O desafio da comunicação nas aulas de Ciências e Biologia, a partir da prática docente na rede pública de ensino de Formiga/MG
Danilo Arnaldo Briskievicz
Doutor em Educação (PUC-Minas), professor do IFMG - câmpus Santa Luzia
Suelio Geraldo Pereira
Graduado em Letras (UNIP)
Comunicação e sala de aula: nosso ponto de partida
O ato de comunicação vai além daqueles expressos no uso de mídias, termo que é conceituado por Martino (2016, p. 14) como conjunto de meios de comunicação (televisão, rádio, internet, placas, letreiros, outdoors, etc.) de massa ou digitais que, por vezes, resumem o ato de se comunicar em meros dispositivos tecnológicos. A comunicação em Educação é uma ação entre pessoas que tenham o mesmo objetivo em ensinar e aprender. Os processos comunicacionais na Educação podem ocorrer em qualquer momento e qualquer espaço e são responsáveis pelo sucesso da intercomunicação humana que direciona as pessoas não somente para a aprendizagem de conteúdos, mas também valores e comportamentos em sua multiplicidade de caminhos (Kenski, 2008, p. 651). Guerreiro et al. (2005, p. 280) afirmam que a comunicação não é apenas um objeto de verbalização de ideias, mas assume a função de negociação de significados com a finalidade de const rução do conhecimento.
Em um aspecto mais amplo de significado e relevância, a Educação e comunicação estão na base da solução de muitos problemas da atualidade como felicidade, igualdade, crescimento do sujeito individualmente e em grupo (KENSKI, 2008, p. 650).
Dessa forma, Ponte et al. (2009, p. 40) ressaltam a primazia de se estudar a forma como acontece a comunicação no contexto escolar e assim compreender quais são as oportunidades que surgem em sala de aula para que o aluno desenvolva esta habilidade, assim como entender como a comunicação está sendo utilizada para a promoção da aprendizagem nas disciplinas (no caso do presente trabalho, as de Ciências e Biologia).
Entende-se, assim, que a dispersão dos alunos durante as aulas e o baixo rendimento escolar, dentre tantos fatores, estão relacionados com a forma de comunicação e interação entre professores e estudantes. Com o tempo reduzido e buscando contemplar o máximo de conteúdos propostos no currículo, muitos docentes assumiram a posição de meros transmissores de informações, com seus intermináveis monólogos, trazendo de volta à sala de aula a tradicional passividade do aluno, que tanto contribuiu para o fracasso estudantil.
Este estudo mostra-se importante no atual cenário da Educação nacional, pois intenciona acrescentar dados novos ao debate sobre as experiências dos professsores de Ciências e Biologia no contexto da sala de aula, e assim estruturar novas linhas de pensamento sobre as formas que o professor utiliza para se comunicar com seus alunos, evidenciando se elas atendem aos objetivos curriculares e estão, de fato, enriquecendo o processo de ensino e aprendizagem.
Tendo como ponto de partida a noção pedagógica de que o professor é um organizador do ambiente de aprendizagem e provedor de ferramentas para a comunicação (Guerreiro et al., 2005, p. 281), o objetivo deste artigo centra-se na investigação de quais os métodos de comunicação mais utilizados pelos professores nas aulas de Ciências/Biologia e sua relevância na compreensão dos conteúdos ministrados e construção do conhecimento.
Espera-se, portanto, que, a partir dos resultados apresentados a partir de coleta de dados em diálogo com os professores ativos em Formiga/MG, possa-se compreender de que forma eles compreendem e usam a comunicação como ferramenta de ensino, elencando quais os mais comuns – fala, escrita, audiovisual, corporal, ilustrativa, etc. – e se, sob sua perspectiva, elas são eficazes no processo de ensino e aprendizado dos alunos.
Metodologia: os passos da pesquisa
A metodologia utilizada foi um estudo de caso de caráter qualitativo que, segundo Moraes, Ramos e Galiazzi (2007), tem por finalidade investigar e se aprofundar acerca da compreensão dos fenômenos do presente assunto através da perspectiva dos participantes da pesquisa. Não se pretendeu testar nenhuma hipótese já predeterminada, mas, sim, compreender a realidade de uma amostra e verificar a coerência dos dados coletados, predominantemente descritivos, com outras bibliografias de mesma temática.
A pesquisa foi realizada na cidade de Formiga/MG com a ajuda de alguns professores da rede pública de ensino municipal (ensino fundamental) e estadual (ensino médio); os docentes participantes lecionam em turmas que variam entre 8 e 35 alunos matriculados, com idade entre 11 e 17 anos. O baixo número médio de alunos é devido à realidade local, pois nosso foco foi voltado para a escola situada na zona rural deste município mineiro. Alguns professores participantes atuam ou já atuaram nesta mesma escola.
Os passos da pesquisa podem ser resumidos da seguinte maneira: primeiramente, foi feito o levantamento bibliográfico para embasamento teórico; em seguida, para efeitvar a coleta de dados, aplicou-se um questionário estruturado de respostas discursivas para sete professores, cinco homens e duas mulheres, com idades entre 26 e 30 anos, que lecionam Ciências e/ou Biologia na rede pública de ensino municipal (quatro professores) e municipal e estadual (três professores). Um dado relevante é que todos os professores são licenciados em Ciências Biológicas, sendo quatro com especialização lato sensu; em relação à prática docente, o grupo estudado possui experiência efetiva com sala de aula entre um e sete anos. O último passo da pesquisa foi proceder à análise das respostas e à discussão entre elas e problematizá-las com nossa investigação téorica, a partir da Análise Textual Discursiva (ATD). É que, segundo Breda, Pelicoli e Ramos (2013, p. 3), a ATD preza pela “unitarização, a categorização e a construção do metatexto, isto é, um texto no qual se implicam as ideias do material coletado, a percepção do pesquisador e os fundamentos teóricos utilizados na pesquisa, com fins interpretativos”. Seguimos os protocolos de autorização dos dados coletados, solicitando que todos os participantes assinassem um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, por conta desse procedimento ético, manteremos o sigilo dos participantes da pesquisa, nomeando-os na nossa análise somente pela primeira letra de seus nomes.
