As práticas docentes ao ministrar os conteúdos de Arte e suas inflexões na contemporaneidade

Fábio Pereira da Silva

Mestrando em Artes Visuais (UFPB)

O desenvolvimento desta pesquisa partiu do meu interesse pessoal de conhecer as práticas dos professores ao ministrar os conteúdos do componente curricular de Artes e se eles estão coerentemente executados com cada ano do Ensino Fundamental II, de acordo com o que propõe a legislação educacional, entendendo que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Artes têm por objetivo analisar e propor encaminhamentos para o ensino e aprendizagem de Artes no Ensino Fundamental. Esses parâmetros foram elaborados para que o professor possa compreender como devem ser ministradas as aulas de Artes.

As práticas dos professor de Artes estão inclusas em toda a sociedade, a qual se articula pelas relações sociais e pessoais e que irão se aperfeiçoando na sua formação como docente e transformando a cultura escolar. O ensino de Artes é uma área do conhecimento ampla que envolve várias linguagens e inacabado. Ensinar Artes não é apenas transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a construção do conhecimento. Conforme Freire (1994, p. 52) “nas suas razões ontológicas, políticas, éticas, epistemológicas, pedagógicas, considerando que observação e experiência são fatores fundamentais para esse construto”. Uma visão das práticas dos professores de Artes traz algumas provocações: como ensinar os conteúdos de Artes? O docente de Artes questiona seus saberes? A teoria e a prática da formação do professor de Artes se articulam com suas práticas pedagógicas?

Com base nessas inquietações, propõe-se como objetivo geral analisar a coerência dos conteúdos ministrados pelos professores do componente curricular de Artes do Ensino Fundamental II e sua relação com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino de Artes (PCN). Este trabalho ainda contemplará como objetivos específicos conhecer os conteúdos propostos pelos PCN para o Ensino de Artes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental; relacionar os conteúdos ministrados pelos professores de Artes do 6º ao 9º ano da Unidade Escolar Ozildo Albano aos PCN e detectar as principais dificuldades que os professores de Artes enfrentam ao ministrar os conteúdos. O ensino dos conteúdos de Artes está inserido no currículo da Educação Básica e faz parte dos debates e reflexões sobre Educação; essa reflexão é relevante para uma reforma pedagógica no currículo e para rever o papel do professor nesse processo, visando uma educação de qualidade e a promoção da eficiência do ensino dessa disciplina.

Conforme Iavelberg (2003, p. 10), “aprender Artes envolve a ação em distintos eixos de aprendizagens: fazer, apreciar e refletir sobre a produção social e histórica da Arte, contextualizando os objetos artísticos e seus conteúdos”. Partindo nesse pensamento, esta pesquisa embasa-se numa nova concepção de educação na qual o ensino de Artes na Educação Básica vem tomando novas proporções no ensino e permitindo que escolas e professores construam discursão sobre essa temática.

O ensino de Artes e os Parâmetros Curriculares Nacionais

Segundo os PCN (Brasil, 1998, p. 28), o ensino da Artes se fez obrigatoriamente presente no currículo escolar após muitos debates e manifestações de educadores, com o intuito do reconhecimento da importância das Artes para a formação e o desenvolvimento dos educandos. Com a Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDBEN), revogaram-se as disposições anteriores e o ensino de Artes é considerado obrigatório na Educação Básica. De acordo com o Art. 26 dessa lei, “o ensino de Artes, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da Educação Básica”. Para Fusari e Ferraz (1999, p. 99),

há professores que restringem sua interferência educativa em Artes à organização de aulas somente com atividades de colorir desenhos prontos e já impressos, muitos docentes que assumem essa postura desconhecem ou não se preocupam em interferir de um modo mais educativo na relação que os estudantes mantêm com a cultura e as obras de artes, além de pouco considerarem as elaborações criativas pessoais deles, bem como as suas transformações sensíveis-cognitivas no entendimento da arte.

