A leitura na Educação Infantil: uma prática plural
Michele Aparecida da Rocha Roberto
Licenciada em Pedagogia (Faeterj - Três Rios)
Gilberto da Silva Santiago
Mestre em Linguística Aplicada (Unitau), docente (Faeterj -Três Rios)
Geraldo Generoso Ferreira
Mestre em Linguística Aplicada (Unitau), técnico em Assuntos Educacionais (IFRN)
O presente estudo tem por objetivo geral ampliar os incentivos que despertem nos alunos o desejo de interagirem com a leitura desde a pequena infância, iniciando esse processo no meio familiar e ser cada vez mais estimulado no cotidiano escolar.
O fato é que quando se fala em leitura, logo todos mantêm certa distância, pois ela não está associada ao prazer em realizar tal tarefa, pois em muitos casos sequer sabem o que estão lendo.
É por essa razão que a leitura deve ser primordial na vida do ser. E para tanto, a família é o ponto de partida, que começa a formar o pequeno leitor que desperta desejos e vontade.
Cabe ao professor e também ao meio familiar mediar esse interesse, realizando uma parceria consciente, reconhecendo a necessidade da leitura desde cedo; sendo assim, a escola torna-se uma parceria fundamental na inserção da criança neste universo simbólico.
O presente trabalho pretende identificar a importância da leitura como prática plural, considerando que o contato com a leitura nos proporciona a ampliação da percepção do mundo que está à nossa volta. Como cita Freire (1989), “a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo. Ler é atribuir sentido ao texto, é relacioná-lo com o contexto e com as experiências vivenciadas pelo leitor.
Este estudo é resultado de uma pesquisa de cunho bibliográfico e está dividido em três seções. Na primeira seção, buscou-se apresentar um relato sobre os principais incentivadores responsáveis à leitura; o segundo contará sobre a leitura na Educação Infantil, partindo da Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) e está dividido em três etapas, onde se enfatiza Educação Infantil: espaço de quê; Leitura e ludicidade e A importância do brincar desenvolvendo o cognitivo; a última seção apresenta uma proposta de sequência didática de acordo com os pressupostos teóricos defendidos ao longo da pesquisa.
Os principais responsáveis pelo incentivo à leitura
A leitura tem um papel fundamental na socialização do indivíduo. Através da leitura adquirimos informações, expandimos o nosso vocabulário, desenvolvemos a avaliação crítica. Desse modo, o ato de ler desperta o interesse por novos conhecimentos, não restringindo a um assunto específico (Rodrigues, 2015).
Decerto, pode-se afirmar que uma vez adquirido, o conhecimento é carregado por toda a vida. Inexiste uma fórmula, mas sim um caminho a ser seguido, sendo a prática da leitura na infância esse caminho. Contudo, o ato de ler só passará a despertar o interesse da criança se tiver algum significado para ela.
Importante registrar que o conceito de infância é decorrente de uma evolução histórica, constituída ao longo dos séculos. Ariès (1981, p. 21) pontua que, na Idade Média, “a infância era apenas uma fase sem importância, que não fazia sentido fixar na lembrança”. Nessa linha, contemporaneamente, Heywood (2004, p. 22) conceitua infância como “uma abstração que se refere à determinada etapa da vida”.
Compartilhando da definição de Heywood, Kramer (2006, p. 13) reconhece a infância “como período da história de cada um, que se estende na nossa sociedade, do nascimento até aproximadamente dez anos de idade”.
Nesse contexto, a ludicidade merece grande destaque, considerando que esta “(...) se fundamenta sobre os pilares de quatro eixos de diferentes naturezas, isto é, sociológica, psicológica, pedagógica, e epistemológica” (Coelho, 2012, p. 2). No entanto, mesmo sendo bastante utilizado no contexto educacional, não há consenso quanto à conceituação do termo ludicidade, devido às diversas contradições.
Na concepção de Luckesi (2002), a ludicidade consiste num estado de consciência que ultrapassa as experiências externas do indivíduo, exemplificando o estado de prazer, de ânimo, de leveza decorrente das atividades desenvolvidas com completude:
Quando estamos definindo ludicidade como um estado de consciência, onde se dá uma experiência em estado de plenitude, não estamos falando, em si, das atividades objetivas que podem ser descritas sociológica e culturalmente como atividade lúdica, como jogos ou coisa semelhante. Estamos, sim, falando do estado interno do sujeito que vivencia a experiência lúdica. Mesmo quando o sujeito está vivenciando essa experiência com outros, a ludicidade é interna (Luckesi, 2002, p. 6).
Desse modo, compreendemos que a ludicidade possibilita que o aprendizado infantil ocorra por meio de uma esfera cognitiva, muito favorável para o desenvolvimento da criança.
Assim, por envolver a ludicidade, a leitura “pode começar a fazer parte da vida das crianças na Educação Infantil” (Batista, 2013, p. 1). A criança faz uma viagem ao universo imaginário, diverte-se com cada leitura, proporcionando um aprendizado contínuo.
Segundo Rodrigues (2015, p. 243), “a leitura é uma das formas que a criança compreende e interpreta o mundo, trazendo enriquecimento cultural e social, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e psicológico, além de apropriação da linguagem”.
Em outras palavras, podemos afirmar que, através da leitura, é possível a formação de cidadãos críticos, conscientes e com conhecimento capaz de ser transmitido para as gerações futuras; por conseguinte, favorece o desenvolvimento psicológico, social e cultural.
A infância é considerada uma fase da vida de descoberta, quando a criança está cercada por um universo totalmente novo para ela, incluindo nesse cenário a leitura. Para desenvolver a prática da leitura, é interessante apresentar à criança contos que estimulem a imaginação, podendo exemplificar os clássicos da literatura infantil, histórias de personagens infantis de sua preferência.
