Afetividade na aprendizagem escolar: papel do assistente social sob o olhar da Neurociência

Patricia Maria Correia Ferro de Lima

Graduada em Serviço Social (Uninove), pós-graduanda em Neurociência na Educação (Unisa)

Ana Cecília Onativia

Coordenadora dos cursos de especialização em Neurociência na Educação, Arterapia Escolar e Deficiência Intelectual e no curso de Pedagogia (Unisa)

A Neurociência é uma ciência que estuda o sistema nervoso central. Com esse estudo, compreenderemos de que forma ela contribui no processo de aprendizagem e a necessidade de entendimento que educadores e profissionais da escola precisam ter sobre como acontece esse processo a partir do funcionamento cerebral e como ele se dá nos ambientes sociais. A questão da afetividade  deve ser considerada e trabalhada com os alunos. Segundo Wallon (1941, p. 148), “as emoções consistem essencialmente em sistemas de atitudes que correspondem, cada uma, a uma determinada espécie de situação”. Compreenderemos as possíveis ligações entre emoção e aprendizagem sob o olhar da Neurociência considerando a contribuição do assistente social no contexto escolar. A inserção de profissionais qualificados da área de Serviço Social na educação contribuiria para a melhoria do aluno no processo de ensino-aprendizagem, considerando o fato de que normalmente não se leva em conta a análise do contexto individual e familiar dos alunos que apresentam alguma dificuldade. O contexto familiar também precisa ser analisado e entendido como possível causa de comportamento considerado inadequado. Para Amaro (2011, p. 41), a omissão e a desatenção dos pais diante dos filhos, apesar de mais visíveis em famílias pobres, ocorrem também em famílias mais favorecidas. Dessa forma, podemos pensar que a vulnerabilidade não escolhe classe social. Sendo assim, pensar em assistentes sociais capacitados atuantes se faz necessário dentro das escolas.

A parceria escola/família/profissionais é importante nesse processo. A escola é um local onde essas dificuldades podem e devem ser identificadas com facilidade e agilidade, porém nos dias de hoje as Instituições encontram dificuldades nesse processo de identificação e inclusão, desde encaminhamento para acompanhamento especializado até diagnóstico mais preciso. O diagnóstico não é feito pela escola e sim por profissionais especializados; cabe à escola identificar se há necessidade de acompanhamento clínico e encaminhar o aluno para que seja feito o diagnóstico da maneira correta.

Após ter definido o problema de aprendizagem em sua perspectiva multifatorial, consideram-se os momentos do processo diagnóstico que procuram obter todos os dados necessários para compreender o significado, a causação e a modalidade de perturbação que em cada caso motiva a demanda assistencial (Pain, 1986, p. 35).

A preocupação individual com cada aluno é fundamental; os estudantes devem ser reconhecidos como indivíduos únicos. O assistente social, por sua vez, ajudará o aluno a desenvolver sua capacidade de expressar emoções com precisão, de maneira saudável e individual; isso se dará por meio de sua percepção, interação, acompanhamento, compartilhamento de saberes, tendo em vista o equilíbrio dessas emoções, pois sabemos que elas influenciam nosso pensar, nosso sentir e nosso agir. É uma barreira que precisa ser identificada e vencida precocemente, pois essa dificuldade pode ser de origem cultural, cognitiva, emocional ou comportamental.

Estamos vivendo uma era em que a geração infantil está mais sujeita a perturbações emocionais, mais solitária, mais deprimida, mais rebelde, mais revoltada, mais nervosa, propensa a preocupar-se, mais impulsiva e mais agressiva (Goleman,1995, p. 14).

Goleman, (1995, p. 23) diz que “temos duas mentes: a que raciocina e a que sente”; para ele a inteligência emocional é uma forma de interagirmos melhor com o mundo e enfatiza que o zelo, a persistência, o autocontrole e a capacidade de automotivação deveriam ser ensinadas às nossas crianças. Goleman ensina que o controle das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência; ele acredita que muitos circuitos cerebrais da mente humana poderiam ser trabalhados. É isso que buscaremos entender neste projeto, como se dá esse desenvolvimento saudável. Analisaremos a importância e o impacto que as emoções saudáveis podem ter sobre nossa vida e como a falta delas pode trazer consequências irremediáveis.