Nas últimas duas décadas, essa situação vem mudando nas escolas brasileiras. Hoje, a tendência que guia a área é a chamada sociointeracionista, que defende a união de produção, reflexão e apreciação de obras artísticas. Como defendem os próprios PCN (1998, p. 42), é papel da escola “ensinar a produção histórica e social de Artes e, ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de imaginar e edificar propostas artísticas pessoais ou grupais com base em intenções próprias”. Segundo os PCN de Artes,

entende-se que aprender Artes envolve não apenas uma atividade de produção artística pelos alunos, mas também a conquista da significação do que fazem pelo desenvolvimento da percepção estética, alimentada pelo contato com o fenômeno artístico visto como objeto de cultura através da História e como conjunto organizado de relações formais (...). Ao fazer e conhecer Artes, o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo (Brasil,1998, p. 44).

A realidade, porém, tem mostrado que muitos professores de Artes trabalham de forma isolada, sem muita comunicação entre eles sobre os trabalhos que realizam. Os professores consideram importante o trabalho realizado em Artes como auxiliar às suas disciplinas e não como disciplina autônoma com objetivos e conteúdos próprios. Atividades artísticas aparecem algumas vezes na apresentação de conteúdos de outras disciplinas sem que o professor da disciplina, o de Artes ou o coordenador se deem conta disso.

Os conteúdos na área de Artes devem estar relacionados de maneira que possam sedimentar a aprendizagem artística dos alunos do Ensino Fundamental. Tal aprendizagem diz respeito à possibilidade de os discentes desenvolverem um processo contínuo de aprendizagem. De acordo com Fusari e Ferraz (1999, p. 21),

para desenvolver bem suas aulas, o professor que está trabalhando com Artes precisa conhecer as noções e os fazeres artísticos e estéticos dos estudantes e verificar em que medida pode auxiliar na diversificação sensível e cognitiva dos mesmos. Nesta concepção, sequenciar atividades pedagógicas que ajudem o aluno a aprender a ver, olhar, ouvir, pegar, sentir, comparar os elementos da natureza e as diferentes obras artísticas e estéticas do mundo cultural deve contribuir para o aperfeiçoamento do aluno.

Os conteúdos de Artes na ministrados na escola devem, de acordo com os PCN, possibilitar a sensibilidade, as dimensões cognitivas do aprender. O ensino de Artes deve ser planejado e organizado pelo docente segundo as necessidades naturais do aluno, integrado no contexto escolar visando atingir os objetivos propostos. As artes devem fazer parte do cotidiano escolar, pois através dela o individuo exterioriza suas emoções e sentimentos, representando-os de diversas maneiras: pintura, desenhos, dramatização, música e outras formas de expressão. O ensino de Artes no Ensino Fundamental encaminhado dessa forma despertará a criatividade, a liberdade de expressão e consequentemente ajudará no desenvolvimento da autoestima dos discentes.

Os critérios para seleção de conteúdos para o ensino de Artes contempla três eixos como articuladores do processo de ensino-aprendizagem; acredita-se que, para a seleção e a ordenação dos conteúdos gerais de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança por série, é preciso considerar os seguintes critérios: conteúdos compatíveis com as possibilidades de aprendizagem do aluno; valorização do ensino de conteúdos básicos de Artes necessários à formação do cidadão, considerando, ao longo dos ciclos de escolaridade, manifestações artísticas de povos e culturas de diferentes épocas, incluindo a contemporaneidade; e especificidades do conhecimento e da ação artística.

