Desenvolvendo práticas de enfrentamento ao preconceito por meio do lúdico
Anaquel Gonçalves Albuquerque
Mestre em Humanidades, Cultura e Artes (Unigranrio), especialista em Educação de Jovens e Adultos (UFF), em Gestão Escolar (UFF) e em Gênero e Diversidade (UERJ), graduada em Pedagogia (UERJ), dá Apoio à Direção da Escola Municipal Deputado Hilton Gama (SME/RJ), mediadora de Apoio ao Professor (Consórcio Cederj)
Luciene do Nascimento Gonçalves
Graduada em Pedagogia (UNEB). pós-graduanda em Neuropsicopedagogia Clínica (Censupeg), professora e coordenadora pedagógica (CEEV)
As diferenças existentes entre as pessoas podem se apresentar de várias formas: em virtude de valores, atitudes, crenças ou até mesmo fisicamente, fato este que faz com que cada um de nós sejamos únicos. Entretanto, enquanto indivíduos que vivem em sociedade, as pessoas tendem a formar grupos segundo afinidades específicas, estabelecendo assim a divisão da sociedade em categorias e contribuindo para a criação de estereótipos, em função de um padrão geralmente imposto pela sociedade, iniciando assim um processo de violência, que é apresentado por meio de práticas discriminatórias e excludentes.
Em meio a este contexto, a educação formal deve ir além da mera aprendizagem de conteúdos, de forma que a escola em si seja reconhecida como espaço de vivência da cidadania. Cidadania esta que se exerce desde as mais simples ações, as quais nos são tão essenciais desde os tempos mais antigos da existência da civilização brasileira, como saber ouvir e respeitar o próximo em suas diversas formas de ser e estar no mundo.
Perante o exposto, o presente trabalho apresenta a importância da utilização do lúdico em sala de aula, por meio de relato de experiência vivenciada em uma escola da rede privada de Teixeira de Freitas (Bahia), com a pretensão de abordar as mais distintas formas de preconceito existentes em nossa sociedade (racismo, bullying, intolerância religiosa, etc.), levando os alunos a repensarem seus pré-julgamentos e atitudes uns com os outros, enfatizando assim a importância do respeito entre os indivíduos.
O preconceito
Importante destacar que a escola
sem pessoas seria um edifício sem vida. Quem a torna viva são as pessoas: os alunos, os professores, os funcionários e os pais que, não estando lá permanentemente, com ela interagem. As pessoas dão o sentido da sua existência. Para elas existem os espaços, com elas se vive o tempo. As pessoas socializam-se no contexto que elas próprias criam e recriam. São o recurso sem o qual todos os outros recursos seria desperdício. Têm o poder da palavra através da qual se exprimem, confrontam os seus pontos de vista, aprofundam os seus pensamentos, revelam os seus sentimentos, verbalizam iniciativas, assumem responsabilidades e organizam-se. (Alarcão, 2001, p. 20).
Enquanto espaço que tem por objetivo a construção do conhecimento em suas mais variadas vertentes e formada por indivíduos com as mais distintas especificidades, a escola ressignifica o seu papel quando reconhece que deve trabalhar em prol de capacidades como memorização, observação, raciocínio, expressão e, principalmente, criticidade. Neste sentido, o professor deve oportunizar aos estudantes um aprendizado que vá além dos muros da escola, de forma que cada indivíduo vivencie experiências significativas em sala de aula, pois, segundo Perrenoud (2000), o desenvolvimento de competência implica exercício e treino. Faz-se também necessária a mudança quanto aos métodos utilizados, processos de aprendizagem dos conteúdos abordados (Drucker, 1993). Neste sentido, uma das principais mudanças a ser desenvolvida diz respeito a conceitos que, apesar de não fazer parte do currículo oficial da escola, contribui, “de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes” (Silva, 2010, p. 78).
Remetemo-nos, então, ao conceito de preconceito e sua expressiva necessidade de abordagem nos dias atuais, pois verificamos que o valor negativo atribuído ao longo de toda a história a aspectos como cor, raça, classe ou sexo, por exemplo, deu origem a uma sociedade hierarquizada, na qual há distintos segmentos sem acesso a deveres e direitos, visto que as relações são marcadas por diferentes ‘códigos de honra’, como destaca Lima (1996).
