Educação Ambiental, turismo pedagógico e iniciação científica

Maryéllen de Castro Soares dos Reis

Graduada em Ciências Biológicas (Ferlagos), especialista em Análises Clinicas, mestra em Engenharia Ambiental (IFF), professora do CE Praia do Siqueira (Cabo Frio)

Aline Mansur Almeida Teixeira

Licenciada em Química (UFRRJ), mestra e doutora em Geociências (UFF), professora da rede estadual do Rio de Janeiro e da Faculdade União Araruama de Ensino

As atividades práticas e experimentais no ensino de Ciências são importantes para o desenvolvimento das atividades científicas, pois aproximam as concepções da teoria ao cotidiano do aluno, favorecendo a compreensão dos processos envolvidos.

As atividades de campo constituem importante estratégia para o ensino de Ciências, proporcionam maior contato com os assuntos abordados em sala de aula e trazem vivências emocionais que serão sempre lembradas. Como permitem explorar grande diversidade de conteúdos, motivam os estudantes e possibilitam o contato direto com o ambiente. Nesse sentido, alinham-se os aspectos educacionais à aprendizagem significativa (Santos, 1998; Seniciato, 2002; Viveiro; Diniz, 2009). Nesse entendimento, Tabanez et al. (1997) e Rocha (1997) apontam que as atividades realizadas em trilhas possuem maior eficácia na percepção ambiental.

Compreender o ambiente do entorno traz a dimensão do entender a si e sua relação com o meio, assim como seu papel social. Apreciar as belezas naturais tem valor emocional, cultural e econômico indireto.

Um dos maiores recursos naturais que possuímos é a água, que, segundo Bacci (2008), tem fundamental importância para a manutenção da vida no planeta, da conservação e do equilíbrio da biodiversidade e das relações de dependência entre seres vivos e ambientes naturais. A água é fonte de vida e de economia para as populações, mas com essa ideia, reconhecida como recurso, as práticas têm alterado as condições naturais.

Com o aumento populacional e a intensidade de uso, a escassez se faz presente em locais onde antes não existiam; aliado a esse fator, aumentaram a poluição e a contaminação das águas com dejetos industriais e humanos. Bacci (2008) cita ainda que o entendimento da água como recurso gerou uma crise em vários setores e aspectos.

Considerando a ação humana em face da água e as relações do homem com a natureza aliadas aos serviços prestados pelo ambiente e a maneira como a percepção ambiental tem sido encarada pela população e poder publico, podemos relacionar a urbanização em suas ações turísticas estabelecidas com o mar, o adensamento populacional, a ocupação humana desordenada, as ações voltadas para o meio ambiente e a Educação Ambiental; no entanto, o objetivo deste trabalho foi melhorar as atividades de ensino de Biologia, Química e Geografia oferecidas no Colégio Estadual Praia do Siqueira, realizando atividades práticas ligadas a qualidade da água, Educação Ambiental e reconhecimento do espaço geográfico como ferramenta de ensino auxiliando no processo de educação socioambiental.

Pretendíamos estimular a investigação livre no âmbito individual; no coletivo, a experimentação, e, juntamente com os valores sociais, o diálogo entre os moradores e os saberes da população tradicional com os saberes científicos nos usos e serviços disponíveis a respeito da água, sua importância para a comunidade, para a pesca, o turismo e a economia municipal.

Área de estudos

O município de Arraial do Cabo é uma cidade do Estado do Rio de Janeiro e reconhecida como a capital do mergulho, por suas águas claras e eventualmente geladas. Apresenta sazonalmente o fenômeno da ressurgência.

Possui o formato de uma pequena península cercada por um cordão de praias arenosas com cerca de 30 quilômetros de extensão. Apresenta formações lacustres e vegetação de restinga (Gurgel,1992). O clima é semiárido, segundo Barbiere (1984). Possui aproximadamente 10 praias, das quais foram selecionadas as Praias dos Anjos e do Forno.

A Praia dos Anjos apresenta uma enseada restrita, com arco praial de aproximadamente 1.200m e corda de 1.075m. Nela há um porto com canal de acesso dragado e uma marina. A maré na Enseada dos Anjos é descrita como assimétrica, semidiurna com desigualdade (Savi; Fernandez, 2003). As atividades náuticas são maioria.

