Utilizando vídeos educativos para o estudo do tema furacões: uma experiência interdisciplinar envolvendo Física e Geografia

Adriana Oliveira Bernardes

Doutoranda em Ensino e História da Matemática e da Física (Pemat/UFRJ), professora da rede estadual do Rio de Janeiro, mediadora do Curso de Ciências Biológicas e Química do Consórcio Cederj (Polo Nova Friburgo)

Marcelle de Freitas do Nascimento

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Consórcio Cederj (Polo Nova Friburgo)

Com a discussão mundial a respeito das mudanças climáticas e o aumento da intensidade de fenômenos climáticos como os furacões ocorridos na última década, elaboramos um projeto sobre um tema muito abordado pela mídia, principalmente após os ciclones tropicais ocorridos no sul do Brasil. Levamos em conta as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Brasil, 2006, p. 13): “A formação geral que a escola deve dar aos seus alunos tem como meta ampliar a compreensão que eles têm do mundo em que vivem”. Essa citação é muito apropriada, pois o mundo é palco de discussões como o aquecimento global, uma das questões mais discutidas da atualidade. A importância dessa discussão no Ensino Médio está diretamente ligada à formação do aluno, que é uma das diretrizes da LDB – Lei nº 9.394/96 (Brasil, 1996).

O conhecimento a respeito do planeta onde vivemos e as atuais dificuldades enfrentadas para a sua preservação devem compor o leque de informações do discente para a sua formação crítica como cidadão. Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Brasil, 2006, p. 47),

uma formação crítica exige por parte dos sujeitos a capacidade de discutir abertamente questões resolvidas em instâncias tecnocráticas, que devem estar amparadas em sólida formação científica e tecnológica. Implica que seja possível discriminar o domínio da ciência e da tecnologia do debate ético e político.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Brasil, 1999, p. 17) complementam com importantes discussões sobre o ensino de Física: “É preciso rediscutir qual Física ensinar para possibilitar uma melhor compreensão do mundo e a formação para uma cidadania mais adequada”. A proposta do projeto de uma oficina segue essa mesma linha, na medida em que aborda um tema diversificado em uma abordagem interdisciplinar. Isso é bastante pertinente, pois vivemos uma sociedade em que há indivíduos que protestam contra vacinas e creem que a Terra é plana.

Como temática, os furacões podem ser abordados de forma interdisciplinar por duas disciplinas do Ensino Médio: a Física e a Geografia. Sabendo-se que um contexto interdisciplinar propicia um entendimento mais aprofundado sobre um tema, e que esse aprofundamento é bem-vindo nas escolas, elaboramos um trabalho a partir de vídeos (recursos didáticos lúdicos e disponíveis no Youtube), a fim de enriquecer o aprendizado do aluno, sendo discutido em uma oficina. Uma das questões tratadas nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio de Geografia (Brasil, 2006, p. 48) discute justamente a importância da utilização de boas práticas: “com efeito, considera-se que um ensino eficaz, cujos objetivos de aprendizagem sejam alcançados, depende, inclusive, de práticas pedagógicas adequadas”.

A utilização de vídeos no ensino

Com a proposta de adotar uma prática pedagógica adequada, optou-se pela utilização de vídeos didáticos. Nas escolas, sabemos que os vídeos nem sempre são empregados de forma adequada pelo professor, que poderia usá-los para colaborar para uma aula mais dialógica, de modo que a exibição desse recurso levasse o aluno a refletir. Essa questão é discutida por Almeida (2015, p. 23):

Trabalhar com filmes em sala de aula não é novidade. Vivencio no contexto escolar o uso frequente desse recurso em muitas disciplinas como História, Biologia e Sociologia; por que não na área de Ciências Exatas, como a Física, a Química e a Matemática? Essa ferramenta, quando bem usada, pode se tornar um excelente aliado para o professor, trazendo um mundo de possibilidades e discussões.

Com essa mesma proposta, Souza (2013) orienta que as tecnologias fazem parte da vida da maioria dos alunos, que as utilizam em sala de aula em um contexto não relacionado à matéria estudada. Isso apenas ressalta a importância de inserir esses recursos cotidianos no contexto educacional, uma vez que já são utilizados amplamente pelos alunos, mas de forma que, num cenário educacional, contribua para o aprendizado.

Vivemos em uma realidade digital, em que nossos alunos dedicam uma grande parte do seu tempo usando a internet. Essa geração digital está sempre ligada e conectada com redes sociais e jogos eletrônicos, seja por uso de computadores, notebooks, aparelhos celulares, iPad, entre outros. Essa conexão acontece em qualquer momento e lugar, as atenções dos nossos alunos estão todas voltadas para o mundo virtual-digital (Souza, 2013, p. 1.534).