Os primeiros contatos da criança com os livros se dão pela curiosidade e pelo formato que eles podem possuir, e cabe ao educador possibilitar a ampliação de seus conhecimentos de leitura oferecendo diferentes tipos de textos como: verbais (contos, fábulas, história em quadrinho) e os não verbais (charges, desenhos etc.) (Rodrigues, 2015, p. 243).
Nessa perspectiva, Coelho (2000, p. 264) afirma que “a leitura é uma atividade mental e sensorial bastante complexa que exige exercícios gradativos de acordo com o nível de desenvolvimento global do educando”. Assim, considerando que a inserção da leitura na vida da criança se apresenta como um processo contínuo, para isso, é de fundamental importância que ocorra o incentivo e encorajamento à leitura infantil, permitindo que a criança tenha contado com as mais variadas obras literárias, consoante a sua idade.
Oferecer o contato com os livros às crianças é abrir as portas para o conhecimento e para a formação de futuros cidadãos mais conscientes e com capacidade de interpretar textos, de falar com maior facilidade e de adequar seus discursos ou linguagem em diferentes situações de comunicação.
Desse modo, dada a sua importância, o ato de ler não deve ser oferecido às crianças como um exercício de distração. É mister ressaltar o seu papel de transformação não só do indivíduo, mas também do meio em que está inserido. Nesse sentido, Coelho (2000, p. 15) explica que
estamos com aqueles que dizem: sim. A literatura, e em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação: a de servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola. (...) É do livro, à palavra escrita, que atribuímos a maior responsabilidade na formação de consciência de mundo das crianças e dos jovens.
De fato, nas séries iniciais, o ato de ler e ouvir histórias infantis constitui a aprendizagem, oportunidade de desenvolver valores, concepções e conhecimento. Como reflexo, resulta na formação crítica e consciente do aluno, além de possibilitar a interação das crianças consigo e fomentar o conhecimento.
Assim, mesmo diante de toda a transformação contemporânea que a cada dia proporciona uma novidade, a leitura continua como um ambiente propício ao desenvolvimento intelectual do indivíduo, sem que para isso tenhamos que renunciar aos avanços. O que torna relevante é despertarmos o interesse da criança pela prática da leitura cotidiana.
Família
Como mencionado, as crianças que têm o hábito da leitura conseguem explorar a sua imaginação, posicionam-se como protagonistas culturais, assim como aprendem a se relacionar com outras pessoas e a solucionar situações adversas com mais facilidade. Contudo, essa capacidade e o interesse pela leitura não são fatores que as crianças possuem desde o nascimento; elas necessitam de incentivos para que esses fatores sejam despertados. Esse papel não é somente da escola e dos professores; a família é fundamental nesta tarefa.
Deste modo, um dos maiores incentivadores à leitura infantil é a família, visto que é no ambiente familiar que a criança tem ao alcance de suas mãos um livro, jornal, revista e/ou recorte, que permitirão a percepção da função social da leitura. Exemplificando, a prática comum dos pais lerem uma história infantil para o seu filho é considerada um momento muito importante, pois é o primeiro contato que a criança tem com um livro.
Nas palavras de Abramovich (1993, p. 16),
como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e compreensão de mundo (...) é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve.
Compreende-se, deste modo, que o ato de contar histórias se apresenta como uma janela aberta para a criança despertar o interesse pela leitura. A criança segue mais o que os pais fazem do que o que os pais dizem. Assim, é interessante que a criança visualize os pais lendo, e lendo com entusiasmo, pois pode despertar na criança a curiosidade e ampliar a sua criatividade. Assim, os pais devem ter sensibilidade para recomendar ao filho a leitura adequada para ele: oportunidade de conhecer melhor o filho. Como leitor, os pais vão auxiliar o filho na escolha do livro de acordo com o gosto dele, e isso, aos poucos, vai fazendo com que a criança desenvolva maior interesse pela leitura.
Assim, ao ler para uma criança uma história divertida e interessante, os pais estão estimulando o ato de ler no ambiente familiar, sendo essa uma fase em que a imaginação da criança está aflorada. Ela fantasia uma história em uma realidade.
As primeiras histórias que a criança escuta vem de casa. Os pais, avós e também as babás que iniciam o primeiro contato com a criança contam historinhas para ninar, cantam músicas e cantigas infantis. Tudo isso é importante para a criança desenvolver o seu lado afetivo e sentimental (Batista, 2013, p. 1).
Nesse contexto, podemos afirmar que a família exerce grande influência na vida da criança. Mesmo havendo incentivos em outros meios, o apoio da família reflete na vida escolar da criança e no despertar pelo hábito da leitura. Segundo Cassiano (2009, p. 8),
o estímulo à leitura deve ser iniciado com o hábito de ler em família, fazendo da leitura algo cotidiano, pois esse é um processo que a torna algo simples e natural. Mas a realidade é outra, muitas vezes, a família não participa da educação para a leitura.
A criança que lê e tem contato com a leitura desde cedo, principalmente se for com o acompanhamento da família, aprende, pronuncia as palavras, se comunica, de uma maneira geral, com mais facilidade e uma forma mais elaborada. E é por meio da leitura que a criança desenvolve a criatividade, a imaginação e adquire cultura, conhecimento e valores.
No entanto, o ideal é que a leitura seja livre. A criança deve ser estimulada a escolher o que quer ler, nada deve ser imposto. Uma visita à livraria e à biblioteca para ela escolher o livro é muito importante para despertar o gosto pelo hábito da leitura.
Sabemos que, muitas vezes, a ausência de incentivos por parte dos pais à vida escolar da criança e, consequentemente, ao prazer de ler, está relacionada a um ato errôneo da família, atribuindo à escola e ao professor a responsabilidade de educar a criança.