Comunicação e Educação
Escrevo sobre o mínimo parco enfeitando-o com púrpura, joias e esplendor.
É assim que se escreve? Não, não é acumulando e sim desnudando.
Mas tenho medo da nudez, pois ela é a palavra final.
Clarice Lispector
Segundo Kenski (2008, p. 651), as ações educativas, ou dito de outra forma, as práticas docentes em sala de aula, exigem a participação de todos os envolvidos no processo com o desejo de progredirem no conhecimento, não somente em aspectos cognitivos, mas em valores, comportamentos e autonomia de pensar e agir.
Dessa forma, se buscamos a etimiologia do verbo comunicar, chegamos à sua raiz latina communicare, guardando em português a noção de (com)partilhar, pôr em comum, entrar em relação com alguém ou alguma coisa que nos compreenda minimamente. Comunicar é então efetivamente colocar-se no processo de uma importante troca de ideias, momentos, experiências, a partir de um código de palavras verbal e não verbal, seguindo o sentido dado por Macaza (2006, p. 14).
Historica e pedagociamente falando, a expansão das diversas formas de comunicação promoveu a quebra do distanciamento entre os comunicantes. A promoção e transformação das tecnologias de cada época foram fundamentais para isso. Dessa maneira, segundo análise de Kenski (2008, p. 652), podemos afirmar que a televisão, rádio, cinema, entre outros, tiveram papéis significantes, cada um na sua época, e, apesar das transformações ao longo do tempo, esses recursos midiáticos não se isolaram, mas sim se completaram enriquecendo os processos de comunicação. Nesse sentido, Piccinini e Martins (2004, p. 25) descrevem a comunicação como multimodal e apontam a dependência estabelecida entre os modos de comunicação. Eles também se desenvolvem e se transfiguram em respostas às necessidades da sociedade.
Por sua vez, Ponte et al. (2009, p. 42) esclarecem o seguinte: se os conteúdos são vistos como uma construção cultural entre os envolvidos e as aulas são embasadas em processos de interação social entre docentes e discentes, a comunicação passa a ser compreendida como um processo de interação social de contextos múltiplos, onde pode ocorrer a todo instante sistemas de negociação de significados entre professor e aluno. Esses novos significados surgem a partir de construções individuais e coletivas (interação, contextos culturais). A aprendizagem se transforma em um processo de interação e reflexão, onde o professor não se limita ao tradicional, mas se permite explorar um conjunto de atividades não rotineiras que possibilite a resolução de questões e compartilhamentos de ideias. Nesse viés, as práticas discursivas ganham destaque; entretanto, vale questionar se, de fato, elas são promissoras para a compreensão do conteúdo.
A maior parte da comunicação estabelecida por professores e alunos em sala de aula gira em torno do conteúdo ministrado. Entretanto, não se pode desconsiderar que uma parte considerável aborda outros assuntos e decorre de outros interesses dos envolvidos. Isso ocorre, por exemplo, quando o professor cria ou prevê, em seu planejamento de aula, um espaço para comentar alguma temática da atualidade, um trabalho que irão desenvolver, e até mesmo quando lida com momentos em que há desvios de normas e condutas que gerenciam o posicionamento da turma (Ponte et al., 2009, p. 41).
Assim, baseado no trabalho de Menezes (2004, p. 135), percebe-se que os professores de seu estudo progrediram de uma visão da comunicação como processo de codificação e descodificação para uma perspectiva da comunicação como processo reflexivo, de negociação de significados, pelo qual surge o conhecimento. Dessa forma, o pesquisador chegou à conclusão de que a valorização por parte docente sobre a comunicação como idealizadora da formação de sentidos os instiga a reverem suas práticas didáticas relativas ao processo de aprendizagem.
Portanto, a valorização da escrita e oralidade dos alunos dentro do processo de comunicação é muito importante, além de ser um objetivo curricular das disciplinas. Entretanto, nem todos os professores dão a devida atenção, sendo de prioridades para uns e de segundo plano para outros. Outra coisa que também pode acontecer é a preferência pela comunicação oral ou pela escrita, e não o trabalho em conjunto de ambas. Esse excesso de atenção por um ou outro em conjunto com a desvalorização dos processos comunicativos na Educação podem contribuir para a defasagem do processo de ensino e aprendizagem (Ponte et al., 2009, p. 45).
Erros e consequências da falta de uma boa comunicação
Que pode o homem ainda? Eis o que me importa saber.
O que o homem disse até agora é tudo o que ele poderia dizer?
Não teria ignorado qualquer coisa de si mesmo?
Não lhe resta senão repetir?
André Gide
A comunicação como prática docente em sala de aula extrapola o mero uso de equipamentos midiáticos e se alicerça pela necessidade de interlocução, de permuta comunicativa. A voz, a expressão facial, os movimentos, todos os sinais corporais são métodos antigos de comunicação que desde sempre visam à aprendizagem de um ser com o outro, conforme analisou Briskievicz (2018, p. 69):
A Educação é feita por olhares múltiplos, diversos, plurais. As mediações entre professores e alunos através das pedagogias podem se dar das mais diferentes formas, de acordo com as condições sociais, políticas, econômicas e existenciais. Nesse sentido, há vários olhares possíveis para a escola, o espaço determinado na modernidade para o processo de Educação dos recém-chegados ao mundo pelo nascimento (...). A escola enquanto espaço de Educação é composta por entreolhares: os mais diversos sujeitos, as mais diversas motivações agem para a constituição desse espaço de convivência social entre crianças e jovens e adultos.