O preconceito pode ser conceituado como “o conforto da razão, pois ela não enfrenta os conflitos, não é impulsionada a rever julgamentos e posturas já realizadas; não é, portanto, checada a partir das evidências da realidade” (Archangelo, 2005, p. 118). Entretanto, Heller (1989) expõe a dificuldade quanto à compreensão do conceito de preconceito, porque desde cedo somos levados a aceitar determinados pensamentos do cotidiano, de forma que, na maior parte das vezes, não se torna perceptível o caráter discriminatório ou preconceituoso de nossas ações, ocasionando um longo prazo de tempo até que possamos, de fato, perceber esta prática com atitude crítica. Por esta razão, torna-se essencial a proposição de estratégias mais inclusivas e democráticas de convivência escolar, de modo a “compreender e refletir sobre as formas de construção das identidades, das diferenças e preconceitos e como esses elementos estão presentes nas relações cotidianas na escola” (Salles; Silva, 2008, p. 164).
Acreditamos que é possível contribuir para a diminuição da prática do preconceito, reconhecendo a importância do diálogo e da criação de espaços de reflexão nas escolas, pois quando abordamos temas que levam os estudantes a repensar sobre suas ações, possibilitamos que algumas condutas sejam modificadas, ocasionando assim a melhoria das relações interpessoais.
Com o propósito de enfatizar que as diferenças devem ser respeitadas, sendo necessário aprender a viver em meio à diversidade, faremos uma breve abordagem sobre a importância do lúdico no processo ensino-aprendizagem.
A ludicidade
Para Aquino (1998), a escola é constituída por mecanismos de seleção e diferenciação social, tendo muitas vezes um caráter elitista e evidenciando práticas excludentes, que fazem parte do cotidiano brasileiro. Ainda de acordo com o autor, é no espaço escolar que se constituem as diferenças e são instauradas demandas, criando apreensões sobre o mundo já conhecido por todos. Considera-se ainda que
na perspectiva de Vygotsky, exercer a função de professor implica assistir o aluno proporcionando-lhe apoio e recursos, de modo que ele seja capaz de aplicar um nível de conhecimento mais elevado do que lhe seria possível sem ajuda (Fino, 2001, p. 7).
Esse contexto expressa a necessidade de utilização de variados mecanismos propiciadores de aprendizagem, dado que a sociedade atual conta com inúmeros atrativos para nossas crianças e adolescentes, e a escola precisa acompanhar essas mudanças, a fim de evitar possíveis evasões. Sobre isto, Alarcão (2001) expressa sua tristeza ao ouvir a percepção de alunos em relação à escola, enquanto espaço em que não ocorre a motivação, assim como ao perceber a situação de alunos que, embora tenham passado por muitos anos de escolarização, não apresentam as competências cognitivas, atitudinais, relacionais e comunicativas que a sociedade espera e das quais necessita. Este cenário expressa a necessidade de adequação do currículo e das práticas exercidas em sala de aula, principalmente no que concerne ao Ensino Fundamental, que é a base de todas as demais fases que hão de vir. Neste âmbito, encontramos uma lacuna na formação do indivíduo no que tange ao conhecimento formal. Assim, quais seriam as práticas necessárias para possibilitar que a aprendizagem ocorra de forma prazerosa e significativa ao mesmo tempo?
Para Vygotsky (1991), a brincadeira é uma das atividades que exercem as mais importantes influências na formação psíquica e no desenvolvimento da personalidade infantil. Sarmento (2004) contribui para esta compreensão, ressaltando que a ludicidade constitui uma condição essencial para a aprendizagem da sociabilidade e para o conhecimento de si e do mundo.
Wallon (2007) destaca também a necessidade de reestruturação do ambiente escolar no que tange ao aspecto físico, à organização dos tempos destinados à cultura lúdica, à preparação dos educadores para a prática pedagógica em si, à adequação das propostas curriculares mediante cada faixa etária, à formação inicial e continuada dos professores, aos materiais didáticos e em todos os demais fatores capazes de contribuir para uma educação que contemple a formação de aspectos afetivos, cognitivos e motores.
Desta forma, considera-se que proporcionar aulas com foco na aceitação das diferenças é uma prática de grande relevância nos dias atuais, principalmente quando o lúdico é utilizado, pois se promove um ambiente capaz de desenvolver inúmeras possibilidades, tais como inventar, reinventar, expressar, socializar, entre outros.
Em virtude da importância atribuída à ludicidade, e cientes dos benefícios que esta prática traz consigo, permitindo inclusive que cada indivíduo possa se expressar livre e solidariamente, de forma a integrar razão e emoção (Pereira, 2006), apresentamos o projeto Menina Bonita do Laço de Fita: uma História de Valor, desenvolvido no Centro de Ensino Educação e Vida (CEEV), com uma turma de 1º ano de escolaridade, com ênfase na temática do preconceito.