Nessa perspectiva, é imprescindível para a vida de uma criança o apoio e o incentivo dos pais e familiares, não importando a forma, o momento e nem o período reservado pela família para tal. São os pequenos momentos que fazem uma significativa diferença na autoestima, segurança e fortalecimento da relação afetiva, nas escolhas e nos hábitos da vida. São momentos simples como a leitura de um livro, a conversa, o acompanhamento, entre outros exemplos que possibilitam o desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança.
Escola
A escola tem significativa importância na vida do homem, pois é uma instituição social que tem a função de constituir o indivíduo para a vida. Segundo Bamberger (1988, p. 69), “é na escola que identificamos e formamos leitores”.
O ambiente escolar é um ambiente de contemplar desenvolvimento e aprendizagem, compreendendo a troca de todas as experiências adquiridas entre alunos e professor. Assim, esse ambiente permite que a criança revele suas capacidades intelectuais e cognitivas.
No contexto escolar, a literatura se apresenta como um instrumento indispensável, por possibilitar a compreensão da criança ao meio em que está inserida, assim como permitir o desenvolvimento da capacidade interpretativa das mais variadas situações.
Desse modo, é possível compreender a literatura como um caminho para a inserção do indivíduo no mundo, por oferecer condições para a formação da criança, dentre elas a aprendizagem, a criatividade e o prazer. A literatura apresenta o mundo para as crianças por meio das palavras. Segundo Santos (2010, p. 15),
a literatura é um processo de contínuo prazer, que ajuda na formação de um ser pensante, autônomo, sensível e crítico que, ao entrar nesse processo prazeroso, se delicia com histórias e textos diversos, contribuindo assim para a construção do conhecimento e suscitando o imaginário.
Desta feita, compreendemos que o conhecimento pode ser difundido por inúmeras vias. Contudo, a escola, considerada uma instituição sociocultural, tem a imprescindível função de expandir o conhecimento, produzindo o desenvolvimento individual através dos recursos pedagógicos, leitura e aluno.
Nesse sentido, Zilberman (2001 apud Silva, 2003, p. 49) afirma que
a leitura capacita o ser humano a pensar e agir com liberdade, combatendo o autoritarismo e outros ‘ismos’ que sinalizam a reprodução das estruturas injustas da sociedade. Nesta esfera, a educação e a escola desempenham um papel de suma importância.
O compromisso da escola está pautado no desenvolvimento de propostas de trabalho que incluam as concepções, valores, cresças e expectativas (Mota, 2006). Desse modo, “as práticas de leitura desenvolvidas no interior da escola serão o reflexo da tensão entre o que efetivamente se realiza e o projeto de sociedade, de escola e de cidadão que se almeja” (Santos, 2010, p. 16).
Notoriamente, no âmbito da escola, a leitura é praticada apenas no estudo da língua portuguesa (língua materna) e na aquisição de informações e conhecimento das disciplinas especificas, não ofertando, assim, o devido valor à leitura, como também a diversas obras literárias.
Essa concepção pode e deve ser modificada através do desenvolvimento de projetos que proporcionem novos sentidos à prática docente, de forma que a literatura seja compreendida, especialmente pela escola, como parâmetro para a inserção das crianças, promovendo o desenvolvimento individual. Segundo Oliveira e Queiroz (2009, p. 2),
o ensino de leitura deve ir além do ato monótono que é aplicado em muitas escolas, de forma mecânica e muitas vezes descontextualizado, mas um processo que deve contribuir para a formação de pessoas críticas e conscientes, capazes de interpretar a realidade, bem como participar ativamente da sociedade.
Desse modo, pontua-se a importância da inserção constante da leitura no contexto escolar, proporcionando o contato diário do aluno com uma grande diversidade de obras que poderão auxiliá-lo em futuras atividades. A prática da leitura permite que a criança compreenda o conteúdo letrado e, assim, se torne um agente crítico e atuante na construção do conhecimento; ou então, seja um mero repetidor de informações.
Nessa perspectiva, Paulino e Cosson (2004, p. 112) ponderam que a escola deve ter como premissa
a formação de um leitor maduro e crítico, que conviva com diferentes tipos de textos e que, quando for interagir com a literatura, saiba que, com suas próprias vivencias, ele está recriando, agindo e dialogando com texto, fazendo parte da recepção da obra.
Desse modo, pode-se afirmar que são tarefas essenciais da escola o incentivo à leitura e a construção de futuros leitores. Dada a importância, ao enriquecer o interesse pelo hábito da leitura na escola, de forma criativa e crítica, esse espaço é instituído como um ambiente substancial para a estruturação da “leitura de mundo”, a qual “precede a leitura da palavra” (Freire, 1983). Segundo Delmanto (2009 apud Gonçalves, 2013, p. 14),
diante das diversas transformações com as quais convivemos a escola precisa, mais do que nunca, fornecer ao estudante os instrumentos necessários para que ele consiga buscar, analisar, selecionar, relacionar e organizar as informações complexas do mundo contemporâneo.
Nessa perspectiva, sabemos que a escola possui em sua estrutura física a biblioteca ou um ambiente reservado para a leitura. O acervo de livros disponibilizado na biblioteca permite que a escola realize o empréstimo de livros por período estabelecido. Nesse ambiente, o aluno tem a liberdade de escolher o livro que deseja, de acordo com o seu gosto. Na verdade, o importante é a iniciativa do aluno em pegar um livro. Para tanto, deve-se existir o empréstimo e o fácil acesso aos livros. Nesse sentido, Santos (2010, p. 17) afirma que é bom possuir
acervo variado, com livros, revistas, jornais, gibis. Acervo de organização e tamanho conforme os recursos de cada escola. Grande ou pequeno, canto de leitura ou caixa de livros, ambiente próprio ou adaptado, de uso coletivo da escola ou de uma classe só... Tudo depende das condições de cada instituição, mas o que importa é que se faça algo. Dentro do que for possível... ainda que sejam simples recortes de revistas, jornais ou livros reaproveitados.
