Práticas de ensino e pesquisa nas Ciências da Natureza e suas tecnologias
Edilson de Oliveira
Graduado em Ciências Biológicas
A Prática de Ensino vem sendo alvo de preocupação e reflexão há pelo menos duas décadas, tornando-se parte dos cursos de licenciatura na formação de Estágio Curricular.
A busca por artifícios metodológicos que proporcionem melhor discernimento e aprendizagem dos conteúdos, dentre eles, a experimentação, vem ganhando destaque, pois se mostra uma importante ferramenta no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos, principalmente na área de Ciências Naturais (Keller et al., 2011).
Todo material utilizado pelo professor em sala de aula de forma a auxiliar no ensino-aprensizagem de conteúdos propostos são considerados recursos didáticos (Souza, 2007). Entretanto, as novas metodologias de educação devem fazer uma relação entre o que é aprendido na sala de aula e aquilo que o aluno vivencia em seu dia a dia; contudo, as transformações pelas quais a humanidade passou durante o século XX geraram consequências profundas na sociedade, tornando necessária a adequação do sistema educacional a esse novo contexto.
Algumas pesquisas apontam que aulas experimentais bem elaboradas podem propiciar ao estudante uma nova concepção, estimulando uma participação mais ativa no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo de forma significativa (Giordan, 1999; Araújo, 2011).
Vale lembrar que para o estudante ter empenho em focar os estudos de modo a serem significativos e inter-relacionados com conceitos deverá ter a consciência da importância para a sua vida futura, sendo esse o combustível que o condiciona. Se assim não vir a calhar, o estudante pode achar que é mais conveniente e mais prático memorizar alguns conceitos resumidos e fórmulas para esquecê-los logo em seguida (Prigol; Giannotti, 2008).
Na mesma inspiração, certos professores de Ciências não aceitam que se adapte um modelo a outro contexto. O conteúdo da formação inicial dos professores de Ciências da Natureza e o conteúdo aplicado em sala de aula de forma tradicional se tornam também objeto de debate, da mesma forma que as condições e precariedades que a escola apresenta para tal desenvolvimento das disciplinas.
Atividades práticas no ensino de Biologia e Química
No que diz respeito à aprendizagem do Ensino Médio, encontra-se a realização da aprendizagem dividida em disciplinas específicas, como no caso da Biologia e da Química. A aprendizagem de Biologia no Ensino Médio, assim como a de Química, tem a missão de desmistificar a pesquisa científica e trazer a compreensão dos processos dinâmicos e das estruturas químicas e biológicas que formam a biodiversidade do planeta Terra.
Segundo Amabis (2001), compreender a Biologia concomitantemente à Qquímica ajuda a promover grandes avanços biológicos, tecnológicos, de sistemas produtivos, na saúde pública, na preservação ambiental e na compreensão de fenômenos naturais que descrevem a existência e o desenvolvimento da vida.
Entretanto, durante as aulas de Biologia e Química podem ocorrer várias dificuldades durante o processo de ensino-aprendizagem, tanto do ponto de vista do educador como do aluno, e nesses casos o desafio é ensinar por meio de novas metodologias e práticas. Araújo (2009) relata em sua pesquisa que a maioria dos professores da área de Ciências Naturais segue à risca os livros didáticos, os quais muitas vezes apresentam conteúdos de forma muito resumida, insistem numa didática de decoreba e informações isoladas. Por mais que as áreas da Biologia e seus conteúdos necessitem da memorização de alguns nomes e conceitos, fato que o ensino tradicional já tem atingido (Bizzo, 2001), estudos apontam para a necessidade de utilização de recursos didáticos diversificados para o ensino de Biologia (Marandino et al., 2009; Pedroso, 2009), trazendo novas dúvidas, ideias e conceitos, pois tradicionalmente a Biologia e a Química vêm sendo ensinadas apenas como fator e conceitos, descrição de fenômenos, desencadeando desinteresse sombrio por tais áreas e não instigando novos pesquisadores.
Apesar de a natureza da ciência ter evoluído, a escola continua a ensinar conhecimentos prontos, cultivando uma ciência imóvel, em que os acréscimos são apenas continuação do que já estava estabelecido. O professor se transformou em um “auleiro”, transmissor de conteúdos, e nada mais de teorias e conceitos definidos. Segundo Bini e Pabis (2008), os alunos demonstram apatia por não considerarem os motivos para aprender, ou seja, por não terem perspectiva nesse aprendizado.
Além disso, as aulas de Biologia e Química se tornam cansativas diante da negligência sofrida pela falta de materiais e equipamentos necessários para uma aula mais atrativa e didática e da falta de criatividade motivada pela descrença na realidade que algumas escolas enfrentam.
A construção de um conhecimento sólido acerca da natureza da ciência revela-se crucial na Educação, na Biologia e na Química, uma vez que contribui para o desenvolvimento da literacia científica; contudo, verifica-se que os alunos do ensino básico não possuem visões adequadas relativamente a esses aspectos.
No contexto, em que educação é uma das atividades mais elementares e mais necessárias da sociedade humana (Arendt, 1979), os experimentos entram como um recurso a mais, uma proposta interessante, algo que agregará aos alunos novos conhecimentos de forma dinâmica e prazerosa. O ensino das Ciências Naturais em prática ajuda o aluno desenvolver seu raciocínio lógico e racional, facilitando o desenvolvimento de sua razão para os fatos do cotidiano.
Partindo do pressuposto de que fatores relacionados aos encaminhamentos metodológicos influenciam no processo de ensino-aprendizagem e que é fundamental discutir os mais relevantes, partimos dessa premissa com o objetivo de aplicar uma proposta de mudança de metodologia em contexto de sala de aula visando constituir um instrumento diversificado, atrativo e interessante da aprendizagem do conteúdo escolar aplicando-o extraclase.