A instituição escolar e suas características
O Centro de Ensino Educação e Vida está situado no centro de Teixeira de Freitas/BA e atende 315 alunos, distribuídos entre a Educação Infantil e o Ensino Médio. Com mais de 30 anos de existência, sua proposta de trabalho visa possibilitar a aquisição de conhecimentos necessários ao pleno exercício da cidadania, desenvolvendo ações de cooperação, solidariedade, respeito mútuo, pautados no diálogo como forma de superação de conflitos e de tomada de decisões, numa visão integrada e coerente de uma vida comprometida com Deus e com seus propósitos.
É válido ressaltar a integração existente entre os profissionais que atuam nos diferentes segmentos da instituição, sendo este um fator que contribui para o êxito dos projetos desenvolvidos no espaço escolar, que geralmente se utiliza da interdisciplinaridade na realização das atividades propostas em sala de aula.
A coordenadora da instituição enfatiza que, a priori, não há ocorrência de situações que caracterizem práticas preconceituosas, mas que uma das ações estabelecidas no projeto político-pedagógico da escola consiste em trabalhar temas atuais e, em meio a tanta violência presente na sociedade, a escola precisa contribuir para que os estudantes reconheçam a importância de manter uma boa relação interpessoal, independente da divergência de opinião, características físicas, religiosas, ou qualquer outro tipo de diferença, pois todas as pessoas merecem respeito.
Metodologia do projeto
Pautado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como documento norteador do processo de ensino-aprendizagem, o presente trabalho se deu por meio da abordagem das seguintes áreas do conhecimento: Língua Portuguesa, Ciências, Geografia e Artes.
Como objetos do conhecimento, foram trabalhadas estratégias de leitura, escrita atenta, interpretação, vocabulário, produção de texto oral, conversação espontânea e respeito à diversidade, situações de convívio em diferentes lugares.
As habilidades descritas abaixo constituíram a base da proposta pedagógica, estando também em conformidade com o que preconiza a BNCC:
- Editar a versão final do texto, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, ilustrando, quando for o caso, em suporte adequado, manual ou digital (EF15LP07);
- Produzir recontagens de histórias lidas pelo professor (EF01LP25);
- Identificar elementos de uma narrativa lida ou escutada, incluindo personagens, enredo, tempo e espaço (EF01LP26);
- Escrever, espontaneamente ou por ditado, palavras e frases de forma alfabética - usando letras/grafemas que representem fonemas (EF01LP02);
- Identificar a função social de textos que circulam em campos da vida social dos quais participa cotidianamente (a casa, a rua, a comunidade, a escola) e nas mídias impressa, de massa e digital, reconhecendo para que foram produzidos, onde circulam, quem os produziu e a quem se destinam (EF15LP01);
- Descrever características observadas de seus lugares de vivência (moradia, escola, etc.) e identificar semelhanças e diferenças entre esses lugares. (E01GE01);
- Comparar características físicas entre os colegas, reconhecendo a diversidade e a importância da valorização, do acolhimento e do respeito às diferenças (EF01CI04);
- Dialogar sobre a sua criação e a dos colegas, para alcançar sentidos plurais (EF15AR06);
- Explorar diferentes tecnologias e recursos digitais (multimeios, animações, jogos eletrônicos, gravações em áudio e vídeo, fotografias, softwares etc.) nos processos de criação artística.