A possibilidade de levar um livro da sua preferência para casa e lê-lo no lugar e horário que desejar é de grande valia para a formação de futuros leitores. O aluno utiliza a sua autonomia. Mesmo não sendo cobrado para praticar o ato de ler, o indivíduo pode fazer indicação, transmitir sua experiência, fazer trocas de livros entre amigos etc., integrando, assim, a prática da leitura à sua vida.
Professor
Para que a escola alcance o objetivo traçado de incentivar a prática da leitura, parece-nos fundamental fazermos a separação da função dos cargos da estrutura didática. O professor tem o papel de apresentar aos alunos as condutas características do leitor; para tanto, é imprescindível interpretá-lo dentro da sala de aula, de forma que envolva os alunos nas atividades de leitura realizadas pelo professor, construindo uma relação entre leitores (Santos, 2010).
Nessa perspectiva, o comportamento do leitor é apresentado para as crianças pelo professor através da realização da leitura, momento este que permite a familiarização com o mundo letrado. É importante atentar para que o momento de leitura seja prazeroso e interessante para o aluno, realizando a preparação para a leitura, planejar as intervenções construtivas e explicativas, organizar todo o ambiente (incluindo a disposição dos alunos), determinar o momento de interrupção da leitura.
Desse modo, é primordial que o professor se revele como um leitor ativo, sendo perceptível a atuação negativa do professor que não possui experiência com a leitura. Professor não leitor obstaculiza a relação do aluno com a prática da leitura, visto que “quem não garimpa livros antes da indicação e da adoção nem sempre vai escolher títulos realmente capazes de sensibilizar os alunos” (Rogério; Vidigal, 2016, p. 1).
Ainda Zilberman(1996, p. 28) pontua a importância de o professor ter nas atividades com a leitura a premissa de
um leitor. Não apenas um indivíduo letrado, mas alguém que, com certeza, com certa frequência, lê produtos como jornais, revistas, bulas de remédio, histórias em quadrinho, romances ou poesias. O professor precisa se reconhecer como leitor e gostar de se entender nessa condição. Depois seria interessante que ele transmitisse aos alunos esse gosto, verificando que eles apreciam. Esse momento é meio difícil, pois, via de regra, crianças e jovens tendem a rejeitar a leitura porque ela é confundida com o livro escolar e a obrigação de aprender. Se o professor quebrar esse gelo, acredito que conseguirá andar em frente.
Compreende-se que a prática da leitura no contexto escolar, muitas vezes, apresenta resultado negativo. Com reflexo, a criança acaba se afastando do livro, considerando a imposição e cobrança feita pelo professor quanto ao livro que o aluno deve ler na sala de aula; assim, muitos alunos veem o ato da leitura apenas como uma tarefa escolar (prova ou trabalho).
Assim, Cunha (1998, p. 53) afirma que: “gostar ou não da literatura, como de qualquer outra experiência, não é um dado biológico de nascença. Se essa característica é da história de cada um, cabe-nos, como educadores, influir o melhor que pudermos nesse dado cultural”.
Segundo Smith (1999, p. 15): “a leitura não pode ser ensinada, mas, apesar disso, os professores e outros adultos tem um papel decisivo a desempenhar e é deles a grande responsabilidade de tornar possível a aprendizagem da leitura”. Como já mencionado, o grande formador de leitores é o professor, uma vez que o professor tem o papel de estimular o interesse dos alunos à prática da leitura desde muito cedo, de forma que eles compreendam a literatura como um caminho para aprender a ler e escrever, assim como obter conhecimento para uma formação escolar favorável.
Sempre que é oferecido um livro para ser lido dentro da sala de aula, o professor deve buscar realizar a contextualização, de forma que o interesse do aluno seja despertado, além de ensiná-lo a fazer uma leitura prazerosa. Desmitificando a leitura, fazendo com que o livro torne o que ele pode ser de fato, um objeto de lazer, de entretenimento, no melhor sentido da palavra, o grande companheiro para o nosso dia a dia.
Rodrigues (2015, p. 244) explica que “o ato de ler não é apenas conhecer as letras do alfabeto, mas a interação entre o leitor e o texto, e a base para desenvolvimento das crianças”, considerando que o aluno que alcança a compreensão do texto lido tende a maior facilidade para interpretar e apresentar suas ideias no meio em que está inserido.
De acordo com Albuquerque (2010, p. 20),
a criança ao ler se apropria de texto como se fosse seu, e nesse momento pode concordar ou não com o conteúdo expresso no texto escrito, fazer comentários, pode acrescentar outras reflexões que imagine estarem de acordo com o que acabou de decifrar e até omitir partes que não lhe pareceram ser relevantes ou que por ventura, não tenha compreendido.
Isso mostra a relevância de se desenvolverem, diariamente, práticas de leitura dentro da sala de aula, envolvendo todos os alunos, de forma a contribuir para a inserção da criança ao ato de ler, bem como favorecer o desenvolvimento intelectual, cognitivo, psicológico, social e cultural da mesma.
Observa-se, assim, que é através da fantasia e da imaginação que o hábito da leitura é desenvolvido na infância. Contudo, é imprescindível que essa construção ativa ofereça um sentido e desperte o prazer dos alunos por outras leituras.