É por isso que esses meios de criar relações entre olhares sobreviveram ao tempo e hoje ainda são comumente expressos nas tentativas de comunicação. Assim, como bem nos explica Kenski (2008, p. 651), mais do que ensinar, dentro do processo educacional, aprender é uma das finalidades de ações comunicativas. Compreendemos, a fortiori, que é indiscutível que as salas de aula são espaços de comunicação e que as palavras e as não palavras direcionam as relações dos indivíduos e permitem uma série de mensagens que são captadas de forma consciente ou inconsciente (Santos; Mortimer, 2001, p. 2).
Os atos de ensinar podem ser comparados com programas de auditório onde, por mais que o público (alunos) se manifeste e vibre, é responsabilidade do apresentador (professor) mediar toda a programação e utilizar todos os recursos disponíveis para despertar em seu público o fascínio por aquilo que apresenta (Kenski, 2008, p. 651).
Com a internet à sua disposição, atualmente os alunos lidam com mais informações do que conseguem consumir. São muitas publicações que talvez sejam relevantes, mas não sejam vistas. Dentro do campo de Educação, para que essas informações sejam peneiradas e distribuídas de forma coerente, é necessário que haja um mediador, não alguém que imponha a verdade, mas que promova o direcionamento do processo de construção do pensamento. Esse profissional é o professor. (Kenski, 2008, p. 653).
O professor assume o papel de mediador do processo de construção do conhecimento, o qual ocorre através de interações sociais, onde estas interações são dependentes de estratégias direcionadas à comunicação. Dessa forma, o educador não é somente visto como um transmissor de saberes, mas sim um mediador que possibilita o acesso do aluno ao conhecimento. Cabe ao aluno absorver essas informações e fazer delas conhecimento próprio (Catellani, 2014, p. 3).
Quando um professor iniciante chega para lecionar, comumente busca de antemão a aprovação dos seus alunos. Com todo o seu material preparado e sua trajetória, ele acredita que, por ter observado seus professores, enquanto aluno, esteja de fato apto para promover o embate comunicacional necessário, esquecendo que agora existem novas pessoas e realidades e que sua própria identidade precisa ser construída (Catellani, 2014, p. 5).
Na maioria dos casos, no Ensino Fundamental II, os professores contam com a disposição de 50 minutos (uma aula) para ministrar suas aulas, sendo que na disciplina de Ciências e Biologia, normalmente, esse número é maior: são três aulas semanais. Neste pequeno espaço de tempo, é necesssário explanar o conteúdo, estimular o pensamento crítico, esclarecer as dúvidas, zelar pela disciplina e organização da turma, ou seja, uma grande demanda de tarefas que é um desafio para os docentes em início de carreira e ainda continua sendo um desafio para os que já possuem experiência.
A partir dessa realidade, juntamente com a cobrança de algumas gestões em Educação que priorizam a contemplação de todo o currículo proposto, alguns professores acabam ministrando suas aulas em função de seguir o conteúdo programático. Em consequência, o ensino se torna fadigoso e monótono, a relação professor e aluno se desgasta e os processos de comunicação, foco deste artigo, se tornam limitados e pouco eficazes.
Nesse sentido, Macaza (2006, p. 16) explica que as escolas têm disponibilizado pouco espaço para os alunos se expressarem, e que se os alunos tivessem mais tempo para se comunicarem, em consequência, estariam dando mais importância e poder para o ensino.
No quadro seguinte, temos catalogadas algumas divergências em comunicação apresentadas na obra de Macaza (2006, p. 16-19).
Quadro 1: Algumas divergências de comunicação em sala de aula
Perguntas para a turma como um todo |
A passividade do estudante tem sido abordada e vista comumente em exemplos de professores que elaboram perguntas para a turma como um todo tendo como retorno respostas em coro, assim não individualizando a ideia de cada aluno. Nessa metodologia, muitos alunos sequer participam verdadeiramente e ela não permite entender as dificuldades e particularidades de cada aluno. |
Completando frases já iniciadas |
O professor utiliza de explanações onde ele começa a frase ou palavra e o aluno termina – por exemplo: Professor: “Quando o solo é queimado ele perde a umida...?”; Alunos: “...de”. Essa forma de abordagem do conteúdo basicamente traz a resposta para o aluno e não permite que ele se esforce, pense e elabore com suas palavras algum tipo de argumento. A repetição ou término de ideias iniciadas pelo professor mostra que há um desrespeito total na capacidade deos alunos criarem, comunicarem e discutirem as suas ideias com os seus colegas da sala de aula. É de suma importância que o professor encare o aluno como ser pensante e capacitado para formar ideias. |
Experiência do aluno |
Existem determinados conteúdos às vezes já de conhecimento do aluno, mas não com o teor científico do professor. Portanto, deve haver ponderamento por parte docente acerca do vocabulário e ideias de caráter popular do aluno, visto que ela também contribui para a construção do seu pensamento. |
Fonte: Dados disponíveis em Macaza (2006, p. 16-19).
