O coordenador pedagógico e o seu papel no cotidiano escolar

Francisco Lindoval de Oliveira

Especialista em Gestão Escolar (Centro Universitário Senac/SP) e secretário escolar (Senac/RJ)

A organização e a gestão escolar são essenciais para a função de coordenador pedagógico; a concepção da escola como organização não é algo novo, surgiu a partir dos anos 1930, quando havia preocupação em realizar pesquisas sobre a administração escolar. Esses estudos sempre foram caracterizados por uma atuação burocrática e funcionalista, muito próximo do que se costuma ver nas organizações empresariais.

O que se pretende no presente trabalho é delimitar a importante função do coordenador pedagógico e de como ele deve atuar no acompanhamento das atividades da escola, contribuindo para a melhoria da administração escolar, identificando as necessidades dos professores e encontrando com eles soluções que priorizem um trabalho educacional de qualidade e que as rotinas da escola sejam otimizadas.

A constituição da identidade do coordenador pedagógico

A atividade de inspeção escolar, tendo a figura do inspetor como necessária para acompanhar o trabalho dos professores nas escolas, e a ideia da formação de um novo profissional para essa função, vieram com o Parecer CFE nº 252/69, complementar à Lei da Reforma Universitária (Lei nº 5.540/68), que instituiu as habilitações no curso de Pedagogia, entre elas a de supervisor escolar.

A promulgação da Lei nº 5.692/71, que instituiu a Reforma de Ensino de 1º e 2º Graus, constituiu a figura de um profissional no quadro do magistério comprometido com a ação supervisora, com diferentes denominações: supervisor escolar, pedagogo, orientador pedagógico, coordenador pedagógico, professor coordenador etc. Nos últimos anos, a função de coordenação pedagógica foi instituída em todas as escolas, elevando o nível de responsabilidade e atribuições desse profissional e sua importância na cadeia produtiva do saber.

A função do coordenador pedagógico no dia a dia da escola é ser o responsável pelos processos administrativo e educacional de qualidade. É administrar o corpo docente objetivando garantir a qualidade do serviço educacional prestado. O coordenador pedagógico trabalha diretamente dentro da escola e tem como objetivo garantir a formação continuada da equipe de professores e as articulações educacionais nesse ambiente.

O coordenador pedagógico é aquele que, conhecendo as rotinas diárias, as necessidades da comunidade escolar e as propostas pedagógicas da escola, possibilita que novos significados sejam atribuídos à prática educativa da escola e à prática pedagógica dos professores.

Algumas das inúmeras funções do coordenador pedagógico

A função do coordenador pedagógico é basicamente gerenciar as atividades da escola junto com a direção, coordenar e supervisionar todas as atividades relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem junto ao corpo docente, visando sempre à permanência do aluno no ambiente escolar. Ele é responsável pelo acolhimento dos estudantes e do corpo docente, bem como pelo atendimento de suas necessidades relacionadas ao ensino-aprendizagem. Esse acolhimento consiste em ambientar tanto alunos como professores quanto às diretrizes da escola, auxiliando-os sobretudo nas dificuldades da aprendizagem e do ensino, respectivamente. Também assiste a direção da escola, em muitos casos auxiliando a gerenciar os recursos financeiros e humanos da instituição.

Suas atribuições são definidas pelas legislações estaduais ou municipais, dependendo do sistema de ensino a que sua escola pertença – e são muitas. Envolve desde a elaboração e revisões frequentes do projeto político-pedagógico – PPP até funções administrativas como auxiliar da direção e, sobretudo, nas atividades relativas ao funcionamento pedagógico da escola e de apoio aos professores. Desse modo, pode-se identificar três funções específicas do coordenador pedagógico:

  1. Formadora;
  2. Articuladora;
  3. Transformadora.

Como formador, sua função é oferecer condições mínimas necessárias para os professores, a fim de que eles se aprofundem em suas áreas de atuação e as desenvolvam bem, melhorando assim suas práticas pedagógicas, que se refletem positivamente dentro da sala de aula, como afirma Clementi (2003, p. 126):

A função formadora do coordenador precisa programar as ações que viabilizam a formação do grupo para qualificação continuada desses sujeitos, consequentemente conduzindo mudanças dentro da sala de aula e na dinâmica da escola, produzindo impacto bastante produtivo e atingindo as necessidades presentes.

O coordenador pedagógico deve identificar as necessidades dos professores e com eles encontrar soluções que priorizem um trabalho educacional de qualidade. Não basta a esse profissional somente o conhecimento teórico para acompanhar o trabalho pedagógico; é preciso saber estimular os professores a desenvolver a percepção e a sensibilidade para identificar as dificuldades dos alunos.

O coordenador deve acompanhar o trabalho docente, sendo responsável pelo elo entre os envolvidos (aluno e professor) na comunidade educacional. O relacionamento entre o coordenador e o professor é fundamental para uma gestão democrática.