A leitura na Educação Infantil nos documentos oficiais
A LDB, em seu Art. 29, determina: a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Para que a aprendizagem ocorra, deve haver a apreensão dos conteúdos expressos, relacionando-os às experiências anteriores vivenciadas pelos alunos, permitindo a formulação de problemas que incentivem o aprender mais, o estabelecimento de relações entre fatos, objetos, acontecimentos, noções e conceitos, desencadeando mudanças e contribuindo para a utilização do que é aprendido em diferentes situações. Assim, sendo a aprendizagem significativa, critérios avaliativos decorrerão de objetivos claros acerca de conteúdos que são efetivamente relevantes dentro de cada disciplina, “a partir dos mínimos necessários para que cada um possa participar democraticamente da vida social” (Luckesi, 2005).
Aprendizagem significativa é o processo que se dá entre a composição antecipada de conteúdos estudados ou absorvidos anteriormente e que influenciam na maneira de recebimento dos conteúdos novos. Estes, por sua vez, passam a influenciar as antigas informações, tornando a aprendizagem cognitiva, ou seja, a integração do conteúdo aprendido numa estrutura mental ordenada. Há, no processo, uma interação cujo resultado modifica tanto a nova informação, que passa então a ter significado, como o conhecimento específico já existente, relevante, na estrutura cognitiva do indivíduo sujeito da aprendizagem (Moreira, 2001).
A palavra lúdico vem do latim ludus e quer dizer brincar, mas, levando em consideração as pesquisas em psicomotricidade, esse sentido foi ampliado, de modo que deixou de ser considerado no sentido de jogo. Na extensão lúdica, a aprendizagem dá-se através do exercício de jogos, brinquedos e brincadeiras tendendo a promover o desenvolvimento absoluto do estudante.
A atividade lúdica tem o objetivo de produzir prazer, diversão e, ao mesmo tempo que se pratica tal atividade, percebe-se que ela vem acompanhada de inúmeras brincadeiras para enriquecer os conhecimentos de forma prazerosa na educação. Na educação infantil, o lúdico propicia às crianças uma série de desenvolvimentos favoráveis, que vão desencadeando seu aprendizado.
O professor deve procurar formas para contribuir na formação de cidadãos, ao refletir em sua prática pedagógica e ao trabalhar a atividade lúdica de forma que o aluno aprenda brincando. De acordo com Freire (1996, p. 59), “Saber que deve respeito à autonomia do educando exige de mim uma prática coerente”.
O educador tem ampla responsabilidade em estar bem informado sobre a pedagogia do brincar em sala de aula, desde que sejam oferecidas atividades lúdicas de alta qualidade, pois ele é o responsável pelo avanço do processo de ensino aprendizagem. Cabe a ele desenvolver novas práticas educativas que permitam às crianças maior aprendizado. “A participação em jogos representa uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um estímulo para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico” (Brasil, 1997, p. 49).
Educação Infantil: espaço de quê?
Desde o nascimento, as crianças já mostram que têm personalidade própria. Os bebês vêm ao mundo prontos para relações, as quais, inicialmente, se limitam à mãe e aos membros mais próximos da família.
O desenvolvimento social refere-se ao convívio da criança com outras pessoas e à participação dela em atividades coletivas, ou seja, aprender a conviver com os outros em situações diversas, como estar com os outros, esperar sua vez etc. Inicialmente, é aconselhável que as relações sejam desenvolvidas em pequenos grupos. A criança manifesta seu comportamento social na escola espelhando-se no comportamento dos pais em casa.
Se a criança está imersa, desde o nascimento, em um contexto social que a identifica enquanto ser histórico e que pode por esta ser modificado, é importante superar as teses biológicas e etológicas da brincadeira que idealizam a criança e suas possibilidades educacionais. Wajskop (2001) afirma que
a criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sociocultural dos adultos (Wajskop, 2001, p. 25).
A criança quando brinca pode perfeitamente dispensar qualquer tipo de objeto material, pois sua imaginação supre sua falta. O objeto brinquedo, especificamente o brinquedo industrializado, é um instrumento útil para brincar, e ajuda a desenvolver a personalidade da criança em cinco áreas:
- Afetividade: bonecas, carrinhos, ursinhos, super-heróis, são brinquedos que favorecem a dramatização de situações da vida adulta e equacionam problemas afetivos na criança;
- Motricidade: tanto a fina quanto a ampla se desenvolvem através de brinquedos como bicicleta, bolas, skates, patinetes, chocalhos, jogos de encaixe e de empilhar etc.;
- Inteligência: o raciocínio abstrato-lógico evolui através de jogos tipo quebra-cabeças, memória, xadrez, construções, estratégia etc.;
- Sociabilidade: a criança aprende a situar-se entre as outras, a se comunicar e interagir através das brincadeiras com todo tipo de brinquedos;
- Criatividade: desenvolvem-se através de brinquedos como oficina, marionetes, jogos de montar, disfarces, esconde-esconde, instrumentos musicais etc.
Os brinquedos são de fundamental importância para o desenvolvimento físico, intelectual e afetivo do ser humano, isto é, brincar é de importância basilar para o desenvolvimento do ser humano como um todo, pois desenvolver habilidades em brincadeiras e jogos irá surgir gradativamente na vida da criança, desde os mais funcionais até os de regras.
Segundo Lima (2001, p. 16), “o espaço é muito importante para a criança, pois muitas das aprendizagens que ela realizará em seus primeiros anos de vida estão ligadas aos espaços disponíveis e/ou acessíveis a ela”. Assim, os espaços devem ser organizados de forma a desafiar a criança nos campos cognitivo, social e motor, oportunizando a criança andar, subir, descer e pular, através de várias tentativas.
Dessa maneira, a criança estará aprendendo a controlar o próprio corpo, um ambiente que estimule os sentidos delas, que as permitam receber estimulação do ambiente externo, como cheiro de flores, de alimentos sendo preparados.