Além das dificuldades de comunicação apresentadas no quadro anterior, existem outras que distanciam o professor do aluno. Pode-se citar a ausência de recursos não verbais. Santos e Mortimer (2001, p. 2) dizem que o corpo faz parte da comunicação e não está ligado somente à fala. Ele é dotado de uma linguagem que não é limitada apenas à vocalização. Ao se tratar de recursos não verbais da comunicação, verificam-se algumas categorias: cinésica (gestos, postura, expressão facial, risos), a proxêmica (a distância mantida entre os participantes e uma determinada interação), a tacêsica (toque) e o silêncio (Santos; Mortimer, 2001, p. 2). As expressões faciais, gesticulações e todos os movimentos corporais demonstram uma forma de comunicação e emitem uma mensagem de um interlocutor para o outro promovendo interação entre eles. Quando o professor ministra uma aula sentado, por exemplo, ele praticamente inibe toda a comunicação que seu próprio corpo emitiria. O vocabulário também tem sido uma estratégia de comunicação utilizada erroneamente. Cada conteúdo exige um vocabulário específico da área. As disciplinas de Ciências e Biologia, por exemplo, possuem algumas temáticas como genética, ecologia e zoologia, que são dotadas de uma grande variedade de termos científicos. A má utilização ou má adaptação desses termos para seu público- alvo gera desconforto durante as aulas e não permite que o aluno consiga visualizar e entender o que foi dito.
Uma das atribuições dos professores de Ciências e Biologia, quanto à linguagem, é orientar os seus alunos na aprendizagem de conceitos e modelos científicos; na conquista de competências linguísticas científicas através da leitura, escrita e interpretação da linguagem científica. A linguagem científica possui sua própria estrutura, regras e exceções. Uma das dificuldades encontradas com a linguagem científica é o fato de não se usar a forma coloquial; dessa forma, tornando-se incompreensível para muitos alunos. Para se entender a Ciência, é necessário, além do conhecimento do vocabulário, compreender o processo de pensamento (Oliveira et al., 2009, p. 21). A falta do uso de recursos ilustrativos também é uma falha na comunicação.
Partindo do que foi dito no parágrafo anterior, muitos termos científicos podem ser expostos através de ilustrações – o que facilita o entendimento do que está sendo ensinado nas aulas que são carentes dessa estratégia. A partir dessas informações, Macaza (2006, p. 19) explana que “em torno das manifestações dos problemas de comunicação na sala de aula, passo a afirmar que o que normalmente acontece na sala de aula não é comunicação, mas é simplesmente uma informação”. Por muito tempo se propagou o conceito de emissor-receptor, onde o receptor assumia um papel de submissão perante o emissor, destinado a aceitar toda informação que viesse dele e absorvê-la sem questionamentos (Valente, 2014, p. 142). É importante ressaltar que a prática docente vai além dos conhecimentos específicos do conteúdo e exigem domínio de técnicas que vão além de sua especialidade (Catellani, 2014, p. 4).
No estudo de Oliveira et al. (2009, p. 25), com o tempo, foi verificado que nas salas de aula de Ciências era o professor que detinha maior parte do tempo utilizando a linguagem científica e que aos alunos restava somente a comunicação em momentos de tarefas, de chamar o professor ou debater com um colega. Quanto mais se avançava as séries, mais os professores ocupavam o tempo e menos interação com a turma existia. É óbvio que um ensino de Ciências conduzido dessa maneira não ofereça nenhuma capacidade cognitiva para o desenvolvimento da linguagem, muito menos para uma Educação científica adequada. Guerreiro et al. (2015, p. 283) destacam diversas ações comunicativas do professor em sala de aula, sendo quatro em particular: explicar, questionar, ouvir e responder. Ponte et al. (2009, p. 44) explicam que:
O discurso do professor constitui, nesta perspectiva, uma prática social em que ele recorre ao sistema linguístico como meio de comunicação com objectivos de natureza cognitiva e social. A colocação de questões é uma das formas principais que o professor tem de dirigir o discurso na sala de aula, mantendo um forte controlo sobre todo o processo de comunicação.
Do ponto de vista em que a comunicação é um meio de transmissão do conhecimento, do professor para o aluno, tem-se o que é chamado de ensino direto, baseado na premissa de que “o professor fala e os alunos ouvem”, com características unidirecionais, transmissivas e de pouca eficiência no quesito resultados em aprendizagem. Já a comunicação entendida como um processo complexo e multidimensional, em que se verifica a interação entre os alunos e deles com o professor, compartilhando significados para suas ideias, tem-se o ensino exploratório, pautado nos diálogos, nas interações e experiências prévias dos alunos. Diante disso, segundo a informação de Guerreiro et al. (2015, p. 286), percebe-se predominância do ensino direto sob o exploratório nas salas de aula, uma vez que traz certo comodismo para alguns professores que preferem optar pelo tradicional e fácil a pelas práticas complexas que exigem mais deles. Percebe-se, assim, que a globalização e as mudanças na comunicação dentro da sociedade têm permeado por diversas áreas, dentre elas, a Educação. Argumentar sobre a centralidade da comunicação como estratégia para construção de significados no ensino de Ciências tem-se feito necessário e gerado impactos relevantes sobre programas curriculares e materiais didáticos, uma vez que estudos relatam a importância de ir além da linguagem verbal na construção do conhecimento científico em sala de aula (Piccinini; Martins, 2004, p. 25).
Resultados e discussões
O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber.
Paulo Freire
É praticamente unânime o reconhecimento da relevância da comunicação dentro da Educação. Santos e Mortimer (2001, p. 19) ressaltam que é indiscutível que a sala de aula é um espaço de comunicação e que as palavras e as não palavras (silêncios, ausências, sons articulados ou não) direcionam as relações entre os sujeitos e permitem uma grande demanda de mensagens que são interpretadas de forma consciente e não consciente.
