Experiência com sala de aula temática no Ensino Fundamental II em Alto do Rodrigues/RN

Atualmente, muito se discute a situação da educação brasileira, que nas avaliações em larga escala realizadas pelo MEC sempre apresenta resultados desfavoráveis, negativos. Por essa razão, muito se fala e se defendem modelos ou metodologias inovadoras para a nossa educação. Metodologias ativas, ensino híbrido, sala de aula invertida, sala de aula temática, Escola da Ponte etc. são exemplos de modelos inovadores que estão sendo discutidos e sendo postos em prática em muitos lugares, no Brasil e no mundo.

Diante dessa realidade, no início do ano letivo de 2019 a direção da Escola Municipal Francisco de Oliveira Melo, da cidade de Alto do Rodrigues/RN, que oferta Ensino Fundamental II e EJA (Educação de Jovens e Adultos), resolveu colocar em prática o projeto de uma docente da escola e implantar o que foi chamado de sala de aula temática. Nesse modelo, cada componente curricular passou a ter sua sala específica. Assim, o professor de cada disciplina passou a ter uma sala de aula somente para o seu componente, podendo assim organizar sua sala com objetos ou materiais (quadros, mapas, desenhos, figuras, imagens, fotos, esqueletos etc.) que fossem inerentes a ela. Cada sala de aula pode ser ornamentada com temas e materiais que interessassem àquele componente curricular, deixando assim a sala mais envolvente, mais prática e com a cara da disciplina, contribuindo e facilitando o ensino e a aprendizagem, além de tornar-se uma sala “acolhedora”, que, segundo Moran (2017), é característica de uma pedagogia inovadora.

Para Pacheco (2019, p. 46), “inovar equivale a operar rupturas paradigmáticas”. Assim sendo, esse modelo implantado nessa instituição de ensino pode ser considerado uma inovação, já que rompeu com um modelo de funcionamento de escola que já era bem tradicional, em que os professores é que mudam de sala a cada horário. O modelo que foi implantado nessa escola não havia sido testado em nenhuma outra escola do município. No entanto, informamos que a implantação desse modelo não é algo novo e nem inédito no Brasil. Se consultarmos rapidamente na internet, descobriremos inúmeros trabalhos publicados em diversas publicações de trabalhos acadêmicos, dando conta da implantação desse modelo em instituições de ensino em vários estados da Federação; o nome mais comum dado a esse modelo é “sala de aula ambiente”. Aqui em nossa escola, o nome usado está sendo “sala de aula temática”.

No modelo implantado em nossa escola ao longo do ano letivo de 2019, não era o professor que, após o fim de um horário, mudava de sala de aula. Quem mudava eram os alunos. Estes é que a cada sinal para mudar de horário e de componente curricular saiam da sala em que estavam e iam para a sala de aula do outro componente curricular.

Durante todo o ano letivo de 2019 vivenciando esse novo modelo de funcionamento, procurou-se observar seus pontos positivos e negativos. Essa observação foi feita pelos autores deste trabalho, docentes da escola, mediante observações pessoais e conversas informais com os demais docentes e com a gestão da escola durante os intervalos. Como já falado, esse modelo de funcionamento foi implantado a partir do projeto de uma docente, porém este é um relato independente, fruto das observações dos dois autores, que, por ser algo novo para ambos, decidiram escrever os resultados de suas observações, não se confundindo com o projeto da docente.

Anotamos as opiniões de vários desses atores educacionais, que não são identificados.

Pontos positivos

• O professor de cada componente curricular pode organizar sua sala de aula somente com temas relacionados ao seu componente, deixando a sala com a cara do componente curricular.
• O trabalho do professor é facilitado, já que a sala de aula se encontra com materiais relacionados ao componente curricular.
• Esse modelo permitiu o afloramento da curiosidade nos alunos, pois ao ver algum tema de outro assunto, às vezes até de outra série, presente ali na sala, ele teve a curiosidade despertada e começa a questionar, tornando a aula mais dinâmica e proveitosa, o que com certeza, trouxe aprendizagem.
• Zelo pela sala de aula; já que cada professor fica o tempo todo na sala, pode observar melhor o espaço e impedir que algo seja riscado, sujado, danificado de algum modo.
• Permite que o aluno se torne mais disciplinado e responsável, já que ele é que tem a obrigação de sair de uma sala de aula e ir até a outra sala, do próximo componente curricular.

