos alunos em diversos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico e tenha maior desenvolvimento em seus processos cognitivo-linguístico, psicomotor e socioafetivo.
A música contribui para tornar o ambiente escolar mais alegre e favorável à aprendizagem, porque “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da Pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente” (Snyders, 1992).
Por fim, Campbell e Dickinson (2000) ressaltam, dentre vários motivos, que a música deve ser utilizada na sala de aula e na escola porque melhora a aprendizagem de todas as matérias e ajuda os alunos a aprender que nem tudo na vida é quantificável.
A utilização da música como ferramenta para aprendizagem
A música é um recurso didático fantástico; é necessário criar mecanismos para que a linguagem musical faça parte da vida escolar das crianças a partir das séries iniciais.
Segundo Vygotsky (1998), a memória natural está muito próxima da percepção e surge como consequência da influência direta dos estímulos externos sobre os seres humanos.
Ao ser utilizada como facilitadora da aprendizagem, a música se torna uma ferramenta metodológica capaz de produzir conhecimento e prática na vivência dos indivíduos, além de potencializar emoções internas influentes no desenvolvimento deles. Gainza (1988, p. 22) ressalta que a música e o som como energia estimulam os movimentos interno e externo do ser humano, impulsionando-o à ação e promovendo uma multiplicidade de condutas.
Para Puchta (1993), a música tem forte potencial para transformar o comportamento do ser humano, exercendo forte influência na produção de neurotransmissores, induzindo-o a reações orgânicas. Com isso, utilizando adequadamente a música, teremos reações positivas nas quais se fará necessário centralizar a atenção para certos aspectos que devem ser considerados quanto ao seu uso, como faixa etária e o objetivo da atividade, entre outros. A música provoca estímulos para os circuitos cerebrais, ajudando no raciocínio lógico-matemático, e contribui para habilidades de percepção, linguagem e comunicação.
Para Krakovics (2000), a música é cada vez mais usada para alfabetizar, resgatar cultura e ajudar na construção do conhecimento, pois é um recurso abrangente de comunicação e atinge todas as classes sociais.
Rosa (1990) afirma que a simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma série de aptidões importantes. Muitos autores e pesquisadores, sabedores de que os efeitos da aprendizagem musical na plasticidade cerebral são mais evidentes nos músicos que iniciaram ainda bastante jovens a sua formação instrumental, defendem e incentivam a prática instrumental a partir dos dois ou três anos de idade. Contudo, há autores que consideram que nos primeiros anos de vida a Educação Musical deverá ser direcionada para o desenvolvimento global da criança, considerando que somente quando ela tiver adquirido as capacidades necessárias para realizar a assimilação e a acomodação das experiências é que estará apta a se beneficiar do ensino com todos os conceitos e destrezas inerentes ao ensino da técnica instrumental.
A musicalização na Psicopedagogia
A musicalização é muito importante na infância porque desperta o lado lúdico, estimulando e aperfeiçoando o conhecimento, a socialização, a alfabetização, a inteligência, a capacidade de expressão, a coordenação motora, a percepção sonora e a espacial e a Matemática.
Conforme estudos de Gardner (1996), crianças autistas que são extremamente perturbadas e que frequentemente evitam o contato interpessoal e que pouco se comunicam possuem capacidades musicais incomuns. Isso talvez se deva pelo fato de terem escolhido a música como principal canal de expressão e comunicação, ou porque a música é tão primariamente hereditária e que precisa de tão pouca estimulação externa quanto o falar ou o andar de uma criança normal.
Apesar de Gardner apontar uma inteligência específica para as habilidades musicais, é importante refletir sobre a conexão da música com outras dimensões da inteligência, como a inteligência corporal-sinestésica, que é a capacidade de controlar os movimentos corporais e de manipular objetos com destreza com o uso eficiente da coordenação grossa ou fina. A prática de um instrumento musical está intimamente relacionada a essa dimensão da inteligência. Para o autor, a inteligência musical está relacionada à capacidade de organizar sons de maneira criativa e a discriminação dos elementos constituintes da música.
Em um trabalho pedagógico, a linguagem musical deve ser valorizada como mecanismo essencial na formação intelectual da criança. Os resultados no ensino da música são os mesmos durante as atividades musicais, seja dançando, cantando, compondo ou ouvindo.
Do ponto de vista cognitivo, pode-se destacar a necessidade de levar sempre em consideração o fato de que a criança conhece e constrói as noções e os conceitos à medida que interagem com outras pessoas e diferentes objetos, sons, lugares. Do ponto de vista linguístico, coloca-se essencialmente o desenvolvimento das diferentes formas de representação verbal. Portanto, considera-se que a música exerce papel fundamental no desenvolvimento da comunicação porque por meio dela a criança canta, dança, representa, imagina, cria e fantasia sua própria expressão de comportamento e sentimentos. Do ponto de vista da Psicomotricidade, compreende-se que a criança precisa expandir seus movimentos, explorando seu corpo e o espaço físico. Todos esses aspectos estão associados diretamente ao desenvolvimento infantil; portanto, cabe à escola proporcionar atividades que estejam relacionadas à realidade das crianças, com uma proposta pedagógica coerente às suas necessidades.
