Bingo: uma proposta para o ensino de função de 1º grau

O relato de experiência em questão possui como objetivo descrever o procedimento realizado para a aplicação de uma tarefa desenvolvida pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), que também se constituem como autores deste relato.

A tarefa foi realizada em forma de bingo sobre função de 1° grau e aplicada em uma turma de 1ª série do Ensino Médio do turno matutino do Centro Estadual Interescolar Áttila de Almeida Miranda, localizado na cidade de Cachoeiro de Itapemirim/ES.

A intenção ao elaborar o bingo foi que os alunos pudessem compartilhar seus conhecimentos sobre o assunto com sua dupla e adquirir novos conhecimentos acerca do conteúdo a ser explorado. Todos os procedimentos executados pela turma foram orientados pelos bolsistas e pela professora supervisora do Pibid.

Procedimentos metodológicos

No final do primeiro trimestre do ano letivo de 2019, a professora supervisora do Pibid orientou os bolsistas para que elaborassem uma tarefa. Para isso, disponibilizou alguns conteúdos, dos quais foi escolhido função de 1° grau. Em seguida, os pibidianos definiram que um bingo sobre esse assunto seria algo diferente do que é vivenciado no cotidiano daqueles alunos.

A tarefa proposta foi uma adaptação de um bingo de função quadrática exposto pelo professor da disciplina Instrumentação para o Ensino, a qual foi cursada pelos autores deste relato no Instituto Federal do Espírito Santo, câmpus Cachoeiro de Itapemirim.

Diante disso, os autores se articularam para que fosse possível aplicar o bingo. Pesquisaram e modificaram 20 questões sobre o conteúdo. Posteriormente, utilizaram o software Word para organizá-las, juntamente com as respostas e criar as cartelas. Ao final desses procedimentos, a tarefa foi aplicada. Para sua elaboração e desenvolvimento, foi criado um cronograma que está explicitado na Tabela 1.

Tabela 1: Cronograma da tarefa

Fonte: Dados síntese da pesquisa.

Planejamento, elaboração e aplicação da tarefa

A tarefa foi elaborada de acordo com o tema escolhido, função de 1° grau, o qual já havia sido estudado pela turma. Desse modo, a tarefa teve como objetivo auxiliar na compreensão do conteúdo apresentado e incentivar a interação dos alunos, via discussão em duplas. Nesse trabalho, adotamos o termo tarefa na acepção de Ponte (2014, p. 21-22), quando afirma que ela

representa apenas o objetivo de cada uma das ações em que a atividade se desdobra e é exterior ao aluno (embora possa ser decidida por ele). Na verdade, as tarefas são usualmente (mas não necessariamente) propostas pelo professor, mas, uma vez propostas, têm de ser interpretadas pelo aluno e podem dar origem a atividades muito diversas (ou a nenhuma atividade).

Após a compreensão desse termo, faz-se necessário entender o conceito de função de 1° grau. Paiva (2013, p. 151) afirma que é “toda função do tipo f(x) = ax + b, com a e b números reais e a ≠ 0”. Observa-se nessa definição um detalhe fundamental: a obrigatoriedade de a ser diferente de zero, pois, caso seja igual a zero, a função é caracterizada como polinomial de grau zero ou constante.

Buscamos fazer uso de materiais manipuláveis (MM) – neste caso, o bingo, para desenvolver a proposta de trabalho. Entendemos que os MM são “objetos ou coisas que o aluno é capaz de sentir, tocar, manipular e movimentar. Podem ser objetos reais que têm aplicação no dia a dia ou podem ser objetos que são usados para representar uma ideia” (Nacarato, 2005, p. 3).

Visto isso, é relevante também discorrer a respeito da elaboração das ferramentas necessárias para o desenvolvimento do bingo. Inicialmente, foram confeccionadas cartelas com nove espaços, oito contendo as possíveis respostas para as questões sorteadas e um destinado a ser traçado por duas diagonais, conforme pode ser visto na Figura 1. Além disso, houve a necessidade de organizar vinte questões (algumas podem ser encontradas no apêndice 2) envolvendo coeficiente angular e linear, função crescente e decrescente, raiz da função e gráficos, dentre outras; essas questões foram depositadas em uma caixa com a finalidade de serem retiradas aleatoriamente.

No dia da aplicação da tarefa, os pibidianos organizaram a sala e separaram pares de carteiras para as duplas. Em seguida, a turma se acomodou e foi orientada sobre a tarefa a ser desenvolvida no período de 55 minutos. Ficou determinado que a dupla que primeiro completasse a cartela com as respostas marcadas corretamente seria a vencedora. Optamos pelo trabalho em duplas, pois “permite que opiniões diferentes venham à tona, além de proporcionar que os alunos aprendam a se expressar de forma mais articulada e defendam seus argumentos, cabendo ao professor assumir o papel de mediador” (Gualandi, 2019, p. 46).

Quadro 1: Algumas das questões do bingo

De maneira geral, todos os alunos participaram da tarefa, e as duplas apresentaram bom desempenho, socializando entre si e resolvendo as questões de forma coerente, argumentando e defendendo suas resoluções, o que pode provocar o desenvolvimento da autonomia desses estudantes.

Considerações finais

Neste relato de experiência foram descritos o planejamento, a elaboração e a aplicação de uma tarefa, a qual contribuiu de forma relevante para a formação dos autores, visto que: a) escolheram um tema a ser trabalhado; b) pesquisaram sobre o tema escolhido; c) organizaram o material a ser trabalhado; d) vivenciaram a experiência de trabalhar com MM em aulas de Matemática. Assim, os momentos que decorreram desde o planejamento até a aplicação da tarefa contribuíram para a formação dos licenciandos.

Em relação aos estudantes, percebeu-se entusiasmo e dedicação durante a resolução das questões. Eles dialogavam com seu companheiro de dupla e consequentemente aprimoravam os conhecimentos a respeito do tema, o que pode ser entendido como positivo.

Por fim, conclui-se que a tarefa desenvolvida atendeu às expectativas dos principais envolvidos, os alunos, pois eles reagiram de forma positiva e elogiaram a forma diferenciada de trabalhar o conteúdo de funções do 1º grau.

Referências

GUALANDI, J. H. Os reflexos de uma formação continuada na prática profissional de professores que ensinam Matemática. Tese (doutorado em Educação Matemática), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.

NACARATO, Adair Mendes. Eu trabalho primeiro no concreto. Revista de Educação Matemática, ano 9, nº 9-10, p. 1-6, 2004-2005. Disponível em: http://vicenterisi.googlepages.com/RevEdMat_gamo.pdf#page=7. Acesso em 18 maio 2019.
PAIVA, Manoel. Função polinomial do 1º grau ou função afim. In: PAIVA, Manoel. Matemática Paiva. 2ª ed. v. 1. São Paulo: Moderna, 2013. p. 150-163.

PONTE, João Pedro da. Tarefas no ensino e na aprendizagem da Matemática. In: PONTE, João Pedro da (Org.). Práticas profissionais dos professores de Matemática. Lisboa: Projeto P3M, 2014. cap. 1, p. 13-27. Disponível em: www.ie.ulisboa.pt. Acesso em: 21 ago. 2019.

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que concedeu a oportunidade de nossa participação no Pibid.