A Praia do Forno tem aproximadamente 500 metros de extensão e seu acesso se dá por trilha de médio potencial ou por barco; está situada em meio a montanhas de Mata Atlântica nativa preservada; na área de praia é possível a prática do turismo.

Metodologia

A área escolhida foi a cidade de Arraial do Cabo, devido às suas belezas naturais; nos pontos de interesse turístico, como a Praia dos Anjos, local com grande movimentação de pessoas, barcos e atividades urbanas, há um cais para partidas de barco de pesca e de turismo que atraem as pessoas; também atrai por possuir uma feira de artesanato; a Praia do Forno, local mais preservado, tem acesso por trilha ou barco.

As atividades foram realizadas em outubro de 2017, com duas turmas de 3° ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Praia do Siqueira, em Cabo Frio/RJ fazendo um total de 60 alunos, além de três professoras, um responsável de aluno e um guia do Instituto Estadual do Ambiente.

Para a realização das atividades, todos os alunos receberam um documento de autorização para a saída de campo com instruções para trajes adequados e material individual a serem levados; os responsáveis assinaram um termo de autorização e compromisso no início do ano letivo, estruturado pelo Conselho Escolar do colégio, permitindo a divulgação dos resultados e imagens dos trabalhos originados pela unidade escolar.

Os alunos foram divididos em cinco grupos em cada turma, com cinco ou seis integrantes cada; eles receberam um roteiro contendo informações a observar e um questionário a ser respondido. Os alunos deveriam anotar as informações adquiridas com os professores na aula de campo, coletar a água da praia, pesquisar na internet as informações pertinentes à composição do trabalho em modelo de artigo científico e inserir os resultados do experimento realizado.

Os alunos foram até a Praia dos Anjos em veículos coletivos públicos intermunicipais; ali foi realizada a primeira coleta e seguiu-se em direção ao cais, onde se realizou a segunda coleta; depois, por trilha, foi-se até Praia do Forno, onde aconteceu a terceira coleta de água, todas em potes plásticos limpos, transparentes e foram identificadas.

Com o uso do disco de Secchi, cada grupo pôde avaliar a turbidez da água e anotar os parâmetros obtidos.

Na praça em frente ao Museu de Oceanografia foram realizadas as análises da água em bancadas disponíveis e, com o auxílio do alfakit, foram analisados os parâmetros de reação colorimétrica disponíveis; em tabelas do kit os resultados para: oxigênio, amônia, fosfato, pH, nitrato e nitrito.

Na escola, após o período de incubação de 15h, verificaram a presença de coliformes fecais com o colipaper. O desenvolvimento dessa etapa baseado nas informações anteriores consistiu na elaboração de relatório das atividades, que foi produzido em computadores pessoais, usando os programas Microsoft Word e Excel, tendo como modelo a formatação de artigos científicos da área de Ciências.

Os relatórios foram estruturados em:

  • Capa: com título do trabalho e identificação do colégio, local e data;
  • Contracapa: com o título do trabalho, identificação dos alunos, local e data;
  • Introdução: breve descrição do tema contendo os objetivos;
  • Materiais e métodos: indicação dos materiais utilizados e metodologias realizadas;
  • Resultados: descrição dos resultados obtidos;
  • Conclusão: apontamentos acerca do observado nos resultados;
  • Referências bibliográficas: apresentando os links dos sites pesquisados.

O questionário foi roteirizado com o objetivo de responder às necessidades da produção de um trabalho em iniciação científica para que os alunos pudessem ter contato com uma estrutura gráfica diferente do seu habitual, atendendo às seguintes questões:

  • Descrição do problema: a qualidade das águas do mar da cidade de Arraial do Cabo/RJ é o atrativo principal para o turismo nessa região. Porém a intensificação do turismo na cidade, aliada à falta de planejamento urbano, pode implicar a perda de qualidade do ambiente natural. Problemas ambientais decorrentes do turismo predatório na região podem ser observados na cidade. Portanto, o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos, o tratamento de esgoto e o ordenamento de áreas de preservação ambiental (Parque da Costa do Sol) são tópicos relevantes a serem tratados.
  • Hipótese do trabalho: o turismo está influenciando a qualidade das águas das praias de Arraial do Cabo/RJ (Praia do Anjos e Praia do Forno)?
  • Objetivos específicos, contendo os seguintes itens a ser realizados:

1 - Analisar os parâmetros físicos e químicos da água;
2 - Analisar os parâmetros microbiológicos;
3 - Identificar possíveis fontes pontuais de esgoto nas praias;
4 - Avaliar a balneabilidade da água;
5 - Avaliar a qualidade da água.