Como articulador, seu papel principal é oferecer condições para que os professores (seus pares na condução do fazer pedagógico) trabalhem coletivamente as propostas curriculares com ações de parceria, em função de sua realidade. Ele deve ser capaz de despertar nos membros da instituição escolar a capacidade de ser proativos, responsáveis, dinâmicos, inteligentes, com habilidade para resolver problemas e tomar decisões. Além disso, deve criar um ambiente de relacionamento mais estreito com os professores, as famílias, a comunidade, o sistema e outros elementos que possam se integrar à escola. Vasconcelos (2006, p. 87) ressalta que

é importante lembrar que, antes de mais nada, a coordenação é exercida por um educador, e como tal deve estar no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola: a reprodução da ideologia dominante, o autoritarismo, o conhecimento desvinculado da realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente [...], a discriminação social na e através da escola etc.

A importância do coordenador pedagógico no ambiente escolar se dá pelo fato de ser ele o articulador e mediador das relações entre os indivíduos (pais, alunos, professores e diretores) da comunidade escolar, evitando desgastes que possam vir a acontecer entre eles, com o compromisso de ações capazes de proporcionar as transformações ocorridas na sociedade atual. Nesse sentido, Carapeto (2001, p. 93) afirma:

Como prática educativa, a supervisão educacional, independentemente de formação especifica em uma habilitação no curso de Pedagogia, em cursos de pós-graduação ou como conjunto de conteúdos desenvolvidos no curso de Pedagogia, constitui-se num trabalho profissional que tem o compromisso de garantir os princípios de liberdade e solidariedade humana, o pleno desenvolvimento do educando, o seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho e, para isso, assegura a qualidade do ensino, da educação, da formação humana. Seu compromisso, em última instância, é a garantia de qualidade de formação humana que se processa nas instituições escolares, no sistema educacional brasileiro, na atual conjuntura mundial. Não se esgota, portanto, no saber fazer bem e no saber o que ensinar, mas no trabalho articulador e orgânico entre a verdadeira qualidade do trabalho pedagógico que se tornará mais verdadeira em seus compromissos humanizadores quando expressar e se constituir em polo-fonte de subsídios para novas políticas e novas formas de gestão na intensidade espaço-temporal de transformações que a era da globalização e a sociedade do conhecimento ocasionaram.

Por fim, o coordenador pedagógico, como transformador tem compromisso com a provocação para o questionamento, de modo a ajudar os professores a serem críticos e reflexivos em toda a sua prática docente para cumprir seus objetivos educacionais.

Portanto, cabe ao coordenador pedagógico o relacionamento com os pais e a comunidade, especialmente no que se refere ao funcionamento pedagógico-curricular e didático da escola e a comunicação e interpretação da avaliação dos alunos.

O coordenador pedagógico na gestão da escola e de seus recursos

Como toda instituição, as escolas buscam resultados, o que implica uma ação racional, estruturada e coordenada. Ao mesmo tempo, sendo uma atividade coletiva, não depende apenas das capacidades e responsabilidades individuais, mas de objetivos comuns e compartilhados e de ações coordenadas e controladas dos agentes do processo.

Inicialmente, os estudos nessa área eram denominados “Administração e Organização Escolar” ou “Administração Escolar”. Como explica José Carlos Libâneo, professor doutor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com as discussões sobre reforma curricular dos cursos de Pedagogia e de licenciaturas a disciplina passou em muitos lugares a ser denominada “Organização do Trabalho Pedagógico” ou “Organização do Trabalho Escolar”.

Essa mudança foi responsável pela adoção de uma análise crítica da escola dentro da organização do trabalho no capitalismo; segundo Libâneo (2001), “houve pouca preocupação com os aspectos propriamente organizacionais e técnico-administrativos da escola”. Entretanto, ainda de acordo com ele, uma vez tomadas às decisões coletivamente, advoga que cada membro da equipe assuma a sua parte no trabalho, admitindo-se a coordenação e a avaliação sistemática da operacionalização das decisões tomadas dentro de uma diferenciação de funções e saberes.

A organização escolar é uma constituição social que é construída com base na inteligência subjetiva e cultural das pessoas. Entretanto, essa construção não é um processo livre e voluntário, mas motivado pela realidade sociocultural e política, incluindo a influência de forças externas e internas marcadas por interesses de grupos sociais, sempre opostos e às vezes colidentes.

Toda instituição escolar necessita de uma estrutura de organização interna, geralmente prevista no regimento escolar ou em legislação específica estadual ou municipal. O termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e disposição das funções que asseguram o funcionamento de um todo – no caso, a escola.

