A beleza incomparável do mito da origem do inverno

Hugo Maddalena Junior

Graduando em Letras (UFF/Cederj), assistente técnico-administrativo do Ministério da Economia (DRF/Macaé)

Deméter é a deusa da agricultura, da vegetação e da fecundidade da Terra. Filha de Cronos e Reia e mãe de Perséfone, Deméter é responsável pelo amadurecimento anual dos grãos e dos frutos, além de reger os ciclos da natureza e de todas as coisas vivas. É ela quem nutre a terra.

Perséfone é filha de Zeus, o Senhor do Olimpo, e de Deméter, deusa da colheita, soberana da natureza e protetora das criaturas jovens e indefesas. Perséfone é filha única de Deméter, por quem a mãe nutria um grande amor. Criada no Olimpo, ela era meia-irmã de Ártemis e de Atenas, filhas de Zeus.

Hades, o deus dos infernos, que era irmão de Zeus, e, portanto, tio de Perséfone, apaixonou-se perdidamente por ela. Movido pela paixão, preparou uma trama para raptá-la, recebendo a anuência de Zeus.

Perséfone brincava em um belo prado verdejante, juntamente com as filhas de Oceano, o deus mar todo abrangente e pai de todos os rios.

Distraída, percebeu uma bela planta com centenas de flores que espalhavam um suave perfume por todo o lugar. Essa planta, porém, tinha sido enviada à Terra pela deusa-mãe Gaia a pedido de Hades, o senhor do mundo inferior, justamente para seduzir a jovem. Quando ela se abaixou para colher as flores, abriu-se uma fenda na terra e de dentro dela surgiu o poderoso deus do submundo, montado em uma carruagem de ouro puxada por corcéis negros, e ele tomou-a em seus braços e conduziu-a para a sua morada. Hades raptou Perséfone de modo fulminante, levando-a para o seu reino subterrâneo.

Os gritos de Perséfone somente foram ouvidos por sua mãe e por Hécate, uma divindade da Lua. Deméter ficou desesperada ao notar o desaparecimento da filha e tentou, em vão, seguir suas pegadas. Elavasculhou a terra em busca de algum sinal. Vagou desesperada por nove dias e nove noites, levando à mão apenas uma tocha em forma de longo bastão. No décimo dia encontrou Hécate e, juntas, foram até o deus sol Febo, que tudo vê. Assim, souberam o que havia ocorrido com a jovem raptada.

Deméter ficou tão desolada que fugiu da companhia dos deuses.

Afinal, por que o grande Zeus, pai de Perséfone, havia permitido que sua própria filha fosse levada à força para habitar o mundo dos mortos?

Irada pela separação, ela decidiu privar a terra de toda a fertilidade. Nenhum fruto mais nasceria, nem para os deuses nem para os homens. Uma grande fome passou então a grassar no mundo, ameaçando toda a humanidade. Deméter tomou a forma de uma mulher idosa e passou a vagar entre os homens como uma mendiga.

O tempo passava e Deméter continuava longe do Olimpo. Enquanto isso, a terra permanecia estéril, pois sem Deméter coisa alguma do que era plantado vingava. Todo um ano se passou sem que nascesse uma planta sequer. De nada adiantaram as súplicas dos deuses, nem mesmo os pedidos do poderoso Zeus. Por fim, o deus dos deuses teve de interceder junto a Hades para que ele libertasse Perséfone, aplacando assim a ira da mãe enfurecida.

Zeus ordenou a Hades que a jovem Perséfone, que agora era sua esposa e deusa dos infernos, fosse libertada. A deusa deveria retornar ao Olimpo acompanhada de sua mãe e de Hécate.

Hades obedeceu ao irmão, deus dos deuses, mas, antes de devolver Perséfone à mãe, agiu novamente de maneira inescrupulosa, lançando mão de um ardil para mantê-la junto a si, ainda que por pouco tempo. Ele sugeriu que ela comesse algumas sementes de romã e ela aquiesceu, sem saber que, fazendo isso, estaria ligando sua vida e seu destino para sempre ao de Hades, deus do mundo inferior, reino das trevas e dos mortos, pois quem quisesse retornar definitivamente ao mundo dos vivos não poderia comer coisa alguma durante a sua estada no Reino dos Mortos.

Ao saber disso, Zeus determinou que Perséfone passasse nove meses por ano junto à sua mãe, mas que nos outros três retornasse para junto do marido.

Deméter aceita então os desígnios de Zeus e retorna ao Olimpo, fazendo com que as flores floresçam e os campos produzam novamente. Assim, quando Deméter tem a sua amada filha Perséfone junto a si, ela se alegra, a natureza floresce e a vegetação prospera, os frutos brotam e é o tempo abençoado da colheita. Quando Deméter e Perséfone estão juntas, nós, mortais, estamos na Primavera e no Verão. Entretanto, quando Perséfone tem de regressar para junto de Hades, Deméter se entristece e a terra seca, as folhas murcham e caem, as flores desaparecem e as árvores e as plantas não dão frutos. Tudo é desolação.

A tristeza e a desolação de Deméter são a causa do inverno, estação fria, seca e praticamente sem vida.

Publicado em 28 de julho de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

MADDALENA Jr., Hugo. A beleza incomparável do mito da origem do inverno. Revista Educação Pública, v. 20, nº 28, 28 de julho de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/28/a-beleza-incomparavel-do-mito-da-origem-do-inverno

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