Análise do texto História da África: temas e questões para a sala de aula

Josely Silva Santos

Graduada em Pedagogia (FTC), especialista em Educação Infantil Especial e Transtornos Globais (UCAM), professora da Educação Básica e orientadora de TCC

Como mencionado no texto História da África: temas e questões para a sala de aula, de Mônica Lima, sobre a importância da Lei nº 10.639/03 sobre a inserção do tema nos currículos escolares, é possível salientar que a proposta está explicitada de forma bastante clara; pode ser analisada no seguinte artigo da lei (Brasil, 2003):

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1° O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2° Os conteúdos referentes à História e à Cultura afro-brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de literatura e História brasileiras.

A autora argumenta em seu texto, ainda na parte introdutória, que a Lei nº 10.639/03 torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira bem como os conteúdos programáticos que estudam a História da África e dos africanos, a qual deve cumprida em todos os currículos escolares sejam elas privadas ou públicas.

A partir dessa permissa, a História da África recebe ampla valorização de sua diversidade étnica e cultural de forma universal em nosso próprio país. A autora esclarece que, antes de adentrarmos na História do Brasil, é necessário que haja um estudo sobre a África para ter melhor entendimento acerca do continente africano e sua trajetória.

Importância das temáticas sugeridas

Um dos fragmentos da Educação é o déficit ou escassez de materiais específicos a serem utilizados para o ensino da História da África na escola, assim como a formação docente; apesar de existirem muito cursos de graduação, especialização, pós-graduação e extensão, muitos profissionais da Educação dizem não estar preparados para trabalhar a temática. Uma das boas notícias é que existem muitos trabalhos produzidos por pesquisadores imbuídos de disseminar a temática; apesar de essas produções serem pequenas, já é um grande passo.

A proposta de alguns temas para sala de aula é de grande valia, pois além de possibilitar que o professor desenvolva seu trabalho acerca da História da África, é possível que eles sejam selecionados conforme as especificidades da história de extrema relevância, pois oportunizam ao professor o planejamento de sua aula centrada em temáticas que fizeram a história da África. Essas temáticas foram distribuídas pelos itens: África onde nos tornamos humanos; A História da África e a crítica ao termo Pré-História; As sociedades africanas e as tradições orais; A África e a História Antiga; A expansão banta; Expansão do Islã e o comércio de longa distância; A formação do mundo atlântico e o tráfico de escravos; e Colonialismo, resistência e lutas pela descolonização.

Todas são importantes, mas vale destacar o que chamou mais atenção: As sociedades africanas e as tradições orais. Vale salientar que essa escolha é para relatar a negação e o descaso dos europeus em relação à história do continente africano. Os povos africanos não possuíam escritos, e os europeus ignoraram suas histórias na tradição oral, a qual é tida como fonte muito mais importante para os africanos do que um registro escrito ou a memória artificial, assim denominada. Para os povos africanos, a fala é de grande valia e deve ser respeitada; eles as consideram uma questão de honra, e é dessa forma que é transmitida a História da África entre os povos, os quais se destacam como guardiões das palavras, os denominados tradicionalistasou griots. São considerados também “bibliotecas vivas”; eram também muito procurados por autoridades para a função de professores de seus filhos.

Apesar das temáticas apresentadas pela autora, deixo uma indagação: onde encontrar os materiais ou conteúdos sugeridos por ela? Seria interessante que ela disponibilizasse o link ou o material para acesso.

A importância de estudar a África no Brasil

Como já mencionado, é de suma relevância conhecer os trajetos históricos do continente africano, da África antiga como a denomina o subtítulo. A imagem da África que nos foi apesentada, principalmente pelas mídias e até mesmo pelos livros didáticos, era de um continente associado a pobreza, doenças, fome, sem crescimento econômico e com animais selvagens; ou seja, foi criada uma série de situações que não condiziam com a realidade, resumindo a história apenas a esses elementos. Entretanto, as mídias não divulgavam a imensidão que é o continente, nem fazem uma explanação mais intensa sobre a sua diversidade, sua cultura, e o mais importante: não descrevem sua verdadeira história. A África possui vários grupos étnicos e sociedades; apesar de sua história ser ampla e complexa, possui características próprias.