A estrutura organizacional de escolas se diferencia conforme a legislação dos estados e municípios e, é claro, conforme as concepções de organização e gestão adotadas. Quanto à estrutura básica, com todas as unidades e funções típicas de uma escola, destacamos aqui que o setor pedagógico compreende as atividades de coordenação pedagógica e orientação educacional. As funções desses especialistas variam confirme as legislações estadual e municipal; em muitos lugares, suas atribuições ora são reunidas em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas por professores.

Esses profissionais se envolvem nas entranhas da administração escolar quando colaboram, com suas habilidades, principalmente sobre o capital humano, haja vista que lidam com pessoas o tempo todo, liderando projetos, orientando processos, acolhendo pessoas (aqui me refiro a alunos, pais e professores), mediando conflitos e dando soluções às dificuldades de aprendizagem. Têm know-how para prestar auxílio à direção sobre o destino dos recursos financeiros e administrativos, propõem investimentos e soluções para o melhor aproveitamento de verbas destinadas à instituição de ensino, se ela for pública. Se for privada, auxilia ainda a diminuir os custos para maximizar os objetivos financeiros.

Como são funções especializadas, envolvendo habilidades bastante especiais, recomenda-se que seus ocupantes sejam formados em Pedagogia ou adquiram formação pedagógico-didática específica.

Tradicionalmente, o coordenador pedagógico é visto como um colaborador fiscalizador e que interfere nos processos administrativos, tendo em vista sua função gestora. No entanto, uma coordenação atenciosa e democrática poderia evitar esse possível mal-entendido.

O coordenador pedagógico deve compreender que, devido ao grande número de afazeres ao qual se submetem os diretores, fica cada vez mais difícil eles administrarem uma unidade de ensino. Isso os induz naturalmente à desatenção para questões aparentemente secundárias, mas de suma importância em ocasiões de necessidades internas no estabelecimento.

Por outro lado, a complexidade do trabalho do coordenador pedagógico é agravada na medida em que cresce o número de alunos. A consequência disso são problemas vinculados a comportamentos negativos, próprios de egressos de uma sociedade em crise de valores, refletindo nas salas de aula.

De qualquer forma, a função gestora do coordenador pedagógico, hoje visto como colaborador nas rotinas gerais da escola, o impulsiona naturalmente para tais questões relacionadas à administração escolar, que são comuns à atividade da direção da escola.

Conclusão

O coordenador pedagógico é, então, aquele que, conhecendo as propostas pedagógicas da escola, tendo participado de sua elaboração/adaptação às necessidades e objetivos da escola, possibilita que novos significados sejam atribuídos à prática educativa da escola e à prática pedagógica dos professores.

É, portanto, o trabalho do coordenador pedagógico ser o regente orientador para um processo administrativo-educacional de qualidade. Entretanto, não é apenas administrar pessoas, mas administrar com as pessoas, objetivando garantir a qualidade do serviço educacional prestado.

Não foi possível esgotar o tema em questão nem elencar todas as responsabilidades atribuídas ao coordenador pedagógico, como construção e avaliação do projeto político-pedagógico, acompanhamento da aplicação do currículo, promoção da formação continuada dos professores, elaboração e execução de projetos educativos para a formação da consciência cidadã dos estudantes, atendimento individualizado das necessidades dos estudantes – sejam elas educacionais ou até de caráter pessoal, desde que elas influenciem o desenvolvimento pedagógico, entre tanta outras já discutidas por inúmeros autores especialistas da área.

As questões aqui discorridas falam, em síntese, de atribuições pedagógicas, mas sobretudo, administrativas, pois, fazendo parte da equipe gestora da escola, o coordenador pedagógico assume o papel de cogestor das rotinas da unidade de ensino.

Referências

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______. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968. Lei da Reforma Universitária. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5540.htm. Acesso em: 15 fev. 2017.

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CARAPETO, N. S. Supervisão educacional: novas exigências, novos conceitos, novos significados. In: RANGEL, M. (Org.). Supervisão pedagógica – princípios e práticas. São Paulo: Papirus, 2001. p. 81-101.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria da Administração. 5ª ed. São Paulo: Makron Books, 1997.

CLEMENTI, Nilba. A voz dos outros e a nossa voz. In: ALMEIDA, Laurinda R.; PLACCO, Vera Maria N. de S. O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. São Paulo: Loyola, 2003.

LIBÂNEO, José Carlos. O sistema de organização e gestão da escola – teoria e prática. 4ª ed. Goiânia: Alternativa, 2001.

PORTAL UDEMO – Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo. Orientação aos gestores das unidades escolares. Disponível em: http://www.udemo.org.br/RevistaPP_04_04OPapeldoSup.htm. Acesso em: 16 fev. 2017.

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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2006.

Publicado em 14 de abril de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

OLIVEIRA, Francisco Lindoval. O coordenador pedagógico e o seu papel no cotidiano escolar. Revista Educação Pública, v. 20, nº 14, 14 de março de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/14/o-coordenador-pedagogico-e-o-seu-papel-no-cotidiano-escolar

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