As emoções são importantes para a racionalidade. Na dança entre sentimento e pensamento, a faculdade emocional guia nossas decisões a cada momento, trabalhando – de mãos dadas com a mente racional e capacitando ou incapacitando o próprio pensamento. Do mesmo modo, o cérebro pensante desempenha função de administrador de nossas emoções, a não ser naqueles momentos em que elas lhe escapam ao controle e o cérebro emocional corre solto (Goleman, 1995, p. 59).

Afetividade na perspectiva histórico-cultural

Henri Wallon, (1879-1962), nascido na França, médico, psicólogo e filósofo, dedicou parte de sua vida ao estudo aprofundado da questão da afetividade e do quanto ela influencia no processo de aprendizagem. Defende a ideia da importância do ambiente no processo de desenvolvimento de capacidades. “Na Psicogenética de Henri Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento” (Taille; Oliveira; Dantas, 1992). O ser humano em sua caminhada vai adquirindo conhecimento e durante esse processo vai construindo entendimento em várias áreas da vida. É na escola que muitos desses conhecimentos são transmitidos, pois ela propicia ao aluno o desenvolvimento da capacidade que ele tem de aprender; assim, ele vai aos poucos aprendendo a se relacionar com o próximo e com o mundo, interagindo sempre com a realidade. Segundo Wallon (1979, p. 235), “o primeiro coletivo da criança é a família, a escola é um outro coletivo”.

O modelo cognitivo interacionista faz perceber que devemos dar importância ao que entendemos sobre desenvolvimento cognitivo e emocional, pois a partir desse entendimento podemos traçar estratégias pedagógicas para uso nas práticas diárias com o aluno. Para Piaget, “todo comportamento tem ambos os elementos, cognitivo e afetivo” (Wadsworth, 1993, p. 23).

Afetividade e inteligência emocional

Nos dias atuais, a afetividade está sendo deixada de lado. Crianças com problemas de disciplina, agressividade, dificuldades de concentração podem ser uma evidência de um histórico familiar desestruturado; de certa forma elas não conhecem a importância das relações afetivas saudáveis, talvez não tenham sido transmitidas por seus genitores e familiares. Sendo assim, haverá dificuldade natural de relacionamento com outras pessoas. De acordo com Galvão (1995, p. 97), “a teoria walloniana suscita uma prática que atenda às necessidades da criança nos planos afetivo, cognitivo, motor e que promova o seu desenvolvimento em todos esses níveis”.

O assistente social inserido nesse contexto escolar estará atento à realidade de cada criança considerando as relações interpessoais de cada criança e seu ambiente familiar. De acordo com Wallon (1941, p. 15), “desde o seu nascimento, geneticamente a criança é um ser social”. Para Wallon (1941, p. 149), “as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço não podem deixar de exercer uma ação determinante na sua evolução mental”. Trabalhar para que a criança tenha inteligência emocional é importante e é também uma tarefa para a equipe multiprofissional na escola. Cada criança tem seu jeito particular de aprender. A criança difícil exigirá mais. Devemos agir com equilíbrio, paciência e amor; porém a educação afetiva considera também aspectos como a expressão das ideias das crianças, a identificação de habilidades, o respeito mútuo, a atenção etc.

A educação afetiva precisa ser flexível, a criança precisa se expressar, devemos ouvir a criança, precisamos construir pontes e não muros em nossa comunicação. Uma vez conquistada a confiança da criança, será possível traçar estratégias eficazes no processo de ensino-aprendizagem de cada uma. A escola deve ser um local agradável, onde a criança sinta prazer de estar, possibilitando que ela possa se expressar com segurança, sem medo de ser reprimida.

Na vida cotidiana é possível constatar que a elevação da temperatura emocional tende a baixar o desempenho intelectual e impede a reflexão objetiva. O poder subjetivador das emoções (que volta a atividade do sujeito para suas disposições intimas, orgânicas), incompatibiliza-se com a necessária objetividade das operações intelectuais, é como se as emoções embaçassem a percepção do real, impregnando-lhe de subjetividade e portanto dificultando reações intelectuais coerentes e bem adaptadas (Galvão,1995, p. 66).