“Ela está presente na sociedade desde os primórdios, se tornando um cargo chefe no processo de ensino e aprendizagem” (I). Uma boa comunicação entre aluno e professor eleva o ensino de Ciências e Biologia, como também, qualquer outro conteúdo. Sem ela não há como transmitir aquilo que se sabe para os alunos e “a forma de se expressar interfere muito” (F), uma vez que, se os professores não souberem se expressar, não irão conseguir atingir os alunos. “Visto que, a Ciências e a Biologia já são ditas como disciplinas complicadas devido a termos e vocábulos considerados difíceis pelos alunos, se não houver uma comunicação clara, entendível e objetiva, esse “abismo” entre o aluno e a matéria cresce ainda mais” (G). “Não adianta ter domínio do conteúdo, se não houver uma boa comunicação para transmiti-lo” (I). Faz-se necessário, buscar meios alternativos de comunicação para atingir a pluralidade dos alunos. “A comunicação ainda é, também, um recurso essencial no alcance de experiências e valores dos jovens” (L). “A comunicação permite a seus interlocutores a troca de ideias. Nos conteúdos de Ciências e Biologia ela tem que agir como via de mão dupla, onde o professor se comunica da forma que achar viável para atender o seu público, e os alunos em resposta, também se comunicam com questionamentos, expressões, opiniões etc.” (S). Sem ela, o processo de ensino se torna falho, e os alunos, em consequência, têm a sua aprendizagem defasada – o que acaba repercutindo no desinteresse pelo conteúdo.
Meios de comunicação mais utilizados em sala de aula
Com o excesso de informações a que comumente os alunos estão expostos, é importante que as aulas sejam atrativas para os mesmos. No século XXI, mudaram o perfil dos alunos, seus pensamentos e ideais, como também os desafios dos professores, a quantidade de informação, as metas e tantos outros fatores que fazem parte da Educação. Dessa forma, os professores precisam recriar sua maneira de estar em sala (Rodrigues, 2009, p. 28).
A era digital predomina na sociedade atual e faz parte da realidade da maioria dos alunos, sendo quase impossível não adentrar neste contexto. Alguns dos professores se mostraram em consenso com essa realidade: “Utilizo vários, principalmente tecnológicos por meio de internet e apps de comunicação como WhatsApp, vídeos e outros (C)”; “Em um meio globalizado, onde os alunos são considerados nativos digitais, o uso de meios tecnológicos são os mais aceitos por eles. Particularmente, eu enquanto professor não fujo da realidade dos alunos (...) pesquisas na web, grupos de conversas em aplicativos, softwares educacionais (I)”. Bueno e Silva (2018) relatam que é explícita a presença das novas tecnologias em todos os campos da sociedade e que é algo que se tornou tão íntimo do mundo moderno que pode e deve ser utilizado como recurso de ensino e aprendizagem para o ensino de Ciências.
Entretanto, existem divergências quanto a esse meio de comunicação: “Eu não gosto de dar meu WhatsApp a aluno, não gosto de intimidade com aluno, mas tenho alguns em minhas outras redes sociais, porém, ainda sou do modo antigo, evito comunicar com eles via web, para mim o real manda mais... Internet as palavras se espalham mais rápido e podem ter outros caminhos (...) mas observo sim que hoje está quase que insustentável não estar conectados a eles. Os nossos alunos gostam disso, porém eu me vejo em posição de professor, não como um amigo virtual, porque pelas poucas vezes que tentei ser o amigão da turma não deu certo pra mim" (F).
A comunicação tradicional na sala de aula (oral, quadro, giz, livro) ainda é a maior realidade entre os professores: “mas o mais utilizado e eficiente em minha opinião continua sendo a comunicação oral mesmo, a conversa frente ao aluno,acho que tem mais impacto, particularmente eu gosto de falar uma linguagem menos formal nas aulas, usando termos comuns ao dia a dia dos alunos e expressões da atualidade (C). “O modo como eu vou interagir com meu aluno é a palavra verbal (eu e eles, frente a frente)". Gosto de fazer meu trabalho (explanar os conteúdos, orientá-los etc.) dessa forma” (F). “Utilizo bastante quadro, livro, tentando sempre simplificar ao máximo (G). “O meio de comunicação mais utilizado por mim durante as aulas é o oral e gestual. A conexão que estabeleço entra essas duas formas de linguagem me ajudam a expressar de maneira mais ampla e objetiva de forma a acentuar, facilitar, proporcionar e incentivar o processo de construção dos conhecimentos pelos próprios alunos (R). As explanações de (C), (F) e (G) corroboram a pesquisa de Piccinini e Martins (2004), que dizem que os modos semióticos mais analisados foram o modo verbal (fala e textos escritos no quadro, no caderno, no livro didático). O professor (S) diz que “a realidade escolar nos limita ao tradicionalismo do uso oral e escrito dentro do processo educativo. Como professor, busco frequentemente explorar esses meios da melhor forma possível e acrescentando outros recursos que sejam pertinentes as aulas”.
As disciplinas de Ciências e Biologia são conteúdos que exigem em alguns momentos recursos que possibilitem melhor visibilidade acerca daquilo que se explana, visto o abstracionismo presentes nessas matérias. A fala do professor (G) relata que “utilizo bastante também datashow com filmes e slides com imagens e redes sociais/e-mail para o envio de materiais que possam auxiliar nos estudos. Na medida do possível também faço experiência nas aulas e utilizo materiais didáticos alternativos. Todas essas opções considero eficientes no ensino de Ciências e Biologia porque são matérias bem visuais, que nos proporciona várias opções didáticas para ministrar aula, desde uma aula expositiva a uma aula em laboratório". Em concordância, o professor (L) diz “uso slides ricos em imagens e pouca escrita para chamar a atenção e atiçar a curiosidade dos alunos” e completa dizendo que vê mais interesse do aluno por esses métodos do que pelo convencional quadro e livros. Esse discurso também está em acordo com a fala dos estudos de Piccinini e Martins (2004, p. 27), onde os docentes também utilizam como modos semióticos “o modo visual, como imagens impressas, estáticas ou em movimentos, representadas em seus mais variados tipos e suportes (quadro, vídeo, microscópio, transparências etc.)".