Os vídeos educativos podem ser utilizados pelos professores e são uma boa opção para que a aula não se restrinja apenas à exposição:

O vídeo educativo é uma opção para o professor que deseja fugir das aulas expositivas e pode trazer para a sala de aula um recurso que alia à escola uma atividade tida pelos alunos como descontraída. Podemos pensar que, se não podemos hoje concorrer com a televisão e tantos outros recursos, o melhor é tê-los como aliados (Bernardes, 2012, p. 3).

Bernardes (2013) afirma que os vídeos são recursos que trazem benefícios ao aprendizado se bem utilizados, concorrendo com as tecnologias do dia a dia às quais os alunos já estão acostumados. A autora relata uma experiência na qual os alunos produziram vídeos baseados em conteúdos da disciplina.

Dessa forma, os vídeos educativos podem trazer boas perspectivas em relação ao desenvolvimento de habilidades; o fato de serem produzidos pelos alunos favorece sua interação com as novas tecnologias, além de permitir que o aluno exercite técnicas como a leitura, a elaboração de textos e a gravação de vídeos (Bernardes, 2013, p. 10).

Observamos que o trabalho com vídeos colabora para o protagonismo dos alunos ao produzirem; além disso, percebemos que favorece posturas ativas e críticas, principalmente quando são convidados a discutir a respeito do tema: “Dentro da escola é importante criarmos um ambiente de discussão de temas científicos, a fim de que a Ciência seja discutida entre alunos e professores e se aproxime cada vez mais da comunidade e do cotidiano da escola” (Bernardes, 2010 p. 2).

A proposta do projeto prevê a discussão de um tema interdisciplinar com a utilização de vídeos educativos (recurso lúdico) disponíveis no Youtube, a fim de trabalhar o conteúdo “furacões” com alunos do 2o ano do Ensino Médio em uma oficina.

Metodologia

A oficina foi realizada em um colégio público estadual na cidade de Nova Friburgo, região serrana do Estado do Rio de Janeiro. O colégio oferece aulas para mais de 700 alunos nos turnos diurno e noturno para o Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). A escola conta com auditório, quadra de esportes e laboratórios de Ciências e informática, ainda que precários.

O presente trabalho foi desenvolvido no contexto de um estágio não obrigatório realizado por uma graduanda do curso de Geografia na modalidade Educação a Distância (EaD) do consórcio Cederj (polo Nova Friburgo).

Inicialmente realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão a fim de estudar o tema furacões. Após refletirmos sobre o uso do recurso didático a ser trabalhado na oficina com as turmas do 2o ano do Ensino Médio, optamos pelos vídeos como recurso lúdico e acessível. A partir daí, realizamos uma pesquisa no Youtube a fim de selecionar os vídeos que abordassem o tema de forma significativa para os alunos; em seguida, criamos uma página para exibir os vídeos selecionados. Após o período da pesquisa e preparação do material, iniciamos a oficina com os vídeos selecionados.

Para sondar o conhecimento dos participantes após a oficina, realizamos uma pesquisa por meio de questionário com perguntas fechadas. O questionário foi aplicado aos 28 alunos do 2o ano do Ensino Médio, de ambos os sexos, entre 15 e 17 anos de idade. O questionário aplicado é apresentado na Tabela 1.

Tabela 1: Questionário fechado aplicado na oficina

1) Você é favorável à utilização de oficinas no ensino?

____ Sim  ____ Não

2) Você gosta de aprender por meio de vídeos?
____ Sim  ____ Não

3) Outros professores utilizam tais recursos?
____ Sim  ____ Não

4) Se sim, de qual disciplina? ______________________

5) Como você qualifica seu aprendizado na disciplina?
____ Ruim   ____ Bom   _____ Regular   ____ Ótimo

Resultados

Com base nos resultados preliminares, observamos que 89% dos alunos classificaram a oficina como boa ou ótima. Os dados obtidos podem ser observados no Gráfico 1.

Gráfico 1: Avaliação da oficina

Na questão: “Você gosta de aprender por meio de vídeos?”, aproximadamente 97% dos alunos afirmam que “Sim”, o que nos leva a considerar o recurso visual como viável para ser utilizado pelo professor em sala de aula. Os dados obtidos podem ser observados no Gráfico 2.

Você gosta de aprender com o uso de vídeos?

Gráfico 2: Opinião sobre aprendizado por vídeos

Sobre a questão: “Outros professores utilizam o recurso vídeo?”, aproximadamente 65% afirmaram que utilizam, ou seja, mais da metade dos professores utiliza vídeos nas suas aulas. Os dados obtidos podem ser visualizados no Gráfico 3.