Lev Vygotsky (1896-1934), psicólogo e educador russo, norteou suas teorias explorando as dimensões afetivas e sua influência na aprendizagem. Em algumas de suas teorias percebemos que a aprendizagem se dá de maneira contínua e ocorre por toda a vida.

Em estudos experimentais sobre o desenvolvimento do ato de pensar em crianças de idade escolar, tem-se admitido que processos como dedução, compreensão, evolução, as noções de mundo, interpretação de casualidade física, o domínio de formas lógicas de pensamento e o domínio da língua abstrata ocorrem todos por si mesmos, sem qualquer influência do aprendizado escolar (Vygotsky,1991, p. 56-57).

Com isso, é válido então estudar as dificuldades de aprendizagem também fora do contexto escolar, considerando aspectos afetivos dentro e fora da escola, sempre com a parceria escola/família visando a um melhor entendimento da forma como o aluno aprende. Vygotsky (1991, p. 101) diz que

o pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva.

Os desajustes emocionais geram confusões mentais, pois estão ligados aos processos biológicos, psicológicos ou sociais. A capacidade de aprender está presente em todos os indivíduos, mas ocorre de maneiras diferentes. O processo de aprendizagem é muito pessoal, depende das experiências e construções de aprendizagem. São resultados de desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos adquiridos e experimentados ao longo da vida. Entende-se que o desenvolvimento é um processo em que o meio também influencia diretamente no processo de ensino-aprendizagem.

A motivação também é fator importante: o aluno precisa sentir-se motivado para que possa aprender; dessa forma, a motivação leva à ação. A aprendizagem envolve também aspectos cognitivos, emocionais, culturais, psicossociais. As técnicas de incentivo são importantes para que o aluno se mantenha motivado. Para Vygotsky, “o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção” (Taille; Oliveira; Dantas, 1992). A forma como o professor ensina também é importante; ele precisa entender a forma pela qual o aluno aprende e juntos aprenderão a pensar e agir, facilitando o aprendizado. As teorias de Vygotsky inter-relacionam sempre o desenvolvimento cognitivo às interações sociais e à aplicação prática na educação. Tanto Vygotsky quanto Jean Piaget ressaltaram a afetividade no processo evolutivo. “Nenhum comportamento é só assimilação ou só acomodação; todo comportamento reflete ambos os processos, embora alguns comportamentos expressem relativamente mais um processo do que outro” (Wadsworth, 1993, p. 7).

O sistema de Piaget requer que a criança atue sobre o meio ambiente para que ocorra desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento das estruturas cognitivas é assegurado somente quando a criança assimila e acomoda os estímulos do ambiente. Isso só pode acontecer quando os sentidos entram em contato com o meio ambiente (Wadsworth, 1993, p. 13).

Com isso entendemos que, para que haja desenvolvimento, a criança precisa desde cedo da interação meio/organismo. Essa junção produz comportamento. Para Piaget, “todo conhecimento é uma construção resultante das ações da criança” (Wadsworth, 1993, p. 13). Ele considera a interação social um fator importante para o desenvolvimento cognitivo.

Serviço Social e Educação

A emergência de profissionais do Serviço Social na política de Educação se faz necessária; dessa forma estarão intervindo diretamente nas expressões da questão social. A Educação tem importância fundamental no desenvolvimento de uma sociedade justa, igualitária.

O assistente social é um profissional que tem como objeto de trabalho a questão social com suas diversas expressões, formulando e implementando propostas para seu enfrentamento, por meio das políticas sociais, públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais (Piana, 2009, p. 85).

A inserção do assistente social nesse campo de atuação é um desafio. O profissional precisa estar preparado a fim de que possa construir uma intervenção qualificada. Dentro da escola encontram-se os mais diversos contextos, dos mais variados e complexos; dessa forma, o assistente social pode intervir, identificando fatores sociais que possam estar contribuindo para que o aluno apresente alguma dificuldade no seu processo de aprendizagem e no seu comportamento.

Relações familiares precarizadas, pais negligentes, desemprego, trabalho infantil, fome, violência, drogas e multiformas de discriminações sociais passam a fazer parte do cotidiano da escola e aumentam as estatísticas de evasão escolar, da multirrepetência e do atraso escolar, marcando o início de uma história de exclusão (Amaro, 2011, p. 16).