De acordo com Horn (2004, p. 70): “o brinquedo sempre fez parte da vida das crianças, independentemente de classe social ou cultural em que está inserida”. É intrínseco à criança o hábito do brincar. Até mesmo ao se alimentar, a criança brinca com os alimentos. Portanto, ao proporcionarem-se diversos espaços para a criança brincar e agir dentro do espaço, proporcionar-se-ão, na mesma medida, novos desafios que tornarão a criança um agente da sua própria aprendizagem de forma mais lúdica.
O jogo ou brincadeira facilita a aprendizagem; por meio dele, a criança percebe como se dá a relação humana, explora e desenvolve noções sobre o mundo físico, estabelecendo novas percepções do real. Por ser essencialmente dinâmico, o jogo permite comportamentos espontâneos e improvisados, uma vez que as normas podem ser criadas pelos participantes, a direção que o jogo assume é determinada pelas crianças, considerando o grupo e o contexto.
Autores que estudam a ampliação das interações sociais a partir da brincadeira afirmam que a criança, enquanto brinca, se constitui como indivíduo diferente dos demais, entra em contato com diferentes papéis sociais e evolui quanto à diferenciação eu-outro (Almeida, 1995; Carvalho, 1981; Carvalho, 1989).
Certamente, não é apenas o desenvolvimento social que é enriquecido durante uma brincadeira. Podemos pensar na criança envolvida numa atividade que exige certo raciocínio necessitando levantar hipóteses e solucionar problemas; ou ainda numa brincadeira qualquer na qual ela tenha possibilidade de construir conhecimentos e enriquecer o desenvolvimento intelectual (Piaget, 1978).
A infância é uma das fases mais complexas do desenvolvimento emocional, intelectual, motor e social do ser humano. Portanto, acolher e ambientar a criança nos seus primeiros passos na escola não é tarefa fácil para os educadores, que entre outras coisas lidam diretamente com a insegurança da criança e as expectativas dos pais.
O principal desafio desta fase está nas mudanças muito mais do que um lugar agradável, de brincadeiras, jogos e relacionamento com os colegas. O ambiente escolar deve ser um espaço estimulante e afetivo para a criança.
As brincadeiras e os jogos são maneiras que a criança encontra para expressar o que sente, pensa e todas as suas vontades. Durante estas atividades, a criança vai se socializando e respeitando as diferenças de cada um.
O jogo ou brincadeira facilita a aprendizagem; por meio dele, a criança percebe como se dá a relação humana, explora e desenvolve noções sobre o mundo físico, estabelecendo novas percepções do real. Por ser essencialmente dinâmico, o jogo permite comportamentos espontâneos e improvisados, uma vez que as normas podem ser criadas pelos participantes; a direção que o jogo assume é determinada pelas crianças, considerando o grupo e o contexto.
Portanto, o educador deve utilizar o brincar como uma ferramenta em sala de aula, onde através das mesmas possa fazer adaptações para englobar o que está sendo ensinado. E vale lembrar que mesmo em meio às dificuldades, de a escola não possuir recursos, é o educador que está em sala de aula quem irá contornar essa situação para oferecer aos seus alunos um ensino de qualidade e agradável. Por isso, a importância de estar sempre em harmonia professor x comunidade escolar, para que juntos possam trabalhar para melhor atender a comunidade em geral, oferecendo uma ambiente agradável e com qualidade educacional, buscando um aproveitamento total com lazer a todos os alunos.
O brincar na aprendizagem sempre deve ter um acompanhamento para que, através da brincadeira ou jogos, o aluno venha a ter um aproveitamento em seu conhecimento; por isso, é de suma importância que o educador tenha sempre um objetivo em cada brincadeira ou jogo, pois os mesmos serão uma ferramenta para ele trabalhar em sala de aula.
Vale ressaltar que o brincar tem características fundamentais para o desenvolvimento do aluno; por isso, somar forças para realizar um trabalho pedagógico com as crianças é fator decisivo para um trabalho de qualidade. O ideal é buscar continuamente favorecimento para que as atividades pedagógicas não caiam na mesmice.
Não devemos esquecer que, por meio da brincadeira, a criança constrói normas de organização, respeito, compreensão, aprendendo a viver em grupo, respeitando o espaço do próximo, desenvolvendo o físico, o emocional, cognitivo e social. Por isso, é de suma importância valorizar a ludicidade na sala de aula e trabalhar, através de brincadeira, valores importantíssimos para o convívio em sociedade.
Leitura e ludicidade
Sabendo que “a leitura é a extensão da escola na vida das pessoas, a maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola (Cagliari, 2001, p. 148).
Segundo Cagliari (2001, p. 148), “a leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”. Assim, devem-se incentivar as crianças e os jovens para que eles possam ter o interesse de pesquisar novas leituras. É importante fazer com que compreendam as ideias de um texto para ir além da sala de aula.
Trabalhar a leitura de maneira diferenciada tem a vantagem de dar-lhes o prazer da leitura, estimula e desenvolve com facilidade a escrita, aumenta o vocabulário, auxilia na memorização etc. A partir dos objetivos a serem alcançados pela leitura se constrói um sentido para o texto, trazendo aos jovens novas visões e compreensões do contexto em que vivem. Segundo Smith (1989 apud Braga, 2002, p. 27), “o significado da palavra ‘leitura’ depende de tudo que está ocorrendo, não somente do que está sendo lido, mas do porquê”.
Leitura é a prática de quem escreve, e letramento é mais que alfabetizar e ensinar a ler e escrever: são dois elementos que precisam de contexto para ter sentido. A escrita é um processo de formação de conhecimento que, com o ato de ler, transforma o indivíduo. Tfouni (1995, p.10) afirma que a escrita é
o resultado tão exemplar da atividade humana sobre o mundo, que o livro, subproduto mais acabado da escrita, é tomado de uma metáfora do corpo humano: fala-se nas “orelhas” do livro; na página de “rosto”; nas notas de roda-“pé”, e o capítulo nada mais é que a “cabeça” em latim.