A Psicopedagogia, nessa perspectiva, vem ao encontro do ensino musical auxiliando o aprendiz, ao oferecer uma opção de intervenção no auxílio no aprendizado de um instrumento musical. Contribui para as áreas de dificuldades de aprendizagem de um indivíduo, pois ela terá um olhar diferenciado para a aprendizagem humana, buscando encontrar explicações e propondo soluções para o sentido cognitivo, afetivo e social.
Bossa (1994) afirma que o psicopedagogo deve saber como o sujeito aprende a transformar-se em várias fases de sua vida, de quais recursos de conhecimento dispõe, como produz conhecimento e como aprende. Afirma ainda como a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana, como se produz a aprendizagem, como tratá-la e reconhecê-la.
O processo educativo permeia aspectos necessários ao desenvolvimento e crescimento humano. A Psicopedagogia está relacionada à aprendizagem, incluindo a musical, “auxiliando na identificação das dificuldades de aprendizagem e oferecendo opções de intervenção” (Mello, 2011, s/p).
Partindo desses pressupostos, a música na Psicopedagogia contribui para a produção de um conhecimento de formas variadas; usando esse recurso, é possível obter um resultado melhor para o desenvolvimento da aprendizagem.
O desempenho musical é um processo extremamente multifacetado pela quantidade de competências que engloba em si. Além da coordenação e da destreza motora, que constituem as competências mais imediatamente visíveis para quem assiste a um momento de desempenho musical, o desempenho e prática musical requerem e desenvolvem inúmeras competências cognitivas, percentuais, mnésicas (referentes à memória), emocionais, comportamentais e sociais.
As atividades de musicalização permitem que a criança crie a sua própria identidade. Weigel (1988) e Barreto (2000) (apud Chiarelli; Barreto, 2005) falam do desenvolvimento cognitivo/linguístico, psicomotor e socioafetivo da criança.
- Cognitivo/linguístico: quanto mais estímulos a criança receber, maior será sua vontade de aprender, pesquisar, perguntar, se interessar; por meio da visão, cantar e tocar favorecem a aprendizagem da criança. Quando ela acompanha esses movimentos, começa a desenvolver a concentração e a atenção.
- Psicomotor: pelo ritmo, a criança pode ter a formação do seu equilíbrio e do sistema nervoso, agindo diretamente sobre a mente. Alivia as tensões e descargas emocionais. O professor deve alienar atividades comuns aos ritmos, promovendo também o desenvolvimento da coordenação motora, importante para o processo de aquisição da leitura e escrita.
- Socioafetivo: a formação da identidade é fundamental para a percepção do eu e da integração com o outro. Com o desenvolvimento socioafetivo a criança aprende a aceitar-se como é, independente de suas diferenças. As atividades musicais coletivas favorecem o desenvolvimento de cooperação, participação, compreensão, além de liberar as emoções, em que ela sente segura e autorrealizada.
A utilização da música e de instrumentos musicais em pessoas com transtornos e dificuldades de aprendizagem
Vimos no discorrer deste trabalho todos os benefícios da musicalização. O importante aqui é ressaltar que a proposta é sua utilização na intervenção psicopedagógica, tratando indivíduos com transtornos e dificuldades de aprendizagem cujo desenvolvimento cognitivo é comprometido por inúmeros fatores, como genéticos ou provocados por traumas. A música tem um poder que consegue estimular nas pessoas sentimentos internalizados e fazê-las interagir com ações neuropsicomotoras para o desenvolvimento esperado de aprendizagem.
Em pessoas com transtornos do espectro do autismo (TEA) e transtornos do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que são as mais relevantes dificuldades de socialização, interação e concentração em atividades relativas às habilidades cognitivas e psicomotoras, a Educação Musical pode ser considerada excelente alternativa, já que fazer música requer dedicação diferenciada. Tocar um instrumento musical pode proporcionar a satisfação e a realização esperada nos indivíduos com esses transtornos, já que a experiência musical é inerente a todo ser humano. Estamos habituados com a música desde quando começamos a interagir com o mundo, e todos, independente de suas dificuldades e deficiências, estão de certa forma conectados com os elementos da música – os sonoros, os melódicos, os harmônicos ou os rítmicos.
A música nem sempre precisa ser ouvida, mas precisa ser sentida – e é por isso que ressaltamos que ela faz parte da vida de todo ser humano. Quanto à sua utilização no tratamento de pessoas com dificuldades de aprendizagem, é possível contemplar inúmeros resultados satisfatórios, e para isso é importante que os educadores, psicopedagogos e profissionais de saúde tenham um olhar especial para a utilização da música na habilitação e reabilitação dessas pessoas.
A família, que sempre tem destaque como agente facilitadora do desenvolvimento desses indivíduos, deve ter a mente disponível para estimulá-los e os incentivar sob a recomendação dos profissionais de saúde e educação, sempre levando em conta as aptidões e gostos dos pacientes. Mesmo que tenham dificuldades em desenvolver habilidades musicais e instrumentais, ainda assim a música fará parte do processo de desenvolvimento e estímulo à aprendizagem.