Fundamentando em estudos sobre o ensino dos conteúdos de Artes ministrados no Ensino Fundamental II, conclui-se que esses conteúdos devem contemplar metodologias diversas, de acordo com o ano e a faixa etária do aluno, em consonância com os PCN e com a realidade de cada sala de aula, levando em consideração suas peculiaridades. A proposta da pesquisa propõe que os professores pesquisados trabalhem conteúdos de Artes ordenadamente de acordo com o que estabelecem as diretrizes curriculares para o ensino de Artes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

Com relação aos conteúdos, orienta-se o ensino da área de modo que acolha a diversidade do repertório cultural que o aluno traz para a escola, trabalhe com os produtos da comunidade em que a escola está inserida e que se introduzam conteúdos das diversas culturas e épocas a partir de critérios de seleção adequados à participação do estudante na sociedade como cidadão informado. Como afirmam os PCN de Artes,

os conteúdos da área de Artes estão organizados de tal maneira que possam atender aprendizagens cada vez mais complexas no domínio do conhecimento artístico e estético, seja no exercício do próprio processo criador, pelo fazer, seja no contato com obras de arte e com outras manifestações presentes nas culturas ou na natureza. O estudo, a análise e a apreciação da arte podem contribuir tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como para sua experiência estética e conhecimento do significado que ela desempenha nas culturas humanas (Brasil,1998, p. 49).

Entende-se que o conjunto dos conteúdos estão articulados no processo de ensino-aprendizagem dentro dos três eixos norteadores: produzir, apreciar e contextualizar. A estrutura dos eixos de aprendizagem e sua articulação com os tipos de conteúdo da área, de outras áreas e dos temas transversais configura uma organização para que as escolas criem seus desenhos curriculares com liberdade, levando em consideração seu contexto educacional. Os três eixos estão articulados na prática, ao mesmo tempo que mantêm seus espaços próprios. Os conteúdos poderão ser trabalhados em qualquer ordem, conforme decisão do professor, em conformidade com o desenho curricular de sua equipe e segundo critérios de seleção e ordenação adequados a cada ciclo.

Procedimentos metodológicos

O procedimento metodológico deste artigo foi por intermédio de pesquisa documental e de campo com aspectos qualitativos para coletar e analisar dados, através de questionários, por considerarmos um instrumento adequado aos objetivos da pesquisa. Marques (2006, p. 35) afirma que “a pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de um entendimento detalhado dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados”.

Campo e sujeito da pesquisa

Os sujeitos envolvidos foram os professores de Artes e os gestores da escola. A pesquisa de campo foi realizada naUnidade Escolar Ozildo Albano, no nível de Ensino Fundamental II; a escola fica no centro da cidade de Picos/PI. A escolha dessa escola se deu em função de ser a escola que tem o segundo melhor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da cidade.

Coletas de dados

Para a coleta de dados, foram utilizados questionários com perguntas subjetivas e ficha de informações contendo itens para análise. A coleta foi realizada na escola, onde os professores responderam ao questionário conforme sua disponibilidade. No momento da aplicação dos questionários, foram explicados para os sujeitos os objetivos da pesquisa. Para Martins (2006, p. 36), “o questionário é um importante e popular instrumento de coleta de dados para uma pesquisa social. Constitui-se de uma lista ordenada de perguntas que são encaminhadas para potenciais informantes, selecionados previamente”.

O questionário está estruturado em quatro questões abertas direcionadas a quatro professoras que ministram a disciplina na escola; responderá a um questionário específico a coordenadora da escola, objetivando esclarecer como são as orientações e práticas dos professores ao ministrar os conteúdos de Artes em cada uma dessas turmas. Seguem os resultados obtidos, representados em forma de tabela.

Aspectos éticos

 A pesquisa não apresentou riscos ou desconforto aos sujeitos envolvidos, uma vez que não envolve procedimentos invasivos ou dolorosos. Os sujeitos (professores) respondentes ficaram livres para participar ou não da pesquisa.

Análise e discussão dos resultados

Obtive-se como resultado do trabalho de pesquisa as informações necessárias que responderam aos questionamentos levantados. Os dados coletados estão organizados em quadros descrevendo as respostas obtidas durante a pesquisa.
No Quadro 1 estão as respostas à pergunta “Como é realizado o processo de escolha dos conteúdos para serem ministrados na disciplina de Artes e quais suas fontes de pesquisa para a escolha desses conteúdos?”