  • Referencial teórico, contendo a área de estudos e abordando os seguintes questionamentos:

1 - Quais os impactos (positivos e negativos) decorrentes do turismo em um ambiente natural?
2 - O que é turismo ecológico?
3 - O que é turismo predatório?
4 - Descrição de alguns exemplos de locais no Brasil onde existe a prática do turismo.
5 - O Parque Estadual da Costa do Sol e Arraial do Cabo.

  • Materiais e método:

Escolha dos pontos de amostragens

  • Coleta de água nos pontos de amostragem
  • Descrição do local de amostragem, maré e fase da lua
  • Análise dos parâmetros físicos e químicos
  • Análise dos parâmetros microbiológicos
  • Observações dos solo (fotografia)
  • Observação da vegetação (fotografia)
  • Observação da ocupação urbana
  • Análise ambiental, contendo os seguintes questionamentos:

Soluções e a dissolução de íons na água

  • Como pode ser expressa a concentração de uma solução?
  • Quais são os principais íons presentes na água do mar?
  • Qual é a salinidade (teor de sal) da água do mar?
  • Quando um corpo hídrico recebe esgoto sem tratamento, quais são os nutrientes que ficam enriquecidos nesse ambiente?
  • Existe alguma resolução que estabelece os padrões de qualidade da água (doce, salobra e salina)
  • Quais os impactos decorrentes do lançamento de esgoto sem tratamento na água?
  • O que é eutrofização?
  • O que é balneabilidade da água?
  • Resultados e discussão
  • Parâmetros físicos e químicos da água
  • Parâmetros microbiológicos
  • Fontes pontuais de esgoto nas praias
  • A balneabilidade da água
  • A qualidade da água
  • Conclusão do trabalho, com a proposta de atender aos questionamentos em relação ao observado dentro do seguinte roteiro:
  • Quais foram os resultados obtidos para as análises de água?
  • Como pode ser caracterizado o turismo realizado em Arraial do Cabo?
  • Quais parâmetros foram utilizados para essa afirmação?
  • Sugestões para aliar o turismo e a preservação ambiental.

Os relatórios produzidos pelos alunos foram objetos de avaliação por uma junta de professores que estavam envolvidos na atividade.

Autorização para saída de campo

Dos 62 alunos que receberam o bilhete de autorização para a saída da unidade escolar para entregar aos responsáveis, apenas 35 obtiveram aprovação; deles, três alunos maiores de idade assinaram a autorização conforme o termo de compromisso e dois não compareceram. Dos 27 alunos restantes, doze obtiveram ação negativa e quinze não trouxeram a autorização por escrito, conforme a Figura 1. Estes não foram ao local determinado e não comparecem à unidade escolar no dia especificado, porém deveriam compor um dos grupos de trabalho e auxiliar nas atividades de pesquisa e composição do relatório.

Figura1: Autorizações emitidas: composição de autorizações emitidas pela unidade escolar e devolutivas positivas e negativas para a saída de campo

Envolvimento das atividades propostas

Todos os alunos que receberam a autorização preenchida por seus responsáveis chegaram ao local conforme horário marcado, respeitando o limite de tolerância de 30 minutos, e atenderam a todas as observações de segurança passadas no dia pelas professoras e pelo guia.

Análise da coleta de água

Em concordância com a tabela disponibilizada pelo método da colorimetria, pouca foi a variação entre os parâmetros analisados devido à proximidade dos pontos amostrais; segundo seus resultados, não foi verificada contaminação além dos níveis indicados pela Resolução Conama nº 357 (Figura 2).

Figura 2: Resultado das leituras realizadas pelo método da colorimetria disponibilizada pelo alfakit dos pontos de coleta segundo os parâmetros obtidos

Análise de turbidez

Não houve variação entre os pontos de coleta. Os valores são maiores que 2m de profundidade, caracterizando-se em ambiente oligotrófico e eufótico.

Análise microbiológica

Foi verificada a presença positiva de bactérias nas placas de colipaper e reatividade para bactérias do tipo E. coli.