Para o tratamento do TEA, Craveiro de Sá (2003) indica como principais objetivos clínicos musicoterapêuticos possíveis entrar em comunicação, partindo do nível em que a pessoa se encontra; desenvolver e/ou ampliar a capacidade de autoexpressão; diminuir ou extinguir comportamentos patológicos indesejáveis, como isolamento, hiperatividade, autoagressividade, estereotipias, tensões emocionais, desorganizações da linguagem etc.; romper barreiras impostas pelos comportamentos obsessivos, ajudando a pessoa com autismo a assimilar mudanças e variações; ultrapassar ou remover obstáculos emocionais e/ou cognitivos existentes; desenvolver senso de fluxo temporal; desenvolver e ampliar a comunicação com uma linguagem não verbal que requer compreensão, codificação e decodificação de símbolos convencionados; e desenvolver a comunicação e a interação social, dentre outros.
Mais estudos e mais aprofundamento cientifico são necessários para estabelecer a relação do desenvolvimento das habilidades musicais ao longo do processo terapêutico educativo com música com o desenvolvimento de tais habilidades com as melhoras clínicas em pessoas com TEA. É Claro, que cada indivíduo interage de forma diferente com o ensino da música, pois nem sempre todos têm aptidão como instrumento pedagógico, mas a finalidade terapêutica tem um viés diferenciado; as evidências iniciais demonstram que os resultados superam e muito o que é esperado.
Nos indivíduos com TDAH, em especial as crianças, as principais características são: atraso no desempenho motor, engajamento motor sem sucesso maior e facilidade de se distrair durante alguma atividade que requer atenção, quando comparadas com aquelas sem o transtorno, reforçando assim a importância de uma prática pedagógica mais efetiva de todos os profissionais envolvidos na vida desse indivíduo.
Educadores como Villa-Lobos (1937), Mário de Andrade (1937) e J. C. Ribas (1957), dentre outros, usaram a música como instrumento facilitador da aprendizagem, estimulante da autoestima da criança e no processo de socialização. Por ser uma linguagem não verbal, a música facilita o desenvolvimento das áreas afetivas, cognitivas e sociais.
Pantev et al. (2001) estudaram o desenvolvimento das áreas corticais com representação somatossensorial e do córtex auditivo dominante. Esse estudo propõe contato “orientado” das crianças com a música, particularmente com o envolvimento de tarefas motoras, o que favorece o desenvolvimento das áreas corticais somatossensoriais e frontais e promove maior eficiência no planejamento e na execução de tarefas.
Diante disto, é possível demonstrar que a música apresenta-se como importante aliada às alternativas de tratamento quando utilizada como instrumento de intervenção nos processos comportamentais e estados emocionais, principalmente no TDAH.
Conclusão
Neste trabalho foram abordados assuntos que fazem refletir sobre a utilização da música em todos os seus aspectos, porém se deteve na Educação Musical e na utilização de instrumentos como recursos de aprendizagem, identificando como eles influenciam o desenvolvimento dos indivíduos, sobretudo daqueles que necessitam de uma intervenção especifica para potencializar a aprendizagem, que têm déficits.
Foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros, sites, revistas e periódicos; as pesquisas trouxeram esclarecimentos sobre a importância da musicalização, da Educação Musical e da Musicoterapia no desenvolvimento de pessoas que apresentam atraso nas funções relacionadas à aprendizagem.
Ao pesquisar como é possível, viável e prazerosa a musicalização no contexto escolar para o desenvolvimento das crianças nos processos de ensino-aprendizagem e a contribuição que a música traz como benefício para a formação da criança, percebe-se que ela se torna um recurso eficaz, pois não provoca dores e sensações de ineficiência. A música pode ser utilizada de forma muito ampla e não necessariamente busca a superação do desempenho musical, pois isso acaba sendo algo natural para aqueles que demonstrem aptidão, mas ela provoca sentimentos que despertam nos indivíduos uma superação pessoal.
Outro aspecto a considerar é que a música faz parte do cotidiano das pessoas e oferece motivação, despertando interesses, novas perspectivas a fim de tornar as crianças, os jovens e os adultos mais integrados uns aos outros, com maior capacidade concentração e melhor cognição.
Conclui-se, portanto, que a música permite contextualizar a realidade e os conteúdos ministrados em sala de aula, e o que era difícil de compreender passa a ter significado por parte dos educandos, além de sua função terapêutica, que melhora a autoestima e a saúde mental do indivíduo como paciente.
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Publicado em 17 de março de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA, Francisco Lindoval de. A música no contexto da Psicopedagogia e a utilização de instrumentos musicais como ferramentas de aprendizagem. Revista Educação Pública, v. 20, nº 10, 17 de março de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/10/a-musica-no-contexto-da-psicopedagogia-e-a-utilizacao-de-instrumentos-musicais-como-ferramentas-de-aprendizagem
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