De acordo com Amaro (2011, p. 19), “o mais antigo registro do Serviço Social educacional remete ao Estado do Rio Grande do Sul, quando foi implantado como serviço de assistência escolar em 25 de março de 1946, pelo Decreto nº 1.394”. Dentre as funções dos assistentes sociais estavam:

examinar a situação social e econômica de alunos e suas famílias; Identificar casos de desajuste social; e orientar pais e professores sobre tratamento adequado; realizar triagem de alunos que necessitarem de auxílio por material escolar, transporte, tratamento médico e dentário; preparar relatórios e prestar informações sobre suas atividades (Amaro, 2011, p. 20).

Percebemos que nessa época as dificuldades que os alunos apresentavam na escola eram consideradas desvios, desajustes; o sujeito era culpabilizado por sua condição atual. Já a partir da década de 1980, Amaro (2011, p. 20) diz que “ações renovadas passaram a compor o repertório do assistente social na escola”. Mudanças significativas começaram a ocorrer, novos contornos surgiram; um deles se deu no âmbito familiar. Para Amaro (2011 p. 21), “o diálogo, o debate e a participação da família na escola em razão dos ideais democráticos assumidos pelo Serviço Social reconceituado crítico tornaram-se referendos indispensáveis ao trabalho social”. Martins (2014, p. 154) diz que

o papel educativo do assistente social é, portanto, no sentido de elucidar, desvelar a realidade social em todos seus meandros, socializando informações que possibilitem à população ter uma visão crítica que contribua com sua mobilização social visando à conquista de seus direitos.

Para a autora, o profissional deve promover o encontro da realidade social do aluno, da escola, da família e da sociedade na qual o aluno esteja introduzido. Então podemos dizer que o profissional deve estar engajado nessa luta de efetivação e conquista de espaço no contexto educacional atual para que sejam colocadas em prática suas atribuições profissionais; assim sendo, estaria habilitado a fazer leituras mais completas de acordo com cada contexto, visando uma intervenção mais eficaz e apropriada, visto que as condições e demandas apresentadas se diferem entre si. Essa intervenção aconteceria de modo mais precoce que o habitual, pois faria parte da rotina profissional dos assistentes sociais que estivessem inseridos no âmbito escolar. Esse profissional, ao compor essa equipe multidisciplinar na escola deverá estar apto a trabalhar com programas que visem uma prevenção prévia para cada realidade apresentada. O conhecimento dos vários problemas sociais levará esses profissionais a desenvolver métodos que contemplem cada aluno em sua realidade social, visando o envolvimento das suas respectivas famílias e comunidades, a fim de que facilitem e contribuam para a permanência desse aluno na escola e com o desenvolvimento do seu aprendizado.

O assistente social estará atento a cada realidade, cabendo a ele interpretar para intervir. Algumas questões deverão ser respondidas, como: qual a problemática? Quais os fatores econômicos, sociais, culturais? Qual o seu contexto de vida? Com base nesse levantamento, será possível definir quais instrumentos serão utilizados até que se alcance uma compreensão adequada para possíveis intervenções. Assim, o profissional estará contribuindo com o processo educacional brasileiro pelo exercício de suas aptidões.

 Projeto de lei de assistentes sociais nas escolas

A educação também é uma questão social para o assistente social. Seu trabalho é de suma importância, pois traz consigo a possibilidade de trabalhar junto à escola mediando relações entre os estudantes, suas famílias e demais profissionais no âmbito escolar.

A Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019 (Brasil, 2019), dispõe sobre a prestação de serviços de Psicologia e de Serviço Social nas redes públicas de Educação Básica. O Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo acompanhou toda a tramitação. Os sistemas de educação terão um ano, a partir da data da promulgação da lei, para tomar as providências necessárias ao cumprimento das disposições (São Paulo, 2019).