Procedimentos adotados
- Uma mala plenamente decorada, contendo o livro Menina Bonita do Laço de Fita (de Ana Maria Machado), 1 coelho branco de pelúcia e 1 cartão com o sinal de interrogação na parte externa foi deixada em local a que os alunos não tinham acesso;
- Após recepcionar a turma, os estudantes foram convidados a sentar em círculo, dando início a uma importante etapa de acolhimento, na qual a professora compartilhou suas vivências fundamentadas no tema a ser abordado. A partir da interação entre professora e alunos, foi estabelecida uma associação com a obra Menina Bonita do Laço de Fita, de forma que a história foi narrada em forma de conversa, sem que as crianças soubessem que se tratava de um livro. Todos foram posteriormente convidados a escolher um nome para a história;
- No quadro, a professora fez o registro de todas as sugestões para o título da história previamente escolhido pelos alunos, sendo realizada a devida valorização e incentivo aos autores (alunos);
- Após as participações, a professora buscou a “mala das viagens” (que foi previamente decorada, visando tornar o objeto o mais atraente possível) e, assim, encantar as crianças, ao proporcionar uma importante viagem para “o mundo do conhecimento”. Com uma voz diferenciada, como se estivesse falando a pessoas em um aeroporto e todos os presentes fossem passageiros do voo, os alunos foram convidados para a viagem, por meio da reprodução de um ambiente repleto de mistério e visando criar expectativa sobre as etapas seguintes, seguido da abertura da mala para que todos pudessem contemplar a novidade do dia;
- Ao abrir a mala, os alunos puderam ver os elementos que estavam em seu interior: um livro, um coelhinho e um cartão. Logo depois, procedeu-se à leitura do livro para os alunos, detalhando cada página, mostrando as imagens e destacando as palavras e expressões que valorizam a menina, que a retratam como bela. Em alguns momentos da contação, a professora entregava o coelho branco que estava na mala a um dos alunos, dizendo em voz alta: Menina Bonita do Laço de Fita! Esse repasse do coelho ocorreu durante toda a história, a fim de que todos pudessem manusear o objeto e exercitar a atenção;
- No decorrer da história, foram realizadas inferências, com questionamentos do tipo: Qual o seu padrão de beleza? O que é bonito para você? O que é feio? À medida que as respostas foram surgindo, a professora fazia interferências, levando os alunos a refletir sobre as falas e dando destaque ao processo natural de respeito e aceitação que devemos ter com as pessoas em geral. As crianças foram questionadas também se tinham ideia dos motivos que levaram o coelho a querer ter a cor de pele da menina. “Será que ele não estava satisfeito com a própria cor?” Mais uma vez, a professora aproveitou as respostas dadas pelos estudantes para ratificar a importância do respeito à diversidade e para mostrar que todos os presentes na sala também tinham diferenças entre si, sendo igualmente importantes. Destaca-se a intervenção realizada para as respostas dadas, as quais serviram como pano de fundo para outras abordagens como as diferenças com relação à questão econômica, social, religiosa, dentre outras existentes e o respeito que devemos ter em relação a cada uma delas. Que todos somos importantes, independente das diferenças;
- Na parte do texto que se refere às características da mãe da menina, assim como fora feito anteriormente com as qualidades atribuídas à menina, a professora destacou cada detalhe da expressão utilizada no texto, para que os estudantes viessem a ter uma imagem estética positiva da mulher negra, reconhecendo seu respectivo padrão de beleza. Há um trecho em que o coelho destaca que somos parecidos com pais, tios, avós ou “parentes tortos”. Neste momento, a professora trabalhou as características físicas de cada criança e a importância do vínculo afetivo que deve ser estabelecido nas relações, independente das características que possuímos;
- Foi solicitado que os alunos desenhassem os personagens da história, bem como suas próprias famílias, formando a árvore genealógica dos participantes e dando origem a um mural confeccionado pelos próprios estudantes com a ajuda da professora;
- Por meio da apresentação do globo terrestre, as crianças foram convidados a visualizar os cinco continentes, reconhecendo que esses espaços são divididos em países, de forma que cada um deles possui costumes, tradições, festas, danças, religiões e várias outras especificidades, formando características que nos diferenciam uns dos outros. A partir dessa abordagem, a professora tomou como exemplo o nosso país, citando os povos que fizeram parte da colonização brasileira, contribuindo assim para a formação da grande sociedade brasileira, que traz consigo as características de nossas origens. Posterior à fala, a professora apresentou um vídeo sintetizando tudo quanto fora dito;
- Junto aos alunos, foi realizada a abertura do cartão com sinal de interrogação que estava dentro da mala. O cartão caracterizava um elemento surpresa, sendo um convite aos alunos para confeccionar em papel machê a Menina Bonita do Laço de Fita. Nesta fase, foi novamente estimulada a participação de todos, o respeito às criações e a cooperação. As bonecas confeccionadas pelas crianças, com a ajuda da professora, foram levadas para casa visando fazer com que cada aluno se tornasse um multiplicador do conhecimento, ao relatar para a família o contexto da aula vivenciada. Para o dia seguinte, a professora lançou a proposta de um desfile, no qual cada um poderia vir livremente com as vestimentas que mais gostassem, a fim de compreender que o próprio modo de se vestir também nos diferencia uns dos outros, sendo este mais um objeto de reflexão.
