Sustentabilidade: desafios da realidade para um (re)pensar na educação

Carla Mariana Rocha Brittes da Silva

Pedagoga (UEMG), especialista em Psicopedagogia (UniBH), mestranda em Educação (Promestre/UFMG)

Suchilla Garcia Leão

Engenheira química (Faculdade Newton Paiva), mestra e doutoranda em Engenharia Mecânica (UFMG)

O impacto ambiental por ações antropogênicas (causadas pela ação humana) tem se tornado cada vez mais presente no planeta. Segundo Brilhante e Caldas (1999), a poluição produzida no meio ambiente pode causar danos à saúde humana, aos demais seres vivos e aos sistemas ecológicos, além de comprometer o uso dos recursos naturais no futuro.

As mudanças climáticas observadas ao longo dos anos, o aumento de queimadas, o risco futuro de escassez de água e a extinção de biomas e espécies têm alertado a população da importância de adotar práticas sustentáveis em todos os âmbitos sociais, políticos e econômicos.

A crescente demanda mundial por bens de consumo tem estimulado a exploração exacerbada dos recursos não renováveis e o crescimento da agricultura, resultando em perda de biodiversidade e acúmulo de poluentes na atmosfera. Segundo a ONG WWF-Brasil, a pegada ecológica brasileira (uma ferramenta que mede o consumo de recursos naturais necessários para manter o estilo de vida do ser humano) é de 2,9 hectares globais por pessoa, o que permite inferir que, se todas as pessoas do mundo consumissem na mesma proporção que um cidadão brasileiro, seria necessário mais que um planeta para suprir essa demanda.

Ao longo dos anos, a exploração de recursos naturais e o desmatamento continuam em níveis crescentes e preocupantes. O relatório produzido pela WWF-Brasil em 2018 aponta um aumento de 190% da pegada ecológica brasileira nos últimos 50 anos (Grooten; Almond, 2018). O desmatamento, as ações de grileiros, a expansão da agricultura, da pecuária e a falta de rigor para que as políticas ambientais sejam cumpridas têm devastado florestas e ambientes naturais que desempenham papel fundamental na vitalidade do planeta.

Os poluentes gerados no meio ambiente percorrem diversos caminhos, atingindo o solo, o ar e/ou a água. O impacto causado dependerá de vários fatores, tais como a concentração dos poluentes, a taxa de emissão e a dispersão dele, além da taxa de remoção do meio por agentes físicos, químicos e biológicos ao longo de todo o percurso (Brilhante; Caldas, 1999).

Shukla, Nobre e Sellers (1990) desenvolveram um modelo matemático capaz de estimar os efeitos do desmatamento da Amazônia no clima – tanto em nível regional como global. Os resultados mostram que, com a substituição da vegetação nativa por pastagem, houve aumento no período de estação de seca, além de elevação considerável da temperatura da superfície e diminuição na evapotranspiração e precipitação na Amazônia.

Segundo Case (2006),

as mudanças projetadas de temperaturas mais quentes e a diminuição da precipitação durante os meses já secos podem se manifestar em secas mais longas e talvez mais severas e mudanças substanciais na sazonalidade. Juntamente com as mudanças no uso da terra, essas mudanças podem levar a impactos devastadores, incluindo aumento da erosão, degradação dos sistemas de água doce, perda de solos de valor ecológico e agrícola, perda de biodiversidade, diminuição da produção agrícola, aumento da infestação de insetos e disseminação de doenças infecciosas (Case, 2006, p. 3, tradução nossa).

O cerrado é um bioma brasileiro que apresenta fauna e flora riquíssimas e que corre risco de degradação severa, similar ao que ocorreu com a Mata Atlântica. “Com 24% do território nacional em sua área de abrangência, o cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil, o que pode ser constatado pela sua posição como hotspot mundial e pelas suas taxas de desmatamento” (Santos, 2018, p. 13). A biodiversidade do cerrado tem sido substituída principalmente por pastagem e pela monocultura da soja ao longo dos anos. Além da perda de diversas plantas vasculares, da extinção de vários animais e do manejo inadequado dos recursos hídricos, a prática agrícola na região do cerrado tem contaminado o solo com fertilizantes e pesticidas, comprometendo a saúde da população e das espécies nativas.