“Aprender a ler e escrever (...) tem consequências sobre o indivíduo e alteram seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos” (Soares, 2009, p. 17-18). Logo, o que se percebe é uma mudança no aspecto intelectual do indivíduo, pois, o que não dominava passa a tomar forma cognitiva na realidade de uma pessoa que entrou no mundo do aprender a ler e escrever. Para Vygotsky (1994, p. 133),
o ensino tem que ser organizado de forma que a leitura e escrita se tornem necessárias às crianças (...), devem ter significado (...), devem ser incorporadas a uma tarefa necessária e relevante para a vida. Só então poderemos estar certos de que ela se desenvolverá não como hábito de mão e dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem.
Assim, o lúdico deixa de ser apenas considerado como brincadeira e passa a ser essencial para o comportamento humano, que traz divertimento e a possibilidade de aprender. Para Luckesi, o lúdico é uma atividade plena que possibilita a autonomia de cada ser humano para a vida. Com isso ele argumenta:
tenho tido a tendência em definir a atividade lúdica como aquela que propicia a “plenitude da experiência”. (...) O que mais caracteriza
a ludicidade é a experiência de plenitude que ela possibilita a quem a vivencia em seus atos. (...) Brincar dá prazer a quem se dispõe a vivenciar essa experiência (Luckesi, 1998, p. 27).
Nessa mesma perspectiva, a leitura contribui para aquisição da linguagem oral e escrita, e é lendo e ouvindo histórias que as crianças fomentam a criatividade e o potencial crítico, podendo despertar a curiosidade e propiciar a concentração, dando a oportunidade para a interiorização. Conhecer novas histórias é conhecer novos mundos e culturas diferentes. O aprendizado da leitura é um processo que cada indivíduo tem em si - o que possibilita que ele desenvolva as capacidades essenciais para a sua formação e seu convívio em sociedade.
A importância do brincar no desenvolvimento cognitivo
Para Antunes (1998, p. 16), “O brincar da criança permite ao educador diagnosticar seu estágio de desenvolvimento, seus desejos”. O presente tópico permite teorizar as relações desse desenvolvimento com a cognição e inteligência.
Segundo Antunes (1998), toda criança é semelhante a inúmeras outras em alguns aspectos e singularíssima em outros. Irá se desenvolver, ao longo da vida, como resultado de uma evolução extremamente complexa que combinou, pelo menos, três percursos: a evolução biológica, desde os primatas até o ser humano, a evolução histórico-cultural, que resultou na progressiva transformação do homem primitivo ao ser contemporâneo, e do desenvolvimento individual de uma personalidade específica (ontogênese), pela qual atravessa inúmeros estágios, de bebê à vida adulta.
Essas crianças adaptam-se e participam de suas culturas de formas extremamente complexas que refletem a diversidade e a riqueza da humanidade e possuem a habilidade de se recuperar de circunstâncias difíceis ou experiências estressantes, adaptando-se ao ambiente e, portanto, aos desafios da vida. Esse poder humano de recuperação, no entanto, não significa que um incidente traumático na infância possa sempre estar desprovido de consequências emocionais graves, e algumas vezes irreversíveis, mas, por outro lado, eventos posteriores podem progressivamente modificar alguns resultados dessas experiências. Em síntese, ambiente e educação são essenciais, o resto, quase nada. Um ambiente afetuoso e uma educação rica em estímulos ajudam a superar muita das privações e atenuar os efeitos de consequências emocionais
Para Antunes (1998), a importância do ambiente e da educação necessita, entretanto, ser percebida em uma dimensão expressiva, mas não infinita. Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado. Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem do mundo externo para criança e da própria criança para o seu mundo.
Desde o nascimento, as linhas inatas do bebê interferem na maneira como pais e professores se relacionam com essas crianças. Mesmo a mãe menos informada sabe que existem bebês comunicativos e fechados, ativos e calmos, apáticos e ligados. As adequações entre os adultos e a crianças produzem afetações recíprocas,. e todos os jogos usados para estimular suas múltiplas inteligências somente ganham validade quando centrados sobre o próprio indivíduo. Em outras palavras, todo jogo pode ser usado para muitas crianças, mas seu efeito sobre a inteligência será sempre pessoal e impossível de ser generalizado.
O aspecto cognitivo na criança desenvolve-se no decorrer das relações/trocas realizadas entre ela própria e os outros, diferentemente do desenvolvimento físico, em que os fatores determinantes são congênitos. Portanto, a criança não tem comportamentos natos, suas atitudes são resultados de sua interação com o meio em que vive.
A proposta de trabalho na educação infantil deve privilegiar a construção e a reconstrução do saber, a partir da ação da criança, da sua atividade, da sua interação consigo mesma, com o outro e com o meio, em situações concretas.
Cabe ao educador estimular na criança sua capacidade de pensar, raciocinar, lembrar informações e resolver problemas. Deve também estar sempre à disposição para escutar o que as crianças falam, responder às suas perguntas e levá-las a refletir para descobrir suas próprias respostas.
Favorecer o desenvolvimento da criança, ainda implica conhecer as habilidades que são características de sua faixa etária e propor-lhe desafios compatíveis com essas habilidades.
É importante considerar que crianças da mesma faixa etária podem estar em estágios de desenvolvimento mental diferente umas das outras e, ainda, evoluir nesses estágios em ritmos diferentes. Por isso, na escola maternal, as atividades precisam ser livres, de maneira que propicie à criança vivenciar e experimentar o espaço e os objetos, construindo e reconstruindo seus conhecimentos.
Sequência didática
Nesta seção, apresentamos uma proposta de sequência didática para a Educação Infantil de acordo com os pressupostos teóricos abordados ao longo desta pesquisa.