Cada professor, dentro de sua realidade e público, considera os meios de comunicação utilizados eficientes no processo de ensino e aprendizagem. A fala de (I) é pertinente a esse aspecto: “para que isso tudo e todos os meios de comunicação se tornem eficiente, é necessário que: Os meios sejam avaliados quanto as suas potencialidades, usabilidade. Levando em consideração a realidade da escola e comunidade onde está inserida”.
Uso dos termos científicos e a comunicação em sala de aula
O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança:
tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores,
antes de serem especialistas em ferramentas do saber,
deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.
Rubem Alves
As disciplinas de Ciências e Biologia contam com uma série de palavras, expressões e conceitos típicos desses conteúdos que são em grande maioria repudiados pelos alunos. Assim, Breda, Pelicioli, e Ramos (2013) debatem que o uso da linguagem nas aulas de Ciências também é algo complexo para os próprios docentes, por envolver a linguagem formal e abstrata que se torna de difícil entendimento pelos alunos. Apesar disso, não há como fugir da abordagem deste vocabulário e, com isso, os professores necessitam buscar alternativas que facilitem a compreensão destes termos.
O professor (F) retrata que “os alunos têm essa dificuldade em entender o formal-científico, porém eu não me apego somente nos termos científicos. Primeiro eu explico estes termos, depois jogo eles para a linguagem que os alunos entendem. Tento fazer um elo entre o científico e o vocabulário dos meninos. Porque se eu ficar atrelado somente com um vocabulário técnico muitos vão “boiar” e o objetivo é atingir a todos.” O professor (G) diz que “considero que essa comunicação formal, com uso de linguagem científica, dificulta a comunicação com o aluno interferindo na aprendizagem. Sempre ouço pelos meus alunos que Ciências/Biologia são difíceis porque tem muitos nomes e palavras complicadas. Mas sabemos que essa linguagem cientifica faz parte e é importante. Como professora, eu tento sempre mostrar essa importância, mas também tento simplificar a explicação e ser o mais entendível e objetiva possível”. Bernadelli e Delamuta (2017, p. 2) expõem que os desafios em se ensinar os conceitos de Ciências estão ligados diretamente com a linguagem da sala de aula. Em conseqüência, são formadas concepções erradas desses conceitos por parte dos alunos, o que deixa claro que os significados expressos pelos professores sobre determinado assunto nem sempre são os mesmos que eles entendem.
Os professores (I) e (L) coincidem em suas observações ao relatarem que utilizam de analogias para facilitar o entendimento dos termos.
Já o professor (C) esboça que “Não acho que a formalidade na sala de aula seja regra necessária, no meu ponto de vista os termos científicos não dificultam no aprendizado, apenas é difícil de escrever ou falar os nomes na linguagem científica, mas não atrapalha no entendimento da matéria ou do seu significado, utilizo de brincadeiras na aula expositiva com os alunos quando temos que ensinar algum assunto ou nome que possua linguagem científica, assim o clima da sala fica leve e facilita o entendimento dos estudantes”.
Nas aulas de Ciências, a linguagem, em muitas ocasiões, é deixada em segundo plano. Grande parte dos docentes critica que seus alunos não sabem se expressar, seja de forma oral ou escrita, e acabam conferindo essa competência aos professores de linguagens, uma vez que acreditam que o problema não está na forma como ensinam Ciências. Todavia, os professores precisam fazer com que os estudantes compreendam a linguagem própria das Ciências para que aprenda o conteúdo, o que faz dos professores de Ciências, também, um professor de linguagens (Mertin; Silva; Ramos, 2017, p. 2).
É necessário que o professor compreenda que os alunos não possuem afinidade com conteúdos científicos, uma vez que isso nem sempre faz parte da realidade desses jovens ou é de difícil acesso para os mesmos. Apenas repassar da mesma maneira aquilo que foi visto tão detalhadamente na graduação para os alunos do ensino regular não é coerente, visto a diferença de instrução existente. Diante disso, a fala do professor (S) se torna coesa com o citado: “Antes de tudo, o professor precisar entender que aquilo que foi aprendido tão minuciosamente na graduação não precisa ser transmitido da mesma maneira. É necessário um filtro que atenda o público alvo, que no caso são jovens do Ensino Fundamental II e Médio. Os termos científicos são necessários uma vez que muitos são de comunicação universal. Apesar de serem rejeitados por alguns alunos, não há como fugir deles. Com isso, procuro expor de forma simples, trazendo para sua realidade, utilizando um vocabulário mais próximo do aluno,fazendo comparações,mas sempre reforçando a idéia de que a linguagem científica é indispensável dentro dos conteúdos e que é grande fonte de conhecimento e enriquecimento de vocabulário.”
O aprendizado do conteúdo de Ciências demanda, dentre tantos fatores, do comprometimento da postura do docente em relação à linguagem utilizada na explanação dos conteúdos em aula (Bernadelli; Delamuta, 2017, p. 2).
Séries e conteúdos com maiores dificuldades
Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.
Paulo Freire
As dificuldades em Ciências e Biologia podem variar de acordo com o conteúdo e série. Não necessariamente um aluno que não foi bem-sucedido em estudos sobre as camadas da Terra no 6º ano, por exemplo, irá se sair mal no estudo dos Reinos no 2º ano do Ensino Médio. Alguns aspectos são pertinentes para se elaborar uma hipótese acerca da dificuldade dos alunos: a maturidade do estudante, a capacidade de assimilação, a aplicação, a visibilidade, a imaginação, as formas de abordagem, entre outros fatores.
