Análise crítica sobre a proposta curricular para o 6º ano do Ensino Fundamental do Estado do Rio de Janeiro
Tiago Campos Gecler
Licenciando de Geografia (UERJ/Cecierj/Cederj - Polo Nova Friburgo)
Desde a sua implantação em 2011, e sua revisão em 2012, o Currículo Mínimo gerou uma transformação na forma de organizar os conteúdos que o professores de toda a rede pública do Estado do Rio de Janeiro trabalham com os milhares de alunos do Ensino Fundamental e Médio todos os dias nas mais diversas escolas. O plano inicial do currículo foi pensado para melhorar os índices obtidos pela educação estadual nos anos anteriores, que deixavam o estado numa posição muito ruim, principalmente se comparado ao estágio de desenvolvimento econômico que o estado atravessava em relação à realidade nacional.
A partir de 2010 (...) a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) passou a ser comandada pelo economista Wilson Risolia, que assumiu o cargo para desempenhar a missão de retirar o Estado do Rio de Janeiro da 26ª posição entre os estados brasileiros no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para o Ensino Médio (Silva, 2016, p. 337).
O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise dos temas abordados pelo Currículo Mínimo do Estado do Rio de Janeiro, e sua aplicação pelos professores para as turmas do 6º ano do Ensino Fundamental na disciplina de Geografia.
Para a realização deste material, será abordado o trabalho do(a) professor(a) de Geografia da Escola Estadual Antônio Pecly, localizada em Cordeiro, região serrana do estado, que oferta desde o 6º ano do Ensino Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio.
O tema Educação e suas nuances desperta enormes discussões em todos os seus níveis, desde o ensino básico até o superior; tendo isso em mente, se faz extremamente oportuno produzir conteúdos, por meio de artigos ou outros meios, que venham tentar esclarecer e tornar mais acessível tanto a realidade encontrada nas escolas (neste caso será abordado o Colégio Estadual Antônio Pecly) quanto o que é proposto pelas políticas públicas de ensino (neste caso o Currículo Mínimo do 6º ano do Ensino Fundamental), para que assim possamos ofertar conteúdos que auxiliem ainda mais o desenvolvimento da educação.
O Currículo Mínimo estadual
Visando maior integração entre as diversas escolas nas mais diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro, a equipe técnica do governo estadual lançou mão de um projeto que veio para nortear e auxiliar os professores no seu dia a dia dentro da escola, no sentido de direcioná-los ao caminho que deverão percorrer com os alunos nos diferentes anos escolares.
Foi desenvolvido, com a participação também dos professores, o Currículo Mínimo, que veio para nortear o trabalho dos docentes e auxiliá-los em como trabalhar os diversos conteúdos com os alunos. Segundo Saulo Cezar Guimarães de Farias (2014, p. 92), o Currículo Mínimo seria uma referência para todas as escolas do estado, apresentando as competências e habilidades que devem ser seguidas nos planos de curso e nas aulas.
Sua finalidade é orientar, de forma clara e objetiva, os itens que não podem faltar no processo de ensino-aprendizagem em cada disciplina, em cada ano de escolaridade e em cada bimestre. Com isso, pode-se garantir uma essência básica comum a todos e que esteja alinhada com as atuais necessidades de ensino, identificadas não apenas nas legislações vigentes, Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais, mas também nas matrizes de referência dos principais exames nacionais e estaduais. Consideram-se também as compreensões e tendências atuais das teorias científicas de cada área de conhecimento e da Educação e, principalmente, as condições e necessidades reais encontradas pelos professores no exercício diário de suas funções (Rio de Janeiro, 2011, p. 3).
O Currículo Mínimo surge com politica de sistematização, ou seja, para fazer com que os alunos da rede pública possam ter acesso aos mesmos conteúdos, estejam eles em qualquer localidade nas escolas do estado. Segundo José Gimeno Sacristán (2000, p. 16), "as funções que o currículo cumpre como expressão do projeto de cultura e socialização são realizadas através de seus conteúdos, de seu formato e das práticas que cria em torno de si".
O Currículo Mínimo do 6º ano e a escola
A matriz curricular contida no Currículo Mínimo de Geografia para o 6º ano do Ensino Fundamental traz consigo temas referentes a espaço geográfico, alfabetização cartográfica, dinâmicas naturais e suas interações e relação entre homem e natureza. Ao analisar esses tópicos de forma individual, podemos perceber com mais clareza o objetivo de cada bimestre a ser trabalhado com os alunos.
No primeiro bimestre deve-se trabalhar o espaço geográfico, principalmente em sua esfera de relacionamento com o ser humano, e os processos de transformação que ocorrem no espaço. Procura-se abordar com os alunos temas que sejam de seu convívio, como “relacionar os aspectos que revelam a identidade do aluno com o seu lugar de vivência”; ao abordar esse tema, espera-se que o aluno consiga visualizar de forma mais pessoal, com exemplos com os quais ele possua mais contato e consequentemente maior domínio.
No segundo bimestre, o foco do currículo está na alfabetização cartográfica; esse tema volta-se para a localização do aluno no espaço geográfico e como ele pode fazer isso pelo conhecimento dos elementos presentes num mapa e reconhecer as especificidades dos movimentos da Terra.
O foco do terceiro bimestre está nas dinâmicas naturais e suas interações; nesse assunto, ao analisar os tópicos contidos na proposta curricular, observa-se a preocupação em fazer o aluno entender e conhecer os fatores que influenciam e determinam tanto o clima quanto o relevo terrestre.
Por ultimo, no quarto bimestre o foco principal a ser trabalhado diz respeito à relação entre o homem e a natureza. Basicamente, esse tópico apresenta ao aluno o trabalho humano na Terra; espera-se que o aluno entenda as transformações promovidas pelo homem de acordo com seu interesse e modo de vida, como no tópico “conhecer as diferentes formas de apropriação do espaço”.