Plano de aula: Despertando a função social da leitura
Tema
Despertando a função social da leitura
Objetivo
Oportunizar momentos de leitura no intuito de incentivar e despertar o gosto e o prazer de ler, não deixando de atender as necessidades lúdicas e a ligação com o cotidiano das pessoas.
Objetivos específicos
- Trabalhar com a leitura individual e com a leitura em grupo;
- Mostrar a importância da leitura; promover o desenvolvimento da imaginação e a criatividade;
- Desenvolver a oralidade e a escrita;
- Conhecer as mídias e o que elas oferecem;
- Expressar-se por meio de desenhos, pinturas e colagens;
- Desenvolver o raciocínio lógico (matemático);
- Entender a importância do respeito às diferenças na sociedade;
- Formar leitores apreciadores e críticos;
- Estimular a socialização;
- Incentivar o hábito da alimentação saudável;
- Conhecer autores.
Recursos didáticos
- Quadro;
- DVD;
- Rádio (para o fundo musical);
- Livros;
- Computador;
- Internet (programas de leitura);
- Câmera digital;
- Impressora;
- Lápis de cor, giz de cera, sulfite, papel canson, papéis coloridos, tinta guache, pintura a dedo, agulha, linha de costura, TNT, cola, tesoura e pincel.
Metodologia
Etapas/Ações
- Momentos diários de leitura;
- Fundos musicais;
- Escolha de um local confortável e agradável;
- Confecção de uma boneca e de um caderno de história que irá acompanhá-la nas visitas diárias nas casas dos alunos. Relatos dos passeios feitos com a boneca nas casas dos alunos;
- Organização da mala de leitura e do fichário (retiradas de livros semanalmente);
- Fazer uso de livros virtuais para estimular a leitura;
- Sorteio do aluno que vai relatar a história na semana;
- Dramatização de histórias;
- Confecção de personagens para reescrever a história;
- Filmes que contam histórias dos livros.
Avaliação
A avaliação ocorrerá de forma dialética e interdisciplinar, envolvendo pesquisa, relatos orais dos trabalhos, atitudes de socialização e participação na biblioteca e sala de informática, observar o processo de leitura (decodificação e compreensão), exigindo interesse e busca pela construção do conhecimento por parte de cada educando.
Considerações finais
Enquanto brinca, a criança tem a oportunidade de organizar seu mundo seguindo seus próprios passos e utilizando melhor seu recurso. Brincar é uma necessidade do ser humano; quando brinca, ele pode aprender de um modo mais profundo, pode flexibilizar pensamentos, pode criar e recriar seu tempo e espaço, e assim consegue adaptar-se melhor às modificações na vida real, podendo incorporar novos conhecimentos e atitudes.
Brincando, a criança tem a oportunidade de experimentar o objeto de conhecimento, explorá-lo, descobri-lo, criá-lo. Nos momentos de brincadeira, ela pode pensar livremente, pode ousar, imaginar; é livre para criar, não tem medo de errar; brinca com a possibilidade, a capacidade de lidar com símbolos; aqui se torna primordial, brincar e imaginar que um pedaço de pano é o que ela quer que seja.
Brincar pode ser entendido como mudança de significado, como movimento. Tem uma linguagem, é um projeto de ação. O brincar auxilia na construção da subjetividade do ser humano, cunha-se a realidade, estabelecem-se um tempo e um espaço. Brincar é criar, criar uma forma não convencional de utilizar objetos, materiais, ideias, imaginar. É inventar o próprio tempo e espaço. Brincando, a criança pode agir numa esfera cognitiva – ela é livre para determinar suas próprias ações. É dona de seu destino, podendo tomar decisões, podendo comunicar-se.
O conhecimento é construído quando se faz do conhecimento do outro o seu próprio conhecimento. Assim, ao brincar, pode-se construir simbolicamente e metaforicamente o mundo. É importante destacar que enquanto a criança brinca, ela lida com a sua sexualidade, com seus impulsos agressivos, organiza suas relações emocionais.
Poder brincar já é um processo terapêutico: brinca-se com o que não se pode entender, brinca-se para poder entender melhor e brinca-se para ressignificar a vida. Na brincadeira, exercita-se, cognitivamente, socialmente e efetivamente.
É possível, através do modo como uma criança brinca, estabelecer o seu modo de aprender. Pode-se notar a forma como vê o mundo, percebe-se como ela utiliza a inteligência, se pode jogar ou o que quer ocultar, pode-se observar sua relação com a aprendizagem, sua capacidade de argumentar, organizar, construir e significar.
Assim, a criança pode ir transformando seu modo de agir e pensar; pode recuperar o prazer de jogar, experimentar, estabelecer confiança e criar o seu próprio tempo e espaço.
Os professores, de modo geral, constroem saberes sobre como lidar com as questões afetivas e emocionais do aluno. Esses saberes são chamados de saberes experienciais. No entanto, eles são desvalorizados por muitos educadores, quando esses alegam que estas habilidades desenvolvidas na prática não têm uma raiz científica. É através desses saberes que surge a possibilidade da construção de conhecimentos pertinentes sobre modos de ensinar e aprender. Ocorrerá um avanço sobre as questões pedagógicas no momento em que o educador dar-se conta de que o conhecimento científico ou o domínio do saber não abrange a complexidade do ensino e da aprendizagem.
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Publicado em 20 de outubro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
ROBERTO, Michele Aparecida da Rocha; SANTIAGO, Gilberto da Silva; FERREIRA, Geraldo Generoso. A leitura na Educação Infantil: uma prática plural. Revista Educação Pública, v. 20, nº 40, 20 de outubro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/40/a-leitura-na-educacao-infantil-uma-pratica-plural
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