O uso intensivo de agrotóxicos em todo o Brasil tem preocupado os ambientalistas quanto aos riscos e às consequências atribuídos a essa prática. São notórios os efeitos negativos que os agrotóxicos causam no meio ambiente, contaminando alimentos, solos, rios e lençóis freáticos e desencadeando o surgimento de pragas mais resistentes. Em relação à saúde, os agrotóxicos podem causar anomalias genéticas e tumores, além de intoxicação, tanto nos trabalhadores rurais que têm contato direto e indireto com referidas substâncias quanto nos consumidores dos alimentos (Meira, 2018).

A extração indiscriminada das minerações é outro problema que o meio ambiente enfrenta. Por ocorrer geralmente em locais distantes dos centros urbanos, os impactos não são tratados com o rigor que deveriam. Não é apenas de um impacto visual; a poluição causada pela extração de minério compromete o solo da região, devido aos produtos químicos utilizados durante a extração, os quais podem contaminar também lençóis freáticos e poluir rios (Farias, 2002).

Os impactos de acidentes ambientais podem não se ater apenas à microrregião de sua origem. O rompimento da barragem de mineração da Samarco em novembro de 2015, por exemplo, inicialmente atingiu os munícipios próximos da barragem: Mariana, Barra Longa, Santa Cruz do Escalvado; porém, com o passar dos dias, o desastre atingiu o Rio Doce e, no total, 40 municípios de dois estados – Minas Gerais e Espírito Santo. Dentre os impactos gerados pelo rompimento da barragem de mineração pode-se citar aumento de erosão, assoreamento de rios, alteração físico-química da água no Rio Doce e, consequentemente, morte de várias espécies aquáticas. Os rejeitos de mineração, além de alguns que são tóxicos, dificultam a infiltração de água e nutrientes no solo, comprometendo também a produtividade nas regiões afetadas (Biazon, 2017).

Em seu trabalho, Gomes (2006) alerta a sociedade sobre o momento de crise pela qual o país está passando e propõe uma mudança da visão de mundo antropocêntrica para uma visão mais biocêntrica. Os padrões de consumo impostos pelo sistema capitalista são insustentáveis, uma vez que a demanda de recursos é cada vez maior, e os recursos naturais são finitos. É indispensável compreender os limites do planeta e de seus recursos não renováveis e criar sistemas produtivos e de consumo sustentáveis. O foco da sociedade não pode ser apenas para produção e acumulação de riqueza; é necessário rever estilos de vida baseados no consumismo e, além disso, oferecer à natureza tempo e condições para que ela possa se regenerar (Boff, 2016).

A biosfera e a atmosfera são sistemas complexos que interagem entre si. Quando o equilíbrio dinâmico entre esses dois sistemas é comprometido – seja pelo desmatamento, por queimadas, pela extração de minérios –, não só o ecossistema é afetado; as condições climáticas do local ou até mesmo do planeta também sofrem alterações. Toda a natureza busca sempre o equilíbrio, e não é desejável haver a predominância de uma espécie, já que cada uma desempenha sua função no equilíbrio dinâmico da Terra. Preservar é indispensável tanto para a humanidade quanto para os demais seres vivos que habitam o planeta.

Sustentabilidade: um conceito em construção que abrange diversos saberes

Sustentabilidade vem do termo em latim sustentare, que significa, no sentido passivo, sustentar-se, equilibrar-se, conservar-se, manter-se. No sentido ativo da palavra, sustentar significa a ação externa feita para conservar, manter, nutrir, alimentar, fazer prosperar, subsistir, viver (Boff, 2016). Apesar de muitos autores estimarem em suas pesquisas que o conceito de “sustentabilidade” se originou no final da década de 1960 e início da década de 1970 em reuniões organizadas pela ONU (Barbosa, 2008; Rodrigues; Rippel, 2015), Boff (2016) defende que o termo surgiu bem antes, em 1560 na Alemanha, juntamente com a silvicultura e com a preocupação pelo uso racional das florestas.