Quadro 1: Respostas das professoras à primeira questão

P1

Faço a escolha de acordo com a série; minhas fontes mais utilizadas, além dos PCN, são: Graça Proença, coleção Artes e Produção e a coleção Artes e Habilidade, entre outras.

P2

Procuro pesquisar na internet, em apostilas ou em livros didáticos disponíveis no acervo da escola onde trabalho.

P3

É realizado em grupo: professores da área, coordenador e diretor. As fontes de pesquisa são: livros, internet e os PCN. Os conteúdos escolhidos são adaptados à realidade do aluno.

P4

A escolha dos conteúdos de Artes é realizada com orientação de um profissional da área. Os conteúdos escolhidos são adequados a cada série e adaptados à realidade do aluno e recursos didáticos de que o professor dispõe. As fontes de pesquisa são feitas em livros de Artes e na internet.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Sobre essa questão, a professora P1 trabalha o conteúdo de Artes Visuais de acordo com o que propõem os PCN. As professoras P2 e P3 desenvolvem o conteúdo de Artes Visuais aleatoriamente, usando fontes de pesquisa como internet, PCN e adaptando de acordo com a realidade do aluno. Para a professora P4, as aulas de Artes estão aliadas aos conteúdos desenvolvidos durante a semana, priorizando a interdisciplinaridade e procurando observar que habilidades serão desenvolvidas; a professora tem orientação de um profissional da área. Dessa forma, como explicam os PCN (1998, p. 23),

as habilidades artísticas se desenvolvem por meio de questões que se apresentam à criança no decorrer de suas experiências de buscar meios para transformar ideias, sentimentos e imagens num objeto material. Tal experiência pode ser orientada pelo professor e nisso consiste sua contribuição para a educação da criança no campo de Artes.

As habilidades artísticas descritas acima se apresentam à criança no decorrer do processo de construção de ideias, sentimentos, experiências e imagens que vão ser lidas e interpretadas de acordo com o seu entendimento; o professor, como mediador desse conhecimento, deve abrir caminhos para as novas descobertas no campo de Artes.

Perguntamos depois: “Em sua opinião, os conteúdos ministrados na sala de aula estão coerentes com o que propõem os Parâmetros Curriculares Nacionais?”. As professoras expressaram as respostas reunidas no Quadro 2.

Quadro 2: Respostas das professoras à segunda questão

P1

Sim.

P2

Bom, como não sou formada em Artes, desconheço as propostas pedagógicas desta disciplina.

P3

Sim.

P4

Não conheço os PCN de Artes, mas acredito que estejam coerentes, pois os conteúdos foram escolhidos de livros de Artes que, segundo seus autores, seguem os PCN.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Nas respostas, as professoras 1, 2 e 3 retratam que seus conteúdos são selecionados de acordo com o que estabelece os PCN; a P4 diz que não conhece os PCN de Artes, mas acredita que os conteúdos estejam coerentes porque foram escolhidos de livros de Artes que segundo seus autores seguem os PCN. Percebe-se claramente que essa professora não tem preocupação em conhecer as diretrizes da área em que trabalha, fazendo com que isso dificulte o aprendizado do aluno. Segundo os PCN de Artes, “os conteúdos poderão ser trabalhados em qualquer ordem, segundo decisão do professor, em conformidade com o desenho curricular da equipe”. As oportunidades de aprendizagem de Artes, dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do estudante como cidadão; o ensino de Artes na educação escolarizada se afirma, sobretudo, como forma de intervenção social, de “humanização” a partir da socialização, para atingir seu objetivo.