Pontos negativos

• Alunos esquecendo ou deixando algum material na sala de aula (risco de perder material).
• Alunos demorando a chegar à sala seguinte, o que acaba sendo tempo de aula perdido.
• Tumulto na hora da troca de sala. Acontecia de alguns alunos que estavam chegando não ter paciência e esperar os que estavam na sala sair primeiro, para somente depois eles entrarem. Assim, em certos momentos ficava um tumulto na porta da sala: uns querendo sair, e outros querendo entrar. Nessas horas era preciso o professor interferir e pedir que os que estavam chegando esperassem os que estavam na sala sair primeiro.
• Também um pouco de tumulto por causa de lugar, com disputa para pegar as cadeiras da frente.

Algumas considerações

Após todo o ano letivo de 2019 vivenciando essa experiência na Escola Municipal Francisco de Oliveira Melo e observando seus aspectos positivos e negativos, podemos considerar, pesando prudentemente esses pontos, que a experiência vivenciada foi mais positiva que negativa, ou seja, foi bem exitosa.

Há que se considerar também que, ao se tratar de uma instituição de ensino, é prudente falar que um modelo novo de funcionamento de uma escola só pode ser considerado positivo se trouxer contribuição para a melhora na aprendizagem dos alunos. Esse é o foco principal. Sendo assim, aqui está se considerando algo positivo, pois na medida que o modelo contribuiu para despertar a curiosidade nos alunos, perguntando, questionando sobre outros temas que não os tratados no momento, contribuiu, sim, para a aprendizagem. Do mesmo modo, ao levar o aluno a ter certa disciplina e responsabilidade, pois era obrigação dele, ao terminar o horário, pegar seu material e ir até à sala da próxima aula ou componente curricular, há uma contribuição positiva para a aprendizagem do aluno, para a sua formação.

Sendo assim, mesmo que de início tenha sido algo estranho trabalhar nesse formato, já que não era praticado, que fizesse parte da dinâmica de funcionamento da escola como um todo – nem dos alunos (que para estes foi algo bem diferente e estranho) nem dos professores –, o fato de ter sido proveitoso e exitoso é algo que deveria fazê-lo permanecer, sendo parte da dinâmica de organização da escola e de seu funcionamento; até poderia ser expandido para outras unidades de ensino do município. Porém, devido à implantação da educação em tempo integral na escola e por falta de estrutura física (falta de salas de aula suficientes), tal modelo não poderá permanecer ativo.

No entanto, se isso acontecesse, por ter sido positivo, não significaria dizer que não seria preciso que a comunidade escolar se reunisse para avaliar. Seria preciso que a instituição avaliasse todos os pontos, prós e contras, para cada vez mais avançar no caminho de alcançar o melhor processo de ensino-aprendizagem, já que Luckesi (2018) fala que a avaliação serve para encontrar o ponto em que algo deu errado e, assim, corrigir e melhorar ou aprimorar mais ainda o que está dando certo, o que contribui para a aprendizagem.

Contudo, não se quer afirmar aqui que o simples implantar de um modelo novo ou diferente de funcionamento de uma escola que deu certo vá trazer resultados positivos, que vá conseguir melhorar os indicadores da nossa educação (pode ser um caminho). Isso é algo bem mais complexo e depende de muitos outros fatores que não se pretendeu estudar ou analisar aqui.

Referências

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação em Educação: questões epistemológicas e práticas. O que aprendi em cinquenta anos de vínculos com esse tema. São Paulo: Cortez, 2018.

MORAN, J. M. Metodologias ativas e modelos híbridos na educação. In: YAEGASHI, Solange e outros (Orgs.). Novas tecnologias digitais: reflexões sobre mediação, aprendizagem e desenvolvimento. Curitiba: CRV, 2017. p. 23-35.

PACHECO, José. Inovar é assumir um compromisso ético com a educação. Petrópolis: Vozes, 2019.