Nos últimos anos, temas como desenvolvimento sustentável, ecodensenvolvimento e sustentabilidade foram adicionados à pauta de reuniões internacionais e conferências relacionadas ao meio ambiente. A seguinte definição para desenvolvimento sustentável foi proposta pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente da ONU em 1987, presidida pela norueguesa Gro Haalen Brundtland, no relatório que ficou conhecido como Nosso futuro comum: “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende às necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46).

Segundo Boff (2016), o conceito de desenvolvimento sustentável proposto pela ONU é limitado a uma visão antropocêntrica, que não inclui outros seres vivos que também necessitam da sustentabilidade para a sua sobrevivência. A interdependência entre todos os seres vivos, biomas, microrganismos com o homem não é ressaltada. Portanto, ele propõe um conceito mais amplo, que sustenta todos os seres e a continuidade do processo evolutivo: a Terra viva.

Uma das grandes preocupações é o uso inapropriado do termo desenvolvimento sustentável. A preocupação das empresas, por exemplo, se volta para elas mesmas, cujo objetivo é se planejar para conseguir se sustentar e continuar existindo daqui a 10 anos, não sendo foco a preocupação com o impacto ambiental e social gerado pela sua produção. Segundo Barbieri e Silva (2011, p. 70),

a substituição da expressão desenvolvimento sustentável pela palavra sustentabilidade não é mera operação linguística. Nessa expressão, desenvolvimento é um substantivo concreto, adjetivado pela palavra sustentável, de modo que o que importa é o desenvolvimento entendido como melhoria da qualidade de vida de todos os humanos, o que significa o provimento de justiça social, obtido de modo que respeite as condições e características do meio ambiente como um legado às futuras gerações para que elas possam prover suas subsistências com qualidade de vida. Sustentabilidade, um substantivo abstrato, já não carrega mais as questões relativas ao desenvolvimento e, entre elas, as ideias de projetos políticos conduzidos pelo interesse público.

Gadotti (2008) propõe uma ampliação no conceito de sustentabilidade que transcende as concepções de preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Ao conceito de sustentabilidade ele inclui, de forma holística, o equilíbrio consigo mesmo, com o planeta e com o universo. Para o autor, ser sustentável inclui ainda questões filosóficas, o próprio sentido do que somos, de onde viemos e para onde vamos como seres humanos.

A escola desempenha papel fundamental nesse contexto, já que se constitui, por excelência, como responsável pela construção de conhecimentos, formação de valores, relação humana e troca de experiências por parte dos sujeitos envolvidos no processo escolar. Assim, nos próximos tópicos, será discutido o papel da escola frente ao desenvolvimento sustentável.

Educação para a sustentabilidade: reflexão, atitude e ética (Reflate)

Com base no exposto, é possível perceber a preocupação de estudiosos em relação ao desenvolvimento sustentável. Lopes (2010) traz algumas reflexões acerca da crise ambiental planetária: a sociedade reuniu tecnologia suficiente para se autodestruir rapidamente, ampliou-se uma sociedade do consumo cujo modelo de desenvolvimento está baseado no cartesianismo reducionista, esquecendo-se de considerar que os recursos naturais são finitos; tais fatos desconsideraram a qualidade de vida das gerações futuras. Assim, a Ecopedagogia parte dessas reflexões para demonstrar que essa crise é de origem ética, ou seja, vai além do viés econômico, estando influenciada pelas dimensões históricas, sociais, culturais e políticas, entre outras.

Para a superação dessa forma de ver o mundo, faz-se necessária uma mudança de paradigma, sendo este entendida como

as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência (Kuhn, 1997 apud Lopes, 2010, p. 11).

Uma das formas de conseguir essa mudança é por intermédio da educação, inclusive, de forma mais específica, da educação escolar; tal perspectiva vai ao encontro da Ecopedagogia, que propõe a reelaboração dos currículos pensando em conteúdos que sejam significativos para o estudante e, ao mesmo tempo, para o bem-estar planetário.