Questionamos também as professoras da seguinte forma: “Existe alguma dificuldade em ministrar os conteúdos da disciplina de Artes? Se você responder sim, cite as principais dificuldades que você encontra em ministrar esses conteúdos em sala de aula”. Elas responderam assim:

Quadro 3: Respostas das professoras à terceira questão

P1

Sim, falta de materiais didáticos e o desinteresse dos alunos.

P2

Sim, pois não sou formada em Artes, portanto, não assimilei as competências e habilidades necessárias para ministrar tal disciplina.

P3

Sim. Os alunos não levam a sério o ensino de Artes, por terem em mente uma disciplina que não reprova e por isso dão preferência a outras, dificultando o trabalho do professor.

P4

Sim. Não ter formação em Artes; o MEC não disponibilizar livros didáticos para professor e alunos; falta de interesse de alguns alunos; e o aluno não trazer o material pedido para as atividades práticas.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

De acordo com as respostas das professoras P1, P2, P3 e P4, pude constatar que têm grandes dificuldades em ministrar a disciplina por falta de formação na área, por falta de material; outra grande dificuldade que constatei, principalmente na P3, é que existe dificuldade do professor em fazer a articulação de interesse dos alunos com a disciplina; acredito que a não disponibilidade de livro didático pelo MEC faz com que não desperte o interesse do educando. Segundo Fusari e Ferraz (2001, p. 43), os professores das escolas públicas encontraram dificuldade em apreender métodos de ensino nas salas de aula, resultando numa prática pouco ou nada fundamentada, necessitada de aprofundamentos teórico-metodológicos. Dentre os problemas apresentados no ensino de Artes, após a Lei nº 5692/71, encontram-se aqueles referentes aos conhecimentos básicos de Artes e métodos para apreendê-los durante as aulas, principalmente nas escolas públicas.

A quarta pergunta feita às professoras foi “Qual seu ponto de vista sobre a importância do ensino de Artes para a vida do aluno?”. As respostas das professoras estão no Quadro 4.

Quadro 4: Respostas das professoras à quarta questão

P1

Desperta a criatividade, o senso crítico.

P2

Auxilia no desenvolvimento do aluno em inúmeros aspectos, especialmente nas relações interpessoais e no autoconhecimento.

P3

O ensino de Artes é importante porque possibilita ao aluno descobrir suas habilidades, que poderão aperfeiçoá-las e tornar-se uma profissão. Ainda prepara o aluno para viver em sociedade.

P4

É importante porque promove o desenvolvimento cultural do aluno, despertando o gosto pelas atividades artísticas como: música, teatro, pintura etc.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Constata-se que a resposta de P1 foi muito vaga; percebe-se que faltou objetividade na sua resposta, já P2, P3 e P4 reconhecem que é de grande importância o ensino de Artes para o desenvolvimento do aluno em muitos aspectos, principalmente para viver em sociedade. Nesse aspecto, Franco (1998) assume posição oposta, afirmando que o professor de Artes tem clara a importância de seu trabalho e a relevância de Artes no contexto escolar. No entanto, em seus dados, há uma significativa abstinência nas perguntas que exigem posicionamento e/ou justificativa. Esse fato talvez possa ser atribuído à frágil formação, que não fornece ao professor subsídios necessários para definir e justificar a importância de Artes na escola, embora acredite nela.

Para fazer uma análise mais minuciosa de como são ministrados os conteúdos de Artes em cada uma das turmas da Unidade Escolar Ozildo Albano, também respondeu a um questionário a coordenadora pedagógica da escola. Seguem os resultados obtidos, representados igualmente na forma de quadros.

Perguntamos sobre “o ensino da Artes no Ensino Fundamental, qual o conhecimento ou experiência na disciplina de Artes ou em algo similar?”. Obteve-se a seguinte resposta:

Quadro 5: Resposta da coordenadora á primeira questão

Coordenadora

O que conheço da disciplina são alguns conteúdos que já ministro nas turmas de Ensino Fundamental I; minha experiência com a disciplina é somente nessa modalidade de ensino.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

A seguir perguntamos: “Qual sua opinião sobre o procedimento metodológico do ensino de Artes nessa escola?”