Ao questionar os professores sobre este quesito, obtiveram-se os seguintes relatos:“No 1º e 3º Ano do Ensino Médio, nos conteúdos de síntese proteica, material genético, e genética. Acho que tais dificuldades provêm da falta da imaginação, de leitura e de conhecimentos prévios matemáticos com os quais os alunos chegam ao Ensino Médio, que são essenciais para se compreender todos estes conteúdos” (C). O professor (I) apresenta considerações semelhantes; “tanto no ensino de ciências (8º ano) quanto no ensino de biologia (2º e 3º ano), percebo maior dificuldade de absorção dos alunos nas aulas de genética. Termos como “gene”, “cromossomo”, etc, se torna vago para os alunos, pois não conseguem ter uma comunicação visual preexiste formada”.
O professor (F) retrata a falta de maturidade como fator que resulta no momento da comunicação e ensino de conteúdos; “6º ano e 7º ano, por causa de idade mesmo. São mais imaturos em relação ao 8º ano e ao 9º ano”.
O relato do professor (G) diz que “eu percebi grande dificuldade por parte dos alunos em realmente entender e aprender a matéria no segundo ano do ensino médio, porque foi estudado os Filos do Reino Animal e também se estudou o Reino Plantae e são matérias que possui muitos termos e linguagem científica”.
Os professores (L), (R) e (S) compartilham o pensamento, ao verificarem maior dificuldade de comunicação nas turmas de 9º ano, uma vez que os conteúdos trabalhados dentro da disciplina de Ciências são a introdução da Química e da Física.
Facilitação da comunicação em sala de aula
Vistos todos os desafios enfrentados na comunicação, é de suma importância o uso de recursos e métodos que visem minimizar essa defasagem. Quando abordados sobre a forma que utilizam para facilitar a comunicação com seus alunos em sala de aula, a maioria dos professores cita que buscam um relacionamento mais próximo com os estudantes (redes sociais, conversas informais, grupos de WhatsApp), promovendo momentos de interação que possivelmente possam resultar em um ambiente mais aconchegante para se ensinar, aprender e promover o apreço pelas disciplinas de Ciências e Biologia. Rodrigues (2009, p. 28) cita que é indispensável a relação do professor com o aluno e que as aulas que buscam a interação entre os grupos se tornam uma ferramenta para desenvolver a postura proativa do aluno no processo de aprendizagem. Por outro lado, Catellani (2014, p. 2) diz que o professor “antes mesmo de transmitir o conhecimento, terá que realizar um contato coletivo, que é público, diferenciado e que exige uma comunicação direta, estratégica, qualificada e personalizada”. Também foram abordados aspectos como objetividade e simplicidade nas palavras, um vocabulário mais próximo da região, idade e realidade do aluno, assim como recursos de vídeos, imagens, slides, como métodos atrativos para a aula.
Recursos tecnológicos como forma de comunicação
Ao abordar o uso de recursos tecnológicos como via de comunicação e aprendizagem, a maioria dos professores esboçou que utilizam o data-show e o notebook para aulas com imagens e vídeos. Todos também citaram a pouca disponibilidade deste material, que é necessário agendamento, visto que a escola possui apenas um aparelho. Referente ao notebook, todos citaram utilizar o seu aparelho particular.
O professor (F) citou que não é a favor do uso de celulares para fins pedagógicos, pois os alunos não sabem utilizá-los com esse objetivo e acabam se dispersando. Já o professor “I” afirma gostar de utilizar alguns aplicativos durante suas aulas.
Verifica-se um consenso de ideias e realidades. As escolas ofertam poucos recursos e os professores precisam buscar meios alternativos que enriqueçam suas aulas e sejam instigantes para os alunos.
Os recursos digitais, quando utilizados de maneira correta, somam ao processo de ensino e aprendizagem, uma vez que contêm componentes que instigam a relação entre o aluno e o professor. Por conter essas ferramentas capazes de possibilitar atividades mais dinâmicas, com maior capacidade sonora e imagética, proporciona um contato mais aprofundado e real com o conteúdo ensinado (Bueno, Silva, 2018, p. 156).
Considerações finais
Às vezes se apresentam outras possibilidades que quase não coincidem com a situação geral, oportunidades nas quais, a partir de uma palavra, um olhar, um sinal de confiança, pode ser alcançado mais do que através de esforços exaustivos que duram a vida toda.
Franz Kafka
A partir do estudo realizado, pode-se constatar que diferentes professores compartilham o mesmo pensamento sobre a importância da comunicação nos processos educativos. Apesar de entenderem que os recursos digitais são predominantes no mundo contemporâneo, os docentes ainda optam pelo tradicionalismo da oralidade e escrita em sala de aula, conceituando-os como ainda eficazes formas de comunicação e aprendizagem. Essa consideração leva a refletir sobre o porquê de os professores, mesmo cientes das novas práticas docentes e as metodologias da modernidade, ainda se rendem ao convencional e básico.
No que se refere ao uso de termos científicos durante as aulas, percebe-se a preocupação dos docentes em adaptar esses conceitos para melhor entendimento dos alunos. Os professores são conscientes quanto à complexidade de seus conteúdos e buscam, através de analogias e um vocabulário mais simples, ensinarem os seus alunos, mas sem perder a essência daquilo que se ministra, além de reforçarem a relevância de se conhecerem novas palavras e vocabulários científicos.
As séries finais do Ensino Fundamental (9º ano) e do Ensino Médio (3º ano) foram apontadas como as turmas com maiores índices de dificuldade. A introdução da Química e da Física no ano final do ensino fundamental, como também o conteúdo de genética do terceiro ano do ensino médio, são comumente verificadas pelos professores como temáticas com baixos rendimentos, o que é visto tanto na literatura como em conversas informais entre docentes.