A Ecopedagogia surgiu a partir da evolução da Ecologia. (...) O seu sentido assume novas proporções à medida que vem se tornando um movimento pedagógico ou mesmo uma abordagem curricular. (...)
A Ecopedagogia trabalha com ética, sustentabilidade, complexidade, cuidado, cidadania planetária, democracia, além de outras categorias (Lopes, 2010, p. 14).

Ao falar em educação escolar, é interessante refletir sobre o que os documentos oficiais que norteiam a prática do professor vêm dizer sobre a temática. Para tal, pode-se citar inicialmente o volume 9 dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997), que oferece orientações de como a temática Meio Ambiente pode ser desenvolvida na sala de aula. É um documento que traz, além de uma base teórica sobre o assunto, propostas metodológicas, visando a munir o professor teórica e tecnicamente. Nele o professor é orientado a trabalhar o tema de forma transversal, já que

a questão ambiental vem sendo considerada como cada vez mais urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis.
Essa consciência já chegou à escola e muitas iniciativas têm sido desenvolvidas em torno dessa questão por educadores de todo o País. Por essas razões, vê-se a importância de se incluir a temática do meio ambiente como tema transversal dos currículos escolares, permeando toda prática educacional (Brasil, 1997, p. 11).

Dessa forma, percebe-se o motivo pelo qual tal temática deve ser desenvolvida pelos professores, de forma a permear toda a prática pedagógica. Diferentemente dos PCN (Brasil, 1997), que trazem uma proposta bem delineada para o ensino referenciado na sustentabilidade, a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017) do Ensino Fundamental trata o tema de modo disperso, dando a ele menos importância.

A BNCC e, de forma mais específica em se tratando do Estado de Minas Gerais, o Currículo Referência de Minas Gerais trazem a temática meio ambiente e sustentabilidade no corpo do texto, com base em sua passagem por disciplinas diferentes. No entanto, não há uma orientação aprofundada para o professor: nem metodológica nem teórica. Percebe-se que esse fato faz com que o professor que não tenha conhecimento sobre o tema fique sem saber como de fato desenvolvê-lo com os estudantes, podendo comprometer sua prática.

Com isso, verifica-se a necessidade de o professor trazer discussões com informações em diferentes momentos da aula, levando a uma reflexão sobre o papel dos estudantes como cidadãos que têm opções de escolha. No entanto, as escolhas impactarão de formas distintas o desenvolvimento do próprio sujeito e o planeta Terra, já que o meio ambiente não é algo externo às vidas humanas; as pessoas também fazem parte dele.

Hoje, tomamos consciência de que o sentido das nossas vidas não está separado do sentido do próprio planeta. Diante da degradação das nossas vidas no planeta, chegamos a uma verdadeira encruzilhada entre um caminho tecnozoico, que coloca toda a fé na capacidade da tecnologia de nos tirar da crise sem mudar nosso estilo poluidor e consumista de vida, e um caminho ecozoico, fundado numa nova relação saudável com o planeta, reconhecendo que somos parte do mundo natural, vivendo em harmonia com o universo, caracterizado pelas atuais preocupações ecológicas. Fazemos escolhas! Nem sempre temos clareza delas. A educação carrega de intencionalidade nossos atos. Precisamos ter consciência das implicações de nossas escolhas. O processo educacional pode contribuir para humanizar o nosso modo de vida. Temos que fazer escolhas. Elas definirão o futuro que teremos (Gadotti, 2008, p. 62, destaques do autor).

Essas escolhas podem ser um ponto de partida para as conversas com os estudantes, em que o professor atuará como um mediador. É interessante perceber que, nesse momento, não se trata de apontar o que é certo ou errado, mas acessar pontos de vista distintos que serão compreendidos a partir das justificativas. Ou seja, a reflexão terá papel fundamental para os momentos de conversa em processos diversos de ensino. Segundo Gadotti (2008), a preservação ambiental depende da consciência; o desenvolvimento da consciência está estreitamente ligado à educação; assim, entra em cena novamente a Ecopedagogia, pensando-se em uma “ecoformação”.

