Os reflexos da ação humana sobre o território do Município de Guamaré/RN: as exigências de uma economia globalizante
Maria Izabel de Melo
Licenciada em Geografia (UFRN)
O propósito deste estudo é a presentar uma análise discursiva e reflexiva acerca dos efeitos das ações humanas sobre o espaço e o território geográfico do município de Guamaré, no Rio Grande do Norte, quanto ao que corresponde aos limites intermunicipais e litorâneos. Assim, o estudo da Geografia faz valer o desenvolvimento desta pesquisa, pois apresenta fundamentos baseados em evidências e contextos.
Guamaré é um município riquíssimo em belezas e recursos naturais. No entanto, quando não bem administrados, sua exploração passa a se tornar uma armadilha, pois o tempo em que os recursos são utilizados sobrepõe-se ao tempo de que a natureza precisa para equilibrar-se; assim, a perspectiva de escassez é iminente na vida da população guamareense e da região.
Desse modo, a proposta do estudo concentra esforços para estabelecer uma base orientadora, com base nas evidências elencadas, demonstrando que a ação humana como um todo pode ser prejudicial tanto para si mesma quanto para os demais indivíduos que compõem sua comunidade.
O estudo também busca apresentar, panoramicamente, um contexto social repleto de necessidades, as quais conferem à população ações em busca da sobrevivência, por meio de pesca, caça e artesanato, dentre outras formas de explorar os elementos da natureza. Todavia, busca-se explanar as principais evidências consideradas de maior destaque, cabendo realizar as leituras indicadas nas referências bibliográficas para aprofundar-se e apropriar-se da discussão.
As contribuições do estudo servirão de base para compreensão da extensão territorial do município de Guamaré bem como a utilização dos recursos naturais na caça, pesca e exploração dos recursos naturais.
Com as contribuições da revisão da literatura selecionada para este estudo, este reforçará a necessidade da conscientização da população quanto à utilização dos recursos naturais do espaço que compreende tanto a zona urbana quanto a zona rural.
Geografia e espaços sociais
Discutir e considerar o espaço geográfico onde jazem as relações sociais é algo que deve ser realizado continuamente, e não apenas em momentos de dificuldade, antes pelo contrário, a fim de que as discussões sirvam para evitar os problemas e não prever remediações sem ao menos disponibilizar-se para melhoria da situação ambiental local, regional e nacional.
Para Jatobá (2011, p. 141),
urbanização e meio ambiente têm uma relação direta. A urbanização, por implicar a concentração de pessoas e atividades produtivas sobre um espaço restrito, gera, necessariamente, impactos degradadores do meio ambiente com efeitos sinérgicos e persistentes. Embora outras atividades, como a agricultura, a pecuária, a mineração e a geração de energia, provoquem igualmente grandes impactos negativos sobre o meio ambiente, a urbanização, por gerar de forma concentrada seus impactos ambientais e difundi-los além dos limites urbanos, merece uma análise especial.
Todo espaço social deve ser repleto de atenção e cuidados, pois é nele que o ser humano precisa se estabelecer e manter sua estadia. Qualquer tipo de construção, isto é, toda alteração humana no meio ambiente em que vive, requer o cuidado dos agentes de defesa do meio ambiente para que os riscos de desiquilíbrio ambiental sejam diminuídos ou evitados.
No entanto, muitos cidadãos ainda não compreendem a necessidade dessa proteção e até aludem demasiado interesse em prol da vida florestal; porém esses, equivocadamente, ignoram o fato de que se não preservamos a natureza não terão de onde prover sua subsistência e de sua família, bem como a de toda a comunidade e da sociedade.
Assim, como viveria o ser humano sem peixes? Sem carne? Sem pão? Realmente, esses questionamentos parecem estar no nível da incompreensão ou simplesmente da ignorância humana, cegado pela ganância em explorar a natureza para si e só para si mesmo.
Do outro lado, temos as organizações não governamentais (ONGs) em prol da conscientização e do estímulo social para a preservação dos espaços geográficos e da natureza como um todo. O ser humano necessita da natureza, mas ignora suas necessidades, seu tempo de recuperação de uma ação exploradora, de uma retirada de minérios ou de vegetais.
A legislação é clara quanto à forma de exploração dos meios naturais.
Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII – recuperação de áreas degradadas;
IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X – Educação Ambiental em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
No entanto, ações benéficas ao meio ambiente não devem ser coagidas com penalidades. Primeiramente, faz-se extremamente necessária uma intervenção social em prol da conscientização de novas propostas de exploração do espaço geográfico e perímetro urbano para que a população se torne proativa, isto é, para cada elemento explorado deve haver uma reposição à natureza, isto é, uma forma de recompensar o ambiente para visar ao equilíbrio do espaço explorado.
A população de uma cidade, especificamente litorânea, como esta em análise, deve estar consciente dos riscos ao meio ambiente provocados pela exploração e pela poluição em massa dos espaços ambientais, que podem ocasionar significativos problemas tanto para a saúde humana quanto para a dos animais e plantas.
Espaço geográfico, meio ambiente e poluição
Ao traçar uma linha de pesquisa voltada às consequências da exploração do espaço geográfico municipal, o estudo oportuniza a evidenciação de ocorrências degradadoras, como a poluição de rios, praias e vias públicas – resíduos que serão levados pelo vento e pela chuva para os córregos e, consequentemente, para os rios –, evidências que são fruto da falta de conscientização de uma população ribeirinha que não compreende a complexidade dos efeitos acumulativos de dispensar o lixo de forma inadequada.
Tais resíduos entrarão em contato com a vida selvagem e marinha, ocasionando significativos problemas que prejudicam o ciclo natural das espécies no que se refere à alimentação, à reprodução e à existência.
Figura 1: Resíduos de lixo domiciliar encontrados em rio
A poluição é um mal que acompanha a humanidade há séculos. Desde a industrialização, o ser humano não desenvolveu adequadamente formas para descartar os resíduos e muito menos reciclá-los, retornando-os de forma adequada para as residências e diminuindo a agressividade aos recursos naturais do espaço geográfico.
Urbanização e problemas ambientais
A urbanização desestruturada é uma das principais causas da agressão ao meio ambiente. Espaços que outrora eram considerados preservados ou reservados à vida selvagem passam por riscos de existência entre humanos, casas e indústrias.
Quanto ao povoamento do litoral brasileiro, Borelli (2007, p. 3) destaca claramente que
o litoral brasileiro foi povoado de forma descontínua, identificando-se zonas de adensamento e núcleos pontuais de assentamento. No período colonial, formaram-se expressivos conjuntos de ocupação do espaço litorâneo: o litoral oriental da Zona da Mata nordestina, o Recôncavo Baiano, o litoral fluminense, o litoral paulista, além de cidades portuárias isoladas, como Belém, São Luís, Fortaleza e Vitória. A ocupação da faixa litorânea brasileira pauta-se, então, nas atividades portuárias – dando suporte ao modelo econômico primário-exportador, expressando o papel do Brasil na divisão internacional do trabalho como produtor para o mercado externo.
Assim, não é de estranhar que, por se tratar de uma cidade litorânea, Guamaré hoje ocupa um espaço urbano praticamente tomado pelas construções no limite dos dois rios que cercam o município, o Aratuá e o Miassaba.
Goettems (2006, p. 14) afirma que
as transformações que se verificam no mundo atual trazem consigo preocupações que historicamente envolvem a pesquisa e o ensino de Geografia, que, depois de várias fases (não necessariamente lineares) e diferentes enfoques teóricos, encontra-se, mais uma vez, instigada a responder a questionamentos como: quais são os conteúdos realmente importantes num mundo em constante e rápida transformação? Como relacionar o local e o global? Como sensibilizar os alunos para a importância do conhecimento da Geografia para a sua vida em suas múltiplas dimensões e, em especial, para a compreensão dos problemas ambientais?
Nada mais incoerente do que prejudicar o espaço de onde se retira o alimento de cada dia. Pescadores, caçadores, artesãos devem unir-se em prol da defesa de sua fonte de renda junto às ações sociais e políticas, promovendo discussões e debates acerca das ações adequadas e dos cuidados com a sociedade e meio em que coexistem.
Figura 2: Artesanato em Guamaré/RN.
Fonte: http://guamare.rn.gov.br/guamare-vai-ganhar-centro-de-artesanato-na-orla-de-aratua/
Faz parte da cultura guamareense a utilização dos recursos naturais para a produção de artesanato na região. As obras de arte são fruto das tradições que colaboram com o chamativo turístico presente na orla do município.
No entanto, as ações predatórias e exploratórias são capazes de causar a indisponibilidade desse material, haja vista sua escassez e a dificuldade de coleta. Os artesãos, assim como os pescadores e demais cidadãos, fazem parte de um conjunto de ações que direta ou indiretamente atingem o meio ambiente, tornando cada vez mais difícil a coexistência harmoniosa e recíproca entre os seres.