Os professores acreditam que o relacionamento com os alunos é uma ferramenta facilitadora da comunicação. A interação entre as partes eventualmente possibilita mais afeição pelo conteúdo, uma vez que, na convivência, passam a existir laços, respeito, descontração, familiaridade - que são aspectos importantes para o sucesso das aulas.
Por fim, os entrevistados foram unânimes ao explanarem sobre o uso de tecnologias para a comunicação e o pouco recurso que as escolas ainda possuem. A limitação desses materiais impede os professores de explorarem e testarem novas metodologias, retrocedendo ao velho quadro e giz.
A comunicação no ambiente escolar é indispensável para o processo de ensino e aprendizagem. É necessário atentar-se às particularidades do público e buscar atender às necessidades dos alunos. Explorar as multifacetas da comunicação é uma grande estratégia e também um desafio nas salas de aula, mas, quando utilizados corretamente, propiciam um ambiente confortável que alavanca os alunos rumo a uma Educação de qualidade.
Referências
BERNADELLI, Marlize Spagolla; DELAMUTA, Beatriz Hass. Ensino de Ciências e a transformação da linguagem informal em linguagem científica. In: X CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁTICA DE LAS CIENCIAS, 2017.
BREDA, Adriana; PELICIOLI, Alex Ferranti; RAMOS, Maurivan Guntzel. A função da linguagem no ensino de Ciências e Matemática: um olhar sobre o que pensam os professores. In: XI EDUCERE. Curitiba: PUC-PR, 2013. v. único. p. 1-17.
BRISKIEVICZ, Danilo Arnaldo. A escola-medusa: o olhar do outro e a Educação em Jean-Paul Sartre. Educação, Santa Maria, v. 43, nº 2, p. 67-78, abr./jun. 2018.
BUENO, Alcione José Alves; SILVA, Silvio Luiz Rutz da. O cinema como linguagem no ensino de ciências. Actio: Docência em Ciências, v. 3, nº 2, p. 154-172, 2018.
CATELLANI, Gabriel Veiga. O professor e a comunicação na sala de aula. EdUECE, v. 2, p. 1-9, 2014.
GUERREIRO, Antonio et al. Comunicação na sala de aula: a perspetiva do ensino exploratório da matemática. Zetetiké Unicamp, v. 23, nº 44, p. 279-295, 2015.
KENSKI, Vani Moreira. Educação e Comunicação: interconexões e convergências. Educação e Sociedade, v. 29, nº 104, p. 647-665, 2008.
MACAZA, Armando Leio. A comunicação nas salas de aula: a participação dos alunos na interacção comunicativa na sala de aulas. Trabalho de pesquisa-ação apresentado ao Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação, UEM - Faculdade de Educação, Maputo, 2006.
MARTINO, Luis Mauro Sá. Entre mídia e comunicação: origens e modalidades de uma dicotomia nos estudos da área. Comun. Mídia Consumo, v. 13, nº 38, p. 10-28, 2016.
MENEZES, José Luís. Investigar para ensinar Matemática: contributos de um projecto de investigação colaborativa para o desenvolvimento profissional de professores. 2004. 696 f. Tese (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2004.
MERTINS, Simone; SILVA, Carla Melo da; RAMOS, Maurivan Guntzel. A relevância da linguagem no processo de ensino e aprendizagem de ciências na Educação Básica. In: ENCONTRO DE DEBATES SOBRE O ENSINO DE QUÍMICA, v. 1, p. 1-8, FURG, Rio Grande, 2017.
MORAES, Roque; RAMOS, Maurivan. Guntzel; GALIAZZI, Maria do Carmo. Aprender Química: promovendo excursões em discursos da química. In: ZANON, Lenir Basso; MALDANER, Otávio Aloísio (Orgs.). Fundamentos e propostas de ensino de Química para a Educação básica no Brasil. Ijuí: Unijuí, 2007.
OLIVEIRA, Teresa et al. Compreendendo a aprendizagem da linguagem científica na formação de professores de ciências. Educar, nº 34, p. 19-33, 2009.
PICCININI, Cláudia; MARTINS, Isabel. Comunicação multimodal na sala de aula de ciências: construindo sentidos com palavras e gestos. Revista Ensaio, v. 6, nº 1, p. 24-37, 2004.
PONTE, João Pedro da et al. A comunicação nas práticas de jovens professores de Matemática. Revista Portuguesa de Educação, v, 20, nº 2, p. 39-74, 2007.
RODRIGUES, Daniele. A comunicação na sala de aula: comunicando para a vida. 2009. 91 f. Monografia (Especialização), Programa de Pós-Graduação em Educação: método e técnicas de ensino, UTFPR, Medianeira, 2009.
SANTOS, Flávia Maria Teixeira dos; MORTIMER, Eduardo. Fleury. Comunicação não verbal em sala de aula. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 1, nº 1, p.18-30, 2001.
VALENTE, José Armando. A comunicação e a Educação baseada no uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação. Revista Unifeso – Humanas e Sociais, v. 1, nº 1, p. 141-166, 2014.
Publicado em 10 de novembro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
BRISKIEVICZ, Danilo Arnaldo; PEREIRA, Suelio Geraldo. O desafio da comunicação nas aulas de Ciências e Biologia, a partir da prática docente na rede pública de ensino de Formiga/MG. Revista Educação Pública, v. 20, nº 43, 10 de novembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/43/o-desafio-da-comunicacao-nas-aulas-de-ciencias-e-biologia-a-partir-da-pratica-docente-na-rede-publica-de-ensino-de-formigamg
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.