Com isso, não se pode deixar de citar as contribuições de um trabalho pedagógico voltado para a transdisciplinaridade, uma vez que as questões da vida são complexas e não se resumem a uma justificativa disciplinar.

O conhecimento transdisciplinar associa-se à dinâmica da multiplicidade das dimensões da realidade e apoia-se no próprio conhecimento disciplinar. Isso quer dizer que a pesquisa transdisciplinar pressupõe a pesquisa disciplinar; no entanto, deve ser enfocada a partir da articulação de referências diversas. Desse modo, os conhecimentos disciplinares e transdisciplinares não se antagonizam, mas se complementam (Santos, 2008, p. 75).

É interessante perceber que, ao se pensar em Ecopedagogia e transdisciplinaridade, os conteúdos escolares se tornam mais interessantes aos olhos dos estudantes, já que estarão contextualizados em temas e problemas da própria vida social e realmente poderão ter função de esclarecer ideias e favorecer a escolha de perspectivas. Essa abordagem pode levar a uma aprendizagem que vai além do conteúdo mecânico, modificando e desenvolvendo novas atitudes. Isso significa que o professor precisa estar atento para propor uma educação sustentável e de atitudes éticas, fazendo-as presentes no cotidiano escolar.

A educação para o desenvolvimento sustentável [EDS] é mais do que uma base de conhecimentos relacionados com o meio ambiente, a economia e a sociedade. A EDS deve ocupar-se da aprendizagem de atitudes, perspectivas e valores que orientam e impulsionam as pessoas a viverem mais sustentavelmente suas vidas. As crises criadas pelos seres humanos no planeta estão mostrando, todos os dias, que somos seres irresponsáveis. Educar para o desenvolvimento sustentável é educar para tomar consciência dessa irresponsabilidade e superá-la (Gadotti, 2008, p. 68, destaque do autor).

Com base em tais reflexões, percebe-se o papel fundamental exercido pela escola: pautar suas discussões em situações concretas que levem o estudante ao que pode-se chamar de “Reflate”: REFLexão, ATitude e Ética; tendo a oportunidade de informar, não só discutir sobre as questões ambientais que estão à sua volta, mas de modificar suas próprias atitudes influenciando outras pessoas de forma ética.

Apesar de se saber que a escola desempenha um papel relevante na formação de opinião, muitas vezes o seu trabalho se vê preso ao livro didático e aos conteúdos sugeridos nele. Uma sugestão para se sobrepor a essa realidade é a Pedagogia de Projetos. Sendo assim, o próximo tópico trará essa temática de forma a ser uma possibilidade metodológica de ensino, tanto para o tratamento do tema sustentabilidade quanto para demais temas que surjam do interesse dos estudantes.

Pedagogia de projetos: uma possibilidade metodológica de ensino para desenvolver o tema sustentabilidade na sala de aula

Tem-se como discurso, entre os professores, que o papel da educação escolar é desenvolver sujeitos bem informados, críticos, reflexivos e autônomos; porém, na prática, nas condições de trabalho e na diversidade dos públicos da escola, não é um caminho simples de se trilhar. Geralmente, o que se observa são vivências que muitas vezes levam o estudante à reprodução mecânica dos conteúdos. Dessa forma, faz-se necessário repensar e buscar com mais ênfase práticas que visem a uma formação global do sujeito, valorizando tanto o desenvolvimento cognitivo quanto o emocional e social. Com isso, percebe-se que a Pedagogia de Projetos pode se mostrar uma metodologia adequada.

Surge, assim, uma necessidade urgente de (res)significar o espaço escolar – com seus tempos, rituais, rotinas e processos – de modo que ele possa, efetivamente, estar voltado para a formação de sujeitos ativos, reflexivos, cidadãos atuantes e participativos, como desejam os profissionais da educação.
A Pedagogia de Projetos visa à (res)significação desse espaço escolar, transformando-o em um espaço vivo de interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. O trabalho com projetos traz uma nova perspectiva para entendermos o processo de ensino-aprendizagem. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização, e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura, todo conhecimento é construído em estreita relação com o contexto em que é utilizado, sendo, por isso mesmo, impossível separar os aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. A formação dos alunos não pode ser pensada apenas como uma atividade intelectual. É um processo global e complexo, em que conhecer e intervir no real não se encontram dissociados (Leite, 1996, p. 2).