É válido ressaltar que as etapas do projeto Menina Bonita do Laço de Fita: uma História de Valor descritas no presente relato foram desenvolvidas ao longo de uma semana. Entretanto a abordagem de conceitos relacionados ao preconceito se estendeu durante as semanas seguintes, dada a importância da temática em si e as curiosidades advindas das crianças.
Em casa...
É importante reconhecer que
a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisas, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (BRASIL, 1996)
Assim, compreendemos que a parceria entre família e escola é capaz de influenciar de forma positiva o desenvolvimento e aprendizado dos alunos. Portanto, como tudo quanto foi trabalhado em sala de aula foi desenvolvido com a pretensão de ser extensivo aos familiares de cada criança, estes foram estimulados a entrevistar os pais oralmente (visto que a maior parte dos alunos ainda não possui o domínio da escrita), visando identificar de onde herdaram suas características físicas. Os resultados desta entrevista foram trabalhados no dia seguinte, com a finalidade de continuar o debate sobre preconceito e esclarecer possíveis dúvidas que tenham surgido ao longo da realização do projeto.
Foi sugerido também aos alunos que trouxessem de casa fotografias de parentes e de si mesmos para dar continuidade à confecção do mural já iniciado pelos próprios alunos por meio das imagens produzidas em sala de aula.
Por fim, os alunos também foram convidados a recontar a história para os pais, estimulando a expressão oral, e produzir, juntamente a eles, dedoches para brincar de teatrinho em família, enquanto prática capaz de contribuir para a desconstrução de alguns estereótipos já naturalizados em nossa sociedade.
Considerações finais
É no ambiente escolar que as crianças estabelecem relações essenciais para sua formação enquanto cidadãs. Por isso, este espaço precisa ser ressignificado, sendo essencial que o professor atue como mediador de conhecimentos e adote mecanismos voltados para a aprendizagem significativa. Neste intuito, havemos também de considerar que o planejamento é uma das melhores formas de estabelecer metas a serem cumpridas e possibilitar o alcance dos objetivos propostos. Acrescenta-se a necessidade de um planejamento flexível, que respeite as individualidades e realidades específicas de cada aluno.
De acordo com a experiência vivenciada, foi possível constatar que a elaboração de um planejamento escolar contemplando a ludicidade como meio de sensibilizar os estudantes para a realização de práticas de enfrentamento ao preconceito apresentou êxito. Dentre os principais resultados alcançados pelo projeto Menina Bonita do Laço de Fita: uma História de Valor, destacamos a inserção das crianças ao universo do letramento de forma prazerosa e significativa, favorecendo a compreensão quanto a importância do respeito à diversidade e às diferenças individuais.
Referências
ALARCÃO, Isabel. Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001.
AQUINO, J. G. Ética na escola: a diferença que faz diferença. In: AQUINO, J. G. (Coord.). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998. p. 135-161.
ARCHANGELO, A. Preconceito, práticas escolares e a dinâmica da instituição.In: LIBÓRIO, R. M. C.; SILVA, D. J. (Orgs.). Valores, preconceitos e práticas educativas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. p. 115-124.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
DRUCKER, P. Post-capitalist society. New York: Harper Collins, 1993.
FINO, Carlos Nogueira. Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal: três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, Belo Horizonte, v. 14, nº 2, 2001.
HELLER, A. O cotidiano e a história. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
LIMA, Roberto Kant de. A administração de conflitos no Brasil: a lógica da punição. In: VELHO, Gilberto; ALVITO, Marcos (Orgs.). Cidadania e violência. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1996.
PEREIRA, Lucia Helena Pena. Corpo e psique – da dissociação à unificação algumas implicações na prática pedagógica. REUNIÃO DA ANPED, 29, 2006, Caxambu. Anais... GT 20, p. 1-17.
PERRENOUD, P. Construir competências é virar as costas aos saberes? Revista Pátio, Porto Alegre, ano 3, nº 11, jan. 2000.
SALLES, L. M. F.; SILVA, J. M. A. P. E. Diferenças, preconceitos e violência no âmbito escolar: algumas reflexões. Cadernos de Educação, v. 30, nº 1, p. 149-166, 2008.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Publicado em 27 de outubro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
ALBUQUERQUE, Anaquel Gonçalves; GONÇALVES, Luciene do Nascimento. Desenvolvendo práticas de enfrentamento ao preconceito por meio do lúdico. Revista Educação Pública, v. 20, nº 41, 27 de outubro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/41/desenvolvendo-praticas-de-enfrentamento-ao-preconceito-por-meio-do-ludico
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.