Neurociência e aprendizagem

Santiago Ramon Y Cajal (1852-1934) é considerado o pai da Neurociência moderna. Cajal tornou-se médico em 1873, trabalhando em um hospital militar em Cuba; em seguida juntou-se à equipe da Faculdade de Medicina de Saragoça, onde começou suas pesquisas histológicas. Dedicou grande parte de sua vida e de sua carreira ao estudo do sistema nervoso. Kandel, James e Jessell (1997 p. 261) afirmam que “para compreender como as pessoas pensam, se comportam, sentem, agem e se relacionam umas com as outras, também é essencial entender como eventos em células individuais levam à cognição” Diante disso, percebemos que a Neurociência nos traz um olhar diferenciado em relação à importância do funcionamento do cérebro. Segundo Kandel, James e Jessell (1997, p. 5),

a tarefa da ciência neural é fornecer explicações do comportamento em termos de atividade cerebral, explicar como milhões de células neurais individuais no cérebro atuam para produzir o comportamento e como por sua vez elas são influenciadas pelo meio ambiente, inclusive pelo comportamento de outras pessoas.

Destacamos a importância da Neurociência na Educação, pois ela possibilita que o professor e demais profissionais tenham conhecimento aprofundado sobre o funcionamento do sistema nervoso; esse conhecimento auxiliará o profissional para que ele possa ter melhor compreensão do indivíduo mediante seus comportamentos. Quanto mais compreendemos o funcionamento do nosso cérebro, melhor compreenderemos o processo de aprendizagem. A Neurociência dá base para que sejam feitas análises sobre o ensino-aprendizagem a partir dos processos cerebrais. O processo de ensino-aprendizagem é complexo, e a Neurociência vem como um recurso a mais nesse processo. A compreensão dos processos neurais traz uma contribuição importante, pois eles investigam o funcionamento do sistema nervoso a fim de que as bases biológicas do comportamento possam ser entendidas. Para Jessell, Kandel e Schawartz (1997, p.17), “o cérebro é capaz de produzir comportamento altamente complexo, por conter um número extraordinariamente grande de células neurais, cerca de 100 bilhões, que se comunicam entre si por meio de interconexões específicas”.

Os problemas de aprendizagem podem ser decorrentes de alterações no sistema nervoso, e o seu estudo aprofundado pode mostrar de que forma essas conexões neurais são restabelecidas.

Diagnóstico e tratamento

Segundo Pain (1985, p. 13),

consideramos perturbações na aprendizagem aquelas que atentam contra a normalidade desse processo, qualquer que seja o nível cognitivo do sujeito. Desta forma, embora seja frequente uma criança de baixo nível intelectual apresentar dificuldades para aprender, apenas consideramos problemas de aprendizagem aqueles que não dependem daquele déficit. Isto quer dizer que os problemas de aprendizagem são aqueles que se superpõem ao baixo nível intelectual, não permitindo ao sujeito aproveitar as suas possibilidades.

Geralmente a avaliação e o diagnóstico são feitos por uma equipe multidisciplinar, com profissionais especializados. O processo se dará por acompanhamento, compartilhamento de saberes, testes até que se chegue ao diagnóstico com precisão.

Cabe diferenciar dos problemas de aprendizagem aquelas perturbações que se produzem exclusivamente no marco de instituição escolar. Os problemas escolares se manifestam na resistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de pares, na desqualificação do professor, na ambição mental ou expressiva etc. E geralmente aparecem como formações reativas diante de uma enlutada e mal elaborada transição do grupo familiar, a orientação se inclina ao grupo social. Em tais casos a orientação se inclina por um tratamento psicoterapêutico grupal com apoio pedagógico, a fim de evitar o iminente fracasso escolar (Pain, 1985 p. 13).

          Nem todo encaminhamento será diagnosticado com algum distúrbio. Haverá casos em que alguma modificação, intervenção pedagógica seja suficiente para sanar dificuldades apresentadas. Wallon (1979, p. 235) diz que

é pelo ensino que o aluno se ligará ao meio ambiente, o ensino procurará aí os seus motivos, as provas de sua utilidade, as suas possibilidades de aplicação, com a condição do mestre de ordenar e dirigir a atividade das crianças segundo os matérias que lhes é necessário aprender.

Uma avaliação mais aprofundada, segundo Pain, (1985, p. 29), “requer Investigação neurológica para conhecer a adequação do instrumento ás demandas da aprendizagem. O sistema nervoso sadio se caracteriza, em nível de comportamento, pelo seu ritmo, sua plasticidade, seu equilíbrio”.