Quadro 6: Resposta da coordenadora à segunda questão

Coordenadora

No acompanhamento, que não é realizado rotineiramente, percebemos que, apesar de os alunos não terem muito interesse na disciplina, as professoras se esforçam para trazer conteúdos e procedimentos atraentes para envolver as turmas; nem sempre obtêm êxito, mas tornam as aulas menos expositivas.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

A pergunta seguinte questiona a coordenadora sobre “como é realizado o processo de escolha dos conteúdos da disciplina de Artes nessa escola”. A resposta foi:

Quadro 7: Resposta da coordenadora à terceira questão

Coordenadora

O processo de escolha dos conteúdos é bem flexível, pois, como não temos um livro didático adotado, as professoras dispõem de um pequeno acervo na biblioteca da escola para consultas, e elas sempre que precisam acessar a internet para pesquisar.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Depois perguntamos: “Você conhece a proposta dos PCN para a disciplina de Artes no Ensino Fundamental? Ela está contemplada na escola?”.

Quadro 8: Resposta da coordenadora à quarta questão

Coordenadora

Conheço. Pela minha pouca experiência nesta escola, pude perceber que a escola contempla os PCN em suas linguagens artísticas: artes visuais, dança, música e teatro, na medida do possível, intercalando com outros conteúdos relacionados à História da Arte.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

A resposta para a pergunta “Os planos de curso dos professores de Artes são discutidos e analisados pelo diretor/coordenador da escola? Justifique” foi:

Quadro 9: Resposta da coordenadora à quinta questão

Coordenadora

Discutidos não, mas são analisados quando os professores fazem o plano de curso e deixam na escola; procuramos ter bom relacionamento com esses professores, pois a maioria não é formada nessa área e ministra a disciplina para complementar a carga horária.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Perguntamos: “as dificuldades vivenciadas pelos professores ao ministrar os conteúdos de artes são discutidas com o diretor/coordenador? Aponte a postura da direção/coordenação diante disso”. A resposta obtida foi:

Quadro 10: Resposta da coordenadora à sexta questão

Coordenadora

Sim. Geralmente procuramos conversar com os professores para discutir as possibilidades de intervenção, trabalhamos de forma democrática, procuramos sempre a opinião dos professores e até dos funcionários da escola.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Por fim, segue a resposta para a pergunta “Em sua opinião, qual a importância do ensino de Artes para os alunos?”.

Quadro 11: Resposta da coordenadora à sétima questão

Coordenadora

A importância dessa disciplina está exatamente na possibilidade de descobrir as habilidades artísticas de cada aluno e poder incentivá-lo a fazer treinos fora do ambiente escolar, para, quem sabe, se tornar um profissional da área artística.

Fonte: Pesquisa na Unidade Escolar Ozildo Albano, em Picos/PI, em 2017.

Pelas respostas, a coordenadora da Unidade Escolar Ozildo Albano relata que o seu conhecimento e sua experiência no ensino de Artes é mais voltado para as séries iniciais do que para o Ensino Fundamental II, mais ela entende que a disciplina é tão importante quanto as outras; sobre os procedimentos metodológicos do ensino de Artes na escola, diante da resposta da coordenadora, percebemos que ela deixa os docentes à vontade para realizar suas práticas e que não há acompanhamento rotineiro das praticas deles; a escolha dos conteúdos ministrados em sala de aula é bem flexível, entendemos que ela deixa seus docentes escolher os conteúdos aleatoriamente e com poucas orientações, tanto da coordenação como do que estabelecem os PCN - Artes. Nessa mesma linha de pensamento, Barbosa (1975, p. 89) relata que “é preciso, portanto, que os professores saibam que não é qualquer método de ensino de Artes que corresponde ao objetivo de desenvolver a criatividade, da mesma maneira que é preciso localizar as artes do aluno no complexo mais totalizante da criatividade geral do indivíduo”.