Materiais e métodos
Aplicou-se como metodologia da pesquisa uma entrevista semiestruturada elaborada pelos próprios alunos. O trabalho foi desenvolvido com os estudantes do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dom Bosco, em Alta Floresta/MT, com quatro grupos divididos nas subtemáticas “Alimentos transgênicos”, “Fabricação do iogurte”, “Ressonância magnética” e “Suplementos e Anabolizantes”. Para o desenvolvimento das atividades, foram realizadas pesquisas bibliográficas, leitura de artigos científicos, pesquisa na internet, propostas de possíveis visitas técnicas, elaboração de roteiro de entrevistas e questionários para aplicação em campo de visita a órgãos e empresas especializados nas áreas temáticas do estudo e aplicação de pesquisa de campo; por fim houve produção de resumos individuais e trabalhos coletivos aplicando de forma sucinta as metodologias da escrita científica, com as devidas correções do professor responsável.
Ao fim das correções, os grupos apresentaram seminários para toda a comunidade escolar, com a elaboração de uma peça teatral e exposição dos resultados.
A avaliação dos alunos ocorreu de forma contínua em todas as fases da elaboração da pesquisa, de acordo com o envolvimento de todos e com as correções e orientações durante o processo.
Resultado e discussão
Com auxílio das atividades experimentais, a aprendizagem dos conteúdos de Biologia e Química pode ser relacionada às ações que os alunos realizam diretamente sobre os objetivos, os materiais e os equipamentos, procurando caracterizá-los ou buscando perceber suas transformações. Com o uso de questionários, pode ser observado que as perguntas pré-desenvolvidas puderam ser refeitas e melhoradas, sendo mais instigantes diante da realidade, fazendo com que as aulas e experimentos pudessem tornar-se diferenciados e atraentes, criando um processo mais dinâmico e prazeroso. Foi observada a interação de alunos-alunos; os mais distantes se aproximaram pelo bem comum para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das atividades; alunos demonstraram parceria jamais vivenciada em sala de aula da forma tradicional; dedicação e companheirismo podem ser observados além do esperado.
Conclusões
Diversos são os trabalhos que demonstram a eficácia dessa praticidade na aprendizagem, e isso não só aprimora como a experimentação contribui para a melhoria do ensino quando é aplicada de maneira que possibilite a investigação, a observação, as deduções e que leve a conclusões; esta pode ser a linha pedagógica que anda paralelamente às propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de orientar a formação de alunos capazes de ter atitudes decisivas diante de sua vida como cidadãos críticos e argumentativos. Ao lado dessa reflexão, a Biologia só vem contribuir ainda mais para corroborar essa linha de pesquisa, pois a explicação dos processos e conhecimentos biológicos leva os estudantes a aplicá-los no seu cotidiano.
Notemos, enfim, que para a maior parte das pessoas a única coisa que importa verdadeiramente é o desenvolvimento tecnológico e que nos grandes avanços recentes das ciências a resposta não vai além de técnicas médicas e telefônicas, da conquista do espaço e da informática, todas disciplinas que os cientistas classificariam mais como tecnológicas do que científicas.
É importante ressaltar que a partir da experimentação, do conhecimento de premissas na elaboração de hipóteses e do desfecho de problemas que são desenvolvidos em aulas práticas, a formação da lucidez na área de Ciências Biológicas e Química se torna mais proveitosa e atrativa, viabilizando assim o trabalho do educador e o do educando.
Referências
AMABIS, José Mariano. A revolução na Genética: Um tema para a escola secundária. Encontro sobre temas de Genética e Melhoramento, v. 18, p. 7-10, 2001.
ARAÚJO, Dayane Holanda de Sousa. A importância da experimentação no ensino de Biologia. 2011. 15f. Monografia (licenciatura em Ciências Biológicas), Universidade de Brasília, Brasília, 2011. Disponível em: http://bdm.unb.br/handle/10483/1925. Acesso em: 25 out. 2017.
ARAÚJO, Joeliza Nunes. O ensino de Botânica e a Educação Básica no contexto amazônico: construção de recurso multimídia. 2009. 138 f. Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2009. Disponível em: http://www.pos.uea.edu.br/ensinodeciencia/categoria.php?area=TIT. Acesso em: 22 out. 2017.
ARENDT, Hannah. A crise na educação. In: ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Trad. M. W. Barbosa. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1979.
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GIORDAN, Marcelo. O papel da experimentação no ensino de ciências. Química Nova na Escola, v. 10, nº 10, p. 43-49, 1999.
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MARANDINO, Martha; SELLES, Sandra Escovedo; FERREIRA, Marcia Serra. Ensino de Biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.
PEDROSO, Carla Vargas. Jogos didáticos no ensino de Biologia: uma proposta metodológica baseada em módulo didático. In: IX CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE. Curitiba, 2009. Anais...
PRIGOL, Sintia; GIANNOTTI, Sandra Moraes. A importância da utilização de práticas no processo de ensino-aprendizagem de Ciências Naturais enfocando a morfologia da flor. 1º SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – XX SEMANA DE PEDAGOGIA. Cascavel, 2008. Anais...
SOUZA, S. E. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. Arq. Mudi., v. 7, nº 11, p. 110-114, 2007.
Publicado em 13 de outubro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA, Edilson de. Práticas de ensino e pesquisa nas Ciências da Natureza e suas tecnologias. Revista Educação Pública, v. 20, nº 39, 13 de outubro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/39/rafael-praticas-de-ensino-e-pesquisa-nas-ciencias-da-natureza-e-suas-tecnologias
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