Análise da percepção turística

As questões relacionadas ao turismo e sua importância para a cidade foram compreendidas em sua totalidade, uma vez que muitos vivenciam e trabalham direta ou indiretamente com o setor de turismo. As relações entre Ecologia, Biologia e Educação Ambiental foram percebidas em conjunto com a economia local, uma vez que a cidade tem como principal vocação econômica o turismo.

Análise dos trabalhos entregues

Foram analisados e corrigidos 10 trabalhos; apenas um artigo compreendeu a proposta e foi redigido conforme a norma e um artigo foi apresentado com as questões listadas e não respondidas; os demais trabalhos apresentaram a estrutura do roteiro com as questões a serem observadas e foram respondidas na forma de questionário. A montagem da capa e contracapa foi feita de acordo com as especificações. A parte introdutória seguiu textos copiados de sites de turismo com pouca ou nenhuma formatação. As imagens adicionadas não tiveram suas fontes citadas. Na seção de Materiais e métodos foram apenas pontuadas as atividades de forma resumida, não detalhando os materiais utilizados.

Os parâmetros físico-químicos analisados foram apresentados na forma de tabela com os valores observados e anotados no dia. Na seção de Resultados e discussão, foi comum perceber a confusão com o conceito de conclusão; neste último, os alunos colocaram expressões do tipo “com este trabalho compreendi que a natureza é muito importante” ou “compreendemos neste trabalho que o turismo é fonte de renda da população de Arraial do Cabo”, ou ainda “com este trabalho concluímos que devemos preservar o meio ambiente”.

Discussão

As abordagens em Educação Ambiental e iniciação científica com a vivência em campo têm sido relatadas por diversos autores como forma positiva do aprendizado e sua significância, assim como podemos verificar nas ideias de Fava de Moraes (2000, p. 75). “A iniciação científica estimula a fugir da rotina escolar, em receber conteúdos decorados e ter atitudes passivas, desenvolvendo seu senso de análise crítica, inserindo-se na sociedade com uma visão da verdadeira realidade”.
Alguns autores discutem a necessidade da experimentação; conforme citam Galiazzi et al. (2001, p. 250),

Iniciação científica experimental. Se este é o contexto da pesquisa sobre a experimentação, nossa vivência nas escolas, no entanto, nos mostra que as atividades experimentais são pouco frequentes, embora permaneça a crença dos professores de que, por meio delas, pode se transformar o ensino de Ciências. (...) Nesse sentido, nossa hipótese de pesquisa é a de que tanto os formadores como os futuros professores têm aprendizagens ambientais muito fortes, que mantêm suas concepções sobre experimentação arraigadas a concepções empiristas. Além disso, é preciso que aprendam a buscar o conhecimento existente para, a partir dele, construir novos argumentos e contra-argumentos; que aprendam a escrever seus projetos de pesquisa e seus relatórios.

Ou podemos confrontar ainda as ideias propostas no II Conedu (Congresso Nacional de Educação) por Pereira, quando diz:

atualmente o campo é visto como um laboratório a céu aberto, onde as excursões pedagógicas surgem como um mecanismo eficaz para estabelecer uma nova concepção na relação ensino-aprendizagem, pois o aluno passa a contemplar o ambiente, fugindo da teoria tão presente nos livros didáticos e nas aulas teóricas, permitindo, assim, uma maior compreensão da Educação Ambiental (2015, p. 3).

Ainda que as práticas sejam diversificadas, fica a necessidade da abordagem de temas que podem ser considerados transversais ou de foco, mas o modo no qual são inseridos pode fazer diferença segundo seu contexto e de acordo com a tendência educacional; podemos perceber, conforme Almeida Filho (1997, p. 11), que a multidisciplinaridade parece esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto pelos professores, entre disciplinas, em que cada uma trata de temas comuns sob sua própria ótica, articulando algumas vezes bibliografia, técnicas de ensino e procedimentos de avaliação. “Poder-se-ia dizer que na multidisciplinaridade as pessoas, no caso as disciplinas do currículo escolar, estudam perto, mas não juntas. A ideia aqui é de justaposição de disciplinas” (Almeida Filho, 1997).

Segundo Pires (1998), a interdisciplinaridade pode ser tomada como possibilidade de quebrar a rigidez dos compartimentos em que se encontram isoladas as disciplinas dos currículos escolares.