Metodologia
O estudo foi desenvolvido sob a perspectiva de um estudo de natureza qualitativa, com o recurso da revisão da literatura.
Para Oliveira e Valença (2015, p. 7.481),
a Metodologia Científica significa estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos necessários para a construção de uma pesquisa científica; é uma disciplina a serviço da Ciência. Metodologia é a parte em que será indicado o tipo de pesquisa que será empregado, as etapas a serem realizadas.
Segundo Knechtel (2014, p. 56),
a pesquisa qualitativa busca entender fenômenos humanos, buscando obter deles uma visão detalhada e complexa por meio de uma análise científica do pesquisador. Esse tipo de pesquisa se preocupa com o significado dos fenômenos e processos sociais. Mas, sendo uma análise relacionada também à subjetividade, quais são os critérios do pesquisador? Bem, ele leva em consideração as motivações, crenças, valores e representações encontradas nas relações sociais.
Assim, o estudo fundamenta-se nas concepções de pesquisa qualitativa coerentes com os pressupostos adequados à organização do referencial bibliográfico e das conclusões a seguir.
Considerações finais
A palavra principal nas discussões acerca deste estudo é conscientização. Não há como desenvolver propostas de revitalização ou reorganização do espaço geográfico e das relações vitais que coexistem no meio ambiente sem que a população esteja engajada no compromisso de mudar para melhor, melhor para si, melhor para todos e tudo.
A natureza responde constantemente à humanidade acerca de sua força em prol do reestabelecimento de sua estrutura; ela é composta, metaforicamente, por engrenagens que se encaixam perfeitamente. No entanto, o ser humano se apresenta como o elemento perturbador dessa ordem.
Ao explorar o espaço geográfico e não prezar pela sua manutenção, o ser humano deixa a desejar na falta de compromisso com a qualidade de vida de todos. A exploração desenfreada dos recursos naturais refletirá em futuras situações de hostilidade: fortes tempestades, secas prolongadas e enchentes, dentre outras.
Assim, espera-se com este estudo oportunizar a reflexão crítica acerca da forma com que o espaço geográfico se faz presente no cotidiano e na subsistência dos cidadãos guamareenses, para que pelas abordagens escolares, possa-se recrutar novos personagens que corroborem na defesa do espaço ambiental como um todo.
Se não nos esforçarmos para manter o pouco que temos, a natureza não será piedosa em retirar para que possa reestabelecer-se como fora criada, criada para manter-se e manter todos aqueles seres vivos que sabem usá-la, agradecer e retribuir.
Referências
BORELLI, Elizabeth. Urbanização e qualidade ambiental: o processo de produção do espaço da costa brasileira. Revista Internacional Interdisciplinar Interthesis, Florianópolis, v. 4, 2007.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação Ambiental Básica. Brasília: Ministério do Meio Ambiente/Unesco, 2008.
GOETTEMS, Arno Aloísio. Problemas ambientais urbanos: desafios e possibilidades para a escola pública. São Paulo: FFLCH/USP, 2006.
GUAMARÉ. Prefeitura. Guamaré vai ganhar centro de artesanato na orla de Aratuá. Disponível em: http://guamare.rn.gov.br/guamare-vai-ganhar-centro-de-artesanato-na-orla-de-aratua/. Acesso em: 10 nov. 2019.
JATOBÁ, Sérgio Ulisses Silva. Urbanização, meio ambiente e vulnerabilidade social. Boletim regional, urbano e ambiental, 2011.
KNECHTEL, Maria do Rosário. Metodologia da pesquisa em educação: uma abordagem teórico-prática dialogada. Curitiba: Intersaberes, 2014.
OLIVEIRA, Tamires Aparecida Batista de; VALENÇA, Kleber Firpo Prado. A importância da metodologia científica para o ensino e aprendizagem no ensino superior. Educere, Curitiba, 2015.
Publicado em 09 de junho de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
MELO, Maria Izabel de. Os reflexos da ação humana sobre o território do Município de Guamaré/RN: as exigências de uma economia globalizante. Revista Educação Pública, v. 20, nº 21, 9 de junho de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/19/os-reflexos-da-acao-humana-sobre-o-territorio-do-municipio-de-guamarern-as-exigencias-de-uma-economia-globalizante
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