De acordo com a autora, para que o docente ministre a disciplina de Artes é preciso que conheça bem os conteúdos e métodos a serem desenvolvidos em sala de aula; não é qualquer conteúdo que irá desenvolver a criatividade do aluno, visto que tem que estar em consonância com o nível de aprendizagem do discente.

Considerações finais e sugestões

Enfim, entende-se que o componente curricular Artes tem papel importante tanto para os alunos como para os professores, pois propõe formar sujeitos que construam conhecimentos, compreendam o contexto cultural e histórico e que sejam capazes de inserção transformadora na sociedade.

Portanto, sabe-se que as Artes Visuais são um instrumento essencial para o desenvolvimento da criatividade do aluno; esse estudo se embasa numa nova concepção de Educação na qual as Artes Visuais vêm tomando novas proporções no ensino e permitindo que as escolas e professores construam opinião própria, segura e crítica embasada nos PCN – Artes para uma boa qualidade no ensino dessa disciplina.

De acordo com a pesquisa sobre a temática, pode-se concluir que as metodologias utilizadas pelos professores do Ensino Fundamental em alguns momentos não estão em consonância com o que estabelecem as diretrizes curriculares nacionais e na maioria das vezes por esses profissionais não terem formação específica na área, tornando suas práticas muito repetitivas. Este estudo deixa claro que é de grande importância para o professor desenvolver suas práticas pedagógicas, em que se constatam algumas dificuldades que a maioria dos docente vivencia, como a falta de formação continuada para professores que ministram a disciplina. Um ponto relevante a ser destacado é que a escola não estabelece as matrizes curriculares do ensino de Artes no seu projeto político-pedagógico para o ensino de Artes Visuais do Ensino Fundamental.

Durante a observação, constatei que alguns professores de Artes trabalham de forma isolada; percebem-se algumas contradições com o que foi respondido por alguns professores nos questionários, em que eles abordaram que teriam orientações de um professor da área; diante dessa observação, constata-se que não existe profissional formado na área de Artes na escola, apenas uma das professoras questionada está concluindo o curso de Artes Visuais. Os demais professores dizem considerar importantes os trabalhos realizados em Artes como auxiliares às suas disciplinas e não como disciplina autônoma, com objetivos e conteúdos próprios.

Atividades artísticas apareceram algumas vezes na apresentação de conteúdos de outras disciplinas, sem que o professor da disciplina, o de Artes ou o coordenador se deem conta disso. Por outro lado, as sistematizações da disciplina de Artes, da forma como foi percebido, não implicam expressão artística, mas apenas conteúdo explicado, como biografia de artistas e reproduções de obras.

Referências

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BRASIL. MEC. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Artes. Brasília: MEC/SEF, 1998.

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FUSARI, M. F. R.; FERRAZ, M. H. C. T. Artes na educação escolar. São Paulo: Cortez, 2001.

IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender Artes: sala de aula e formação de professores. Porto alegre: Artmed, 2003.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARQUES, Dorli João Carlos. Trabalhos acadêmicos: normas e fundamentos. Manaus: EDUA - Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2006.

MARTINS, G. A. Estudo de Caso:uma estratégia de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2006.

MORETTI, Isabella. Regras da ABNT para TCC: conheça as principais normas. 2019. Disponível em: https://viacarreira.com/regras-da-abnt-para-tcc-conheca-principais-normas. Acesso em: 10 fev. 2019.

Publicado em 31 de março de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Fábio Pereira da. As práticas docentes ao ministrar os conteúdos de Arte e suas inflexões na contemporaneidade. Revista Educação Pública, v. 20, nº 12, 31 de março de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/12/as-praticas-docentes-ao-ministrar-os-conteudos-de-arte-e-suas-inflexoes-na-contemporaneidade

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