Considerações finais

No processo educativo, constatou-se que a questão da afetividade deve ser considerada importante, pois, se compreendido esse conceito teórico, ele contribui na prática no processo de aprendizagem do aluno. Com base nas teorias de Henri Wallon, entendemos que essa compreensão é necessária.

Verificou-se um extenso cenário de desafios situados no contexto educacional, e a partir desta pesquisa pudemos observar que crianças com dificuldades devem ser acompanhadas, identificadas e se necessário encaminhadas pelo professor para outros profissionais para que tenham uma visão ampla de cada caso, a fim de que seja trabalhada essa dificuldade visando ao bem-estar e à melhoria do aluno. É importante que esse aluno não seja visto pela família, pela escola, pela sociedade como um fracassado; ele precisa ser respeitado e tratado com dignidade. Autores comprometidos em pesquisar e produzir estudos sobre ensino-aprendizagem sugerem que educadores adquiram conhecimento afetivo e cognitivo; vimos a importância da Neurociência e de seus ensinamentos sobre o funcionamento do sistema nervoso, facilitando o melhor entendimento do comportamento humano. É necessário o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas para que sejam aplicadas na prática diária com os alunos, respeitando sempre a individualidade de cada um a fim de que seja possível o desenvolvimento de habilidades por meio de ações educativas. Somos dotados de um cérebro que apresenta múltiplas habilidades, com enorme capacidade de reorganização. Neste estudo ficou claro que o aprendizado é resultado da interação de estruturas mentais e meio ambiente. A Neurociência, nesse sentido, vem ensinar sobre a plasticidade do cérebro e sua capacidade de reorganizar-se, modificar-se, adaptar-se mediante a produção de estímulos.

Pudemos perceber que a problemática da questão social na escola pode ser identificada pelo profissional também por meio da violação de direitos básicos abrangendo as famílias dos alunos, como: falta de emprego, de alimentação adequada, de habitação, de saúde, de saneamento básico etc. A falta de acesso a esses direitos pode comprometer as relações familiares, afetando assim o aprendizado da criança na escola. O assistente social inserido nesse contexto precisa trabalhar em prol dessas famílias visando à garantia de acesso a esses direitos básicos.

As possibilidades de trabalho do assistente social na Educação então se dá em parceria com outros profissionais da Educação e da equipe multidisciplinar, indicando, orientando, encaminhando e desenvolvendo possíveis alternativas para as problemáticas sociais apresentadas e vivenciadas pelos alunos, permitindo assim um melhor enfrentamento da questão social no contexto escolar. Nas relações sociais fica evidente que os aspectos afetivos contribuem para a formação da personalidade do ser humano. O assistente social, ao conquistar a confiança do aluno, pode auxiliá-lo no seu processo de construção de conhecimento de forma saudável, podendo ser um marco em toda a sua vida.

Referências

AMARO, Sarita. Serviço Social na Educação: base para o trabalho profissional. Florianópolis: UFSC, 2011.

BRASIL. Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019. Dispõe sobre a prestação de serviços de Psicologia e Serviço Social nas redes públicas de Educação Básica. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13935.htm. Acesso em: 10 fev. 2020.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 83ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

KANDEL, Érick Richard; JAMES, Henry; JESSELL, Tomas Michael. Fundamentos da Neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.

MARTINS, Eliana Bolorino Canteiro. Educação e Serviço Social: elo para a construção da cidadania. São Paulo: Unesp, 2014.

PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos processos de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985.

PIANA, Maria Cristina. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Unesp, 2009.

SÃO PAULO (estado). Projeto de Lei nº 863/2017, de 15 de setembro de 2017. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000058483.

TAILLE, Ives de la; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 23ª ed. São Paulo: Summus, 1992.

VYGOTSKY, Lev Semyonovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

WADSWORTH, Barry. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1993.

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1941. 

______. Psicologia, educação da criança. Lisboa: Vega, 1979.

Publicado em 15 de setembro de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

LIMA, Patrícia Maria Correia Ferro de; ONATIVIA, Ana Cecília. Afetividade na aprendizagem escolar: papel do assistente social sob o olhar da neurociência. Revista Educação Pública, v. 20, nº 35, 15 de setembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/35/afetividade-na-aprendizagem-escolar-papel-do-assistente-social-sob-o-olhar-da-neurociencia

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