Mesmo que muitas vezes as tentativas de inserção ou trabalho em conjunto de professores, de multidisciplinaridade, de interdisciplinaridade ou até mesmo isoladas seguindo as diferentes tendências ou entendimentos, a finalidade e o propósito alcançado são de grande valia, pois a definição da palavra disciplina dada por Almeida Filho é de

aprender, de instruir-se; em seguida, a palavra for empregada para referir-se a um tipo particular de iniciação, a uma doutrina, a um método de ensino. Posteriormente, veio a conotar o ensino-aprendizado em geral, incluindo todas as formas de educação e formação (1997, p. 9).

Nesse sentido, o aprendizado se faz por meio de uma interação de saberes em que a Educação Ambiental necessita ser inserida conforme vemos na Lei no 9.795/99.

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Considerando ainda a necessidade da experimentação, da vivência e por fim dos relatórios oriundos das práticas do campo, é necessário ao individuo compreender a necessidade da escrita como apoio e resultado obtido de seu empenho. A prática da escrita envolve vários aspectos que podem ser constatados no trecho de Galiazzi et al. (2001, p. 251), quando dizem que

o expediente da pesquisa está no exercício da escrita, pois, por meio dela, constrói-se a capacidade de argumentação. Um ambiente de pesquisa exige também o estabelecimento de um processo lógico, sistemático, analítico, argumentado, rigoroso. Assim, não basta apenas estabelecer um bom clima de diálogo em sala de aula. É fundamental o exercício do diálogo crítico, que se constrói e reconstrói pelo exercício sistemático da leitura, da leitura crítica, da escrita, da argumentação. Ou seja, cada princípio está indissociavelmente ligado aos outros. Não há como pesquisar sem leitura, ou sem escrita, sem argumento ou sem diálogo crítico. Em síntese, um trabalho de pesquisa pode ser resumido como um processo multicíclico, com três componentes: o questionamento, a construção de argumentos e a validação dos resultados.

Observando, porém, a importância da Educação Ambiental e sua prática aliada ao exercício do raciocínio lógico sistemático, podemos entender que a aula de campo é uma ferramenta de Educação Ambiental muito eficiente e de muita importância para o processo de ensino-aprendizagem.

Mesmo após muitas justificativas e conferência de dados acerca das necessidades da exposição dos conteúdos teóricos aliados à pratica, diversos são os empecilhos encontrados nas unidades escolares para a realização das saídas de campo, a exemplo da não autorização dos responsáveis, a dificuldade de locomoção dos alunos por meio de ônibus fretado ou coletivos públicos, a compreensão dos alunos acerca da atividade a ser desenvolvida e a percepção do ambiente conhecido sob outro olhar, a falta de empenho da equipe escolar, sob a ótica da rigidez curricular.

Conclusão

Embora o significado ecológico e paisagístico tenham sido amplamente positivos, as atividades da análise da água demonstraram-se mecânicas, pois em alguns grupos não houve assimilação dos parâmetros adotados. Os resultados da análise da água demonstraram que, devido à proximidade dos locais, poucas foram as diferenças nas amostras, porém quanto à presença de coliformes fecais a Praia dos Anjos apresentou maiores quantidades de unidades formadoras de colônias. No que tange à construção dos artigos, eles se mostraram insuficientes, pois em sua grande maioria os alunos não conseguiram responder às questões propostas e inseri-las no corpo do trabalho. As conclusões apontam que a grande dificuldade foi a falta de prática com esse tipo de trabalho, embora tenha sido mostrado como fazê-lo e entregue um roteiro para sua montagem. A falta de ferramentas para a construção, como acesso a computadores, uma vez que o colégio não possui sala de informática e são poucos os alunos que possuem computadores com acesso à internet e impressora em casa e a dificuldade ou desconhecimento do uso das ferramentas de construção de texto se mostrou evidente, embora muitos tenham acesso à internet para mídias sociais por meio de smartphones.

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Publicado em 16 de junho de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

REIS, Maryéllen de Castro Soares dos; TEIXEIRA, Aline Mansur Almeida. Educação Ambiental, turismo pedagógico e iniciação científica. Revista Educação Pública, v. 20, nº 22, 16 de junho de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/22/educacao-ambiental-turismo-pedagogico-e-iniciacao-cientifica

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