Para realizar a proposta requerida por esse trabalho recorri ao Colégio Estadual Antônio Pecly, localizado em Cordeiro, na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Durante a minha estadia no colégio procurei observar algumas aulas de Geografia do 6º ano, ministradas pelo professor Reginaldo; além de observar, pude conversar com ele sobre o conteúdo que trabalha durante o ano com os alunos e como ele faz uso do Currículo Mínimo para se orientar durante a preparação e execução de suas aulas.
Ficou bem evidente, ao conversar com o professor, que o Currículo Mínimo é uma ferramenta bastante utilizada como instrumento norteador do professor; pude observar que a escola trabalha com o Currículo Mínimo de acordo com o que é proposto pela Secretaria de Estado de Educação: em cada bimestre o professor trabalha os conteúdos em consonância com o que está no documento oficial.
Currículo Mínimo e a transposição didática
Um conteúdo de saber que foi designado como saber a ensinar sofre a partir de então um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. "O trabalho que transforma um objeto de saber a ensinar em objeto de ensino é denominado transposição didática" (Chevallard, 1991, p. 45, tradução nossa, grifos do autor).
A transposição didática se baseia no tripé professor-conhecimento-aluno, fatores que interagem e fazem do processo de educação uma combinação em que cada parte contribui um pouco para o processo de ensino-aprendizagem; podemos notar aqui certa semelhança com a dialética defendida por Sócrates, em que “o seu método pedagógico baseava-se na conversa, no diálogo, no contínuo questionar e em saber ouvir as respostas de quem fora questionado” (Pereira; Paiva; Freitas, 2018, p. 44).
Podemos fazer uso da transposição didática para transformar um conhecimento cientifico – de um artigo, reportagem etc. – em conhecimento escolar, ou seja, uma ferramenta pedagógica com a qual iremos trabalhar com alunos tal conhecimento, porém em linguagem e procedimento que seja adequado ao público.
Durante minha estadia no Colégio Estadual Antônio Pecly, pude observar como esse trabalho é feito na prática durante as aula de Geografia. Primeiramente notei a presença de elementos do saber – como reportagens de jornais – sendo trabalhados de forma pedagógica, em que os alunos ficaram encarregados de levar jornais e notícias sobre determinado tema; posteriormente foram discutidos em sala de aula, entre alunos e professor, aspectos presentes na reportagem que eram relevantes para o tema trabalhado naquele bimestre.
Conversando com professores da escola, neste caso outro além do professor do 6º ano, pude perceber que a transposição didática está, sim, presente no Currículo Mínimo e os professores, juntamente com seus diretores, dialogam com a regional quanto à forma como será feita. Uma das formas com que essa ferramenta é trabalhada, segundo os próprios professores de Geografia, é com a exposição de documentários científicos e utilização de jornais e reportagens. Um recurso que é amplamente utilizado, e destaco aqui a sua importância devido ao feedback positivo dos alunos com os quais tive contato, é a apresentação de slides em Power Point; esse recurso permite a visualização, por parte dos alunos, de elementos que os ajudam a compreender o tema abordado.
Considerações finais
Ao chegar às considerações finais deste trabalho, pude observar o quão importante é o debate acerca do Currículo Mínimo e o quão significativa é a existência de uma ferramenta que sistematize o conteúdo a ser trabalhado com os alunos. A criação e a implantação do Currículo Mínimo estadual representa um avanço muito grande para o processo de ensino-aprendizagem dos dois lados da relação, tanto para o professor que pode seguir um “manual” e otimizar suas aulas a fim de obter melhores resultados com os alunos quanto para os alunos em geral, que ficam com a certeza de que em qualquer lugar que estudem, seja uma cidade maior ou menor, eles terão acesso basicamente às mesmas informações que outros no estado, deixando todos em igualdade, para competir por uma vaga no mercado de trabalho ou para prestar um exame de acesso a instituições de ensino superior.
Para finalizar, como quase tudo na vida, o Currículo Mínimo não deve ser algo estático; acredito que seu processo de evolução e desenvolvimento não pode parar; assim, sempre será possível acrescentar algo que possa fazer essa importante ferramenta ainda melhor.
Referências
FARIAS, Saulo Cezar Guimarães de. Currículo e ensino de Geografia no Estado do Rio de Janeiro. Caderno de Geografia, v. 24, nº 41, 2014.
NASCIMENTO, Thiago Rodrigues. A Educação, o ensino de História e o Currículo Mínimo do Estado do Rio de Janeiro: currículo escrito, em ação e formação de professores. História & Ensino, Londrina, v. 19, nº 2, p. 87-114, jul./dez. 2011.
PEREIRA, Rúbia Carl; PAIVA, Maria Auxiliadora; FREITAS, Rony Cláudio de Oliveira. A transposição didática na perspectiva do saber e da formação do professor de Matemática. Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v. 20, nº 1, p. 41-60, 2018.
RODRIGUES, Phelipe Florez. O Currículo Mínimo da Seeduc-RJ: a produção de políticas curriculares e perspectivas para professores de Geografia. II CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Campina Grande, 2016.
SILVA, Suzana Campos. Reflexões acerca do Currículo Mínimo de Geografia do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisa (Mestrado em Geografia), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2016.
Publicado em 23 de junho de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
GECLER, Tiago Campos. Análise crítica sobre a proposta curricular para o 6º ano do Ensino Fundamental do Estado do Rio de Janeiro. Revista Educação Pública, v. 20, nº 23, 23 de junho de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/23/analise-critica-sobre-a-proposta-curricular-para-o-6-ano-do-ensino-fundamental-do-estado-do-rio-de-janeiro
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