A utilização de projetos na educação tem por objetivo fazer as disciplinas conversarem entre si, trazer à tona práticas pedagógicas diversificadas e importantes para o contexto social dos estudantes, tirar as disciplinas da inércia, de forma que passem a integrar um currículo diferenciado, proporcionando uma formação global. Essa proposta estimula o estudante a procurar soluções para problemas no decorrer do processo. Essa busca leva-o a pesquisar, discutir e propor medidas para elucidar esses dilemas. Além disso, pode trazer a realidade do estudante, bem como seu contexto sociocultural, para a sala de aula.

A partir disso, percebe-se que a Pedagogia de Projetos é uma possibilidade metodológica de ensino para desenvolver o tema da sustentabilidade, já que vai além da transmissão do conhecimento, oportunizando um aprendizado para a vida. Não é desprezar o conteúdo; no entanto, ele deixa de ter um fim em si mesmo, tornando-se uma ferramenta durante o projeto (Leite, 1996). Tal perspectiva trabalha os conteúdos de forma transdisciplinar.

Compreende-se que a EA [Educação Ambiental], por meio de projetos transdisciplinares e a prática docente transdisciplinar, começa a delinear um caminho para a efetivação de uma Educação Ambiental que atenda aos principais dilemas ambientais vividos no mundo contemporâneo, contribuindo para o complexo desafio da EA, que é restabelecer a integração entre sociedade e natureza (Aires; Suanno, 2017, p. 55).

Desse modo, faz-se urgente elaborar com os estudantes propostas que levem a cabo práticas sustentáveis no contexto escolar, já que estão em processo de formação como sujeitos donos da própria história. É interessante perceber que o desenvolvimento de projetos faz com que o estudante seja participativo em seu processo de aprendizagem, atuando como corresponsável por seu desenvolvimento.

A Pedagogia de Projetos favorece o trabalho pedagógico de forma transdisciplinar ao ser pensada para o desenvolvimento de uma educação sustentável; pode ser baseada nos princípios da educação sugeridos por Boff (2016): o primeiro é o reconhecimento da Terra como um grande organismo vivo com recursos finitos; o segundo é a percepção da relação de interdependência entre todos os organismos da Terra; o terceiro é a diminuição do consumo, levando em consideração o tempo para se reestabelecer aquilo que foi retirado da natureza, pensando nas futuras gerações; o quarto é a valorização da biodiversidade, já que ela garante a sobrevivência de todos; o quinto vem dizer sobre o respeito às diversas culturas; o sexto é a necessidade de a ciência se perceber a favor da humanidade, de forma ética, em detrimento do lucro; o sétimo é valorizar não só o conhecimento técnico, mas também os saberes populares; o oitavo é perceber as contribuições do que vem de baixo, pois pode trazer soluções para o planeta; o nono disserta sobre a equidade, em que todos devem ser beneficiados pelos avanços, não só uma pequena parcela da população; e o décimo traz uma reflexão sobre a necessidade de valores e afetividades que se perderam com a valorização do pensamento racional.

Com base nisso vê-se que os quatro pilares da educação sugeridos pela Unesco (Silva, 2008) estão imbricados nesses princípios: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver; e aprender a ser. Assim, retomando as discussões anteriores, faz-se necessário desenvolver práticas que levem à Reflate, pensando em uma educação para a sustentabilidade, com sujeitos autônomos, críticos, criativos e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento intelectual, cognitivo e emocional.

Referências

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Publicado em 30 de junho de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Carla Mariana Rocha Brittes da; LEÃO, Suchilla Garcia. Sustentabilidade: desafios da realidade para um (re)pensar na educação. Revista Educação Pública, v. 20, nº 24, 30 de junho de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/24/sustentabilidade-desafios-da-realidade-para-um-repensar-na-educacao

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