Gráfico 3: Utilização pelos professores

Na pergunta: “Em quais disciplinas são utilizados vídeos?”, os alunos citaram: Física, Inglês, História, Projeto de Vida, Português, Letramento em Português e Artes. Os dados obtidos podem ser observados no Gráfico 4.

Professores de quais matérias utilizam vídeos?

Gráfico 4: Vídeos por disciplinas

Quando perguntados “Como você qualifica seu aprendizado na oficina?”, aproximadamente 80% dos alunos qualificam como bom ou ótimo. Os dados obtidos podem ser verificados no Gráfico 5.

Gráfico 5: Quanto à qualidade do aprendizadocom vídeos

Análise dos resultados

Com base nos dados obtidos, observamos que a oficina foi bem recebida e bem avaliada pelos alunos. O recurso utilizado – vídeos – foi considerado positivo e os alunos afirmaram que vários professores também utilizam vídeos em suas aulas. Eles afirmaram também que aprenderam muito com a oficina, o que é importante, pois é muito comum o aluno ter dificuldade e expressar falta de motivação em relação a algumas disciplinas.

Quanto à seleção dos vídeos e à disponibilização na página do Facebook, ainda estamos analisando o acesso e a sua divulgação para professores e alunos do curso de Geografia do Polo Cederj de Nova Friburgo.

Considerações finais

O projeto de uma oficina foi realizado em um colégio público estadual em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, trabalhando em um contexto interdisciplinar, o que claramente favoreceu o aprendizado dos alunos. A utilização de novas tecnologias (vídeos) foi crucial para o bom desenvolvimento do trabalho, que apresenta resultados ainda preliminares.

De modo geral, acreditamos que o trabalho tenha sido válido ao apresentar o tema por meio de um recurso lúdico e ao valorizar a interdisciplinaridade. O fato de o projeto ter sido desenvolvido por uma graduanda de Educação a Distância (EaD) e orientado por uma professora da escola onde foi realizado o estágio mostra infinitas possibilidades para a formação do professor que conhece a realidade da escola pública brasileira. Diante dos resultados, concluímos o quão vital é a interação de graduandos com alunos da escola pública em um contexto de aprendizagem mútua (Figura 1).

Figura 1: Participantes da oficina

Referências

ALMEIDA, J. C. S. Interações discursivas em aulas de Física do Ensino Médio para o ensino de energia: narrativas de um professor em formação. 2015. 139 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Física), Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015.

BERNARDES, A. O. Utilizando o Windows Movie Maker na produção de vídeos educativos para o ensino e divulgação de Astronomia. SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM ASTRONOMIA, 2., 2012, São Paulo. Anais... São Paulo, 2012.

______. Trabalhando com recursos lúdicos no Ensino Médio: produzindo vídeos educativos para o ensino de Física. Educação Pública, v. 13, 12 de novembro de 2013. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/fisica/0029.html2013. Acesso em: 18 maio 2020.
______. Produção de um documentário amador por turmas de Ensino Médio e EJA (Ensino de Jovens e Adultos) com o uso do Windows Movie Maker. Disponível em: http://makertecedu.pro.br/wp-content/uploads/2015/07/Art3-ano2-vol3-dezembro2010.pdf. Acesso em: 18 maio 2020.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Casa Civil da Presidência da República, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC, 1999.

SOUZA, E. de J. Aplicações da Física no cotidiano a partir de vídeos de curta duração: TIC como contribuição ao ensino e aprendizagem. CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 11., 2013, Curitiba. Anais eletrônicos... Curitiba: Educere, 2013. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/ANAIS2013/pdf/9869_6014.pdf. Acesso em: 10 fev. 2020.

Links dos vídeos sugeridos

http://www.ecycle.com.br/component/content/article/63/3177-o-que-sao-mudancas-climaticas-diferencas-tempo-clima-aquecimento-global-era-do-gelo-efeito-estufa-desmatamento-industria-aumento-das-temperaturas-atividade-humana-politica-nacional-sobre-mudanca-do-clima.html

http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/fundamentos_cientificos_mc_web.pdf

https://www.youtube.com/watch?v=3_GPLlJv6x0

https://www.youtube.com/watch?v=1gCaiCpH0Oc

https://www.youtube.com/watch?v=fu-mq9VPcV

Publicado em 30 de junho de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

BERNARDES, Adriana Oliveira; NASCIMENTO, Marcelle de Freitas. Utilizando vídeos educativos para o estudo do tema furacões: uma experiência interdisciplinar envolvendo Física e Geografia. Revista Educação Pública, v. 20, nº 24, 30 de junho de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/24/utilizando-videos-educativos-para-o-estudo-do-tema-furacoes-uma-experiencia-interdisciplinar-envolvendo-fisica-e-geografia

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.