Uma parte triste e lamentável da História da África é que ela foi escrita por alguns colonizadores europeus no século XV, que vieram pelo Oceano Atlântico, se instalaram no continente e perceberam que a sociedade era diversificada em seus costumes, crenças, parentescos, línguas e forma de organização; os colonizadores as compararam à cultura europeia; dessa forma, interpretaram as distinções caracterizando que o continente africano é primitivo, imerso em atraso; essa foi a imagem que difundiram por suas próprias concepções.

É notório que as percepções aqui retratadas são eurocêntricas e não consideram as diferenças materiais, culturais e espirituais, destacando a Europa como superior a outras nações. Dessa forma, por muito tempo o continente africano tinha imagem degenerada, fruto da visão europeia, que o caracterizou como continente com altas temperaturas e múltiplas tribos desordenadas.

Sendo assim, é necessário e de suma importância estudar a História da África e romper as imagens negativas que foram geradas. Deve-se banir tais concepções etnocêntricas e eurocêntricas, afirmando que o continente não é civilizado e está sem rumo. Sabe-se que, com o passar dos séculos, o continente passou por várias transformações, que envolvem os aspectos culturais dos diversos povos africanos; dessa forma, nos permitirão ter melhor compreensão referente à cultura da sociedade africana, à verdadeira História da África.

Uma das formas de estudar a História da África no Brasil é mediante metodologias com temáticas específicas para sala de aula, que permitirão aos educandos uma aprendizagem significativa sobre importantes aspectos do continente os quais são pouco trabalhados ou estudados, seja por ausência de materiais ou metodologias adequadas.

Algumas considerações e reflexão

Alguns materiais didáticos e tecnológicos, grupos de pesquisa e suas produções científicas evoluíram bastante em alguns sentidos, mais ainda existem muitas lacunas e elementos que fragmentam a educação, principalmente nos anos iniciais da Educação Básica. A ideia aqui não é apontar ou culpar alguém ou alguma instituição, mas chamar a atenção para refletir, como educadores, sobre a concepção do que pode ser feito mesmo com poucos recursos que temos para oferecer ao aluno aulas bem estruturadas que possibilitem um ensino de qualidade. Dessa forma surgem as questões: nossas práticas estão desenvolvendo as metodologias corretas para o ensino de História da África? Nossa formação docente nos atualiza e nos qualifica para formar pessoas?

A leitura desse texto me instigou a refletir que o modo de educar no âmbito escolar perpassa várias transformações, pondo o professor em vários desafios. Um deles é reinventar a própria prática e aprender a metodologia utilizada no ensino-aprendizagem dos alunos, dentre outros aspectos.

O professor é mediador do conhecimento e deve ter a convicção de que sua prática se reflete na vida dos alunos, dependendo de como está sendo conduzida e de como esse objeto de estudo vai ser inserido; assim, é de extrema relevância que contextualize a própria prática, mas não basta isso; o aluno deve ser considerado um sujeito que traz consigo sua história de vida e sua cultura e tende a enriquecer e interagir devido ao meio em que está inserido. Por essa razão, é de grande relevância que o professor intensifique diferentes abordagens e que por meio delas possa ampliar aquilo que deseja ensinar e buscar novos assuntos pelos quais possam surgir novos questionamentos sobre o assunto.

Essa reflexão preliminar reforça minha ideia e meu desejo de desenvolver matérias pedagógicas ou metodologias que sirvam de suporte para o professor aprimorar sua prática, que favoreçam a aprendizagem dos educandos de forma prazerosa e significativa.

Referências

BRASIL. Lei nº 10.639/03. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 10 jan. 2020.

LIMA, M. História da África: temas e questões para a sala de aula. Cadernos Penesb, nº 7. Niterói: Quartet/UFF, 2006. p. 71-105. Disponível em: http://est.uff.br.

Publicado em 18 de agosto de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, Josely Silva. Análise do texto História da África: temas e questões para a sala de aula. Revista Educação Pública, v. 20, nº 31, 18 de agosto de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/31/analise-do-texto-ihistoria-da-africa-temas-e-questoes-para-a-sala-de-aula-i

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